Capítulo 04

༺ Scarlett Winslow ༻

— Como assim, você deixou o cara sozinho no hotel e saiu sem nem se despedir? — Linda me olhou, incrédula, enquanto tomava um gole de seu café, quase cuspindo a bebida de tanto rir.

Dei uma gargalhada, ainda me recuperando da ressaca e tomando um longo gole de água.

— Foi melhor assim — respondi, dando de ombros. — Foi só uma noite de prazer e nada mais.

Linda balançou a cabeça, divertindo-se com a situação.

— Nossa, garota! Se eu fosse ele, me sentiria totalmente usado! Você é cruel.

— Talvez ele tenha entendido que foi só sexo. — Sorri de forma tranquila, certa de que ele devia estar acostumado a esse tipo de encontro. Homens como ele raramente se apegam, pensei.

Linda me olhou com uma sobrancelha levantada, cheia de curiosidade.

— E aí… foi bom, né? Afinal, foi sua primeira vez, então deve ter sido doloroso ou…

Dei um sorriso relaxado, lembrando dos momentos intensos da noite anterior.

— Ele foi tão… intenso e habilidoso. — Suspirei, me lembrando do toque dele, como ele parecia conhecer cada detalhe do meu corpo. — Não senti muita dor. Na verdade, ele fez com que tudo fosse tão gostoso que nem parecia minha primeira vez. Foi muito melhor do que qualquer coisa que tenha sentido sozinha nesses últimos anos.

Ela riu, batendo os dedos na mesa.

— Amiga, agora você está vivendo de verdade! E isso é só o começo.

Sorri, tentando ignorar o calor subindo no meu rosto. Linda não estava errada; pela primeira vez, sentia que minha vida estava tomando um rumo novo. Por uma noite, deixei todas as minhas preocupações para trás e fui só Scarlett, uma mulher que buscava prazer e liberdade, sem pensar nas consequências.

— E aí? — Linda me cutucou com um olhar provocador. — Quem sabe na próxima você não encontre esse cara de novo? Já imaginou?

— Duvido. Foi só uma noite, Linda — respondi, fingindo desinteresse, embora uma pequena parte de mim se perguntasse como seria encontrá-lo outra vez.

Estamos na cozinha, e eu conversava animadamente com Linda, ainda rindo de nossas lembranças da noite passada. Ela insistia em saber cada detalhe, curiosa e divertida, enquanto eu tentava resumir o encontro sem me entregar demais. Era bom finalmente poder falar disso sem reservas, sem o peso da responsabilidade que sempre me cercava.

De repente, o som da campainha ecoou pela casa, interrompendo nossa conversa. Gertrudes, minha governanta leal e praticamente parte da família, foi até a porta atender. Continuei minha conversa com Linda, sem me importar muito, até que Gertrudes retornou com um semblante sério.

— Senhora Scarlett, tem visita para você — ela avisou, com um tom cuidadoso. — E, pelo visto, não são das boas.

Suspirei fundo, antecipando o incômodo que estava por vir. Sem dúvidas, não seria ninguém que eu gostaria de ver em pleno sábado. Revirei os olhos, tentando manter o pouco de paciência que ainda me restava.

— Quem é, Gertrudes? — perguntei, prevendo a resposta.

— Sua ex-madrasta e o seu irmão, senhorita. Eles querem falar com você.

Fechei os olhos por um instante, soltando o ar devagar. Aquela mulher não tinha limites. Vivian estava cada vez mais irritada com a proximidade da minha posse oficial na presidência da empresa, e sempre arrumava alguma desculpa para tentar me fazer mudar de ideia, vindo na minha casa. Engoli a irritação e me preparei para o que estava por vir.

Olhei para Linda, que ergueu as sobrancelhas em um misto de curiosidade e empatia.

— Parece que seu sábado tranquilo acabou de desmoronar — comentou, levantando-se devagar. Linda riu de leve e fez um gesto de apoio. — Boa sorte, amiga. Essa aí é uma cobra, mas tenho certeza de que você sabe como lidar com ela.

Sorri de canto, tentando reunir forças. Vivian estava determinada a se infiltrar em qualquer aspecto da minha vida, mas não facilitarei para ela.

Caminhei em direção à sala com passos firmes, tentando mentalizar que não deixaria Vivian e Lucas me afetarem. Nos últimos meses, ela vinha tentando me persuadir, insistindo que o testamento de meu pai era injusto. Mas não cederia; faltavam poucos meses para eu assumir o controle da empresa, e ela não tiraria isso de mim.

