༺ Scarlett Winslow ༻
Na manhã seguinte, me encontrei imersa em alguns documentos da empresa. Tentar absorver o máximo sobre como ela funcionava era uma tarefa exaustiva, mas inevitável. Faltavam poucos meses para assumir meu posto, e a expectativa era de que estivesse pronta para liderar. Mal sabia meu “marido” que, quando chegasse o momento, eu faria isso do meu jeito. Um leve bater na porta me tirou dos meus pensamentos. — Entre — disse, ainda olhando para os papéis. Era Gertrudes. Ela sempre entrava com um ar de discrição, mas hoje parecia hesitante. — Senhorita Scarlett, o advogado do senhor Fonseca está aqui. Revirei os olhos, bufando. — Claro… o advogado do meu marido fantasma. — A ironia escorria da minha voz. — Diga a ele que já vou… Estou terminando de ler um documento importante. Gertrudes assentiu, compreendendo meu tom, e se retirou, fechando a porta atrás dela. Mas, na verdade, havia perdido todo o interesse no que estava lendo. Pensei no quanto esse advogado era tão insuportável quanto o próprio Grayson Fonseca. Decidi deixá-lo esperando, talvez assim ele e meu “adorável” esposo aprendessem uma lição. Passei os olhos distraidamente em outro documento, fingindo concentração, porém o relógio marcava a passagem do tempo. Quase meia hora depois, dei um sorriso satisfeito e maldoso. Era hora de acabar com o suspense. Ao entrar na sala, encontrei o advogado sentado, com uma expressão neutra, embora a impaciência estivesse clara no olhar dele. — Senhorita Scarlett — disse ele, levantando-se e estendendo a mão. Apertei a mão dele com frieza. — Pois não? Senhor Olavo. Ele ajeitou a postura e, sem perder tempo, foi direto ao ponto. — O senhor Fonseca pediu que lhe entregasse esses documentos. Ele julga ser importante que a senhorita comece a se inteirar da empresa, especialmente na parte dos cálculos de lucros. Peguei o envelope e dei um sorriso sarcástico. — Claro, meu marido sempre tão atencioso e prestativo. Tão dedicado... Só não tem tempo para conhecer a mulher com quem é casado há quase cinco anos. Ele engoliu em seco, visivelmente desconfortável, mas tentando manter a postura profissional. — Bom… Eu… Não posso fazer nada quanto a isso, senhorita. Apenas cumpro ordens. E então, ele abriu a pasta que segurava e colocou um documento sobre a mesa, empurrando-o em minha direção. — Também preciso que assine aqui, por favor. É um documento importante para a administração da empresa. Olhei para ele, inclinando-me ligeiramente para frente. Decidi que seria tão péssima quanto ele meu “querido marido” pensava que eu poderia ser. — Sabe, eu não vou assinar. Se o senhor Fonseca quer tanto essa assinatura, ele que se vire para conseguir. Ele me olhou, nervoso. — Senhorita Scarlett, isso é crucial para a empresa. Você não pode fazer isso. Sorri, apreciando a reação dele. — Ah, eu posso sim. Afinal, ainda não assumi nada, então, ele continua sendo o administrador, certo? Ele prendeu o fôlego, claramente sem saber como lidar com a situação. Depois de alguns instantes de hesitação, se levantou e, sem escolha, fechou a pasta com uma expressão derrotada. — Como quiser, senhorita. Relatarei a situação ao senhor Fonseca. Observei ele sair da sala com o rabo entre as pernas. Era quase prazeroso vê-lo sair com a derrota estampada no rosto. Afundei-me de volta na cadeira, rindo baixinho, até que Gertrudes entrou novamente. Ela lançou um olhar repreensivo, mas, ao mesmo tempo, sabendo bem que, quando eu decidia ser perversa, ninguém conseguia me deter. — Gertrudes, por favor, traga um drink de morango com um toque de álcool. Ela assentiu, mas lançou um último olhar que misturava reprovação e compreensão. Assim que ela saiu, murmurei, ainda com um sorriso malicioso nos lábios. — Quem sabe assim o senhor Fonseca aprenda que ele não é o dono do mundo e acreditar