Naquele momento, Gabriel entrou apressado no escritório, seus passos ecoando pelo corredor. Ele disse, com um toque de urgência na voz: - Natacha, eu estava de plantão depois de amanhã, mas surgiu um imprevisto e meu plantão foi adiantado para amanhã. Você tem tempo? Se não puder, eu cubro sozinho. Você pode cuidar das suas coisas.Natacha, que inicialmente havia planejado cancelar todos os compromissos para comemorar o aniversário de Joaquim no dia seguinte, sentiu uma pontada de frustração. No entanto, ela apenas acenou com a cabeça, escondendo seus verdadeiros sentimentos e dizendo calmamente: - Eu posso fazer isso amanhã.- Ótimo, então está combinado. - Respondeu Gabriel, com um sorriso discreto que não conseguiu esconder a satisfação em seus olhos.Ao pensar na possibilidade de fazer o plantão com Natacha, Gabriel sentiu uma inexplicável alegria. Ele não pôde evitar zombar de si mesmo. Afinal, não era a primeira vez que orientava um aluno. Por que estava sentindo essa emoção es
Natacha ficou em silêncio, as palavras de Joaquim ecoando em sua mente como um bálsamo. Joaquim, tentando afastar o pressentimento ruim que crescia em seu peito, disse para si mesmo com uma voz suave, tentando esconder sua própria tristeza: - Não se preocupe, se você precisa estar de plantão, que assim seja. Teremos muitos outros aniversários pela frente, Natacha. Eu nunca vou impedir você de seguir sua paixão.As palavras dele encheram os olhos de Natacha de lágrimas, como se uma represa dentro dela estivesse prestes a se romper. Mesmo sem dizer nada, seu coração batia descompassado, como se uma única palavra a mais dele pudesse fazê-la desistir completamente, disposta a seguir Joaquim, mesmo sendo considerada uma intrusa, mesmo perdendo a si mesma.Na manhã seguinte, Joaquim e Natacha se levantaram como de costume, seguindo suas rotinas quase automaticamente. Mas Natacha não conseguia evitar um sentimento de arrependimento, uma sombra que pairava sobre ela. Não deveria ter deixado
Natacha estava exasperada. O chão da sala de plantão estava completamente encharcado, e seus sapatos estavam empapados de água. Quando Gabriel saiu de seu consultório, encontrou Natacha com um esfregão na mão, limpando o chão repetidamente, suas costas arqueadas de cansaço. O rosto dela estava pálido e havia uma expressão de frustração em seus olhos.- O que aconteceu aqui? - Ele perguntou, franzindo o cenho ao ver a água espalhada por toda a pequena sala. - Por que há tanta água?Natacha soltou um suspiro pesado, resignada. - Acho que o cano quebrou ou o esgoto está entupido. Tem sido um pesadelo lidar com isso. - A voz dela estava rouca de tanto reclamar para si mesma enquanto esfregava o chão incessantemente.- Então, por que você está limpando o chão? Com o frio que está fazendo, você vai acabar pegando um resfriado dormindo nesse ambiente úmido. - Disse Gabriel, apontando para sua própria sala de plantão. - Meu espaço é maior e tem quatro camas. Se não se importar, pode dormir l
Natacha ficou apavorada e respondeu rapidamente: - Eu... Eu não estou na sala de plantão. Espere um momento, já vou sair. Seu coração batia acelerado, tendo medo de que Joaquim descobrisse que ela estava na mesma sala que Gabriel. Isso seria difícil de explicar.Ela desceu da cama e saiu silenciosamente, cada passo ecoando na sua mente como um tambor de tensão. No corredor mal iluminado, ela viu Joaquim segurando uma pequena caixa. Seu sorriso gentil iluminava seu rosto cansado, mas havia uma intensidade em seus olhos que ela não conseguia decifrar. - Está muito ocupada esta noite? Se não estiver, podemos comer o bolo juntos, como lanche da madrugada. - Disse Joaquim, sua voz carregada de uma esperança tímida.Natacha não esperava que ele viesse pessoalmente entregar o bolo, ainda mais no aniversário dele. A culpa a invadiu por não ter preparado nenhum presente. No começo, ela não se importou, pensando que Joaquim havia traído sua família primeiro. Mas agora, diante da sinceridade
