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O caminho até a casa de Rosa foi envolto em um silêncio pesado. Ela estava exausta, tanto física quanto emocionalmente, e quando se sentia assim, preferia ficar em silêncio, mergulhada em seus pensamentos. Ricardo também não fez questão de falar. Parecia entender que, naquele momento, o melhor era deixar que o silêncio falasse por si.Assim que chegaram, Rosa destrancou a porta da sua casa, convidando Ricardo a entrar com um gesto discreto. Ela não esperava que ele aceitasse, mas, para sua surpresa, ele aceitou.— Quer algo? Um café, suco, sei lá? — perguntou Rosa, sua voz ainda triste. Ela não estava exatamente no humor para hospitalidade, mas era o mínimo que podia oferecer.— Não precisa se incomodar comigo — Ricardo respondeu suavemente, sem o tom mandão de sempre. — Agora vá tomar um banho, vista-se de forma confortável, coma alguma coisa e tente descansar um pouco.Rosa balançou a cabeça, frustrada.— Não vou conseguir descansar, Ricardo. Não com tudo isso acontecendo. Minha mãe
Ricardo ficou parado por alguns instantes, seus olhos fixos em Rosa. Ele era um homem difícil, frio e acostumado a controlar todas as situações ao seu redor. Mas, diante de Rosa, ele sentia algo diferente, algo que o desestabilizava, e isso o irritava. Ela era pura, ingênua até, mas também começava a se mostrar determinada e forte de uma maneira que ele não esperava. E, de certa forma, isso o atraía mais do que ele estava disposto a admitir.Rosa, por outro lado, sentia-se dividida. Ricardo era uma presença avassaladora, que mexia com suas emoções de uma maneira. Ele era arrogante, possessivo, mas, ao mesmo tempo, havia algo vulnerável em seu olhar, algo que ela queria entender. E, por mais que soubesse que o melhor seria manter distância, algo dentro dela a impulsionava a desafiá-lo, a ver até onde essa estranha conexão os levaria.— Então, você gosta de desafios, é? — Ricardo murmurou, sua voz baixa, carregada de um misto de provocação e algo mais intenso. Ele deu um passo à frente,
Ricardo levou Rosa até o hospital. Ela estava perdida entre a dor e a confusão. Sentia as mãos frias, o suor escorrendo e o coração batendo descompassado. Era como se estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar. O médico à sua frente falava, mas as palavras chegavam a ela de forma difusa, como se uma barreira invisível amortecesse tudo.– Por favor, seja direto, – ela pediu, com a voz trêmula.O médico deu um leve suspiro, seus olhos carregando a tristeza de quem já havia dado esse tipo de notícia muitas vezes.– Devido ao quadro debilitado da sua mãe, os batimentos cardíacos dela começaram a subir descontroladamente, o que resultou em uma parada cardiorrespiratória. Tentamos de todas as formas a reanimação, mas infelizmente... ela não resistiu.Rosa ouviu as palavras, mas foi como se o impacto só viesse alguns segundos depois. As imagens começaram a passar diante de seus olhos como um filme: sua mãe cuidando dela quando criança, o pai ausente, as noites em claro quan
Rosa acordou com o frio da manhã cortando seu rosto. O sol tímido começava a atravessar as frestas das cortinas, anunciando um novo dia. Ainda de olhos fechados, ela estendeu a mão no vazio da cama ao lado, esperando sentir a presença quente de sua mãe, mas o lençol estava frio. Então, a dura realidade a atingiu como um soco no peito: sua mãe se foi. Não era um pesadelo, não era ilusão. Rosa estava sozinha.Ela se levantou devagar, os olhos secos de tantas lágrimas já derramadas nos dias anteriores, e, por um instante, parecia que o mundo inteiro parara. O cheiro da casa ainda era o mesmo, impregnado de memórias, mas já parecia estranho. Cada canto, cada objeto, cada planta no quintal... tudo era um eco do que sua mãe havia sido.Por três dias inteiros, Rosa se trancou no casulo da dor. O celular, desligado. As portas, fechadas. Ela não queria ouvir a voz de ninguém, não queria consolo, palavras vazias ou piedade. Só queria ficar com suas lembranças, cada uma delas que trazia saudade
