DanielSe tem uma coisa que me diverte mais do que irritar David, ainda não descobri. Vejo ele se aproximando devagar, achando que está sendo discreto, mas já conheço os passos desse filho da mãe. Troco um olhar rápido com Darlan, e é nesse instante que decido tornar o dia mais interessante. Inclino-me casualmente para ele e solto a bomba com um sorriso de canto:— Pedi a Liza em casamento. E ela aceitou.Darlan arregala os olhos e engasga tão forte com o café que acho que vou ter que socorrer. Ele me encara, incrédulo, sabendo que eu iria provocar David, mas sem imaginar que eu ia soltar algo desse nível. David para no meio do caminho, os punhos cerrados, e sua expressão se contorce de raiva pura. Ele não diz nada, mas o jeito que os músculos de sua mandíbula se movem me faz saber que ele está se segurando para não me socar aqui mesmo. Sem outra opção, ele se vira e marcha para o estacionamento como um touro prestes a atacar.E então, como se nada tivesse acontecido, Liza aparece. El
LizandraSaio do banheiro resmungando. Se continuar assim, vou ter que acampar lá dentro. Preciso urgentemente me acostumar com essa nova realidade de ir ao banheiro de dez em dez minutos. Mas, assim que piso de volta, a cena diante de mim me faz esquecer qualquer incômodo.Darlan e Daniel estão rindo como duas crianças, um empurrando o outro enquanto brincam com algum jogo idi0ta. Meu primeiro impulso é revirar os olhos, mas antes que eu possa abrir a boca para reclamar, Daniel solta algo que me deixa em choque:— Não há algo melhor que irritar o David, dizer que pedi a Liza em casamento. E que ela aceitou foi cômico!Meu coração quase para.— Do que vocês estão falando? — pergunto, confusa.Daniel arqueia uma sobrancelha e ri, divertindo-se com a minha expressão.— Tá bom, Liza. Confesso. David apareceu por aqui tentando se esgueirar sem ser notado, e eu, como sou um cara gentil, resolvi facilitar a vida dele e soltei um: "Vou casar com a Liza."Arregalo os olhos, minha cabeça giran
DavidO sangue ferve nas minhas veias assim que vejo Lizandra encostada em Daniel Malta, como se pertencesse àquele lugar, como se ele fosse o porto seguro dela. Meus punhos se fecham involuntariamente, e a única coisa que consigo pensar é que preciso sair dali antes de fazer uma merrda. Sem pensar duas vezes, entro no carro e arranco com tudo, deixando o estacionamento para trás com o motor rugindo como um aviso.A raiva me consome. Meus pensamentos giram em torno da cena que acabei de presenciar, da voz de Malta soando na minha cabeça como um maldito disco quebrado: "Pedi a Liza em casamento. E ela aceitou." Filho da putta. Ele sabe exatamente como me atingir. Mas não vai ficar assim.Meus punhos se fecham antes mesmo de eu entender a situação por completo. Sinto o sangue correr quente pelas veias. Não pode ser verdade. Daniel é um brincalhão, mas esse tipo de provocação? Ele não ousaria...Darlan engasga com o café, olhando para ele como se tivesse ouvido a maior heresia do mundo.
DavidMeu peito pesa como se estivesse carregando o próprio infern0 dentro de mim. O mundo lá fora segue em frente, mas eu estou preso, sufocado pela verdade que acabei de descobrir. Gêmeos. Dois filhos. Meus filhos. E a mulher que carrego na pele, na mente, em cada batida errada do meu coração... eu a perdi. Eu fui burro o suficiente para afastá-la. Agora, ela está seguindo sem mim.Dirijo como uma pessoa vazia, vou até minha cobertura, sem rumo, sem razão. Mas não estou completamente sozinho. Pelo retrovisor, vejo outro carro blindado me seguindo. Lucca. Ele se tornou um amigo, são muitos anos que ele me escolta, mas sei que nesse momento, ele está me vigiando. Deveria me sentir protegido, mas a única coisa que sinto é um vazio que me engole por dentro.Ao atravessar a porta, sou atingido por uma avalanche de lembranças. O cheiro dela ainda está aqui, impregnado nos lençóis que nunca mais troquei. Lembro de quando a conheci por completo, seu corpo, seus desejos, suas inseguranças.
