Naquele dia, Rosa decidiu que não permitiria que Ricardo ou qualquer outra pessoa roubassem sua paz. Montou na bicicleta e começou a pedalar de volta para casa, enquanto pedalava, Rosa percebeu algo estranho. Uma Lamborghini preta estava andando devagar demais atrás dela. Ela olhou de canto e franziu o cenho. Não era comum carros irem tão devagar naquela rua, ainda mais um porte desse.— Não é possível… — murmurou, tentando ignorar a paranoia.Ela aumentou a velocidade, mas o carro manteve o ritmo. Era como se estivesse a escoltando. De repente, a janela do passageiro se abaixou, e uma voz que ela conhecia bem ecoou.— Rosa, essa bicicleta já não tem conserto. Você deveria considerar um carro.Ela virou a cabeça, quase sem acreditar.— Senhor Trajano? — perguntou, — O que está fazendo aqui?Ricardo, dirigindo o carro como se fosse dono da rua (e, em muitos casos, ele era dono mesmo), deu de ombros.— Só estava passando por aqui e vi que você estava indo embora. Achei que poderia preci
O restaurante era luxuoso, com mesas decoradas com flores frescas e aqueles talheres chiques . Um garçom os guiou até uma mesa onde já estavam sentados outros convidados: três fornecedores, todos homens, que se levantaram para cumprimentá-los. — Boa noite, senhores — disse Ricardo, com sua voz controlada, antes de apresentar Rosa. — Esta é Rosa, minha secretária. Ela tem estado diretamente envolvida em nosso projeto. Os homens cumprimentaram Rosa com sorrisos cordiais, mas um deles, em particular, parecia especialmente interessado nela. Seu nome era Gustavo, e ele era o representante de uma empresa de tecnologia que fornecia sistemas de automação para os projetos de Ricardo. — Prazer em conhecê-la, Rosa — disse Gustavo, segurando a mão dela por um momento mais longo do que o necessário. — Espero que tenhamos a chance de conversar mais durante o jantar. Rosa sentiu as bochechas corarem, mas manteve o profissionalismo. — Claro, Gustavo. É um prazer trabalhar com sua equipe.
O sol mal havia nascido, mas o escritório de Ricardo Trajano já estava em pleno movimento. Na sala dele, o som de plantas arquitetônicas sendo jogadas sobre a bancada ecoava pelo espaço. Ricardo estava em pé, com as mangas da camisa arregaçadas, passando os dedos pelos cabelos em um gesto frustrado. Ele empilhava as plantas de um lado, depois as jogava para o outro, como se estivessem impedindo-o de resolver algo que não estava ali, algo que ele nem queria admitir.A porta se abriu e Rebeca entrou, equilibrando um copo de café e um tablet. Ela parou na porta, observando a cena com as sobrancelhas erguidas.— Ricardo, você está bem? Parece... mais irritado do que o normal — disse, com um leve tom de provocação.Ele nem se deu ao trabalho de olhar para ela.— Preciso reorganizar essas plantas, mas parece que nada faz sentido hoje.Rebeca colocou o café sobre a mesa dele, devagar, e ajeitou a postura, fazendo questão de empinar os ombros e ajustar os seios no decote do vestido justo.— T
Ricardo marchou de volta para sua sala, os passos não eram de raiva, eram de frustração. Ele fechou a porta com um movimento brusco, largando o corpo pesado na cadeira de couro.Aquela apresentação impecável de Rosa havia o desarmado. Ele estava pronto para criticá-la, para colocá-la contra a parede por estar longe de sua mesa, mas, ao contrário, ela provou que não só estava trabalhando como também estava indo além das expectativas.Ricardo passou as mãos pelo rosto, tentando recuperar o controle. Mas era impossível. Tudo o que ele conseguia pensar era no sorriso de Rosa enquanto ela apresentava. Era um sorriso de confiança, mas com um toque de provocação que o deixava ainda mais inquieto.Pegou o telefone mais uma vez, mas hesitou antes de discar. Ele queria chamá-la, queria que ela entrasse em sua sala só para ele poder sentir sua presença e, talvez, roubar sua calma com algum comentário ácido.— Maldita seja, Rosa… — murmurou, largando o telefone de volta no gancho com força.Rosa