Natacha, essa mulher era realmente insuportável! Joaquim estava furioso com ela. Ela tinha a audácia de ir e vir entre ele e Gabriel. Não era de se admirar que, ultimamente, ela estivesse tão distante, tão quente e fria ao mesmo tempo. No fim das contas, ela estava apenas indecisa e volúvel. Cada vez que ele pensava nela, sentia como se um punhal estivesse sendo cravado em seu coração, girando lentamente.Joaquim deu um sorriso amargo, se sentindo extremamente miserável. Em todos os aniversários, nunca recebeu a bênção ou o carinho dos pais. E agora, até Natacha deu a ele um “presente” tão amargo. Ele se sentia traído, uma dor profunda que parecia corroer seu interior, deixando ele vazio e desamparado. Enquanto sua alma estava mergulhada em tristeza, uma voz suave o chamou: - Joaquim, é você? Joaquim ficou um pouco surpreso e se aproximou rapidamente. Na penumbra, ele reconheceu Rafaela, que estava elegantemente vestida, apesar da hora avançada. - O que você está fazendo aqui? Est
Rafaela estava radiante de alegria por dentro, mas fingia preocupação ao dizer: - Parece que a Srta. Natacha entendeu tudo errado. - Deixe ela pensar o que quiser, isso não me diz respeito. - A voz de Joaquim cortou o ar com frieza. O gelo em suas palavras era quase tangível, refletindo a frieza que ele sentia em seu coração.- Sim... Afinal, vocês dois já não têm mais nada. - Rafaela intencionalmente o lembrou, tentando esconder o sorriso satisfeito que ameaçava surgir em seus lábios. A mão de Joaquim apertou o volante com tanta força que os nós de seus dedos ficaram brancos. Acelerando, ele dirigia Rafaela de volta para casa com uma determinação fria, seus olhos fixos na estrada, mas sua mente perdida em um turbilhão de pensamentos conflitantes.Ao chegarem, Joaquim foi direto para o banheiro e começou a encher a banheira, tirando o casaco no processo. O vapor começou a preencher o ambiente, criando uma névoa densa que combinava com a confusão em sua mente. Rafaela, surpresa e c
Vendo ela parada, Gabriel explicou: - Hoje não estou bem e tenho medo de cometer erros durante a cirurgia.Observando as olheiras de Natacha, ele acrescentou: - Você também não descansou bem, não é? Seu olhar atravessava a barreira profissional, captando a inquietude que Natacha tentava esconder.Natacha ficou sem saber o que dizer. Embora a última noite tivesse sido uma das mais tranquilas em todos os seus plantões, ela não conseguiu pregar o olho. Agora, suas olheiras denunciavam seu cansaço extremo. Gabriel, percebendo algo mais em seu semblante, disse: - Depois da visita aos pacientes, você também deve ir descansar. Mas se lembre, é importante separar sua vida pessoal do trabalho. Entendeu? Isso era tanto um aviso para Natacha quanto um lembrete para si mesmo. Adiar uma cirurgia era algo que Gabriel nunca fazia. Ele sempre foi um homem extremamente disciplinado e agora se via odiando essa nova versão de si mesmo. A culpa corroía sua mente, e ele se perguntava se estava deixa
Isso era como receber um passe livre para o palácio! Com essa motivação, Natacha se sentiu energizada. Após o plantão noturno, em vez de descansar, ela pegou seus livros e materiais de estudo e foi para a sala de estudos. Determinada, ela se comprometeu a transformar seus sonhos em realidade, a cada página que lia, se sentia mais próxima do objetivo.Ela pensou que sua vida não se limitava a Joaquim. Havia também seus sonhos e sua carreira. Além disso, era só estudando que ela conseguia acalmar seu coração. Mergulhar nos estudos a fazia esquecer, nem que fosse por um breve momento, das dores que carregava.Assim, por vários dias, Natacha mergulhou nos estudos, se forçando a não pensar nas coisas que a deixavam triste. Durante esses dias, ela não viu Joaquim nenhuma vez. Paulo disse que ele estava em uma viagem de negócios. A ausência de Joaquim era um alívio, mas também um vazio difícil de ignorar.Natacha não sabia se ele realmente tinha viajado a trabalho ou se estava apenas evitand