Sob Minha Proteção
Sob Minha Proteção
Por: Liza Limiar
Alicia

Nunca me imaginei nesta situação que eu me encontro agora. Serio, eu nunca na história da minha vida eu me imaginei sentada nesta cadeira encarando o nada, esperando mais uma vez alguém entrar nesta m*****a sala, me olhar com pena e dizer, “eu sinto muito”, “isso vai passar”, “Sei como você se sente”, “vai ficar tudo bem” ...

Não! Eles não sentem nada por mim, eles nunca vão sentir o que eu estou sentindo agora. Eu que estava lá, eu vi, eu presenciei, eu assistir tudo de perto e o pior de tudo? Eu não pude fazer absolutamente nada para mudar o que aconteceu.

Olho no canto da sala e procuro algo que me distraia além do relógio preto, redondo e sem graça que está pendurado no alto da parede, me lembrando que falta poucas horas para amanhecer.

A porta da sala se abre bruscamente me assustando e não me dou o devido trabalho de olhar para saber quem entrou, minha mente neste momento está tentando memorizar a última vez que vi meus pais e de como o corpo deles estão estirados sem vida na sala da minha casa neste exato momento. Não tenho mais nada, acabei de perder tudo que era importante para mim. Tudo que era alegria, vida e sonhos morreram quando alguém invadiu minha casa e matou friamente meus pais, sem ao menos deixar eu me despedir.

Uma pilha de papéis são jogados bem na minha frente fazendo um grande estrondo sobre a mesa. Alguém muito irritante arrasta uma cadeira fazendo um terrível barulho que ecoa pela sala e a vira de costa se sentando bem de frente para mim. Levanto meus olhos lentamente ainda embaçados de lágrimas e vejo um homem estranho encarando os papeis chupando calmamente a merda de um pirulito de morango como se ele estivesse lendo um jornal qualquer.

Um Pirulito? Serio isso?

Ele é um policial! Deduzi isso pelo distintivo de ferro pesado, dourado vibrante pendurado em um cordão de aço em seu grosso pescoço, batendo mais ou menos em seu peito estufado. Sua barba é grande e loira, o deixando bem mais velho do que verdadeiramente ele aparenta ser. Seus olhos são levemente verdes e seus cabelos são um loiro escuro meio dourado. Ele encara com cuidado os papeis que estão em suas mãos e em nenhum momento ele me olha, por diversas vezes me irrita quando tira o maldito pirulito da boca e balança a cabeça com um sorriso de lado sarcástico, como se tivesse ouvido aquela piada sem graça de um bêbado ou de um parente chato qualquer em um dia de domingo.

O baque dos papéis sendo jogados de novo sobre a mesa me assusta e finalmente ele se dá o trabalho de me encarar.

_ Alicia Rocha não é mesmo? Tem 19 anos, é natural de Atlanta desde que nasceu, morava atualmente com seus pais e está cursando faculdade para medicina!

Era o que eu imaginava!

Naquela ficha estava toda minha vida. Assim como eu assistia em filmes de ação com meu pai estava acontecendo agora na vida real e da pior maneira que poderia acontecer. Só que neste pesadelo eu não tive dublês para substituir meus pais e nem tive como gritar o famoso CORTA!

Ele suspendeu uma grossa sobrancelha desgrenhada me encarando e eu voltei a olha-lo.

_ Agora essa é a aquela parte dramática que você vai me falar que sente muito por meus pais terem morrido? Por favor policial poupe seu tempo a metade da delegacia já fez isso!

Ele sorri de lado mostrando umas covinhas escondidas enquanto se levantava.

_ Se eu fizesse isso estaria mentindo para você Alicia e aqui eu só trabalho com a verdade. A gente só sente muito, quando conhece a pessoa que morreu e infelizmente eu não conheci seus pais e tão pouco conheço você, então não tenho o que senti. Por que eu mentiria para você? isso vai te fazer algum bem? Por um acaso isso vai fazer você se sentir melhor?

_ Eu perdi meus pais, seu grande idiota! Será que esqueceram de te dar este treinamento?

_, Sim, Claro, mas você acha que está aonde para falar comigo desta forma? _ Sarcástico, ele diz cruzando os braços encarando minha roupa diretamente sem nem disfarçar.

