Emily Christopher está agindo de forma estranha ultimamente, e essa nova amizade austera com meu irmão tem me deixado desconfortável. Algo está acontecendo, eu sinto isso. Há uma tensão no ar que não posso ignorar, e não sei se estou pronta para enfrentar o que vem por aí. Ele está diferente, mais distante, mais sombrio. Daniel, por sua vez, parece estar mudando também. O garoto sorridente, gentil, que sempre mantinha um brilho nos olhos, agora parece estar sendo moldado por algo que não reconheço. Há dias em que ele tenta imitar Christopher, e isso me assusta. Sei que Daniel sente falta de nosso pai. Eles eram muito próximos, estavam sempre juntos, e talvez, sem perceber, ele tenha trocado aquela referência, passando a espelhar suas atitudes nas de Christopher. Dias atrás, o vi ajeitando a gola da camisa pólo, franzindo o cenho, exatamente como Christopher faz quando está irritado, só que Christopher ajusta a gravata. Pequenos detalhes que denunciam o quanto meu irmão está muda
Emily — Christopher, você precisa me ensinar a dar porrada, de verdade! — Daniel insistiu, o tom cheio de entusiasmo juvenil. Ele estava fascinado, quase obcecado, com a ideia de aprender a lutar, e parecia não perceber que sua insistência começava a me incomodar. Eu imediatamente senti uma onda de desaprovação passar por mim. Daniel sempre foi pacífico, doce e brincalhão, mas nos últimos tempos, parecia que ele estava tentando se transformar em algo que não era. E isso me preocupava. — Daniel, isso é realmente necessário? — questionei, minha voz soando mais dura do que eu pretendia. Ele era meu irmãozinho, e a ideia de vê-lo tentando imitar Christopher, de todas as pessoas, não me deixava tranquila. — Você não precisa aprender a lutar. Não desse jeito. Daniel apenas deu de ombros, um sorriso despreocupado no rosto. — Emily, relaxa. Todo mundo precisa saber se defender, não é? — Ele olhou para Christopher, quase como se estivesse buscando sua aprovação. Christopher, no en
Christopher Eu precisava de um momento longe dos olhos de Emily. Não porque eu quisesse esconder algo dela, mas porque havia certos detalhes que, por enquanto, era melhor manter em segredo. Quando chegamos à academia, eu fechei a porta atrás de nós e me virei para ele. Seu olhar estava fixo em mim, esperando. Sem perder tempo, puxei do bolso o pequeno cartão que estava junto à caixinha com o anel de noivado de Emily. Ele olhou para o pedaço de papel em minha mão, sua expressão imediatamente se tornando séria. — Reconhece isso? — perguntei, estendendo o cartão para ele. Daniel franziu o cenho enquanto pegava o cartão de minhas mãos, analisando cada detalhe. No centro, uma frase parabenizava Emily pelo noivado, escrita com uma caligrafia elegante e precisa. Mas o que fez seu rosto empalidecer foi o pequeno símbolo no canto inferior do cartão. Uma águia, gravada em alto relevo, dourada e resplandecente contra o fundo branco do papel. — Isso... isso não pode ser... — ele murmu
Christopher Com o cair da noite, as sombras se alongavam nas ruas, e a cidade, apesar de seu movimento constante, parecia envolta em uma calma quase sufocante. Ralf dirigia em silêncio, o motor do carro suave contra o barulho da cidade. Ele sabia para onde estávamos indo, mas o ar dentro do carro estava carregado de uma tensão que nenhum de nós podia ignorar. O esconderijo número 2 — uma velha floricultura, abandonada há muito tempo, mas ainda cheia de memórias que, honestamente, preferia esquecer. Era o lugar onde o passado e o presente se encontravam, e isso me deixava no limite. Quando chegamos, Ralf estacionou na lateral do prédio, longe da vista de curiosos. A loja de flores era simples por fora, com janelas quebradas e uma porta de madeira que outrora já fora brilhante e acolhedora, agora apenas um símbolo do tempo que passou. A pintura estava descascada, e a placa com o nome da loja, "Flores de Aurora", estava coberta de poeira. O lugar parecia ter sido esquecido pelo mu
