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Sem receios, ou preocupações. São de arrependimentos e erros que as lembranças são feitas.

_ Adele

No dia seguinte as coisas não se tornaram fáceis. Eduardo acordou primeiro que Evelin, ao vê-la tão desconfortável no minúsculo sofá, algo balançou dentro dele, mas tão rápido que chegou esse sentimento foi embora, ao se lembrar porque estavam nessa situação.

— Acorda, preciso trabalhar e não tem café pronto! — Informou entrando no banheiro sem esperar a resposta dela. Evelin acordou sentindo dor em todo o corpo, mesmo assim não reclamou. Se espreguiçou, respirou fundo e saiu do quarto. Ela ignorou a forma que ele falou com ela de propósito, não procuraria confusão de manhã cedo.

Entrou na cozinha, e sentiu o impacto da beleza do lugar. É uma área planejada, totalmente funcional. A cor predominante é o branco que dá um ar clean ao ambiente. Abriu os armários e nada havia que pudesse fazer para um café da manhã. Foi até a geladeira embutida na parede e verificou-a. Achou algumas coisas que poderia aproveitar. Antes de começar, ligou para uma padaria que achou pela internet, próxima ao apartamento e pediu pães frescos. Quando eles chegaram ela já tinha montado a mesa.

Eduardo saiu do quarto uma hora depois, todo arrumado em um terno quatro peças sob medida na cor azul. Ela o observou de boca aberta, sentindo seu corpo corresponder de imediato a tal visão. Na época que se conheceram, ela não o encarava tão gulosa como agora. É provável que sua inocência não lhe deixou ver o que está diante de seus olhos. O quão gostoso seu aqui esposo é.

— Não ouse me encarar assim. — A alertou com aborrecimento. Evelin se sentiu idiota e envergonhada por ser pega.

Eduardo notou o rubor na face de sua esposa e ficou intrigado. Como uma mulher que pensa de forma tão vil, fica sem graça ao ser pega cobiçando-o? Se perguntou. Ele sentou na mesa do café e se surpreendeu. A mesa posta está impecável. Pães frescos em uma cesta, iogurte, panquecas e ovos cozidos e mexidos, café preto e suco de manga.

— Não sabia que gostava, então fiz um pouco de cada. — Explicou saindo.

— Onde pensa que vai? — Indagou escondendo a surpresa em um tom frio.

— Para o quarto.

— Sente-se e tome café comigo, não é um pedido. — Advertiu sem encará-la. Evelin sentou sem discutir, ela queria passar mais tempo com ele, mesmo que só observando. Seu esposo tomava o café com o telefone em mãos. Ocasionalmente ela percebia o sorriso dele e se perguntava quem lhe daria esse sorriso tão lindo. Sua pergunta não demorou para ser respondida quando escutou o áudio que recebeu de uma mulher que lhe chamava de amor, sem se conter saiu correndo e trancou-se no banheiro vomitando tudo o que comeu. Ela chorou humilhada e sentou perto do vaso. Repetia para si que era apenas um ano e que passaria muito rápido.

— O que está acontecendo aí? — Eduardo perguntou batendo na porta. Ele ficou preocupado, ainda que dissesse a si para não o fazer.

— Nada, se não precisa de mim, tomarei um banho. — Disse controlando a voz. Ele não deu importância, saiu batendo a porta com força. Entrou no carro com a cabeça cheia. Mesmo com raiva de sua mulher, ele a desejava e, isso é o que lhe deixa mais furioso.

Quando chegou à empresa Tecnologias Schramm foi recebido por felicitações. Claro, nem todos sabem o porquê de ter casado; por isso, recebe os parabéns de bom grado.

— Senhor, com todo respeito, sua esposa é uma gata! — O jovem estagiário da área de TI, comentou. Por algum motivo esse comentário não o agradou, então encarou seu funcionário perigosamente. O rapaz saiu correndo morrendo de medo. Eduardo pensou em Evelin e sorriu por alguns segundos. Realmente, ela é linda. Pensou! Ele se forçou a voltar ao trabalho e esquecê-la, caso contrário voltaria para casa sem pensar duas vezes e terminaria o que começou ontem com ambos no chão.

Evelin passou o dia no automático. Pela manhã esteve na faculdade na Universidade Federal da Bahia, na Ondina, após foi ao supermercado e fez as compras do mês, organizou tudo em seu devido lugar, trocou os lençóis de sua cama, comeu uma besteira e sentou no sofá da sala para descansar antes do jantar. Às 18h00min seu esposo chegou de cara amarrada, não lhe dirigiu palavra, mas ela fez questão de falar.

— Boa noite! — se ofereceu para pegar sua sacola e terno — Como foi seu dia?

— Estou com cara que quer conversar, ainda mais com você? — Perguntou parando abruptamente, quase derrubando-a. Evelin respirou fundo e sorriu.

— Como quiser, marido!

— Não me chame desse jeito.