Ricardo franziu o cenho, irritado com a interrupção. Ele pegou o telefone para ligar para a segurança, mas a linha estava ocupada.— Deve ser algum teste mal planejado — murmurou, enquanto caminhava até a porta para ver o que estava acontecendo.Mas Rosa já estava na frente, saindo da sala para verificar. Ricardo seguiu logo atrás, sentindo-se frustrado por não conseguir controlá-la.No corredor, os funcionários estavam amontoados, conversando uns com os outros, tentando entender o que havia acontecido.— Fiquem em suas mesas! — ordenou Ricardo, a voz firme ecoando pelo espaço.Mas Rosa não o ouviu. Ela já estava caminhando em direção à sala de manutenção, onde parecia que o som do alarme era mais forte.— Rosa, volte aqui! — ele gritou, mas ela ignorou.Quando Ricardo finalmente alcançou Rosa, encontrou-a ajoelhada perto de um painel de controle, analisando os cabos.— O que você pensa que está fazendo?— Resolvendo o problema, já que ninguém mais parece saber como — respondeu ela, s
Rosa desceu os degraus da empresa com passos pesados e o coração apertado, não usou o elevador, com receio de poder dar de cara com alguém. Seu olhar estava turvo, as lágrimas ameaçavam cair a qualquer instante. Assim que alcançou o poste onde sua bicicleta estava amarrada, o pranto que tentava segurar explodiu. Lágrimas grossas escorriam pelo rosto enquanto ela destrancava o cadeado com as mãos trêmulas."Eu só queria aprender... só queria fazer meu melhor", murmurava baixinho para si mesma, as palavras engasgadas no choro.Montando na bicicleta, ela começou a pedalar, mas suas pernas mal acompanhavam o ritmo das emoções que a sufocavam.Na frente da cafeteria do outro lado da rua, Nat saía comendo um pão de queijo e segurando um copo de café fumegante. Ao avistar Rosa, imediatamente percebeu que algo estava errado.— Rosa? — chamou, atravessando a rua rapidamente.Rosa parou a bicicleta, os olhos vermelhos e inchados denunciando o choro recente.— Oi, Nat... — respondeu, tentando fo
De volta ao escritório, Ricardo não conseguia se concentrar. A visão de Rosa saindo do carro de Gustavo não saía de sua mente, e a raiva crescia. Ele se perguntava o que ela estava fazendo com ele, e por que parecia tão à vontade. Aquele aperto no peito que ele insistia em negar, o incômodo crescente, tudo o fazia questionar...Era ciúme, e ele sabia disso."Por que ela mexe tanto comigo?", pensou, pressionando as têmporas com as mãos.Foi nesse momento que Rebeca entrou na sala, impecável como sempre, com um sorriso calculado nos lábios. Ela percebeu o semblante conturbado de Ricardo e viu sua oportunidade.— Dia difícil, Ricardo? — perguntou, aproximando-se e fechando a porta atrás de si.Ele ergueu os olhos e suspirou.— Você nem imagina...Rebeca aproveitou a deixa, caminhando lentamente até ficar ao lado dele.— Talvez eu possa ajudar. Sabe que sempre fui boa em... aliviar tensões.Ricardo estreitou os olhos, compreendendo exatamente o que ela queria dizer. Eles tinham um históri
— Ricardo, você está tão tenso. Por que não deixamos isso para amanhã e...— Já chega, Rebeca. — A voz dele saiu firme, quase dura. Ele deu um passo para trás, quebrando o contato físico entre os dois.— Já chega? — Ela riu, incrédula, mas tentando esconder a irritação. — Você está tentando me dizer que acabou?Ele virou-se para ela, o olhar intenso e carregado.— Não estou dizendo nada. Só preciso de um tempo para pensar, estou com muito trabalho.Rebeca cruzou os braços, inclinando a cabeça com um sorriso sarcástico.— Pensar no quê? Naquela garota que mal sabe o que está fazendo aqui? Ricardo, você está se deixando levar por algo que nem faz sentido.Ele não respondeu imediatamente, mas suas mandíbulas travadas eram resposta suficiente.— Rebeca, só... vai trabalhar.A irritação brilhou nos olhos dela, mas ela sabia que insistir agora não seria vantajoso.— Claro. — Ela ajeitou a saia com um movimento calculado e caminhou em direção à porta. Antes de sair, lançou um último olhar po