༺ Scarlett Winslow ༻
Linda me puxou para a pista de dança, e nos perdemos na batida da música. Entre risadas e movimentos que acompanhavam o ritmo envolvente, sinto que cada segundo ali me tornava mais presente, mais viva. Por um instante, enquanto dançarmos, vi um homem na borda da pista me observando. Ele tinha uma expressão enigmática, olhar penetrante e um leve sorriso que revelava confiança. Ele era mais velho, talvez perto dos trinta oito anos, mas tem algo de familiar. Dei de ombros, voltando minha atenção para Linda, decidida a não deixar que ninguém interrompesse minha noite. Porém, uma dúvida pairava na minha mente. E se aquele homem não fosse apenas mais um dos muitos rostos de Washington? A batida da música parecia tomar conta de mim, me levando para um estado de puro abandono. Cada movimento era uma liberação, como se eu estivesse me despedindo de tudo que me prendia ao passado, ao casamento sem rosto, ao peso de ser herdeira. Percebi Linda, alguns passos à frente, encostada na parede com um sorriso travesso, aos beijos com um cara alto e loiro que ela tinha claramente acabado de conhecer. Fiquei feliz por ela — Linda nunca esperava nada da vida que não fosse diversão e liberdade. Apoiei as mãos na cintura, observando a multidão e sentindo o impulso de fazer o mesmo. Era a minha noite, afinal. Decidida, me aproximei de Linda e comentei, em meio ao som alto: — Vou até o bar pegar mais uma bebida. Me encontro com você depois. Ela assentiu, mal me ouvindo, completamente imersa no novo ficante da noite. Sorri, tentando espantar qualquer sombra de timidez que pudesse restar, e caminhei até o bar. — Um martíni, por favor — pedi ao bar tender, enquanto ele me servia um sorriso e logo depois a bebida. Tomei o primeiro gole, sentindo o líquido quente e revigorante descer. Foi quando notei, do outro lado do balcão, o homem me observando. Ele tem um olhar intenso, misterioso, e um leve sorriso que não revelava muito sobre ele, mas parecia me chamar. Tinha uma presença magnética, o tipo de confiança que só homens mais velhos, maduros, pareciam ter. E ele era bonito, muito bonito. Vestia uma camisa preta que realçava os ombros largos, os olhos escondidos em sombras sedutoras por conta das luzes baixas. Ele ergueu o copo na minha direção, um convite silencioso. Não hesitei, levantei meu copo também, respondendo ao gesto com um sorriso sutil. Ele se aproximou devagar, cada passo com uma elegância que me deixava sem fôlego. — Noite movimentada, não é? — ele comentou, sua voz rouca e grave, uma pitada de humor escondida nas palavras. — Parece que todos decidiram viver um pouco hoje — respondi, sorrindo enquanto o encarava. Ele deu uma risada, e seus olhos brilharam. Algo nele me deixou intrigada, como se ele tivesse segredos tão profundos quanto os meus. Conversamos sobre coisas triviais — a música, a cidade, a energia da boate nessa noite. Cada palavra parecia nos aproximar, e a tensão no ar aumentava a cada troca de olhares. Estava perdendo a noção do tempo, e o mundo ao nosso redor foi se tornando um borrão de luzes e som. — Você é de Washington? — perguntei, inclinando a cabeça, tentando descobrir mais sobre o estranho. — Mais ou menos — respondeu, com aquele sorriso que sugeria muito, mas revelava pouco. — E você? — Sou daqui, mas me sinto uma estrangeira às vezes — admiti, tentando parecer casual. Ele pareceu gostar da minha resposta, observando-me como se tentasse entender o que estava por trás dela. Sem aviso, ele estendeu a mão para mim. — Vamos dançar. Aceitei sem hesitar, e em segundos estamos no meio da pista de dança, a música nos envolvendo. Ele colocou a mão em minha cintura, me puxando para mais perto, e senti seu perfume amadeirado. Minha respiração se acelerou, e cada movimento que fazíamos, toque, só aumentava o desejo que crescia entre nós. A