— Tudo bem, o chamarei de Eduardo. — Deu de ombros cansada. Ele a ignorou e entrou no banheiro, enquanto isso ela terminava de pranchar seus cabelos os deixando mais lisos, logo os põem em um Nero para tomar banho. Quando entrou em seu quarto de novo, seu esposo já estava arrumado em um terno Armani preto. Sua barba está feita evidenciando sua covinha charmosa no queixo e seus cabelos estão penteados para trás. Está lindo. Pensou ela escondendo sua reação olhando para o nada.

— O que está fazendo? Por que não tomou banho ainda? — Indagou estressado. O jeito inocente dela está o endurecendo, ao acreditar ser pura encenação.

— Farei isso agora, me arrumo rápido.

— O problema é seu. — olhou no relógio — Você vestirá esse vestido que coloquei na cama, nem pense em me desobedecer.

— Para onde vai? — Perguntou quando o viu pegando a chave do carro.

— Já estou indo.

— E eu?

— Pegue um táxi. — Rebateu grosso. Eduardo saiu e deixou uma Evelin zangada. Tudo isso a mágoa e enraivece. Sem querer pensar muito, tomou um banho, se maquiou no espelho do banheiro. Tudo que sabe de maquiagem ela viu nos tutoriais no YouTube. Por último foi até o vestido. Ela nunca usou nada do tipo, mas arriscaria. É um vestido de alça, vermelho-escuro, com um decote em V, profundo, mas o que chama mais atenção é a fenda lateral direita, que mostra sua coxa torneada. Após soltar seus cabelos e colocá-los atrás da orelha, saiu. Chamou um táxi e pagou com seu próprio dinheiro. Quando chegou à mansão da família Schramm avistou seu esposo parado na porta, em um lugar estratégico para ninguém vê-lo. Mas, ela, que é bem curiosa, acabou o encontrando. Quando seus olhos bateram nela, por alguns segundos ela vislumbrou surpresa e contentamento. Sorriu sem jeito.

— Lembre-se, não faça besteira, ou os seus irão sofrer! — Ameaçou puxando-a. Evelin parou de sorrir envergonhada. Por uma fração de tempo, ao ver seu olhar para ela, esqueceu a real situação em que vivia. Eles entraram na casa do avô do seu esposo sendo recebidos por vários olhares, porém o que se sobressai é o olhar de admiração. Ele escutava os burburinhos de como sua esposa é linda, o seu peito encheu-se de contentamento, mesmo que não demonstrasse a ela.

— Olha, nosso mais novo casal! — O patriarca da família Schramm proferiu chamando a atenção de todos. Ele mesmo puxou a salva de palmas para eles.

— Não é para tanto, vovô. — Eduardo rebateu abraçando o homem que mais respeita nessa vida.

— Claro que sim, afinal meu único neto se casou e em breve me dará muitos netos. — Terminou beijando o dorso da mão de Evelin. Ela sorria por fora, mas gritava por dentro. Ela jamais daria um filho a um homem que não a ama, que quer apenas o seu mal.

— É um prazer finalmente conhecê-lo, senhor Schramm! — Exclamou com um sorriso amigável. Ela pediu licença e foi ao banheiro, após respirar muitas vezes saiu com um sorriso ensaiado. No meio do caminho alguém tomou sua frente.

— Oi, de novo! — Saldou o desconhecido. Ele foi uma das pautas de brigas de seu casamento.

— Oi! — Sorriu cortês.

— Que tal uma dança? — sugeriu esticando as mãos, mas ela exitou — Vamos, não será a primeira vez.

Evelin pensou, depois aceitou. Não sabe qual influência o homem à sua frente tem com seu esposo. Eles se posicionaram ao lado dos outros casais, e uma balada romântica era entoada pela banda ao vivo.

Do outro lado da sala, Eduardo conversava com seu avô discretamente.

— É melhor começarmos a providenciar essa criança, quanto mais cedo melhor. — Terminou, frio.

— Não seja repulsivo, moleque. Espero que não esteja maltratando a menina. — olhou seu neto seriamente — Espere pelo menos sua esposa terminar os estudos, faltam dois meses, se não me engano.

— Como achar melhor, vovô… — Se calou ao avistar sua esposa dançando com Alex, um dos homens que mais detesta na face da terra. Embora seja o meio-irmão de Bruna, eles nunca se deram bem, por serem rivais nos negócios. A raiva o cegou ao notar Evelin de sorrisos para ele, deslizando na pista de dança como uma verdadeira dançarina. Ele não sabia que ela dançava tão bem. Efetivamente, ele não sabe muita coisa sobre ela, nem que conhecia Alex, basta prestar atenção e perceber a intimidade de ambos. Seu ódio dobrou de tamanho quando notou o vestido que usava. A fenda em sua coxa é muito reveladora, se arrependeu amargamente de tê-lo escolhido.

— Sua esposa tem uma beleza singular! — Ouviu seu avô elogiando-a. A palavra singular lhe arremeteu ao passado, mas não lembra sobre o que é, não cogita descobrir no momento. A algo mais urgente que precisa elucidar.

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