O amanhecer mal dava as caras quando uma batida animada na porta da casa de Rosa fez o som ecoar pela sala. Ricardo, que já estava acordado e sentado no sofá com uma xícara de café improvisada em mãos, ergueu os olhos para a porta, indiferente. Já Rosa, ainda sonolenta e com os cabelos desgrenhados, praticamente tropeçou ao sair do quarto.— Quem é a essa hora? — murmurou ela, enquanto ajustava sua blusa de moletom que colocou devido ao frio que fazia.Ela abriu a porta sem muito entusiasmo, mas se deparou com Nat, sua melhor amiga, com um sorriso largo e olhos curiosos.— Bom dia, dorminhoca! — saudou Nat, entrando sem esperar o convite.— Nat? O que você está fazendo aqui tão cedo? — Rosa perguntou, com um suspiro exasperado.— É domingo! Dia de fofocas e café! Você esqueceu?Antes que Rosa pudesse responder, Nat parou no meio do caminho e arregalou os olhos ao ver Ricardo sentado casualmente no sofá, completamente à vontade com seu café. Ele, é claro, não parecia minimamente incomo
Depois de terminarem o café e se acomodarem na sala, Nat, que sempre tinha algo a dizer, cruzou as pernas no sofá e encarou Rosa como uma juíza pronta para o veredicto.— Ok, Rosa, agora que estamos a sós... — começou Nat, apontando uma colher para a amiga. — Vamos falar sério.— Sério sobre o quê? — Rosa tentou desconversar, mas seu tom nervoso entregava tudo.— Sobre o Ricardo Trajano! — Nat enfatizou, como se fosse óbvio. — Você precisa me contar tudo.— Já contei o suficiente. Não tem mais nada. — Rosa desviou o olhar, brincando com a borda da xícara.— Nada? Você acabou de me dizer que dormiu com ele duas vezes, Rosa! Isso não é "nada".Rosa suspirou, jogando-se contra o encosto do sofá. — Foi só… Sei lá, momento.Nat riu, claramente se divertindo. — Momento, é? Tipo, “Ah, Ricardo, você está aqui, preso na chuva, que tal um banho comigo?”.— Não foi assim! — Rosa se defendeu, mesmo que a descrição não fosse tão distante da verdade. — Ele entrou no banheiro porque estava molhado e
Era tarde da noite, Rosa e Nat haviam passado o domingo juntas, conversando e rindo até a barriga doer. Nat se organizava para ir embora mas o som de um carro parando do lado de fora chamou a atenção das duas, e ela foi até a janela e espiou.— Rosa… — ela começou, tentando conter a risada. — Você não vai acreditar em quem acabou de chegar.Rosa, que estava lavando a louça na pia, olhou por cima do ombro, já com uma sensação de antecipação. — Não me diz que é o Ricardo… de novo.— Sim, senhorita! — Nat se virou com um sorriso travesso. — E ele não está sozinho.— Não? — Rosa franziu o cenho e correu até a janela. Para sua surpresa, Ricardo estava saindo do carro acompanhado por seu motorista.— O que ele está fazendo aqui? — Rosa perguntou, com o coração acelerado.— Talvez ele tenha esquecido alguma coisa. Ou… — Nat fez uma pausa dramática. — Ele simplesmente não consegue ficar longe de você!Rosa revirou os olhos, mas o calor subindo por seu rosto entregava que ela estava nervosa.—
Na segunda-feira, Rosa saiu de casa cedo, e pedalou até o trabalho como fazia todos os dias. Amarrou a bicicleta no poste próximo ao prédio da empresa e respirou fundo antes de entrar.Pouco antes das nove, Ricardo apareceu no corredor principal. Quando passou pela mesa de Rosa, lançou um olhar rápido e seguiu em frente, como se ela fosse invisível.Rosa soltou a respiração que nem percebeu que estava segurando. Era isso, então? Ele simplesmente ia fingir que nada havia acontecido entre eles?Mas não demorou muito para que Ricardo mostrasse que a indiferença dele tinha um toque especial de crueldade.— Rosa! — ele chamou do meio do corredor.— Sim, senhor Trajano?— Preciso que você revise os relatórios da semana passada. Todos. E entregue ainda hoje.— Claro, senhor.Enquanto Rosa fazia o que Ricardo havia solicitado, ela decidiu buscar um café, ela foi até a copa, enquanto mexia no açúcar ouviu passos atrás de si. Ao se virar, deu de cara com Ricardo. Ele estava segurando sua própri