essa altura, estou completamente envolvida. Sentia uma liberdade, um desprendimento, como se tudo que conhecia tivesse ficado do lado de fora daquela boate. Dançamos até que as palavras se tornassem desnecessárias, e nossos olhares diziam tudo o que precisávamos saber. Quando a música desacelerou, ele se inclinou e sussurrou: — Vamos para um lugar mais tranquilo? Meus instintos diziam para hesitar, para me lembrar das complicações e da realidade que esperava por mim fora dali. Porém, naquela noite, não queria ser Scarlett, a herdeira de um império. Mas apenas ser uma mulher qualquer, desejada por um homem que me enxergava por quem eu era. Concordei com um aceno de cabeça, e saímos da pista juntos. Subimos para o lounge VIP, um espaço mais privado e tranquilo. As luzes ali eram mais suaves, e o som da música abafado. Sentamos no sofá, próximos demais, e ele passou os dedos, levemente, pelo meu rosto. — Você é diferente, sabia? Nunca conheci uma mulher tão interessante — murmurou, o olhar fixo nos meus. Meu coração acelerou, e de repente, palavras não eram mais necessárias. Me aproximei, até que nossos rostos estivessem a centímetros de distância, e ele me beijou. Foi um beijo cheio de intensidade, como se ele estivesse esperando por isso tanto quanto eu. A noite continuou, e na madrugada, deixamos as preocupações e identidades para trás. Não era mais a herdeira ou a mulher casada de um homem misterioso. Ele não era ninguém além de um homem que me fazia esquecer de tudo ao nosso redor. Naquela noite, vivi finalmente o momento pelo qual esperei sem saber — e mal sabia o quanto tudo estava prestes a mudar. Enquanto nos beijamos me perdi completamente. Cada toque, e sussurro dele sob meu ouvido, me fazia esquecer do mundo e das responsabilidades que costumavam pesar sobre meus ombros. Senti a tensão de anos se dissipando, e permiti que a liberdade daquela noite fosse a única coisa a preencher minha mente. Não falamos muito mais depois do beijo; parecia que nossos corpos diziam tudo o que era preciso. Ele tem um jeito de me olhar que deixava meu coração acelerado, como se enxergasse algo em mim que ninguém mais via. E ali, no lounge VIP, com as luzes difusas e o som abafado, me senti conectada a ele de uma forma inesperada. Era quase surreal, como se o destino estivesse se divertindo ao nos colocar juntos naquela noite. Algum tempo depois, sem nos preocuparmos com o que o amanhecer traria, fomos embora juntos. Dividimos um táxi, rindo como adolescentes e trocando olhares carregados de um desejo que parecia não ter fim. Quando chegamos ao hotel onde ele estava hospedado, mal esperamos o elevador nos levar até o andar certo. Entre beijos e risos abafados, atravessamos a porta do quarto. Naquela noite, me senti viva de um jeito que não nunca havia experimentando há muito tempo. Com ele, pude esquecer de quem eu era, de todos os problemas que minha posição e herança traziam. Eu era apenas Scarlett, uma mulher comum, e ele, um homem que fez cada segundo valer a pena. Ao amanhecer, senti o calor do sol atravessando as cortinas. Ele ainda estava dormindo ao meu lado, a respiração tranquila, como se o mundo pudesse parar naquele instante. Por um momento, considerei tocá-lo, despertar uma última vez aquela faísca que havíamos compartilhado. Mas, sabendo que a realidade logo voltaria a nos separar, levantei-me em silêncio, vesti minha roupa e deixei o quarto antes que ele acordasse. Caminhei pelas ruas desertas de Washington com um sorriso tranquilo, carregando comigo a lembrança de uma noite inesquecível!༺ Grayson Fonseca ༻Acordei com uma dor de cabeça insuportável, a luz do sol filtrando-se pelas cortinas pesadas do quarto. O primeiro pensamento que me veio à mente foi a lembrança da mulher incrível com quem passei a noite. Ao virar-me para o lado, esperei encontrá-la, mas o lado da cama estava vazio.