ser melhor do que qualquer um. Eu não iria esquecer os anos de bosta que ele me fez passar. Essa pequena vingança era só o começo. Depois de algumas doses do meu drink de morango, senti a leveza tomar conta do meu corpo. Precisava daquela fuga, que me fizesse esquecer do mundo e, especialmente, esse casamento sem rosto. Coloquei uma música e deixei o som preencher o ambiente. Comecei a balançar os quadris, me entregando ao ritmo, deixando que cada batida me guiasse. Aquele momento era só meu. Já havia se passado algum tempo e a bebida começava a fazer efeito, quando Gertrudes entrou na sala e me lançou um olhar preocupado. — Senhorita Scarlett, acredito que já está bom, não? Sorri, com uma pontada de teimosia. — Ah, Gertrudes, é só mais esse. Prometo! Ela suspirou, balançando a cabeça, mas sabia que não ia conseguir me convencer. E assim, voltei a dançar, rindo e cantando a letra da música, sentindo a liberdade que tanto desejava. Até que meu celular começou a vibrar na mesa. Suspirei e abaixei o volume da música, pegando o telefone e vendo um número desconhecido.— Alô?Do outro lado, uma voz grossa e fria falou sem rodeios.— O que pensa que está fazendo, Scarlett? Agindo como uma irresponsável?Franzi o cenho, confusa. Quem aquele idiota achava que era para falar comigo desse jeito?— Quem é você para pensar que tem o direito de falar assim?Uma risada seca veio em resposta, carregada de sarcasmo.— Sou seu marido. Ou já esqueceu que é a senhora Fonseca? Minhas sobrancelhas se arquearam de surpresa, mas logo me recuperei. Então finalmente essa era a voz do meu “marido misterioso”.— Ah, então agora o senhor resolve lembrar que é casado? Depois de quatro anos e meio? Pensei que mandaria um sinal de comunicação como na era da pedra por sinal de fumaça. Ele ignorou minha provocação e seguiu com o tom autoritário.— E você deveria se comportar conforme o papel que assumiu. Tem documentos a serem assinados, mas prefere agir feito uma garota mimada. Revirei os olhos, bufando.— Engraçado ouvir isso de alguém que nunca fez questão de sequer aparecer. Talvez eu seja mimada mesmo, mas pelo menos não sou um fantasma que dá ordens à distância. Do outro lado, posso sentir a irritação dele.— Isso não muda que você tem responsabilidades, Scarlett. Seu comportamento só prova o quanto ainda é imatura. Cruzei os braços, me divertindo com o desespero dele.— Sabe, Grayson, realmente pensei que meu marido fosse ao menos um pouco educado. Se é tão importante assim, venha me pedir pessoalmente para assinar esses documentos.— Tenho coisas mais importantes para fazer do que perder meu tempo com suas birras, Scarlett.— Ótimo. Porque eu também não estou interessada em assinar documento nenhum. Aliás, pense bem antes de me ligar de novo — repliquei com um sorriso sarcástico. Ainda com o celular na mão, senti uma mistura de raiva e satisfação. Por fim, murmurei com um sorriso triunfante:— Que insuportável… Não vejo a hora de me livrar dele. Ele ainda teve a audácia de responder com frieza:— E eu também não vejo a hora de me ver livre de uma pirralha mimada como você. Aquilo me fez ferver. Aumentei o tom, não contendo o sarcasmo.— Pois agora, querido, eu não assino nenhum documento, seja ele importante ou não! E com um gesto definitivo, desliguei na cara dele. Suspirei profundamente, sentindo a adrenalina e o prazer de ter virado o jogo. Essas farpas estavam longe de ser o fim, e eu estou mais do que pronta para ser um desafio à altura de Grayson Fonseca.༺ Grayson Fonseca ༻— Como assim ela não quis assinar? — explodi, encarando Olavo, meu advogado, que parecia mais desconcertado a cada segundo. — Essa garota é uma irresponsável? Ela tem noção da importância desses documentos?Olavo tentou explicar, com um tom quase suplicante.