Capítulo 05

༺ Scarlett Winslow ༻

Na manhã seguinte, me encontrei imersa em alguns documentos da empresa. Tentar absorver o máximo sobre como ela funcionava era uma tarefa exaustiva, mas inevitável. Faltavam poucos meses para assumir meu posto, e a expectativa era de que estivesse pronta para liderar. Mal sabia meu “marido” que, quando chegasse o momento, eu faria isso do meu jeito.

Um leve bater na porta me tirou dos meus pensamentos.

— Entre — disse, ainda olhando para os papéis.

Era Gertrudes. Ela sempre entrava com um ar de discrição, mas hoje parecia hesitante.

— Senhorita Scarlett, o advogado do senhor Fonseca está aqui.

Revirei os olhos, bufando.

— Claro… o advogado do meu marido fantasma. — A ironia escorria da minha voz. — Diga a ele que já vou… Estou terminando de ler um documento importante.

Gertrudes assentiu, compreendendo meu tom, e se retirou, fechando a porta atrás dela. Mas, na verdade, havia perdido todo o interesse no que estava lendo. Pensei no quanto esse advogado era tão insuportável quanto o próprio Grayson Fonseca. Decidi deixá-lo esperando, talvez assim ele e meu “adorável” esposo aprendessem uma lição.

Passei os olhos distraidamente em outro documento, fingindo concentração, porém o relógio marcava a passagem do tempo. Quase meia hora depois, dei um sorriso satisfeito e maldoso. Era hora de acabar com o suspense.

Ao entrar na sala, encontrei o advogado sentado, com uma expressão neutra, embora a impaciência estivesse clara no olhar dele.

— Senhorita Scarlett — disse ele, levantando-se e estendendo a mão.

Apertei a mão dele com frieza.

— Pois não? Senhor Olavo.

Ele ajeitou a postura e, sem perder tempo, foi direto ao ponto.

— O senhor Fonseca pediu que lhe entregasse esses documentos. Ele julga ser importante que a senhorita comece a se inteirar da empresa, especialmente na parte dos cálculos de lucros.

Peguei o envelope e dei um sorriso sarcástico.

— Claro, meu marido sempre tão atencioso e prestativo. Tão dedicado... Só não tem tempo para conhecer a mulher com quem é casado há quase cinco anos.

Ele engoliu em seco, visivelmente desconfortável, mas tentando manter a postura profissional.

— Bom… Eu… Não posso fazer nada quanto a isso, senhorita. Apenas cumpro ordens.

E então, ele abriu a pasta que segurava e colocou um documento sobre a mesa, empurrando-o em minha direção.

— Também preciso que assine aqui, por favor. É um documento importante para a administração da empresa.

Olhei para ele, inclinando-me ligeiramente para frente. Decidi que seria tão péssima quanto ele meu “querido marido” pensava que eu poderia ser.

— Sabe, eu não vou assinar. Se o senhor Fonseca quer tanto essa assinatura, ele que se vire para conseguir.

Ele me olhou, nervoso.

— Senhorita Scarlett, isso é crucial para a empresa. Você não pode fazer isso.

Sorri, apreciando a reação dele.

— Ah, eu posso sim. Afinal, ainda não assumi nada, então, ele continua sendo o administrador, certo?

Ele prendeu o fôlego, claramente sem saber como lidar com a situação. Depois de alguns instantes de hesitação, se levantou e, sem escolha, fechou a pasta com uma expressão derrotada.

— Como quiser, senhorita. Relatarei a situação ao senhor Fonseca.

Observei ele sair da sala com o rabo entre as pernas. Era quase prazeroso vê-lo sair com a derrota estampada no rosto. Afundei-me de volta na cadeira, rindo baixinho, até que Gertrudes entrou novamente.

Ela lançou um olhar repreensivo, mas, ao mesmo tempo, sabendo bem que, quando eu decidia ser perversa, ninguém conseguia me deter.

— Gertrudes, por favor, traga um drink de morango com um toque de álcool.

