Embora Natacha estivesse furiosa, ela ainda conseguiu manter a calma, uma façanha que exigiu todo o seu autocontrole. — Você está tentando se livrar de toda a responsabilidade, né? — Disse ela, a voz cortante como lâminas de gelo, enquanto suas mãos tremiam levemente de raiva contida. — Mas o laudo da autópsia já saiu. A única explicação é que a concentração do medicamento não foi suficiente, por isso a doença do menino não foi controlada e acabou piorando rapidamente. Na prescrição médica, a dosagem estava claramente indicada. E foi você que administrou as injeções. A única pessoa que poderia ter alterado a concentração do remédio foi você. A enfermeira, sentindo o peso das palavras de Natacha, recuou ligeiramente, seu rosto se contorcendo em uma mistura de medo e indignação. — Eu já disse que não sei de nada! Dra. Susan, mesmo sendo uma especialista contratada a peso de ouro pelo hospital, eu também tenho minha dignidade! Com que direito você me acusa assim? — Retrucou ela, a voz
Natacha quase gritou de tão irritada. Sentia o sangue pulsar nas têmporas, como se o controle que mantinha estivesse prestes a se romper. Sua respiração, acelerada, denunciava a fúria que tentava conter. Os olhos, fixos na enfermeira, estavam carregados de uma intensidade quase avassaladora. Ela não suportava mais ouvir desculpas ou evasivas.— Vamos, agora! — Natacha ordenou, a voz baixa. Com um movimento brusco, agarrou o braço da enfermeira, puxando ela sem qualquer cerimônia. Seu olhar, cortante, parecia penetrar a alma da outra mulher, deixando claro que não havia espaço para negociação.A enfermeira, assustada e sem forças para resistir, deixou-se ser conduzida, sentindo o peso da vergonha a esmagar.Ao chegar ao escritório do diretor, seu coração pulsava acelerado, mas sua determinação era inabalável.Não demorou muito para que a polícia fosse chamada. A enfermeira, agora encolhida em um canto, chorava sem parar, enquanto era escoltada pelos policiais. As lágrimas, no entanto,
A experiência de anos no trato da saúde fez com que Rafaela percebesse, quase instantaneamente, que a doença de Domingos havia voltado. Mas, dessa vez, a gravidade parecia ainda maior, como se a vida do filho estivesse pendendo por um fio.— Mãe, eu... Eu tô me sentindo... Muito mal. Será que... eu tô prestes a... Morrer? — Domingos, lutando para respirar, tentava falar, a voz fraca e carregada de medo. As palavras de Domingos atingiram Rafaela como um golpe no estômago. O desespero tomou conta dela. — Não, não diga isso, meu filho! — Ela quase gritou, sua voz trêmula, tomada pelo pânico. — Não fale besteiras! Eu não vou deixar, ouviu?! — Ela segurou o rosto de Domingos com as mãos trêmulas, como se tentasse ancorá-lo à vida através do toque.Em um movimento brusco, Rafaela se virou para Dora, que estava pálida de medo, incapaz de se mover. — Dora, pelo amor de Deus, liga pro Dr. Bryan agora! — Ela gritou, o desespero transbordando em cada palavra. — Faça ele vir aqui imediatamente!