— Senhor Fonseca, tentei de tudo. Expliquei serem documentos essenciais, mas a senhorita Scarlett foi irredutível. Disse que só assinaria se… bem, se o senhor fosse até lá pessoalmente.— Pessoalmente? — Ri, mas sem humor algum. — E o que ela pensa que sou? Um garoto de recados? Essa pirralha está brincando com coisa séria.Olavo se mexeu, visivelmente desconfortável, e com um gesto de impaciência, mandei que saísse. Ele hesitou, mas não se atreveu a discutir. Assim que a porta se fechou, peguei o copo de uísque que tinha na mão e o arremessei contra a parede, vendo-o se despedaçar. A fúria queimava dentro de mim.— Quem essa garota pensa que é? — murmurei, passando a mão pelos cabelos, tentando me acalmar. — E
༺ Scarlett Winslow ༻Uma semana depois…O sol aquecia minha pele enquanto me deitava na espreguiçadeira à beira da piscina, os óculos escuros protegendo meus olhos, mas não impedindo minha mente vagar. Linda, ao meu lado, ria de algo no celular, mas meu pensamento estava em outro lugar, ou melhor, em outra pessoa.A noite que passei com aquele homem desconhecido ainda era um borrão vívido na minha mente, e me perguntava se algum dia o veria novamente. Aquela possibilidade parecia improvável, mas, de algum modo, havia uma sensação de que nossas histórias não estavam encerradas.— Ainda pensando nele? — Linda me cutucou com o cotovelo, me tirando dos devaneios.— Não sei do que você está falando. — Tentei me fazer de desentendida, desviando o olhar para a água cristalina da piscina.— Sei… Você é péssima mentirosa, sabia? — Ela riu, balançando a cabeça. — Percebo como você ficou depois daquela noite. Admito que nunca te vi tão impactada.Suspirei e tentei disfarçar o sorriso, mas sabend
༺ Grayson Fonseca ༻Suspirei fundo, ouvindo a voz da minha querida esposa insuportável. Tentei manter a calma enquanto pensava na conversa que estava prestes a ter.— Então, você vai falar ou não? — A provocação dela ecoou do outro lado da linha, e me forcei a manter a paciência.— Precisamos que você assine novos documentos. Eles são importantes, Scarlett.Ela respondeu de forma desafiadora.— E se eu não quiser?Adotei um tom mais autoritário. — Se você não quiser, o problema é seu. Se você perder a empresa para a votação que a sua ex-madrasta está organizando, será uma consequência das suas escolhas. E, convenhamos, você assumirá a presidência em breve.O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor. Sentia que ela estava processando o que disse.— Parece que a mimadinha agora perdeu a língua. — Continuei, um sorriso vitorioso surgindo no meu rosto. — Vai assinar ou não?Ouvi um suspiro profundo do outro lado. — Mande os documentos. Vivian não tirará tudo que é meu.— Ótimo, pel
༺ Scarlett Winslow ༻Após ligação de Grayson Fonseca, precisava de um tempo para arejar a cabeça. A tensão da conversa ainda estava fresca em minha mente, então decidi que era hora de me distrair. Entrei na sala, onde Linda estava folheando os canais da TV.— Vamos assistir aquela nova série que todo mundo está comentando? — perguntei, tentando esconder minha agitação.Linda virou-se, os olhos brilhando de animação.— Claro! Aquela sobre as irmãs bruxas? Não vejo a hora de ver o que acontecerá.Nos acomodamos no sofá, a luz da tela iluminando nossos rostos. Enquanto o primeiro episódio começava, não posso deixar de pensar em Vivian. A mulher era uma verdadeira cobra, sempre pronta para atacar.— Percebi que a bruxa da sua ex-madrasta não perde tempo em tentar te derrubar? — Linda comentou, fazendo uma careta.— Sim — respondi, com um suspiro. — Mas estou preparada. Vivian não vai me intimidar, nem aquele panaca pau-mandado do meu irmão. Eles não têm ideia do que passei para chegar até
