Rosa desceu os degraus da empresa com passos pesados e o coração apertado, não usou o elevador, com receio de poder dar de cara com alguém. Seu olhar estava turvo, as lágrimas ameaçavam cair a qualquer instante. Assim que alcançou o poste onde sua bicicleta estava amarrada, o pranto que tentava segurar explodiu. Lágrimas grossas escorriam pelo rosto enquanto ela destrancava o cadeado com as mãos trêmulas."Eu só queria aprender... só queria fazer meu melhor", murmurava baixinho para si mesma, as palavras engasgadas no choro.Montando na bicicleta, ela começou a pedalar, mas suas pernas mal acompanhavam o ritmo das emoções que a sufocavam.Na frente da cafeteria do outro lado da rua, Nat saía comendo um pão de queijo e segurando um copo de café fumegante. Ao avistar Rosa, imediatamente percebeu que algo estava errado.— Rosa? — chamou, atravessando a rua rapidamente.Rosa parou a bicicleta, os olhos vermelhos e inchados denunciando o choro recente.— Oi, Nat... — respondeu, tentando fo
De volta ao escritório, Ricardo não conseguia se concentrar. A visão de Rosa saindo do carro de Gustavo não saía de sua mente, e a raiva crescia. Ele se perguntava o que ela estava fazendo com ele, e por que parecia tão à vontade. Aquele aperto no peito que ele insistia em negar, o incômodo crescente, tudo o fazia questionar...Era ciúme, e ele sabia disso."Por que ela mexe tanto comigo?", pensou, pressionando as têmporas com as mãos.Foi nesse momento que Rebeca entrou na sala, impecável como sempre, com um sorriso calculado nos lábios. Ela percebeu o semblante conturbado de Ricardo e viu sua oportunidade.— Dia difícil, Ricardo? — perguntou, aproximando-se e fechando a porta atrás de si.Ele ergueu os olhos e suspirou.— Você nem imagina...Rebeca aproveitou a deixa, caminhando lentamente até ficar ao lado dele.— Talvez eu possa ajudar. Sabe que sempre fui boa em... aliviar tensões.Ricardo estreitou os olhos, compreendendo exatamente o que ela queria dizer. Eles tinham um históri
— Ricardo, você está tão tenso. Por que não deixamos isso para amanhã e...— Já chega, Rebeca. — A voz dele saiu firme, quase dura. Ele deu um passo para trás, quebrando o contato físico entre os dois.— Já chega? — Ela riu, incrédula, mas tentando esconder a irritação. — Você está tentando me dizer que acabou?Ele virou-se para ela, o olhar intenso e carregado.— Não estou dizendo nada. Só preciso de um tempo para pensar, estou com muito trabalho.Rebeca cruzou os braços, inclinando a cabeça com um sorriso sarcástico.— Pensar no quê? Naquela garota que mal sabe o que está fazendo aqui? Ricardo, você está se deixando levar por algo que nem faz sentido.Ele não respondeu imediatamente, mas suas mandíbulas travadas eram resposta suficiente.— Rebeca, só... vai trabalhar.A irritação brilhou nos olhos dela, mas ela sabia que insistir agora não seria vantajoso.— Claro. — Ela ajeitou a saia com um movimento calculado e caminhou em direção à porta. Antes de sair, lançou um último olhar po
Minutos depois, Ricardo saiu de sua sala, o som dos seus passos firmes ecoava pelo chão enquanto ele atravessava o andar em direção à mesa de Rosa. Seus olhos queimavam de irritação, e ele apertava uma pilha de papéis com tanta força que as folhas estavam quase amassadas. A movimentação chamou a atenção de todos, que já começaram a murmurar.— Vai dar barraco de novo... — sussurrou um funcionário.— Ele só pode estar fora de si. Como é que ele pode tratar alguém assim? — murmurou outra colega, enquanto trocava olhares com os demais.Ricardo parou na frente de Rosa, jogando os papéis sobre a mesa dela com força.— Você! — Ele praticamente rosnou, fazendo-a dar um pulo. — O que é isso?Rosa piscou, surpresa, olhando para os documentos.— Eu... não sei, senhor.Ricardo bateu com a palma da mão sobre os papéis, atraindo a atenção de todos ao redor. Sua voz era alta, cortante, quase como uma chicotada.— Não sabe? Isso aqui é o erro grotesco que quase arruinou a apresentação do projeto!Ro
