Manuel pensou por um instante antes de dizer: — Nessa situação, a única coisa que você pode fazer é processá-lo. Mas Duarte é seu irmão... Como você vai processá-lo? Vai acusá-lo de cárcere privado ou de agressão? Você precisa pensar bem, porque, se levar isso adiante e ele for condenado, seu irmão pode acabar na prisão. Natacha hesitou. Embora Duarte fosse realmente detestável, ele ainda era seu irmão de sangue. Tudo o que havia vivido desde a infância o tornara no homem que era hoje. Joaquim percebeu o dilema de Natacha e interveio: — Deixa isso pra lá... No fim das contas, Duarte ainda é tio das crianças. Não se esqueça de que minha mãe já está presa. E se seu irmão for preso também? O que vai ser da nossa família com dois criminosos? Se isso vazar, como nossos filhos vão encarar essa história no futuro? No fim, Natacha desistiu da ideia de denunciar e processar Duarte. Pela família. Pelas crianças. Depois que Rosana e Manuel partiram, Natacha parecia profundamente aba
Diante da ameaça de Natacha, Duarte não demonstrou a menor preocupação. Ele sorriu e disse: — Natacha, eu te conheço melhor do que ninguém. Mesmo que eu não aceitasse sua proposta, você jamais deixaria de salvar Domingos. Natacha ficou surpresa. Não esperava que Duarte a entendesse tão bem. Duarte continuou: — Eu não vim aqui para pedir desculpas. Vim para te avisar. Se não quer que seu marido se machuque ainda mais, então continue fugindo com Lorena! Mas da próxima vez... Joaquim sairá muito mais ferido do que agora! O coração de Natacha afundou. Com raiva, ela pegou os documentos sobre a mesa e os atirou com força contra Duarte! Ele não desviou. O impacto abriu um corte em sua têmpora, e o sangue começou a escorrer. Duarte sabia que, naquele momento, Natacha o odiava profundamente. Na verdade, parecia que o mundo inteiro o odiava. Ele mesmo não entendia como, de repente, havia perdido tudo o amor, a família... Mas desistir? Isso não fazia parte de seus planos. Na
Clube Nuvem. Naquele momento, Duarte estava lidando com os assuntos da família Moreira em Cidade Y. Seu tio Leandro vinha fazendo movimentos cada vez mais ousados e até já começara a enviar pessoas para Cidade M, o que exigia vigilância constante. Assim, além de se preocupar com Lorena e Domingos, Duarte ainda tinha uma pilha de problemas no trabalho para resolver. Foi nesse instante que Enrico entrou, com um tom de leve estranhamento na voz: — Chefe, a Srta. Lorena disse que quer um piano em casa. Ou então alguns livros. Ela falou que está entediada. Duarte ficou surpreso. Até então, Lorena vinha se trancando no quarto, passando dias inteiros sem dizer uma única palavra. Agora, ela estava fazendo pedidos? Ele olhou para Enrico, intrigado: — Foi ela mesma que disse isso? Enrico assentiu e comentou: — Sim! Também achei estranho. Agora há pouco, Nicole me ligou dizendo que a Srta. Lorena parecia outra pessoa hoje. Ela até se maquiou e se arrumou toda. Depois, foi at
Por causa do tom sarcástico de Lorena, Duarte ficou furioso. No entanto, foi difícil para Lorena finalmente falar com ele, e Duarte também não queria explodir e quebrar novamente essa frágil harmonia que mal havia se formado. Por isso, ele disse em um tom contido: — Toque! Lorena suspirou, sem escolha, e começou a tocar uma música no piano. À medida que seus dedos deslizavam pelas teclas, uma melodia suave e envolvente preencheu o ar, e, junto com ela, o coração de Lorena também foi se acalmando. Duarte olhou na direção dela. Onde sua visão alcançava, tudo que via era o perfil delicado e encantador de Lorena. Naquele momento, ela estava completamente imersa na música, sem a teimosia habitual que costumava exibir. O coração de Duarte tremeu e, pouco a pouco, foi se tornando mais suave. Ele teve uma vontade quase incontrolável de ir até ela e envolvê-la em seus braços, mas temia estragar aquele instante perfeito. Quando a música chegou ao fim, Duarte ainda não havia saí
