A viagem ao litoral havia deixado Laura e Gabriel em um terreno emocionalmente frágil, mas promissor. Eles haviam compartilhado momentos de honestidade e reconexão, mas a mensagem de Clara, vista por Laura na última noite, pairava como uma sombra sobre seus pensamentos.De volta à cidade, o silêncio entre eles era mais pesado do que nunca. Gabriel parecia alheio à tensão crescente de Laura, mas ela não conseguia ignorar a sensação de que Clara ainda exercia alguma influência sobre ele.No dia seguinte ao retorno, enquanto Gabriel estava no trabalho, Laura decidiu agir. Pegou seu celular e, com hesitação, abriu a última mensagem de Clara que Gabriel havia recebido."Espero que tenha pensado bem. Nosso encontro ainda está de pé. Amanhã, às 20h, no mesmo lugar."Laura sentiu um nó no estômago ao ler as palavras. Sem saber se Gabriel havia respondido ou se planejava ir, ela decidiu que não podia esperar por mais mentiras. Dessa vez, ela seria a responsável por confrontar Clara e pôr um fi
Serenità era mais do que uma cidade pequena e charmosa; era um santuário de histórias que pareciam ter saído de um romance. Com suas ruas de paralelepípedo ladeadas por flores coloridas, os cafés aconchegantes e os jardins que exalavam o perfume suave de rosas e jasmim, o lugar parecia existir para acolher amores e sonhos. Naquele final de tarde, a brisa suave trazia consigo uma promessa de celebração. Laura, uma mulher de 28 anos, estava no jardim de sua casa, finalizando os preparativos para a festa surpresa de Gabriel, seu marido. Cada detalhe tinha sido cuidadosamente pensado: as luzes penduradas nos galhos das árvores, as mesas decoradas com toalhas de linho branco e arranjos florais feitos por ela mesma, e as velas dispostas em lanternas de vidro, que piscavam suavemente enquanto o crepúsculo se aproximava. Ela acreditava que o amor estava nos detalhes, e queria que Gabriel sentisse isso em cada canto daquela noite. Enquanto ajustava os últimos toques, Laura olhou para o relóg
Clara sempre foi uma presença intrigante na vida de Laura. Amigas desde os tempos da faculdade, suas personalidades contrastantes haviam criado uma amizade improvável. Clara era o espírito livre, ousada e destemida, enquanto Laura representava estabilidade, doçura e um otimismo que cativava todos ao seu redor. Mas, por trás do sorriso encantador de Clara, havia um vazio que nem mesmo suas aventuras e conquistas podiam preencher.Na manhã seguinte à festa, Clara sentava-se em frente ao espelho em seu apartamento, relembrando os acontecimentos da noite anterior. O jeito como Gabriel ria de suas piadas, a proximidade ocasional quando ele se inclinava para ouvi-la em meio ao barulho da música, tudo isso alimentava um desejo que ela há muito tempo tentava sufocar. Clara não desejava apenas Gabriel; ela desejava aquilo que ele representava: estabilidade, segurança e o tipo de amor que ela nunca conheceu.Enquanto Clara revivia mentalmente cada detalhe, Laura estava em casa preparando o café
O céu de Serenità estava pintado com tons de laranja e rosa, prenunciando o cair da tarde. A cidade parecia perpetuamente mergulhada em uma tranquilidade de sonhos, mas, no apartamento de Clara, o contraste era evidente. Sentada em sua poltrona de veludo vinho, ela observava a paisagem pela janela enquanto girava lentamente uma taça de vinho tinto na mão. Seus pensamentos não eram serenos como o cenário; pelo contrário, estavam tomados por uma tempestade de intenções que se desenrolava com precisão. Gabriel. O nome ecoava em sua mente como uma melodia obsessiva, um chamado ao mesmo tempo doce e corrosivo. Clara não queria apenas Gabriel. Queria o que ele representava: a estabilidade, a atenção, o carinho que ela nunca acreditou que Laura merecesse. Por anos, assistiu à felicidade do casal de longe, ruminando ressentimentos que cresciam como ervas daninhas. Agora, estava decidida a agir. Não seria mais espectadora da perfeição alheia. No dia seguinte, Clara apareceu inesperadamente n
