O silêncio pairava pesado na casa de Laura e Gabriel, como se as paredes absorvessem a tensão que os envolvia. Desde a revelação da traição, o casal vivia sob o mesmo teto, mas era como se um abismo os separasse. Gabriel tentava encontrar formas de se redimir, mas Laura permanecia fechada, protegendo-se da dor que ainda pulsava dentro dela.
Laura havia se mudado para o quarto de hóspedes. O espaço pequeno e neutro contrastava com a intimidade do quarto principal, onde tantas memórias felizes haviam sido construídas. Agora, aquele espaço parecia um santuário que ela não podia mais habitar. Ela se agarrava a pequenos rituais para manter a sanidade: preparar chá todas as noites, organizar gavetas que antes ignorava, ler livros que a distraíam momentaneamente da dor. Gabriel, por outro lado, vagava pela casa como uma sombra. Ele passava horas no escritório, olhando para a tela do computador sem realmente trabalhar. O arrependimento era um peso que o sufocava, mas ele não sabia como expressá-lo. Todas as vezes que tentava falar com Laura, era recebido com um olhar vazio ou palavras curtas. Uma noite, incapaz de suportar o silêncio, ele se aproximou da porta do quarto de hóspedes e bateu suavemente. — Laura, podemos conversar? — Sua voz era quase um sussurro. — Não agora, Gabriel. Estou cansada. — A resposta veio seca, mas o tom denunciava o cansaço emocional que ela tentava esconder. Ele recuou, sentindo-se mais uma vez impotente. As palavras de Clara ecoavam em sua mente, lembrando-o do caos que havia permitido entrar em sua vida. Clara, por sua vez, não desistira de Gabriel. Embora soubesse que ele estava distante, acreditava que poderia conquistá-lo completamente se jogasse as cartas certas. Enviava mensagens constantes, ora preocupada, ora sedutora, tentando mantê-lo em sua órbita. Uma manhã, Gabriel acordou com uma mensagem de Clara: — Estou aqui para você, sempre. Não se esqueça disso. Ele apagou a mensagem imediatamente, como se pudesse apagar também os erros que cometera. Mas a presença dela era como uma sombra, sempre espreitando. Enquanto isso, Laura começava a reconstruir-se lentamente. Ela havia se afastado do trabalho por alguns dias, mas agora voltava ao escritório, determinada a não permitir que a traição a definisse. Seus colegas notaram a mudança em seu comportamento – o brilho nos olhos havia desaparecido, substituído por uma seriedade que antes não existia. Naquela tarde, enquanto Laura organizava documentos, recebeu uma ligação de Clara. A surpresa a deixou estática por um momento, mas ela decidiu atender. — O que você quer? — perguntou, com a voz firme. — Laura, só queria saber como você está. Eu me preocupo com você, sabe disso. — Não finja que se importa — respondeu Laura, contendo a raiva. — Você conseguiu o que queria, Clara. Pode parar de fingir agora. — Eu só quero ajudar — insistiu Clara, mas Laura desligou antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa. A ligação deixou Laura abalada, mas também reforçou sua determinação. Ela sabia que precisava encontrar uma maneira de seguir em frente, mesmo que isso significasse enfrentar a dor de frente. Naquela noite, Laura decidiu sair de casa. Gabriel a viu pegar o casaco e hesitou antes de perguntar: — Vai a algum lugar? — Sim. Preciso de um tempo para mim. Ele assentiu, mas o medo de perdê-la definitivamente crescia dentro dele. Quando ela saiu, Gabriel ficou parado na sala, olhando para a porta como se esperasse que ela voltasse. Laura dirigiu sem rumo por algum tempo, até que decidiu ir a um café que costumava frequentar antes de conhecer Gabriel. Sentou-se em uma mesa ao fundo, observando as pessoas ao redor e tentando encontrar um sentido em sua própria vida. Enquanto Laura refletia, Gabriel permanecia em casa, perdido em seus pensamentos. Ele pegou o celular e, impulsivamente, ligou para Clara. — Clara, preciso que você pare de me procurar. — Gabriel, o que aconteceu entre nós foi real. Por que está fugindo disso? — Foi um erro — disse ele, com firmeza. — E eu preciso tentar consertar o que destruí. Clara ficou em silêncio por um momento antes de responder, com um tom frio: — Você acha que pode simplesmente voltar para ela e fingir que nada aconteceu? Boa sorte com