Ela assentiu, mas lançou um último olhar que misturava reprovação e compreensão. Assim que ela saiu, murmurei, ainda com um sorriso malicioso nos lábios.

— Quem sabe assim o senhor Fonseca aprenda que ele não é o dono do mundo e acreditar ser melhor do que qualquer um.

Eu não iria esquecer os anos de bosta que ele me fez passar. Essa pequena vingança era só o começo.

Depois de algumas doses do meu drink de morango, senti a leveza tomar conta do meu corpo. Precisava daquela fuga, que me fizesse esquecer do mundo e, especialmente, esse casamento sem rosto. Coloquei uma música e deixei o som preencher o ambiente. Comecei a balançar os quadris, me entregando ao ritmo, deixando que cada batida me guiasse. Aquele momento era só meu.

Já havia se passado algum tempo e a bebida começava a fazer efeito, quando Gertrudes entrou na sala e me lançou um olhar preocupado.

— Senhorita Scarlett, acredito que já está bom, não?

Sorri, com uma pontada de teimosia.

— Ah, Gertrudes, é só mais esse. Prometo!

Ela suspirou, balançando a cabeça, mas sabia que não ia conseguir me convencer. E assim, voltei a dançar, rindo e cantando a letra da música, sentindo a liberdade que tanto desejava. Até que meu celular começou a vibrar na mesa.

Suspirei e abaixei o volume da música, pegando o telefone e vendo um número desconhecido.

— Alô?

Do outro lado, uma voz grossa e fria falou sem rodeios.

— O que pensa que está fazendo, Scarlett? Agindo como uma irresponsável?

Franzi o cenho, confusa. Quem aquele idiota achava que era para falar comigo desse jeito?

— Quem é você para pensar que tem o direito de falar assim?

Uma risada seca veio em resposta, carregada de sarcasmo.

— Sou seu marido. Ou já esqueceu que é a senhora Fonseca?

Minhas sobrancelhas se arquearam de surpresa, mas logo me recuperei. Então finalmente essa era a voz do meu “marido misterioso”.

— Ah, então agora o senhor resolve lembrar que é casado? Depois de quatro anos e meio? Pensei que mandaria um sinal de comunicação como na era da pedra por sinal de fumaça.

Ele ignorou minha provocação e seguiu com o tom autoritário.

— E você deveria se comportar conforme o papel que assumiu. Tem documentos a serem assinados, mas prefere agir feito uma garota mimada.

Revirei os olhos, bufando.

— Engraçado ouvir isso de alguém que nunca fez questão de sequer aparecer. Talvez eu seja mimada mesmo, mas pelo menos não sou um fantasma que dá ordens à distância.

Do outro lado, posso sentir a irritação dele.

— Isso não muda que você tem responsabilidades, Scarlett. Seu comportamento só prova o quanto ainda é imatura.

Cruzei os braços, me divertindo com o desespero dele.

— Sabe, Grayson, realmente pensei que meu marido fosse ao menos um pouco educado. Se é tão importante assim, venha me pedir pessoalmente para assinar esses documentos.

— Tenho coisas mais importantes para fazer do que perder meu tempo com suas birras, Scarlett.

— Ótimo. Porque eu também não estou interessada em assinar documento nenhum. Aliás, pense bem antes de me ligar de novo — repliquei com um sorriso sarcástico.

Ainda com o celular na mão, senti uma mistura de raiva e satisfação. Por fim, murmurei com um sorriso triunfante:

— Que insuportável… Não vejo a hora de me livrar dele.

Ele ainda teve a audácia de responder com frieza:

— E eu também não vejo a hora de me ver livre de uma pirralha mimada como você.

Aquilo me fez ferver. Aumentei o tom, não contendo o sarcasmo.

— Pois agora, querido, eu não assino nenhum documento, seja ele importante ou não!

E com um gesto definitivo, desliguei na cara dele. Suspirei profundamente, sentindo a adrenalina e o prazer de ter virado o jogo. Essas farpas estavam longe de ser o fim, e eu estou mais do que pronta para ser um desafio à altura de Grayson Fonseca.

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