Joaquim estava decidido a levar Domingos ao hospital, e Rafaela não teve escolha a não ser acompanhá-lo. Sentada no banco do passageiro, seu olhar estava fixo no filho, que mal conseguia respirar. De repente, ela pegou o cartão de visita que Joaquim havia dado antes e, com um gesto nervoso, devolveu-o a ele. — Natacha me detesta. — Sua voz saiu trêmula, carregada de ressentimento. — Ela não vai querer me ajudar. Melhor você ligar pra ela. Rafaela desviou o olhar, tentando esconder a humilhação que sentia só de imaginar ter que pedir ajuda a Natacha.Joaquim soltou um suspiro pesado, pegando o telefone e discando o número.Do outro lado da linha, Natacha atendeu. Joaquim explicou rapidamente a situação. Ele sabia que, apesar de qualquer ressentimento que Natacha pudesse ter, ela era uma profissional dedicada. Além disso, ele já havia salvado a vida dela antes, o que, sem dúvida, pesaria na decisão.Natacha concordou rapidamente em ajudar.O carro voava pelas ruas.Assim que chegaram
E o pior de tudo é que ainda era um encontro totalmente às claras. De repente, como se um relâmpago atravessasse sua mente, Rafaela abriu a boca e soltou a pergunta que a corroía por dentro.— Assinar aquele termo de consentimento, o que isso significa? Se nós assinarmos, e o Domingos acabar como aquele outro garoto, morrendo nas suas mãos, você também vai sair dessa sem nenhuma responsabilidade, jogando toda a culpa em nós? — Rafaela perguntou com um tom de desafio, cruzando os braços e erguendo o queixo, tentando mascarar a insegurança que sentia.Os olhos de Natacha se fixaram nela, afiados como lâminas, sem deixar transparecer um pingo de emoção. — Esse caso já foi esclarecido no site oficial do hospital. Sugiro que você dê uma olhada. — Disse Natacha, com a voz firme e um leve sorriso irônico nos lábios. — Além disso, se você não confia em mim, pode levar seu filho embora a qualquer momento. Inclusive agora, se quiser, eu não vou te impedir. Rafaela ficou completamente dividida
— Eu ainda tenho chance de voltar a estudar? — Domingos perguntou, a voz cheia de esperança, piscando os olhos.Natacha concordou, se inclinando levemente para ele, como se quisesse transmitir segurança através de sua postura. — Sim, desde que você siga meu tratamento direitinho, com certeza vai ter a mesma oportunidade que as outras crianças. — Ela disse, com um tom encorajador.Nesse exato momento, a porta se abriu com um baque, e Rafaela entrou rapidamente, os olhos fixos em Natacha como se fossem lanças. Ela foi direto em direção a Natacha, empurrando-a com força para o lado. Natacha, apanhada de surpresa, quase perdeu o equilíbrio, mas conseguiu se segurar na parede a tempo. Seu coração disparou com a brusquidão do gesto, mas ela manteve a compostura.Com os olhos arregalados de incredulidade, Natacha a encarou, sua respiração ainda um pouco descompassada pela surpresa. — O que você pensa que está fazendo? — Ela perguntou, o tom carregado de indignação.Rafaela, ainda furiosa,
Rafaela não queria mostrar seu lado sombrio na frente do filho, então, com muito esforço, segurou a raiva que fervilhava em seu peito e forçou um sorriso, embora seus olhos ainda estivessem carregados de ressentimento. — Filho, a mamãe errou, eu sei... — Ela começou, a voz embargada pela tentativa de manter a calma. — Mas eu não tenho escolha. Você acha que essa mulher realmente quer te ajudar? Na verdade, ela quer roubar o seu pai de nós.Domingos olhou para a mãe, a confusão refletida em seus olhos. Ele franzia a testa, como se estivesse tentando entender o que sua mãe estava dizendo. — Não é possível, mamãe... — Murmurou ele, balançando a cabeça, com o olhar ainda perdido. — A doutora não parece ser esse tipo de pessoa. Ela é muito gentil... Rafaela soltou um suspiro sarcástico, seus lábios curvando-se em um sorriso que não alcançava os olhos. — Tudo isso é fingimento, meu amor... — Disse ela. — Se ela não estivesse armando alguma coisa, por que estaria usando você para se aprox
Joaquim ficou em silêncio por um momento, seu olhar distante, como se estivesse procurando as palavras certas em algum lugar dentro de si. Após alguns segundos que pareceram se arrastar, ele sorriu levemente, tentando aliviar a tensão que sentia no peito. Seus olhos suavizaram ao olhar para Domingos, e ele falou com uma ternura que só um pai poderia oferecer: — Meu pequeno... Papai e mamãe te amam muito. Nós nunca vamos te deixar... Domingos, sentindo o calor e a sinceridade na voz do pai, não conseguiu conter a emoção que o invadiu. Ele se jogou nos braços de Joaquim, agarrando-o com força, como se não quisesse nunca mais soltá-lo. — Eu sabia, papai! — Exclamou, sua voz cheia de uma felicidade genuína, enquanto escondia o rosto no peito de Joaquim. — Eu sabia que você jamais me abandonaria... Joaquim abraçou o filho com força, sentindo o pequeno corpo tremer levemente em seus braços. No entanto, os olhos de Rafaela mostravam uma profunda melancolia, uma tristeza que parecia ter s