A noite caía sobre Serenità, trazendo consigo um silêncio que parecia amplificar os pensamentos inquietos de Gabriel. Ele estava em seu escritório, a luz suave do abajur criando um contraste com a escuridão do quarto. Os projetos à sua frente não prendiam mais sua atenção. Em sua mente, Clara surgia como uma sombra constante. As conversas recentes, os encontros ocasionais, os olhares que duravam mais do que deveriam – tudo isso começava a formar um peso que ele não sabia como carregar.Ao mesmo tempo, Laura estava em casa, sentada no sofá com um livro aberto no colo, mas incapaz de ler uma única linha. Seus pensamentos estavam fixos em Gabriel. Desde a festa de aniversário, algo parecia errado, um distanciamento sutil, mas perceptível. O vazio deixado por sua ausência nas noites de trabalho era preenchido pelas palavras de Clara, que ecoavam em sua mente como uma advertência velada.Clara, por outro lado, estava em seu apartamento, planejando cada movimento com precisão. Ela sabia que
O silêncio pairava pesado na casa de Laura e Gabriel, como se as paredes absorvessem a tensão que os envolvia. Desde a revelação da traição, o casal vivia sob o mesmo teto, mas era como se um abismo os separasse. Gabriel tentava encontrar formas de se redimir, mas Laura permanecia fechada, protegendo-se da dor que ainda pulsava dentro dela.Laura havia se mudado para o quarto de hóspedes. O espaço pequeno e neutro contrastava com a intimidade do quarto principal, onde tantas memórias felizes haviam sido construídas. Agora, aquele espaço parecia um santuário que ela não podia mais habitar. Ela se agarrava a pequenos rituais para manter a sanidade: preparar chá todas as noites, organizar gavetas que antes ignorava, ler livros que a distraíam momentaneamente da dor.Gabriel, por outro lado, vagava pela casa como uma sombra. Ele passava horas no escritório, olhando para a tela do computador sem realmente trabalhar. O arrependimento era um peso que o sufocava, mas ele não sabia como expres
Laura olhava pela janela do pequeno quarto na casa de Ana, observando a chuva deslizar pelo vidro. A tempestade parecia ecoar o turbilhão de sentimentos que a assolava desde o momento em que saíra de casa. As memórias do que antes fora um lar feliz agora se tornavam um peso insuportável, assombrando cada pensamento. A casa que compartilhara com Gabriel parecia um cemitério de sonhos, e cada detalhe que antes trazia alegria agora era um lembrete cruel de sua dor.Ana, sempre atenta, entrou no quarto com duas xícaras de chá. “Pensei que isso poderia ajudar,” disse ela suavemente, colocando a xícara ao lado de Laura. Embora a presença da amiga fosse reconfortante, Laura sentia que uma parte essencial de si mesma estava perdida.As noites eram as piores. Laura passava horas revivendo os momentos felizes que tivera com Gabriel: as risadas, os planos para o futuro, os pequenos gestos de carinho que antes pareciam tão naturais. Agora, tudo parecia uma mentira. Mais do que a traição, o que a
Gabriel caminhava lentamente pelas ruas do bairro onde ele e Laura haviam construído tantos sonhos juntos. As folhas das árvores, agora tingidas de tons outonais, caíam suavemente no chão, como um reflexo silencioso do caos em sua mente. Ele não sabia como chegara àquele ponto, mas a culpa que carregava era insuportável. Cada passo parecia ecoar em sua consciência, um lembrete constante de suas falhas.Desde que Laura partira, Gabriel sentia como se estivesse vivendo em um limbo. O vazio deixado por sua ausência era maior do que ele imaginava possível. Não era apenas a falta de sua presença física, mas também a perda de sua risada, do calor de sua voz, e até mesmo das pequenas discussões sobre coisas triviais. Ele sentia falta de tudo — de Laura e, principalmente, de quem ele era quando estava com ela.Naquela manhã, Gabriel acordara cedo, como fazia todos os dias desde a separação. Não conseguia mais dormir até tarde; a insônia e os pensamentos incessantes o arrancavam do sono antes