isso. Gabriel desligou, sentindo uma mistura de alívio e angústia. Sabia que havia cortado uma conexão tóxica, mas o estrago já estava feito. Laura voltou para casa tarde, encontrando Gabriel adormecido no sofá. Ela parou por um momento, observando-o, e sentiu uma pontada de saudade do homem que ele havia sido. Mas a dor ainda era mais forte do que qualquer nostalgia. Nos dias que se seguiram, Laura e Gabriel passaram a viver como estranhos. Ela evitava qualquer tipo de confronto, enquanto ele tentava respeitar seu espaço. No entanto, ambos sabiam que aquela situação não poderia durar para sempre. Certa manhã, enquanto Laura tomava café na cozinha, Gabriel entrou, parecendo mais decidido do que antes. — Laura, precisamos conversar. Ela suspirou, mas assentiu. — Está bem. Sentaram-se à mesa, e ele começou: — Eu sei que o que fiz foi imperdoável. Não estou aqui para me justificar, porque sei que não há justificativa. Só quero que você saiba que me arrependo profundamente e que faria qualquer coisa para consertar isso. Laura olhou para ele, os olhos brilhando com lágrimas que ela se recusava a deixar cair. — Gabriel, eu não sei se podemos voltar a ser o que éramos. Você quebrou algo dentro de mim, dentro de nós. — Eu sei — respondeu ele, com a voz trêmula. — Mas eu quero tentar. Quero lutar por nós, se você permitir. Ela ficou em silêncio por um longo tempo antes de responder: — Preciso de tempo. Ele assentiu, entendendo que essa era a única resposta que poderia esperar. Enquanto Laura tentava encontrar clareza em meio ao caos, Clara continuava planejando. Sentia que estava perdendo o controle da situação e não estava disposta a aceitar a derrota. Decidiu aparecer no escritório de Gabriel, fingindo uma visita casual. — Só vim ver como você está — disse ela, com um sorriso doce. — Clara, já disse que não quero mais contato com você. — Não seja tão duro comigo, Gabriel. Só estou tentando ajudar. — A melhor maneira de ajudar é me deixar em paz. Clara percebeu que estava perdendo terreno e saiu, mas não sem antes lançar um olhar que dizia que aquilo ainda não havia terminado. Enquanto isso, Laura começava a perceber que precisava tomar uma decisão. Continuar vivendo naquele estado de limbo não era uma opção. Durante uma conversa com sua melhor amiga, Ana, Laura desabafou sobre seus sentimentos e suas dúvidas. — Você ainda o ama? — perguntou Ana. Laura hesitou antes de responder. — Sim, mas não sei se posso perdoá-lo. — Então talvez o amor não seja suficiente. Às vezes, é preciso mais do que isso para reconstruir algo que foi destruído. As palavras de Ana ficaram ecoando na mente de Laura. Ela sabia que precisava de respostas, mas também sabia que essas respostas só poderiam vir de dentro dela mesma. Nos dias seguintes, Laura começou a se abrir lentamente para a possibilidade de perdoar, mas sabia que isso exigiria tempo e esforço, tanto dela quanto de Gabriel. Ele, por sua vez, estava disposto a esperar o tempo que fosse necessário, desde que tivesse uma chance de reconquistar seu lugar no coração dela. Enquanto Clara tramava suas próximas jogadas, Laura e Gabriel começavam, aos poucos, a reconstruir algo – ainda frágil, mas real. O caminho à frente seria longo e incerto, mas ambos sabiam que, se quisessem realmente superar o passado, teriam que enfrentar não apenas os erros que os separaram, mas também as forças que ainda tentavam mantê-los afastados. E, assim, o abismo que os separava começou a diminuir, um passo de cada vez.Laura olhava pela janela do pequeno quarto na casa de Ana, observando a chuva deslizar pelo vidro. A tempestade parecia ecoar o turbilhão de sentimentos que a assolava desde o momento em que saíra de casa. As memórias do que antes fora um lar feliz agora se tornavam um peso insuportável, assombrando cada pensamento. A casa que compartilhara com Gabriel parecia um cemitério de sonhos, e cada detalhe que antes trazia alegria agora era um lembrete cruel de sua dor.Ana, sempre atenta, entrou no quarto com duas xícaras de chá. “Pensei que isso poderia ajudar,” disse ela suavemente, colocando a xícara ao lado de Laura. Embora a presença da amiga fosse reconfortante, Laura sentia que uma parte essencial de si mesma estava perdida.As noites eram as piores. Laura passava horas revivendo os momentos felizes que tivera com Gabriel: as risadas, os planos para o futuro, os pequenos gestos de carinho que antes pareciam tão naturais. Agora, tudo parecia uma mentira. Mais do que a traição, o que a