DavidAcordo com um humor daqueles. O sol entra pela janela como uma provocação direta, mas nem isso ilumina a escuridão que toma conta de mim. O peso das últimas semanas me acompanha desde o momento em que abro os olhos. Me arrumo de forma casual, jeans escuros e camisa branca, sem paciência para formalidades. Na sala, a atmosfera é densa. Minha mãe lança olhares afiados enquanto tomamos café da manhã. Sei exatamente o motivo, Lizandra e a gravidez. Não preciso que ela diga uma palavra.Darlan está quieto, o que é raro, e as gêmeas resmungam algo, ainda sonolentas, mas prontas para a escola. Meu pai, sempre o Don sério e controlador, observa todos com um ar desconfiado. Eu prendo um suspiro. Essa mesa parece uma panela de pressão prestes a explodir.Levanto sem terminar meu café.— Vou para a faculdade — digo, seco.Darlan me segue em seu próprio carro, mantendo uma distância segura para evitar meu humor. Escolta discreta, mas presente.Quando chego à faculdade, vou direto para a sa
David Conteúdo sensívelDepois do pequeno embate, vou direto para a câmara onde Frederico está sendo mantido. O cheiro de metal e concreto toma conta do lugar. Os pulsos feridos pelo atrito das algemas. Seu olhar é de ódio, mas eu vejo o medo por trás da pose.Aproximo-me lentamente.— Vamos tentar isso de novo Frederico. — digo, minha voz baixa e perigosa. — Quem está te financiando?Frederico cospe no chão.Não perco tempo.— Você acha que aguenta? — pergunto, minha voz cheia de sarcasmo. — Vou descobrir se você tem mesmo essa fibra toda.— Quem está por trás de você?Ele respira com dificuldade, mas continua calado. O silêncio tenso é quebrado apenas pelas respirações ofegantes de Frederico. O suor escorre pelo seu rosto. Ele estremece ao ouvir o som metálico do estilete deslizando pela mesa de aço.Eu seguro a lâmina com firmeza, meus dedos firmes e a mente fria. Caminho ao redor dele, sentindo a tensão em seu corpo.— Sabe qual é a diferença entre você e eu, Frederico? — per
David A luz suave dos lustres de cristal refletem nas paredes, enquanto os ruídos da cidade de Buenos Aires ficam abafados pelas paredes reforçadas. Aqui dentro, o tempo parece estagnado, suspenso entre palavras não ditas e intenções afiadas como navalhas.A mesa central, acomoda as figuras que carregam o peso de impérios e batalhas. Cada homem tem a sua história no submundo do crime. Don Vittorio, o meu pai, está ao centro, com seu semblante de pedra e olhos que poderiam cortar diamantes. Ao lado dele, Dilton, o meu tio, tamborila os dedos no braço da cadeira, um gesto contido que contrasta com a tensão no ar.Eu e Darlan estamos sentados em lados opostos da mesa. Meu irmão cruza os braços sobre o peito, o olhar afiado como uma lâmina. Desde que assumimos o comando da Lambertini, não há espaço para hesitação. As alianças que mantemos são escudos e espadas, e hoje estamos aqui para decidir o próximo movimento.Don Vittorio inicia a reunião, sua voz grave reverberando pelo salão: — P
David O relógio marca três da manhã, e enquanto a maioria das pessoas está mergulhada em sonhos tranquilos, eu estou no estacionamento da La Russa, observando o carregamento de um caminhão que transporta uma tonelada de cocaína e 30.000 unidades de ecstasy. A carga segue junto com insumos hospitalares destinados ao Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre. Uma jogada inteligente, enquanto as caixas de medicamentos passam despercebidas, nossas "mercadorias" atravessam fronteiras sem levantar suspeitas.— Jaime Orti é o motorista, como solicitei? — pergunto ao coordenador, mantendo o tom frio.Ele acena com a cabeça. Escolhi Orti a dedo para essa rota. Um homem eficiente, mas que me odeia profundamente. Vejo quando ele recebe o kit com fardamento, ticket refeição e cartão corporativo. Seu olhar de raiva é evidente, mas ele não ousa contestar.Resolvo manobrar a carreta eu mesmo. Não é comum, mas gosto de colocar a mão na massa para garantir que tudo saia conforme planejado. A empilha