Alexandra, ainda recuperando o fôlego do beijo, se inclinou para perto de Miguel e sussurrou:— Desculpa por isso... Agora te devo uma.Miguel, sem entender muito bem, apenas riu e voltou a dançar com o grupo. Alex, por sua vez, sentiu a energia se dissipar e saiu da multidão, procurando um lugar para se sentar e tentar processar tudo o que havia acontecido. O álcool ainda circulava em seu sistema, mas a excitação do momento começava a dar lugar a um sentimento mais pesado de antecipação. Meia hora depois, como se seus pensamentos tivessem se manifestado na realidade, a festa foi interrompida abruptamente pelos professores, que chegaram com expressões severas.— O que está acontecendo aqui? — uma das professoras perguntou com a voz firme, atravessando o grupo.Alexandra imediatamente soube que aquilo era obra de Camila. A delação tinha sido esperada, mas o momento da interrupção a fez sentir um frio na barriga. Os professores deram um longo sermão sobre responsabilidade, liderança e o
Por fim, as colegas de quarto de Alexandra durante a excursão ficaram como culpadas pela situação das roupas cortadas, pois não tinham coragem de delatar Camila e de fato foram cúmplices do ato. Os pais de Alex foram notificados da situação de maneira distorcida e enquanto ainda estavam no ônibus retornando ao instituto são Bartolomeu, Alex recebeu mensagem dos pais, falando sobre uma transferência bancária de alto valor após uma pegadinha feita por suas amigas que acabou por estragar seus uniformes. Alex não queria seus pais a par daquela situação de bullying e concordou com a mentira contada pela escola. Os pais enviaram o dinheiro para o cartão que Alex tinha consigo para que ela comprasse as novas roupas. No retorno até o colégio, todos já sabiam das novidades e no jantar, Alex não teve como fugir da provocação dos amigos, mas aceitou tudo, ao menos num lugar público, não podia contar que não tinha nada com Miguel. Naquela noite, quando Alexandra estava prestes a deitar, Elloá
Os dias letivos no Instituto São Bartolomeu passaram de forma intensa para Alexandra, como seus amigos haviam previsto. Com o tempo, ela conseguiu encontrar um ritmo que lhe permitia equilibrar os estudos, os momentos com seus amigos e, claro, seu falso namoro com Miguel. A rotina da escola era exigente, mas Alex se adaptava cada vez mais, mantendo suas notas e lidando com as pressões sociais.Miguel, sempre extremamente simpático, a surpreendia frequentemente. Às vezes, os dois saíam para passear fora do campus, e ele a levava a lugares incríveis, desde cafeterias charmosas até lojas que Alex jamais imaginaria frequentar. Em um desses passeios, ele até comprou roupas novas para ela, um gesto que a deixou completamente surpresa e emocionada, apesar de inicialmente hesitar em aceitar. Além disso, em outra ocasião, ele a levou a um renomado salão de beleza para retocar a progressiva, deixando Alex com a autoestima renovada.Com o tempo, porém, as coisas começaram a ficar confusas para
Miguel respondeu à mensagem quase que instantaneamente."Vamos resolver isso hoje à noite, então. Depois do toque de recolher, me encontre na saída do seu prédio."O coração de Alexandra disparou. Sabia que não valia a pena quebrar as regras por conta de um rapaz, mas naquela noite agiu apenas com a emoção. Quando o toque de recolher finalmente soou e seus colegas de alojamento já estavam em um sono profundo, Alex se esgueirou silenciosamente para fora do dormitório, sentindo o frio da noite tocar sua pele, aquecida pela adrenalina.Miguel já estava esperando por ela, encostado no muro do prédio. Ele sorriu de forma travessa, acenando para que ela o seguisse.— Vem comigo, tenho um lugar perfeito pra gente ficar em paz — disse ele, conduzindo-a pelo campus escuro.Alex o seguiu, surpresa ao perceber que ele a levava para um dos prédios mais novos do campus. Logo se depararam com um dormitório aparentemente vazio. Miguel tirou uma chave do bolso e abriu a porta com facilidade, o que de
Na manhã seguinte, após uma noite de insônia cheia de angústia, Alexandra foi convocada novamente à sala do diretor. Seu estômago se contorcia de nervosismo, e ela mal conseguia pensar direito, já imaginando o que a esperava. No entanto, ao chegar lá, percebeu que não estava sozinha. Além dela, Miguel e outro garoto já estavam na sala. O menino parecia familiar; um dos bolsistas só primeiro ano, ela tinha quase certeza. O garoto tinha um porte franzino, as roupas ligeiramente desajustadas, e o cabelo escuro desgrenhado, como se tivesse acordado e saído correndo para a escola. Ele não parecia mais velho do que Alex, talvez até um pouco mais jovem, com traços delicados e pele clara, que agora exibia um hematoma roxo no rosto, como se tivesse levado um soco recentemente. Seus olhos, que evitavam contato com qualquer um na sala, estavam cheios de insegurança e medo. Ele se encolhia na cadeira, mexendo nervosamente nas mãos, que tremiam levemente.