Gabriel caminhava lentamente pelas ruas do bairro onde ele e Laura haviam construído tantos sonhos juntos. As folhas das árvores, agora tingidas de tons outonais, caíam suavemente no chão, como um reflexo silencioso do caos em sua mente. Ele não sabia como chegara àquele ponto, mas a culpa que carregava era insuportável. Cada passo parecia ecoar em sua consciência, um lembrete constante de suas falhas.Desde que Laura partira, Gabriel sentia como se estivesse vivendo em um limbo. O vazio deixado por sua ausência era maior do que ele imaginava possível. Não era apenas a falta de sua presença física, mas também a perda de sua risada, do calor de sua voz, e até mesmo das pequenas discussões sobre coisas triviais. Ele sentia falta de tudo — de Laura e, principalmente, de quem ele era quando estava com ela.Naquela manhã, Gabriel acordara cedo, como fazia todos os dias desde a separação. Não conseguia mais dormir até tarde; a insônia e os pensamentos incessantes o arrancavam do sono antes
Naquela manhã, Laura sentia o peso de um mundo que parecia desabar sobre seus ombros. As evidências sobre Clara estavam todas ali, dispersas em sua mente como peças de um quebra-cabeça que ela precisava montar. Gabriel estava distante, mas, pela primeira vez em semanas, ela sentia uma centelha de determinação em seu coração. Sentada no sofá da sala, o silêncio era interrompido apenas pelo leve estalar do relógio na parede. Era hora de agir.— Preciso entender o que realmente aconteceu — murmurou para si mesma, enquanto relia as mensagens e lembrava das atitudes que antes pareciam inocentes, mas agora carregavam um novo significado.A busca pela verdade a levou a vasculhar memórias, mensagens antigas no celular e até mesmo áudios esquecidos. Foi então que ela encontrou algo que parecia pequeno, mas era revelador: uma troca de mensagens entre Clara e Gabriel, repleta de ambiguidades. A frase "Ela nunca saberá" ecoou em sua mente como um alerta.Horas depois, decidiu ligar para Clara, co
A revelação da traição ainda pairava sobre Laura e Gabriel como uma tempestade à espera de desabar. Desde o momento em que Clara foi desmascarada como a arquiteta das intrigas que haviam quase destruído seu casamento, Laura soube que ainda havia contas a acertar. Gabriel, por sua vez, estava preso em um ciclo de arrependimento, buscando maneiras de mostrar a Laura que, apesar de tudo, seu amor por ela era genuíno. A manhã estava cinzenta, e a chuva fina que caía do lado de fora da janela parecia refletir o estado de espírito de Laura. Após dias de silêncio, ela havia decidido que era hora de confrontar Clara diretamente. Não era apenas pelo que a "amiga" tinha feito a ela, mas porque precisava desse momento para seguir em frente. Laura esperou até o final da tarde, quando soube que Clara estaria sozinha em seu apartamento. Vestiu-se com simplicidade, mas com a firmeza de quem sabia o que precisava fazer. Quando bateu à porta, foi recebida por Clara com um sorriso frio. — Laura... qu
O peso do confronto com Clara ainda pairava sobre Laura, mas de uma forma estranhamente libertadora. Pela primeira vez em semanas, ela sentia que tinha o controle de sua vida novamente. A dor da traição ainda era uma presença constante, mas algo havia mudado: agora havia uma trilha, ainda que incerta, para seguir em frente. Gabriel parecia perceber isso também. Desde a noite em que Laura voltou do confronto com Clara, ele demonstrava mais esforço em reparar os danos causados. Pequenos gestos, como preparar o café da manhã ou oferecer ajuda com as tarefas diárias, tornaram-se frequentes. Contudo, Laura sabia que gestos cotidianos não seriam suficientes. Ela precisava de algo mais, algo que provasse que Gabriel estava realmente comprometido em reconquistar sua confiança. Naquela manhã, enquanto Laura organizava alguns papéis em seu escritório em casa, Gabriel entrou, hesitante, com um envelope em mãos. — Laura, posso falar com você? Ela olhou para ele, colocando os papéis de lado.