Quando chegou à cozinha, seu olhar foi atraído por um bilhete sobre a mesa. Com os dedos trêmulos, ela o pegou e leu as palavras escritas em uma caligrafia que conhecia muito bem: "Eu avisei que voltaria. Não pensei que seria agora, mas não pude evitar. Precisamos conversar, Rosa." A assinatura no fim a fez engolir em seco: Alexandre. Seu pai. Aquele homem que ela desprezava, que havia sumido por tantos anos, agora invadindo sua vida em um momento em que ela mais precisava de paz. A raiva misturava-se à frustração, e as lágrimas que Rosa achou ter esgotado voltaram a ameaçar seus olhos. Ela respirou fundo, tentando se recompor. Se tinha algo que sua mãe sempre lhe ensinou era a nunca se deixar abalar pelos erros dos outros. "Você é mais forte que isso", dizia dona Cida em seus momentos de sabedoria materna. Mas, ao mesmo tempo, Rosa sabia que não podia continuar fugindo. Uma parte de si entendia que, cedo ou tarde, teria de confrontar o passado, e Alexandre era parte dele. G
Guardou o celular no bolso, sentindo a tensão aumentar dentro dela. Naquele momento, Ricardo era o menor de seus problemas, mas ainda assim, o homem na sua frente exigia uma resposta.Será que havia algo mais por trás daquelas palavras que ele havia acabado de dizer? Cuidar dela? Promessa para sua mãe?— Você acha que cuidar de mim vai resolver tudo? — Rosa finalmente quebrou o silêncio. — Acha que, só porque fez uma promessa à minha mãe, tem o direito de invadir a minha vida desse jeito? Propor acordos que eu provavelmente passarei bons anos trabalhando para poder pagar. Eu não sou mais uma criança, Ricardo.— Eu não estou invadindo sua vida, Rosa. Estou tentando evitar que você cometa os mesmos erros que te trouxeram até aqui. Você precisa de alguém que esteja no controle.Era sempre sobre controle com ele, como se ela fosse uma peça em seu tabuleiro, um problema a ser resolvido.— Controle? É disso que você acha que eu preciso? — Rosa deu risada. — Você quer me proteger ou quer con
O escritório no dia seguinte seria um campo de batalha silencioso, onde ela não deixaria Ricardo vencê-la sem lutar. Ela sabia que ele estava acostumado a controlar tudo ao seu redor, que homens como ele usavam poder e influência como armas. Mas ela tinha algo que ele nunca poderia controlar: sua vontade de ser livre, sem ninguém controlando suas contas.Precisava de um plano. Precisava se preparar para o que viria no dia seguinte.O contrato a mantinha presa, mas havia formas de contorná-lo. Se ela pudesse descobrir uma brecha, qualquer detalhe que pudesse usar a seu favor, talvez conseguisse virar o jogo.Rosa se lembrou que teria ficado com uma cópia do contrato, foi até onde guardava seus documentos no quarto, em uma gaveta na mesa de cabeceira de sua cama, pegou os papéis do contrato e os espalhou à sua frente. Sua mente afiada e a determinação cresciam. Ela leu linha por linha, buscando qualquer pista, qualquer erro que pudesse lhe dar vantagem. Mesmo que fosse apenas uma chance
Ao deixar o escritório de Ricardo, Rosa sentiu um misto de alívio e ansiedade. Sabia que acabava de ter cutucado a onça, mas também tinha consciência de que havia se fortalecido ao confrontá-lo. O dia foi passando, e logo chegou ao fim. Rosa arrumou suas coisas, foi até o elevador, andou até a sua bicicleta amarrada no poste em frente a empresa, e foi para casa, cantarolando.Em casa, mesmo triste e se sentindo sozinha, ela preparava o jantar. Enquanto cortava os legumes, e mexia na panela, ouviu uma notificação no celular. Era uma mensagem de Ricardo.Ricardo: "A reunião com o fornecedor foi remarcada para amanhã às 10h. Espero que esteja preparada."Rosa encarou a mensagem por alguns segundos, sentindo a provocação implícita nas palavras. Decidiu não responder. Fechou o celular e voltou sua atenção para o jantar.No dia seguinte, ao chegar à empresa, Rosa já sabia que precisaria estar preparada para enfrentar a próxima jogada de Ricardo. A reunião com o fornecedor estava marcada pa