Natacha olhou, surpresa, para as costas de Lorena, sentindo o coração tremer incontrolavelmente. “Meu Deus, o que a Lorena está dizendo? O que meu irmão fez com ela, afinal?” — Lorena... — Natacha chamou baixinho. O corpo de Lorena enrijeceu. Ela se virou para encarar Natacha. Ao se dar conta do que havia dito momentos antes, uma expressão fugaz de constrangimento e vergonha passou pelo rosto dela. Mas, no instante seguinte, seus olhos se encheram de fúria e se afiaram como lâminas ao dizer: — Você veio? Veio ajudar seu irmão a me convencer? Natacha respondeu, com culpa na voz: — Eu sei que, agora, no seu coração, eu e meu irmão somos iguais... dois mentirosos. — E não são? — Lorena a fitou, sem qualquer expressão, rebatendo com frieza. — Você não me ajudou a cair na armadilha dele? Não brincou comigo? Vocês acham que eu sou estúpida, não é? Foi divertido me enganar assim? Natacha se aproximou e se ajoelhou diante de Lorena, dizendo com pesar: — Lorena, me desculpa.
O olhar de Lorena para Natacha finalmente suavizou um pouco, deixando de ser carregado de hostilidade como no início. Lorena franziu as sobrancelhas, hesitante: — Agora, a porta desta casa está cheia de homens do Duarte. Eu não consigo sair. E mesmo que eu vá embora, minha mãe não escaparia da tortura dele. Natacha respondeu: — Não precisa se preocupar com a Sra. Lopes. Comigo e Joaquim aqui, meu irmão não vai ousar fazer nada contra ela. Me dá dois dias para pensar em um jeito de te tirar daqui. Lorena disse, cheia de gratidão: — Se você puder me ajudar, eu nunca vou esquecer sua bondade. Eu vou te retribuir. Natacha balançou a cabeça: — Você não precisa me retribuir. Isso é uma dívida que eu tenho com você! — Em seguida, acrescentou. — Ah, nesses dois dias, tenta agir conforme o que meu irmão quer. Deixa ele baixar a guarda. Assim vai ser mais fácil para eu te tirar daqui. A gente se fala pelo WhatsApp quando for a hora. Lorena respondeu apressada: — Não podemos u
Duarte abaixou a cabeça e olhou para o rostinho radiante da mulher em seus braços. Ele sorriu levemente e disse: — Se você tivesse sido tão obediente antes, eu não teria feito isso com você. Lorena forçou um sorriso amargo, reprimindo a raiva e a humilhação que sentia no coração. Duarte então suavizou o tom de voz e continuou: — Naquele dia, quando voltei, minha intenção era pedir desculpas a você. Mas, antes disso, nenhuma mulher jamais havia me batido. Por isso, acabei não pedindo desculpas e ainda gritei com você. Eu sei que também errei. Naquele momento, pouco importava para Lorena se Duarte se desculpava ou tentava se justificar. Porque, no fundo, tudo o que Lorena queria era ir embora, fugir para bem longe de Duarte e reencontrar a si mesma, a pessoa que era antes de perder a memória. Assim, ela fingiu se reconciliar com ele. No entanto, quando Duarte a beijou, Lorena reagiu com um incômodo evidente, o corpo rígido, uma repulsa que não conseguia disfarçar. Mesmo
Na manhã seguinte, ao acordar, Lorena percebeu o novo celular sobre o criado-mudo e ficou um pouco surpresa. Duarte saiu do banheiro após se lavar e, com tranquilidade, explicou: — Antes, você não quebrou o celular? Mandei comprar um novo para você. O chip continua sendo o mesmo. E quanto aos seguranças na porta, já mandei todos embora. Lorena não esperava que Duarte realmente fosse cumprir sua palavra. Além disso, bastava que ela cedesse um pouco, e ele de fato retirava os seguranças. Por um instante, Lorena sentiu uma leve pontada de culpa, mas a sensação desapareceu tão rápido quanto veio. Ela não achava que tinha algo de que se arrepender. "Tudo isso aconteceu por causa de Duarte. Eu nunca pertenci a ele." Nesse momento, Duarte deu alguns passos à frente, se aproximando dela. Se Inclinando, apoiou as mãos ao lado do corpo de Lorena, envolvendo ela completamente em seus braços. Desconfortável e cheia de repulsa, Lorena tentou se esquivar, mas temia irritá-lo e ac
Natacha sempre sentia que tudo isso estava acontecendo de maneira fácil demais. Lorena afirmou com convicção: — Não. Seu irmão é uma pessoa impulsiva e de raciocínio simples, ele não vai perceber. Depois de desligar a ligação com Lorena, Natacha foi procurar Joaquim. Os dois começaram a planejar como ajudar Lorena a sair de Cidade M sem que Duarte descobrisse. — Avião está fora de questão. — Disse Joaquim. — Qualquer meio de transporte que envolva a compra de passagens pode ser rastreado. Seu irmão só precisa fazer uma pequena investigação para descobrir para onde Lorena foi. Natacha concordou: — Também acho. Se queremos garantir que meu irmão não descubra o paradeiro de Lorena, temos que aproveitar esses dias em que ele estará em Cidade Y e levá-la de carro para outra cidade. Quando ele voltar e perceber que Lorena sumiu, já será tarde demais para encontrá-la. Além disso, não podemos usar o nosso próprio carro. Precisamos de um veículo com uma placa que ele não conheça.