Na manhã seguinte, a reunião com os pais foi marcada bem cedo, e Alex já sentia a pressão antes mesmo de entrar na sala. Enquanto seus pais participavam por chamada de vídeo, os pais de Miguel estavam presentes em pessoa. Seu pai, um homem de aparência rígida, vestindo um terno impecável, tinha uma postura severa, como se estivesse o tempo todo julgando a todos ao seu redor. A mãe de Miguel, uma mulher alta e bem arrumada, tinha uma expressão de desdém no rosto, os lábios finos comprimidos em uma linha dura de desaprovação. Miguel estava sentado entre eles, parecendo pequeno e impotente. Seu habitual ar confiante tinha desaparecido, substituído por uma tensão visível. Ele mantinha os olhos fixos no chão, quase como se quisesse desaparecer dali. A cada palavra que seus pais trocavam com o diretor, o garoto parecia murchar ainda mais, sem coragem de enfrentar o olhar de Alex ou de seus próprios pais. O pai de Miguel, sempre firme, falava com aut
Durante a semana, com o passar dos dias, o trabalho parecia que seria pesado, logo se mostrou tranquilo e o inspetor logo tirou sua fantasia de "carrasco" e foi relaxando. Seu nome era Seu Jorge, um funcionário veterano do colégio que, com o tempo, começou a contar histórias de sua vida.— Vocês sabiam que eu já fui campeão de truco? — perguntou ele num tom mais descontraído, enquanto jogavam cartas na quarta-feira, quando já não tinham mais tanto trabalho assim. — Ah, meu tempo de glória foi grande. Viajei por toda a região jogando campeonatos.Miguel, com as cartas na mão, sorriu.— Truco? Agora faz sentido por que você é bom nisso, Seu Jorge. Eu tô perdendo toda hora!Seu Jorge riu e deu um tapa amigável no ombro de Miguel.— Mas, olha, estou pegando leve com vocês. Se fosse sério, vocês não ganhariam nem uma rodada.Os almoços com os funcionários também se tornaram momentos agradáveis. O clima era leve, e Seu Jorge sempre trazia histórias novas e engraçadas, fazendo com que as
Alex olhou para o próprio celular, mas nenhuma notificação apareceu. Ela não tinha recebido o convite, nem foi adicionada ao grupo da festa. O incômodo cresceu dentro dela, mas ela sabia que Miguel havia mantido isso em segredo de propósito. Suas reações precisavam ser autênticas para que ninguém percebesse que tudo fazia parte de um plano maior.Conforme os minutos passavam, ela ouvia mais e mais sobre a festa, até que, como de costume, Camila apareceu ao seu lado com aquele sorriso venenoso.— Ah, Alex... Parece que nem todo mundo é convidado para as festas, né? Acho que, mesmo dormindo com um dos "bem-sucedidos", você nunca vai fazer parte do grupo — alfinetou Camila, com a voz carregada de sarcasmo.Antes que Alex pudesse responder, Lucas, que estava sentado a poucos metros, notou a situação e se levantou para intervir. Ele se aproximou e, com um tom tranquilizador, disse:— Eu posso levar um convidado e, se quiser, pode ser você, Alex.Ela balançou a cabeça, recusando com firmeza