Naquele dia, Rosa decidiu que não permitiria que Ricardo ou qualquer outra pessoa roubassem sua paz. Montou na bicicleta e começou a pedalar de volta para casa, enquanto pedalava, Rosa percebeu algo estranho. Uma Lamborghini preta estava andando devagar demais atrás dela. Ela olhou de canto e franziu o cenho. Não era comum carros irem tão devagar naquela rua, ainda mais um porte desse.— Não é possível… — murmurou, tentando ignorar a paranoia.Ela aumentou a velocidade, mas o carro manteve o ritmo. Era como se estivesse a escoltando. De repente, a janela do passageiro se abaixou, e uma voz que ela conhecia bem ecoou.— Rosa, essa bicicleta já não tem conserto. Você deveria considerar um carro.Ela virou a cabeça, quase sem acreditar.— Senhor Trajano? — perguntou, — O que está fazendo aqui?Ricardo, dirigindo o carro como se fosse dono da rua (e, em muitos casos, ele era dono mesmo), deu de ombros.— Só estava passando por aqui e vi que você estava indo embora. Achei que poderia preci
O restaurante era luxuoso, com mesas decoradas com flores frescas e aqueles talheres chiques . Um garçom os guiou até uma mesa onde já estavam sentados outros convidados: três fornecedores, todos homens, que se levantaram para cumprimentá-los. — Boa noite, senhores — disse Ricardo, com sua voz controlada, antes de apresentar Rosa. — Esta é Rosa, minha secretária. Ela tem estado diretamente envolvida em nosso projeto. Os homens cumprimentaram Rosa com sorrisos cordiais, mas um deles, em particular, parecia especialmente interessado nela. Seu nome era Gustavo, e ele era o representante de uma empresa de tecnologia que fornecia sistemas de automação para os projetos de Ricardo. — Prazer em conhecê-la, Rosa — disse Gustavo, segurando a mão dela por um momento mais longo do que o necessário. — Espero que tenhamos a chance de conversar mais durante o jantar. Rosa sentiu as bochechas corarem, mas manteve o profissionalismo. — Claro, Gustavo. É um prazer trabalhar com sua equipe.
O sol mal havia nascido, mas o escritório de Ricardo Trajano já estava em pleno movimento. Na sala dele, o som de plantas arquitetônicas sendo jogadas sobre a bancada ecoava pelo espaço. Ricardo estava em pé, com as mangas da camisa arregaçadas, passando os dedos pelos cabelos em um gesto frustrado. Ele empilhava as plantas de um lado, depois as jogava para o outro, como se estivessem impedindo-o de resolver algo que não estava ali, algo que ele nem queria admitir.A porta se abriu e Rebeca entrou, equilibrando um copo de café e um tablet. Ela parou na porta, observando a cena com as sobrancelhas erguidas.— Ricardo, você está bem? Parece... mais irritado do que o normal — disse, com um leve tom de provocação.Ele nem se deu ao trabalho de olhar para ela.— Preciso reorganizar essas plantas, mas parece que nada faz sentido hoje.Rebeca colocou o café sobre a mesa dele, devagar, e ajeitou a postura, fazendo questão de empinar os ombros e ajustar os seios no decote do vestido justo.— T
Ricardo marchou de volta para sua sala, os passos não eram de raiva, eram de frustração. Ele fechou a porta com um movimento brusco, largando o corpo pesado na cadeira de couro.Aquela apresentação impecável de Rosa havia o desarmado. Ele estava pronto para criticá-la, para colocá-la contra a parede por estar longe de sua mesa, mas, ao contrário, ela provou que não só estava trabalhando como também estava indo além das expectativas.Ricardo passou as mãos pelo rosto, tentando recuperar o controle. Mas era impossível. Tudo o que ele conseguia pensar era no sorriso de Rosa enquanto ela apresentava. Era um sorriso de confiança, mas com um toque de provocação que o deixava ainda mais inquieto.Pegou o telefone mais uma vez, mas hesitou antes de discar. Ele queria chamá-la, queria que ela entrasse em sua sala só para ele poder sentir sua presença e, talvez, roubar sua calma com algum comentário ácido.— Maldita seja, Rosa… — murmurou, largando o telefone de volta no gancho com força.Rosa