Joaquim e os outros não pegaram a rodovia; em vez disso, escolheram um atalho. Dessa forma, poderiam levar Lorena para Cidade D o mais rápido possível, evitando qualquer imprevisto de última hora. Assim que chegassem a Cidade D e Reginaldo a recebesse, certamente Duarte não teria mais o que fazer. No entanto, essa estrada secundária era tanto deserta quanto esburacada. Natacha, sacudida pelo caminho irregular, começou a sentir enjoo e reclamou com Joaquim: — Se soubesse que essa estrada era tão ruim, teríamos pegado a rodovia! Não está perigoso demais? Joaquim riu e respondeu: — Você ainda duvida da minha direção? Essa estrada é segura! Só é um pouco irregular, mas depois desse trecho, melhora. No instante seguinte, um farol intenso brilhou ao longe, ofuscando a visão de Joaquim. Ele instintivamente pisou no freio. O carro parou bruscamente, e, com o impacto, Natacha e Lorena foram violentamente arremessadas contra o banco traseiro. Joaquim percebeu na hora que al
— Não! — Natacha gritou. — Irmão, você não pode fazer isso! Eu te imploro, qualquer coisa, venha para cima de mim! Mas o punho de Enrico já havia atingido Joaquim. Natacha olhava para a cena diante de si, tomada pela dor. Seu marido estava sendo espancado por um grupo de capangas. Mesmo assim, Joaquim ainda conseguiu dizer a Natacha: — Não se preocupe, ele não vai me matar, ele não ousaria! O caos já havia se instalado. Foi então que Lorena saiu correndo do carro, gritando: — Parem! Eu imploro, parem com isso! Por causa da súplica de Lorena, os homens que batiam em Joaquim interromperam a agressão por um instante. O chão estava coberto de sangue. Joaquim tentou se apoiar para se levantar, mas seus ossos pareciam despedaçados. Ele simplesmente não conseguia. Duarte, parecendo um demônio saído do inferno, olhou para a garota que chorava desesperadamente diante dele e disse: — Lorena, então você finalmente decidiu aparecer. Lorena correu até Duarte e caiu de joel
As lágrimas de Lorena já haviam secado. Ela jazia impotente na cama, indiferente a qualquer palavra cruel que o homem ao seu lado proferisse para humilhá-la. Ela queria morrer. Mas, se morresse, o que seria de sua mãe? "Um louco como Duarte... Joaquim é cunhado dele, e ainda assim, Duarte foi capaz de mandar espancá-lo daquela forma. Se eu continuar desafiando ele, ele certamente continuará machucando as pessoas que mais amo." Só agora Lorena percebia que, no mundo, existiam coisas ainda mais aterrorizantes do que a própria morte. Depois de despejar sua fúria sobre ela, Duarte perdeu o interesse ao vê-la naquele estado apático. Sem mais paciência, abandonou ela na cama e seguiu para o banheiro. ... Em outro lugar. Joaquim foi levado às pressas para o hospital. Após os exames, se descobriu que várias de suas costelas haviam sido fraturadas. Natacha, tomada pela dor, não conseguia parar de chorar enquanto Joaquim era encaminhado para a sala de cirurgia. Mesmo com o melh