Casaram-se com pompa na Igreja de São Pedro da Sé no ano de 1887. Ele a levara para morar na Fazenda Santa Clara, entretanto, Afonsina era visivelmente uma moça da cidade. Não que não gostasse do ar puro do campo. Apenas gostava de passeios de braços dados com o marido pelas ruas empoeiradas da cidade. Enzo entendeu a necessidade da moça. Era ainda muito jovem. Construiu um casarão para ela no centro da jovem São Carlos. Não poupou esforços em fazê-lo. Influenciado pela construção do Palacete Conde do Pinhal, a mando de Antônio Carlos de Arruda Botelho, empolgado com a vinda da Família Imperial à cidade, contratou o mesmo engenheiro, Davi Cassinelli, que faria o casarão do Conde. Tudo para agradar a jovem esposa. É claro que a sua construção não fora tão esplendorosa quando à do Conde, contudo, ladrilhos e
Enzo sentiu-se traído. O mundo se abria a seus pés, esperando-o mergulhar em suas entranhas até se afogar, sem encontrar algo em que se apoiar.— Tenho certeza de que papai não fez por mal, Enzo — disse Enrico, acanhado, enquanto rodava o chapéu nas mãos. — Ele só não esperava morrer tão cedo.— E eu não esperava que meus próprios irmãos se comportassem como dois abutres!Afonsina tudo ouvia na sala ao lado. Mesmo que quisesse fazer o que a etiqueta mandava — não ouvir a conversa dos outros atrás da porta — tornou-se impossível. Três italianos discutindo era como rugido de três leões famintos.— Não vou vender a fazenda — Grunhiu Enzo, esmurrando a mesa.— Não devia ter feito sociedade com papai. Agora temos que vender. Quero minha parte no espólio. &md
Ela me encarou com o queixo erguido, desafiando-me.— Bom, — disse estalando a língua — creio estar certa em relação a esse Ângelo. Acho que só pensa em se divertir. Realmente tem algo nele que me incomoda. — Concluiu, voltando ao seu normal, visivelmente querendo mudar de assunto.— Estamos apenas no começo, Marina. Muita água vai rolar. Se ficar quietinha, posso continuar.— Não é de o meu feitio ficar calada. Lembre-se, estou aqui para ajudar.— Eu sei, querida. — Não resisti em pegar-lhe a mão e olhar profundamente em seus belos olhos. Sorri, diante de seu constrangimento, continuando com a leitura. As coisas começavam a ficar divertidas. Sabia que estava em um jogo em que poderia sair perdedor. Precisava arriscar, para minha própria saúde mental. Viver um amor platônico é interessante por
Augusto encara Ângelo, de cenho franzido. O rumo daquela conversar o incomoda.— Do que exatamente está falando? Estamos exportando café como nunca.— Isso tende a acabar.— Como pode saber? Por acaso agora se tornou adivinho? — Desdenhou Augusto.— Não. Não me tornei — encarou o irmão com olhos apertados — Se você se desse ao trabalho de me considerar um homem de negócios, e não apenas um moleque gastador de dinheiro, saberia que não estou dizendo bobagem.— Você? Um homem de negócios?— Se a fazenda também não fosse minha eu bem que deixaria você se arrebentar inteiro. — Disse Ângelo, ruborizado.— A fazenda será sua depois que trabalhar nela!— Estamos correndo o risco de perdê-la! Eu sei o que estou dizendo. Se vendê-la agora, fi
Sorri diante da perspicácia de Marina.— Posso continuar? — Perguntei virando a próxima folha.— Claro que sim. Agora quero saber tudo.— Então não me interrompa.— Não dá! Esse cara me dá nos nervos. — Por quê?— Pode chamar de instinto. Não confio nele.— Ainda nem comecei a falar dele! Em que se baseia? Meramente no instinto ou tem algo mais?— Não sei, Alberto. Tirando o fato de ele ser um homem extremamente bonito, tenho impressão de que vai aprontar alguma.— Qual o problema em ser um homem bonito? — perguntei desconfiado — Desde quando a beleza define o caráter de um homem? — Não define. Apenas não confio em homens bonitos. Eles sempre se julgam o máximo, sempre acham que todas as mulheres estão
Gloria o viu deixar a cozinha, soltando o ar devagar. Apaixonara-se por Augusto assim que o vira e não fora simplesmente porque a contratara, ou tratara-a de forma tão correta. Era um homem bonito, culto e decidido, bem diferente de outros coronéis que só pensavam em benefícios próprios, esquecendo-se de que só os tinha por causa dos que se matavam de sol a sol para isso. Augusto era diferente. Preocupava-se com todos os colonos. Achava graça na amizade sincera que ele tinha com Zezinho desde os tempos de criança.Sabia que ele não a via com os mesmos olhos que ela, contudo, sentia que um dia, talvez isso pudesse mudar.— Sonhando acordada de novo, menina? — Perguntou dona Helena, com um sorriso discreto nos lábios, ao entrar novamente na cozinha.— Não estou sonhando. — Respondeu com cara amarrada.— Sei. Já tomou café?&
Não nego que senti um tiquinho de ciúme, ao abordá-la:— Você está realmente falando dele ou de outra pessoa? Tive a impressão que...— Estou falando dele. — Interrompeu-me, ácida.— Está bem. Posso continuar? — Perguntei, com medo de incitá-la ainda mais e obter uma resposta que ferisse meu coração.— Pode, mas se continuar nessa linha acho que vou odiar esse cara. Filhinho de mamãe, pomposo.— Ele está apenas tentando salvar os negócios da família, Marina.— Sei não, Alberto. Acho que tem gato nessa tuba. Meus instintos não falham. Já te disse.— Nunca falharam, Marina? Nem mesmo quando você se encontrava apaixonada por aquele seu namorado ator?— Nem mesmo. — respondeu-me com os olhos cintilando — Talvez tenha demorado um pou
Depois que Verônica nos deixou, dizendo voltar em breve com alguma informação, fui interpelado por Marina:— Parece que você gostou muito de Verônica!— É claro que sim. Ela é linda, extrovertida e muito inteligente.— Acho que extrovertida demais, não acha?— Senti um leve ciúme na sua voz? – Perguntei brincando, mas louco para saber a verdade.— Vai se achando, vai!— Que bom que não sente nada por mim. Talvez eu possa me arriscar com sua amiga. O que acha? Ela está sozinha? — Encarei-a, vendo-a ruborizar.— O que você faz da sua vida não me interessa. — Respondeu ácida e era tudo o que eu precisava saber. Talvez ela não tivesse se machucado tanto assim com o ator metido à besta.— Bem, vamos ao trabalho? As coisas estão
Augusto o encara ressabiado. Deveria acreditar num moleque que até então só sabia gastar o dinheiro do pai com mulheres e viagens? Estava cansado de ouvir reclamações sobre seu comportamento. Contudo, soubera que se saíra muito bem com alguns investimentos, apesar dele nem desconfiar que tudo acontecia com o seu consentimento.— O que o faz ter tanta certeza de que perderemos a colheita? E por que está se mostrando tão preocupado somente agora?— Já lhe disse. Acabei de chegar de Nova York e tudo o que temos também me pertence. Nada mais justo que me preocupe e não queira perder dinheiro.— Tem algo mais, Ângelo. Sei que tem. Diga agora ou não te ouvirei mais.— Está bem. Investi em ações na América e, por causa da crise que estão vivendo, perdi tudo da noite para o dia.— Quanto?—