Ao entrar na sala, me deparei com ela, sentada no sofá, segurando sua bolsa com um ar de superioridade, enquanto Lucas estava ao seu lado, com o olhar entediado, mas pronto para apoiar a mãe em qualquer provocação.

— Que surpresa, Vivian — comecei, tentando soar o mais neutra possível. — E Lucas. O que posso fazer por vocês?

Vivian ergueu o queixo, seus olhos frios e calculistas, enquanto lançava um sorriso afetado.

— Scarlett, querida, precisamos conversar sobre essa… situação — disse ela, sua voz pingando falsidade. — Penso que você já deve saber o quanto essa divisão foi injusta. Afinal, como o Lucas pode ficar com uma parte tão pequena? Ele é seu meio-irmão, sangue do seu pai.

Respirei fundo, cruzando os braços. Já conhecia de cor o discurso manipulador dela.

— Vivian, meu pai foi bem claro em seu testamento. A empresa e a maioria dos bens ficará comigo, porque era isso que ele queria. Você sabe que existe a parte da minha mãe como herança também? Lucas recebeu o que lhe é de direito, assim como você.

Lucas, que até então parecia mais interessado em outra coisa, soltou uma risada sarcástica.

— Você fala como se estivesse fazendo um favor, Scarlett. Mas nós também somos parte dessa família. E meu pai me deixou só 15%? — ele balançou a cabeça, indignado. — Isso não é justo.

— Justo? — rebati, mantendo a calma. — Penso que justo é respeitar a última vontade do nosso pai, Lucas. Ele construiu a empresa desde o início com a minha mãe e sabia bem o que estava fazendo.

Vivian suspirou exageradamente e levantou-se do sofá, andando em minha direção com o olhar incisivo.

— Sinceramente, Scarlett — disse ela, tentando soar ameaçadora. — Você pode querer ser a menininha do papai, mas isso não te dá o direito de tirar de nós o que merecemos. Entraremos com um pedido de revisão do testamento. Garantirei que o Lucas receba o que lhe é devido, e, se necessário, ir à Justiça por isso.

Dei um meio sorriso, mantendo minha postura.

— Vivian, fique à vontade para fazer o que quiser. Se quer mesmo essa batalha, estou pronta.

A tensão no ar era palpável. Vivian, com seu olhar desafiador, não estava disposta a recuar.

— Você sabe, Scarlett — começou ela, com um tom cheio de desdém — Meu filho Lucas tem mais direito à presidência da empresa do que você. Ele é o mais velho, e sua posição de herdeiro deveria ser respeitada.

Suspirei fundo, tentando manter a calma diante de suas provocações.

— É verdade, Lucas é o mais velho — respondi, — Mas não se esqueça de que ele é fruto de uma traição, quando meu pai era casado com a minha mãe. Contudo, um bastardo…

Vivian se contorceu, indignada.

— Eu só quis dar um herdeiro ao Eduardo — disse, defensiva. — Ele merecia isso! E eu o amava naquela época. Afinal, sua mãe era uma seca, incapaz de dar um filho a ele.

Uma risada sarcástica escapou de meus lábios.

— Olha, para mim, o que importa é que mesmo com o “útero seco” da minha mãe, ela conseguiu gerar um filho e veja aqui estou eu… Você não vai me convencer do contrário, Vivian. A empresa e minha.

A raiva dela se tornava visível.

— E quanto a essa casa também? — ela disparou. — Era para ser minha! Você pode até pensa que tem direito a tudo isso, mas eu era casada com seu pai. Essa mansão deveria ser minha!

— Essa mansão é da minha mãe, uma herança da família dela — retruquei, segura de mim. — Nunca colocará suas mãos no que pertenceu a ela.

Vivian pareceu se recuperar rapidamente, como uma cobra prestes a atacar.

— Mas seu pai tinha direito sobre essa casa! Ele estava aqui quando se casou comigo, e isso dá a mim e a Lucas o que é direito nosso!

A exaustão me atingiu como uma onda. Não queria mais discutir. A frustração subiu à minha cabeça.

— Olha, estou cansada dessa conversa, Vivian. Por favor, vá embora. Sua presença aqui já é insuportável o suficiente. — Apontando para a porta, acrescentei — Procure seus direitos onde quiser, até no inferno se for preciso.

Ela me lançou um olhar mortal, mas a raiva que vi em seu rosto não me intimidava. Estava decidida. Essa casa, a empresa e tudo o que era meu e são minhas responsabilidades, não deixaria que ninguém os tirasse de mim.

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