LizandraO gosto amargo do vômito ainda está na minha boca quando me encaro no espelho. Meu coração martela no peito, e minhas mãos tremem ao segurar a pia. Não. Isso não pode estar acontecendo. Meu olhar desce lentamente até minha barriga, e um arrepio sobe pela minha espinha. Meu estômago se revira, mas dessa vez não é pela náusea. É pelo pânico.A tarde na casa de Daniel tinha sido tranquila. Depois do almoço, conversamos um pouco com os pais dele antes de subir para o quarto. Passamos um tempo repassando a matéria, tentando manter o foco, mas minha mente estava dispersa. Senti cansaço o tempo todo, uma fadiga que parecia não ter explicação.A mãe dele apareceu depois de um tempo, trazendo um pudim que devoramos em minutos. Rimos, conversamos sobre coisas aleatórias, e então, vencida pelo cansaço, voltei para casa.A ideia de que meus pais dormiriam em casa naquela noite me fez querer deixar tudo impecável. Limpei a cozinha, preparei o jantar e, por fim, peguei meu aromatizador fav
DavidO corredor da faculdade está cheio, vozes misturadas em um ruído constante, mas para mim, o mundo inteiro reduz-se a uma única pessoa, Lizandra. Meu peito aperta quando a vejo e, sem hesitar, caminho até ela. No entanto, ao perceber minha aproximação, seu olhar transborda desprezo, como se eu fosse a pior coisa que já aconteceu em sua vida. — Podemos conversar? — minha voz sai firme, porém baixa.— Não tenho nada para falar com você. — O tom dela é cortante, cada palavra, um golpe seco. — Só quero distância do moleque que me proporcionou a maior decepção da minha vida.Sinto o chão sumir sob meus pés. Tento argumentar, mas antes que eu consiga dizer qualquer coisa, Daniel surge ao lado dela. Ele me encara e sinaliza "calma".— David. — E então me cumprimenta, Sem cerimônia, ele a conduz para o carro. Lizandra entra sem olhar para trás. Observo o veículo sumir pela avenida, e uma onda de ódio me domina. Entro no meu carro, bufo de raiva, esmago o volante com um soco e solto uma
LizandraAcordo com uma sensação estranha, um frio na espinha que não sei explicar. Algo dentro de mim mudou, e não é só meu corpo. É divino saber que algo pequeno, frágil e ao mesmo tempo poderoso está crescendo em meu ventre. Instintivamente, minha mão desliza até minha barriga ainda lisa, e fecho os olhos, sentindo uma emoção que me sufoca e me ilumina ao mesmo tempo. Meu Deus... Eu carrego uma vida. Uma parte de mim e dele.Respiro fundo, meu coração acelerado. Sei que não posso adiar isso. Meus pais precisam saber. Se tem algo que sempre me ensinaram foi a enfrentar as consequências dos meus atos, e agora não seria diferente.Levanto da cama com um propósito, ignorando o tremor leve nas mãos. Vou até a cozinha e começo a preparar o café da manhã, tentando encontrar a forma certa de contar a verdade. O cheiro do café fresco se espalha pelo ambiente, o som da frigideira estalando preenche o silêncio da casa. Faço tudo no automático, como se cada movimento fosse uma tentativa de me
DarlanA tentação sempre teve um cheiro. E, nesse momento, ela exala um perfume doce e envolvente que me faz cerrar os punhos para não ceder ao que meu corpo pede. Silvia. Inocente e intocada, mas perigosa como um jogo de azar. E eu nunca fui bom em perder.— O notebook e o celular dela estão prontos — a voz de Derick me arranca dos meus pensamentos.Pisco algumas vezes, voltando à realidade.— Ótimo. Vou pegar com você.Marcamos o encontro no galpão, onde ele já me espera, encostado no carro, tragando um cigarro com um sorriso de quem tem sempre uma carta na manga.— Trabalhar dá fome, irmão. Precisamos de mais diversão — ele solta a fumaça devagar, me olhando com malícia. — Aquela morena de ontem... que boca, hein?Solto uma risada baixa.— Fui na ruiva. Cavalgava que era uma delícia.Derick gargalha, jogando a bituca longe.— Vida boa a nossa.— Nem tanto. Precisamos resolver isso logo. O que encontrou?Ele joga um pen drive para mim e cruza os braços.— Nada demais. A princesinha