༺ Grayson Fonseca ༻Estava sentado em minha mesa, concentrado em assinar alguns documentos, quando Olavo entrou na sala. Com uma expressão que misturava surpresa e seriedade, e isso imediatamente chamou minha atenção.— O que aconteceu? — perguntei, levantando os olhos para ele.Olavo ajeitou os óculos, respirando fundo antes de responder.— A senhora Vivian está reunindo o conselho. A reunião acontecerá em breve.Um sorriso sarcástico se formou em meus lábios. Então, aquela mulher estava decidida a levar isso a sério.— Vou participar dessa reunião — declarei, levantando-me e ajeitando meu paletó preto. — É hora de deixar claro que aquele filho bastardo dela não tem condições de assumir a presidência da empresa. Estou analisando tudo o que ele fez na empresa, e com 15% das ações, não vejo como ele poderia assumir esse cargo.— A senhorita Scarlett é a mais adequada para isso — Olavo argumentou, sua voz firme.— Concordo. Ela tem inteligência e determinação. — Minha mente estava afiad
༺ Scarlett Winslow ༻Ao entrar na sala, mantive meu rosto inexpressivo, embora por dentro sentisse uma pontada de surpresa. Não esperava encontrar aquele homem ali. Era como se o destino estivesse rindo da minha cara, testando o meu autocontrole.Ele me olhava com um misto de choque e curiosidade, mas ignorei sua presença. Não fazia ideia de quem ele era na empresa, mas não demoraria muito para descobrir.Respirei fundo e me concentrei no que era realmente importante. Olhei ao redor, encarando cada um dos membros do conselho, que murmuravam entre si, intrigados com a minha chegada repentina. Caminhei até a mesa principal e comecei a falar, a voz firme e cheia de propósito.— Veja bem, a WinsTech foi fundada com uma missão clara: criar tecnologias inovadoras que mudassem o mundo, melhorassem a vida das pessoas e nos colocassem sempre à frente. Meu pai, um homem de visão, dedicou sua vida a esse propósito. E ele não apenas confiou que eu daria continuidade a isso, como se certificou de
༺ Grayson Fonseca ༻Observei Scarlett enquanto ela tentava processar a surpresa ou seria decepção? Talvez raiva? Sua expressão era um misto interessante de emoções, e não posso evitar um leve sorriso de deboche. Quem diria que a mulher com quem eu havia passado aquela noite intensa era, afinal, minha esposa com quem estou casado há quatro anos meios? A garota franzina e jovem que pensei existir era, na verdade um verdadeiro mulherão à minha frente.Ela se recompôs rapidamente, ergueu o rosto com um ar desafiador e, com um tom sarcástico, comentou:— Então, o homem autoritário e idiota que ficava me dando ordens pelo telefone e pelo advogado e você? — Seus lábios se curvaram num sorriso ácido. — Claro que o cara com quem passei a noite tinha que ser você. Só pode ser uma piada do destino. Que merda…Soltei um suspiro, passando a mão pela garganta e tentando ignorar o orgulho ferido. Se ela queria jogar assim, então eu aceitaria o jogo.— Talvez devêssemos conversar em um lugar mais pri
༺ Scarlett Winslow ༻Cruzei os bracos, mantendo uma postura dura, enquanto Grayson tentava, com aquele olhar penetrante, atravessar a barreira que havia construído com muito esforço. Ele estava tão próximo que posso sentir o cheiro familiar de seu perfume, mas dessa vez, ao invés de me acalmar, isso só reacendia a mágoa. Quatro anos e meio. Quatro longos e meio anos em que ele fez de tudo para se manter longe de mim. E agora queria conversar?Ele me observou, como se estivesse esperando uma reação, talvez uma lembrança do que havia entre nós.— Você está falando sério, Scarlett? — Grayson perguntou, a voz tensa. — É isso que você quer? Simplesmente acabar com tudo?Um sorriso amargo brotou em meus lábios.— Acabar com tudo? — minha voz saiu cortante. — Me diga, Grayson, o que exatamente você acha que há entre nós? Porque, pelo que lembro, nunca foi nada além de uma formalidade. E-mails, advogados e ligações apressadas quando era conveniente para você.Ele respirou fundo, parecendo fru