Naquele momento, Lorena estava sentada na beira da cama, de costas para a porta, com o corpo tremendo levemente. Duarte supôs que ela estivesse chorando. Ele se aproximou e, de fato, viu as lágrimas escorrendo silenciosamente pelo rosto de Lorena. Aquilo o deixou ainda mais angustiado do que quando ela o xingava, tomada pela raiva. — Por que está chorando? — Duarte ergueu a mão e enxugou delicadamente a umidade no canto dos olhos dela. Seu tom, involuntariamente, se suavizou. — Você queria um piano, queria livros... Eu já não trouxe tudo para você? O que mais falta? Lorena respirou fundo, reunindo coragem. — Se você pretende me trancar aqui para sempre, então qual é a diferença disso para uma prisão? Duarte soltou uma risada baixa. — A diferença é enorme! Na prisão, tem que seguir regras, acordar cedo, dormir tarde e ainda trabalhar! Mas você... Passa os dias sendo servida pela Nicole, ganha tudo o que quer. Isso aqui é muito mais confortável do que uma cela! Lorena mor
Lorena olhava para a mãe, surpresa. Apesar de saber que a mente dela já não estava lúcida, naquele momento, os olhos de sua mãe eram tão puros e sinceros que a deixaram abalada. Lorena evitava encarar aqueles olhos, com medo de decepcioná-la. — Duarte, esse mentiroso! Ele me enganou e agora ainda quer enganar minha mãe! Mas a Sra. Lopes continuava segurando a mão de Lorena e perguntou: — Você ouviu o que eu disse? Lorena, por que não responde à mamãe? Sem alternativa, Lorena forçou um sorriso e disse: — Ouvi. Mais tarde, ela fez questão de perguntar ao médico e às enfermeiras. Todos disseram que viam Duarte no hospital com frequência. Ele praticamente ia lá todos os dias. Alguns até elogiaram Lorena, dizendo que ela tinha bom gosto e sabia escolher um marido. Com o coração pesado, Lorena deixou o hospital. Ao olhar para trás, viu que dois ou três dos homens de Duarte ainda a seguiam. Quando perceberam que ela não estava voltando para casa, um deles apressou o pa
Com essa interrupção, Lorena acabou esquecendo de perguntar sobre o irmão. Afinal, Natacha havia mencionado que seu irmão era seu grande benfeitor, e Lorena estava bastante curiosa a respeito. Joaquim olhou para Natacha com uma expressão de dúvida e perguntou: — Por que você trouxe o Domingos? Natacha suspirou e explicou: — Eu disse às crianças que você estava viajando a trabalho no exterior. Otília e Adriano acreditaram, mas Domingos não. Ele insistiu que queria ver você, não teve jeito... Então, aqui estamos. Ela realmente não esperava esse encontro inesperado com Lorena enquanto estava com Domingos. Lorena observou o menino. Seus traços lembravam muito os de Duarte. Mas Domingos estava magro demais, tão frágil que parecia até doente. Joaquim fez um gesto com a mão para o garoto e disse: — Que história é essa de ficar tão envergonhado? Vai se esconder atrás da sua tia agora? Vem aqui! Com um pouco de hesitação, Domingos finalmente saiu de trás de Natacha e se ap
Aquela cena fez Natacha sentir uma opressão sufocante. Lorena olhou para Natacha com um olhar cheio de compaixão e disse: — Me desculpe... — Você não tem nada pelo que se desculpar comigo. — Lorena sorriu levemente. — Quem me deve desculpas é Duarte, não você. Mesmo sendo irmã dele, eu jamais descontaria minha mágoa em você. Quanto mais Lorena dizia essas palavras, mais difícil era para Natacha suportar. — Mas você vive sob a vigilância constante do meu irmão... Quando esse tipo de vida vai acabar? — perguntou Natacha, angustiada. O olhar de Lorena refletiu um traço de melancolia, mas logo sua expressão se suavizou, e ela respondeu com indiferença: — A antiga Lorena talvez já tenha morrido no momento em que foi enganada e levada para País N. A mulher que sou agora foi salva por Duarte... Então, que seja. Vou considerar que estou em dívida com ele. Seja lá o que ele quiser fazer comigo, eu aceitarei. Pelo bem da minha mãe, eu preciso continuar vivendo. Natacha ficou prof