— Merda, aonde é que ela está? — murmurei, começando a ficar irritado.“ Será que ela está no banheiro?” pensei.Levantei-me e fui na direção do banheiro, mas ele estava vazio. Passei a mão pela barba, sentindo o crescimento indesejado. Não conseguia acreditar que a mulher que passou a noite comigo e nem sequer se despediu.— Realmente, ela era uma ordinária. — A frustração crescia dentro de mim.Preciso encontrá-la novamente. Essa infeliz despertou algo em mim que nenhuma mulher jamais fez. Enquanto puxava o lençol, uma mancha de sangue chamou minha atenção. Olhei para ela, perplexo.— Puta que pariu, a garota era virgem? — O choque me atingiu.Agora mais do que nunca, estava determin
༺ Scarlett Winslow ༻— Como assim, você deixou o cara sozinho no hotel e saiu sem nem se despedir? — Linda me olhou, incrédula, enquanto tomava um gole de seu café, quase cuspindo a bebida de tanto rir.Dei uma gargalhada, ainda me recuperando da ressaca e tomando um longo gole de água.— Foi melhor assim — respondi, dando de ombros. — Foi só uma noite de prazer e nada mais.Linda balançou a cabeça, divertindo-se com a situação.— Nossa, garota! Se eu fosse ele, me sentiria totalmente usado! Você é cruel.— Talvez ele tenha entendido que foi só sexo. — Sorri de forma tranquila, certa de que ele devia estar acostumado a esse tipo de encontro. Homens como ele raramente se apegam, pensei.Linda me olhou com uma sobrancelha levantada, cheia de curiosidade.— E aí… foi bom, né? Afinal, foi sua primeira vez, então deve ter sido doloroso ou…Dei um sorriso relaxado, lembrando dos momentos intensos da noite anterior.— Ele foi tão… intenso e habilidoso. — Suspirei, me lembrando do toque dele,
༺ Scarlett Winslow ༻Na manhã seguinte, me encontrei imersa em alguns documentos da empresa. Tentar absorver o máximo sobre como ela funcionava era uma tarefa exaustiva, mas inevitável. Faltavam poucos meses para assumir meu posto, e a expectativa era de que estivesse pronta para liderar. Mal sabia meu “marido” que, quando chegasse o momento, eu faria isso do meu jeito.Um leve bater na porta me tirou dos meus pensamentos.— Entre — disse, ainda olhando para os papéis.Era Gertrudes. Ela sempre entrava com um ar de discrição, mas hoje parecia hesitante.— Senhorita Scarlett, o advogado do senhor Fonseca está aqui.Revirei os olhos, bufando.— Claro… o advogado do meu marido fantasma. — A ironia escorria da minha voz. — Diga a ele que já vou… Estou terminando de ler um documento importante.Gertrudes assentiu, compreendendo meu tom, e se retirou, fechando a porta atrás dela. Mas, na verdade, havia perdido todo o interesse no que estava lendo. Pensei no quanto esse advogado era tão insu
༺ Grayson Fonseca ༻— Como assim ela não quis assinar? — explodi, encarando Olavo, meu advogado, que parecia mais desconcertado a cada segundo. — Essa garota é uma irresponsável? Ela tem noção da importância desses documentos?Olavo tentou explicar, com um tom quase suplicante.— Senhor Fonseca, tentei de tudo. Expliquei serem documentos essenciais, mas a senhorita Scarlett foi irredutível. Disse que só assinaria se… bem, se o senhor fosse até lá pessoalmente.— Pessoalmente? — Ri, mas sem humor algum. — E o que ela pensa que sou? Um garoto de recados? Essa pirralha está brincando com coisa séria.Olavo se mexeu, visivelmente desconfortável, e com um gesto de impaciência, mandei que saísse. Ele hesitou, mas não se atreveu a discutir. Assim que a porta se fechou, peguei o copo de uísque que tinha na mão e o arremessei contra a parede, vendo-o se despedaçar. A fúria queimava dentro de mim.— Quem essa garota pensa que é? — murmurei, passando a mão pelos cabelos, tentando me acalmar. — E