A viagem ao litoral havia deixado Laura e Gabriel em um terreno emocionalmente frágil, mas promissor. Eles haviam compartilhado momentos de honestidade e reconexão, mas a mensagem de Clara, vista por Laura na última noite, pairava como uma sombra sobre seus pensamentos.De volta à cidade, o silêncio entre eles era mais pesado do que nunca. Gabriel parecia alheio à tensão crescente de Laura, mas ela não conseguia ignorar a sensação de que Clara ainda exercia alguma influência sobre ele.No dia seguinte ao retorno, enquanto Gabriel estava no trabalho, Laura decidiu agir. Pegou seu celular e, com hesitação, abriu a última mensagem de Clara que Gabriel havia recebido."Espero que tenha pensado bem. Nosso encontro ainda está de pé. Amanhã, às 20h, no mesmo lugar."Laura sentiu um nó no estômago ao ler as palavras. Sem saber se Gabriel havia respondido ou se planejava ir, ela decidiu que não podia esperar por mais mentiras. Dessa vez, ela seria a responsável por confrontar Clara e pôr um fi
A mensagem anônima que Laura recebera na madrugada ainda ecoava em sua mente. "Você acha que isso acabou? Mal começou." Apesar de Clara ter saído do café aparentemente derrotada, aquela mensagem deixava claro que ela não estava pronta para desistir.Laura passou a manhã inquieta, dividida entre a raiva e a determinação de não deixar Clara arruinar sua vida novamente. Gabriel, percebendo sua tensão, tentou se aproximar.— Laura, está tudo bem?Ela levantou os olhos da xícara de café que segurava com força.— Não. Não está.Ele sentou-se à sua frente, preocupado.— É sobre Clara, não é?— Claro que é, Gabriel! Como poderia ser diferente? — respondeu ela, sua voz carregada de frustração. — Depois de tudo, ela ainda acha que pode continuar jogando conosco.Gabriel abaixou a cabeça, sentindo a culpa pesando novamente sobre ele.— Eu prometo que vou resolver isso. Não vou deixar que ela continue nos afetando.— Resolver isso? — Laura levantou-se, rindo amargamente. — Você já teve sua chance
O dia amanheceu com uma tensão que Laura não conseguia dissipar. A presença de Clara era como uma sombra persistente, e a foto recebida no trabalho havia sido um lembrete brutal de que a mulher ainda tinha suas garras profundamente cravadas em suas vidas. Enquanto Gabriel fazia o café na cozinha, Laura sentou-se no sofá, segurando o envelope mais uma vez.— Não consigo parar de pensar nisso. — Ela ergueu o envelope para Gabriel quando ele entrou na sala com duas xícaras fumegantes.— Samuel já sabe? — perguntou ele, entregando uma das xícaras a ela.— Ainda não. Ele pediu para me encontrar hoje à tarde.Gabriel suspirou, passando a mão pelo cabelo.— Laura, precisamos decidir o que fazer se isso continuar.Ela o encarou, a determinação brilhando em seus olhos.— Já decidi. Não vou deixar Clara nos intimidar.----------------------------------------------À tarde, Laura encontrou-se com Samuel no mesmo escritório discreto. Ele já estava sentado à mesa, com um laptop e várias pastas abe