NinaEu nem sei o que pensar sobre os últimos acontecimentos. Minha clareza mental desapareceu. O David está me ajudando muito mais do que eu poderia imaginar. Será que ele realmente me vê como uma profissional competente e gosta do meu trabalho? Só pode ser isso!Esse foi o meu primeiro emprego na área. Provavelmente fui jogada na presidência porque não havia mais ninguém para ser lançado ao lobo feroz! Mas fui sem medo. No primeiro momento, perguntei como ele gostava de trabalhar, suas preferências, rotina, horários, reuniões... Fiz uma entrevista completa, precisava saber como marcar seus compromissos. Afinal, isso faz parte das atribuições de uma secretária executiva e deixei isso bem claro. Cheguei com vontade de crescer, sempre sonhei em ter uma vida confortável. Dei o meu melhor, observei muito o David, a sua personalidade, me adaptei facilmente. Talvez por ser tão perfeccionista quanto ele, consegui respeito na empresa, um bom salário, fui me aperfeiçoando.E agora chego deses
LizandraA dor chega como uma tempestade repentina e voraz. Encosto-me na parede tentando segurar a avalanche que me consome por dentro. Respiro fundo, mas o ar parece não chegar aos meus pulmões. Meus olhos queimam e, quando percebo, as lágrimas já escorrem pelo meu rosto novamente. Eu banquei a forte por tempo demais. Mas agora? Agora me permito desabar.O chão frio me acolhe enquanto escorrego pela parede. Meu corpo inteiro treme, e eu choro todas as minhas dores, a ilusão que vivi, as expectativas frustradas por um amor que descobri ser unilateral. Meu peito parece rasgado ao meio, dilacerado por amar demais David Lambertini. Deus, como pode doer tanto? A lembrança de cada sorriso, cada toque, e até do som de sua risada ecoa em minha mente, me torturando.— Senhor, me ajuda a suportar! — murmuro entre soluços, com as mãos pressionando meu peito.A dor é sufocante, quase física. Por um instante, sinto o ar faltar. Não tenho forças nem para me levantar. Queria minha mãe aqui, mas, a
DarlanA noite está fresca, e o vento que sopra pela orla parece trazer uma promessa de algo que ainda não sei definir. Paro o meu carro em frente à lanchonete movimentada. As luzes amarelas do lugar criam um contraste suave com a escuridão da rua. Desligo o motor, deixando o barulho do movimento urbano preencher meus ouvidos.É quando a vejo. Lizandra. Ela passa direto e vai até o balcão, com os cabelos ainda um pouco úmidos caindo sobre os ombros. Seu rosto carrega uma expressão pesada, e mesmo na penumbra percebo o brilho recente das lágrimas em seus olhos. Algo dentro de mim se contrai.Ela não me vê se aproximando. Sento ao seu lado com naturalidade, como se aquilo fosse algo corriqueiro.— Não sabia que você pilotava — comento, tentando suavizar a tensão evidente em seu corpo.Ela se vira, surpresa ao me ver.— Darlan? O que você está fazendo aqui?Dou de ombros, mantendo o tom leve.— Eu estava naquela mesa. E achei que talvez você precisasse de companhia.Ela estreita os olho
NinaO gosto amargo da bile ainda está na minha boca, e minhas mãos tremem de ódio. Se eu pudesse, juro que enfiaria uma faca naquele desgraçado do Yan, bem devagar, só para vê-lo implorar. Mas não sou burra. Não nadei tanto para morrer na praia. E se já estou no inferno, não vou só abraçar o capeta… Vou dançar com ele.Assim que aquele lixo saiu da minha casa, meu corpo desabou. Primeiro veio o alívio, depois o choro. Um soluço pesado, dolorido, que rasgava minha garganta. Mas eu não sou fraca, não vou me fazer de vítima. Sobrevivi. E agora estou longe dele. Isso é o que importa.David soube antes mesmo que eu pudesse abrir a boca. Como, eu não sei. Mas ele já tem tudo sob controle. Eu deveria estar surpresa, mas essa família é uma força da natureza. Sempre foram justos comigo, me respeitaram como profissional e como pessoa. Me deram uma oportunidade quando ninguém mais deu. Me ajudaram a crescer. Gratidão é pouco para o que sinto agora.Liguei para Marina, minha melhor amiga. Ela fi