༺ Scarlett Winslow ༻Uma semana depois…O sol aquecia minha pele enquanto me deitava na espreguiçadeira à beira da piscina, os óculos escuros protegendo meus olhos, mas não impedindo minha mente vagar. Linda, ao meu lado, ria de algo no celular, mas meu pensamento estava em outro lugar, ou melhor, em outra pessoa.A noite que passei com aquele homem desconhecido ainda era um borrão vívido na minha mente, e me perguntava se algum dia o veria novamente. Aquela possibilidade parecia improvável, mas, de algum modo, havia uma sensação de que nossas histórias não estavam encerradas.— Ainda pensando nele? — Linda me cutucou com o cotovelo, me tirando dos devaneios.— Não sei do que você está falando. — Tentei me fazer de desentendida, desviando o olhar para a água cristalina da piscina.— Sei… Você é péssima mentirosa, sabia? — Ela riu, balançando a cabeça. — Percebo como você ficou depois daquela noite. Admito que nunca te vi tão impactada.Suspirei e tentei disfarçar o sorriso, mas sabend
༺ Grayson Fonseca ༻Suspirei fundo, ouvindo a voz da minha querida esposa insuportável. Tentei manter a calma enquanto pensava na conversa que estava prestes a ter.— Então, você vai falar ou não? — A provocação dela ecoou do outro lado da linha, e me forcei a manter a paciência.— Precisamos que você assine novos documentos. Eles são importantes, Scarlett.Ela respondeu de forma desafiadora.— E se eu não quiser?Adotei um tom mais autoritário. — Se você não quiser, o problema é seu. Se você perder a empresa para a votação que a sua ex-madrasta está organizando, será uma consequência das suas escolhas. E, convenhamos, você assumirá a presidência em breve.O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor. Sentia que ela estava processando o que disse.— Parece que a mimadinha agora perdeu a língua. — Continuei, um sorriso vitorioso surgindo no meu rosto. — Vai assinar ou não?Ouvi um suspiro profundo do outro lado. — Mande os documentos. Vivian não tirará tudo que é meu.— Ótimo, pel
༺ Scarlett Winslow ༻Após ligação de Grayson Fonseca, precisava de um tempo para arejar a cabeça. A tensão da conversa ainda estava fresca em minha mente, então decidi que era hora de me distrair. Entrei na sala, onde Linda estava folheando os canais da TV.— Vamos assistir aquela nova série que todo mundo está comentando? — perguntei, tentando esconder minha agitação.Linda virou-se, os olhos brilhando de animação.— Claro! Aquela sobre as irmãs bruxas? Não vejo a hora de ver o que acontecerá.Nos acomodamos no sofá, a luz da tela iluminando nossos rostos. Enquanto o primeiro episódio começava, não posso deixar de pensar em Vivian. A mulher era uma verdadeira cobra, sempre pronta para atacar.— Percebi que a bruxa da sua ex-madrasta não perde tempo em tentar te derrubar? — Linda comentou, fazendo uma careta.— Sim — respondi, com um suspiro. — Mas estou preparada. Vivian não vai me intimidar, nem aquele panaca pau-mandado do meu irmão. Eles não têm ideia do que passei para chegar até
༺ Grayson Fonseca ༻Estava sentado em minha mesa, concentrado em assinar alguns documentos, quando Olavo entrou na sala. Com uma expressão que misturava surpresa e seriedade, e isso imediatamente chamou minha atenção.— O que aconteceu? — perguntei, levantando os olhos para ele.Olavo ajeitou os óculos, respirando fundo antes de responder.— A senhora Vivian está reunindo o conselho. A reunião acontecerá em breve.Um sorriso sarcástico se formou em meus lábios. Então, aquela mulher estava decidida a levar isso a sério.— Vou participar dessa reunião — declarei, levantando-me e ajeitando meu paletó preto. — É hora de deixar claro que aquele filho bastardo dela não tem condições de assumir a presidência da empresa. Estou analisando tudo o que ele fez na empresa, e com 15% das ações, não vejo como ele poderia assumir esse cargo.— A senhorita Scarlett é a mais adequada para isso — Olavo argumentou, sua voz firme.— Concordo. Ela tem inteligência e determinação. — Minha mente estava afiad