Christopher O homem arqueou as costas na cadeira, o rosto contorcido de dor, enquanto o sangue escorria lentamente de onde antes estava sua unha. Ralf não se moveu, apenas observou. Já tínhamos feito isso antes. Muitas vezes. — Eu vou perguntar de novo. — minha voz ainda estava baixa, quase em um tom de conversa casual. — Quem é o novo Rei? O homem ofegava, soluçando entre lágrimas, mas não me deu a resposta que eu queria. Caminhei de volta para a mesa, dessa vez pegando uma pequena faca. Era uma lâmina curta, afiada, perfeita para cortes precisos e dolorosos. Voltei para ele, girando a faca entre meus dedos, sentindo o peso da lâmina. — Eu sempre gostei dessa faca, — murmurei, me agachando ao lado dele novamente. — Ela faz cortes limpos, rápidos. Não mata, mas deixa cicatrizes profundas. Marcas que você carrega pelo resto da vida. Deslizei a lâmina levemente pelo lado de seu pescoço, apenas o suficiente para cortar a pele, mas não o suficiente para ser fatal. Ele gritou n
ChristopherEu continuei a fitar o homem por mais alguns segundos, deixando as palavras de Ralf afundarem em minha mente. Ele tinha razão. Aquela criatura, rindo como um louco, provocando com histórias sobre a minha mãe... ele estava à beira do colapso. Não conseguiria mais nada de útil. E ainda assim, a morte dele parecia ter cortado uma linha que poderia nos levar diretamente ao Rei.— Uma coisa é certa, Christopher: o Rei não é um desconhecido. Isso... isso é alguém do seu passado. Ele parou, cruzando os braços enquanto olhava para a sala escura. — Alguém que conhece você profundamente. Ele não joga de maneira impessoal, ele conhece as suas fraquezas, sabe onde te acertar.Caminhei até a mesa de metal, peguei meu telefone e disquei o número de Alex Turner. — Christopher? — Alex começou, como se já soubesse que nada de bom poderia sair daquela ligação.— Ainda estou no jogo, Alex. — falei, minha voz controlada, mas carregada de uma tensão que eu não conseguia esconder completamente
ChristopherO som do relógio de parede ecoava no silêncio do escritório luxuoso da AdVision Productions, onde eu estava sentado atrás de minha mesa, observando os relatórios empilhados. O que antes me trazia uma sensação de controle e poder agora parecia uma distração inútil. Meus pensamentos vagavam, e eu mal conseguia me concentrar nas planilhas à minha frente. As últimas semanas haviam sido um turbilhão.Antes que eu pudesse me afundar mais nas próprias preocupações, a porta se abriu, e o Detetive Alex Turner entrou com sua habitual expressão séria e cansada. Ele estava sem sua jaqueta de couro, o que já me dizia que não se tratava de uma visita casual. Havia algo mais pesado no ar, algo que eu não estava pronto para lidar.— Christopher, precisamos conversar. — ele disse sem rodeios, se aproximando e fechando a porta atrás de si.Suspirei, sabendo que, quando Turner usava aquele tom, as notícias nunca eram boas. Eu o conhecia tempo suficiente para saber quando ele vinha para me da
Christopher O sol já estava alto, mas o ambiente da mansão permanecia em uma estranha calmaria. Emily passava a maior parte dos dias em repouso absoluto, seguindo à risca as recomendações médicas. Era difícil vê-la assim, tão frágil, mas sabia que era necessário. Caleb estava quase chegando, e eu não podia permitir que nada desse errado agora.Caminhei até o jardim, o ar fresco da manhã sendo uma pequena distração para os pensamentos sombrios que rondavam minha mente desde a visita de Alex Turner. O Detetive estava certo, mas ao mesmo tempo, se afastar completamente parecia quase impossível. Meu passado e o presente estavam entrelaçados de um jeito que ninguém conseguia entender.Enquanto eu refletia, meus olhos captaram um movimento perto da academia da mansão. Daniel. Ele estava lá, treinando como se sua vida dependesse disso. E, para ele, talvez realmente dependesse. Sua dedicação nos últimos meses foi absurda, quase obcecada.Parei ao lado da porta de vidro que dava para a academ