Rosa empurrou Ricardo levemente para se afastar, o rosto queimando de vergonha e confusão. Ela sabia que não devia ter permitido aquele beijo, mas algo além da razão a empurrou para ele. Quando Rebeca apareceu, carregada de sarcasmo e malícia, o constrangimento tomou conta.— Não precisa sair, Rosa! — Rebeca disse, cruzando os braços e bloqueando a porta. — Volta aqui! Vai fugir é?Rosa respirou fundo, cerrou os punhos e se virou para encarar Rebeca.— Por quê? O que você quer, Rebeca? — perguntou, tentando manter a voz firme, mas o tremor na garganta era evidente.Rebeca sorriu de lado, saboreando a situação.— Eu só quero a verdade. Sabe, é engraçado como você tenta bancar a santinha, mas está sempre no centro das atenções. Com caronas, erros nos projetos e... bem, com esse showzinho agora. — Ela apontou para Ricardo, que permanecia sério, observando o desenrolar do confronto.Rosa respirou fundo novamente, sentindo o peito apertar.— Se você tem algo para dizer, Rebeca, diga de uma
"Por que ele faz isso? Me humilha na frente de todo mundo e, depois, age como se se importasse? Que tipo de jogo é esse?" - Rosa pensava, enquanto ela entrava em sua casa."Por que ela me afeta tanto? Por que, mesmo quando estou furioso, tudo o que quero é protegê-la?" - Ricardo pensava enquanto dirigia para casa.[...]No dia seguinte, no escritório, a atmosfera estava tensa. Os cochichos sobre a discussão na sala de Ricardo ainda circulavam, mas algo mais pairava no ar: um novo personagem havia chegado.Doutor Adriano Vasquez, um consultor contratado para supervisionar o novo projeto, era charmoso e carismático, mas havia algo nele que colocava todos em alerta. Ele tinha um sorriso fácil, mas os olhos eram afiados, como se observassem tudo e todos.Logo ficou claro que Adriano não estava ali apenas para o projeto. Ele parecia particularmente interessado em Ricardo e, de forma mais discreta, em Rosa.— Então você é Rosa... — Adriano disse, parando em sua mesa com um sorriso. — Ouvi f
Ela estava atrasada. De novo. — Droga! — sussurrou, enquanto enfiava os pés nos sapatos molhados que havia deixado na entrada de casa. Quando finalmente chegou ao portão de ferro da mansão dos Trajanos, Rosa já estava completamente molhada. O vento e a chuva haviam transformado seu coque em uma confusão de fios que caíam sobre seu rosto. Suas roupas coladas ao corpo, e seus pés encharcados, pareciam esponjas. “Por que estou atrasada mesmo? Ah, claro, o despertador não tocou, a conta de energia estava atrasada, e a luz foi cortada na noite anterior. ...” – ela pensava. Ao colocar sua bicicleta no canto do jardim lateral, Rosa correu para a porta de serviço. Não queria ser vista pela senhora Trajano naquele estado miserável, mas seu plano foi destruído assim que ouviu uma voz cortante ecoar do alto da escadaria. — Está atrasada, de novo! — A senhora Trajano apareceu, como sempre, com o olhar cheio de desdém. Vestida com seu roupão de seda caro, seus cabelos brancos perfeitamente ar
Rosa saiu da casa dos Trajanos sentindo o peso do dinheiro suado no bolso. Agora, já final de tarde, Rosa subiu na bicicleta, e começou a pedalar, ainda garoava, ela se sentia exausta.Enquanto pedalava ladeira abaixo, algo chamou sua atenção. De longe, os faróis de um caminhão brilhavam intensamente, ofuscando sua visão. Assustada, ela perdeu o controle e escorregou numa poça de lama, caindo bruscamente no chão. A bicicleta foi arremessada para o lado, e Rosa sentiu uma forte dor no joelho. — Droga! — foi a única coisa que conseguiu murmurar antes de sentir o impacto. Enquanto tentava se recompor, um carro luxuoso parou ao seu lado. O motorista buzinava incessantemente, claramente impaciente. O motorista, irritado, começou a fazer gestos com as mãos, claramente frustrado por não conseguir passar por causa da bicicleta, e de Rosa caída no asfalto. — Você foi atropelada ou está só deitada aí de graça, atrapalhando o tráfego? — Eu... O homem, revirando os olhos, pegou o celul