Senti meu rosto queimar de vergonha por que lembrei do vestido que estou usando e que minha mãe insistiu que eu usasse para festa da fraternidade. Minhas costas estão totalmente nuas enquanto um grande colar de pedras segura a parte de cima do vestido dando mais volume aos meus seios grandes. Perdi meus saltos em casa junto com minha bolsa e jaqueta na hora da correria e agora, mas que nunca eu me sinto nua na frente dele.

_ Olha vou ser bastante breve senhorita Rocha _ Continuou se levantando da cadeira e andando de um lado para o outro

_ Quero que reproduza tudo que aconteceu, da hora que saiu de sua casa até quando voltou. Sei que vai ser muito difícil para você, mais isso vai me ajudar a ter mais detalhes da situação!

_ Ele ordena me olhando atentamente e eu me recuso a lembrar de tudo que passei a minutos atrás, é doloroso demais para mim.

Nego com a cabeça e encaro minhas mãos ainda um pouco sujas de sangue. Uma dor descomunal invade meu peito e me permito chorar como criança que perdeu algo que amava. Uma criança que agora nem sabe o que vai fazer quando tudo isso acabar. Meus pais se foram e só sobrou a solidão, a dor e a eterna saudade que sempre vai me acompanhar. Enxugo meu rosto com as costas das mãos e respiro fundo buscando me acalmar.

_ Fui convidada para uma festa da fraternidade pelo diretor da faculdade onde meus pais estudaram durante anos até se formarem juntos. No início eu não queria ir para festa, não sou muito do tipo que tem muitos amigos, mais minha mãe insistiu que eu fosse e disse que essas festas eram bastante divertidas para garotas da minha idade…

Enquanto eu falava, milhões de lembranças vieram atonar!

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_ Querida, tenho algo muito especial para você, venha cá por

favor _ minha mãe me chama em pé sorrindo da porta do meu quarto e eu me levanto indo até ela

_ O que é mãe?

_ Pode parecer meio velho e careta mais usei isso no baile de formatura com seu pai e guardei até hoje. Tava empoeirado e com um pouquinho de morfo mais mandei lavar e reformá-lo, se quiser ficar para você pode usar _ Ela explica me amostrando uma grande caixa preta em suas mãos.

Sento na cama e abro a caixa vendo um dos vestidos mais alegantes e bonitos que meus olhos já viram. Pego ele com carinho e corro até o espelho me maravilhando com a imagem dele em meu corpo.

_ Mãe é perfeito _ elogio perplexa e vejo meu pai me encarando surpreso ao lado da minha mãe

_ Você está tão linda minha filha _ ele diz carinhoso e vejo uma lagrima de emoção escorrer pela sua face. Corro até eles dois e os abraços como nunca antes. Parece que eu já sabia que ali seria a última vez que os veria. Minha mãe sorria emocionada e ali ficamos por vários minutos se amando como a família feliz que eramos.

_ Nunca esqueça Alicia, você foi, é e sempre será nosso maior bem _ Meu pai diz beijando o topo da minha cabeça e beijo sua bochecha enrugada

_ Também te amo meu pai, amo muito vocês dois _ digo abraçando minha mãe e beijando também sua bochecha

_ Não importa quanto dinheiro você futuramente venha ter minha menina linda, família sempre vem em primeiro lugar, o amor predomina em seu coração e eu sempre terei orgulho de você, nunca esqueça Alicia, dinheiro é só um papel que pode ser queimado, rasgado, molhado e estragar, mais o amor não, ele é algo que não podemos sentir, mais podemos vê-lo através das pessoas _ Meu pai fala e sinto um arrepio frio passar pelo corpo me trazendo uma pontada de medo.

Nunca imaginei que naquela noite, logo na noite que seria de alegria e orgulho eu perderia as pessoas que me ajudaram a ser quem eu sou. Minha mãe me ajudou a me maquiar e senti em seus olhos uma estranha tristeza

_ Mãe está tudo bem?

_ Claro meu amor, não se preocupe, está noite você brilhará assim como eu brilhei para seu pai e quem sabe você ache alguém especial _ Ela diz sorrindo tocando meu rosto, mais vejo uma lágrima descendo dos seus olhos verdes e a abraço bem forte

_ Mãe para de chorar você ta me assustando

_ Desculpa, meu amor, é que você está crescendo tão rápido, Alicia…

_ pare de drama e trate de se divertir com o papai, vocês dois também merecem

_ Te amo Filha!

_ Também te amo mamãe _ digo a beijando mais uma vez e se eu soubesse de tudo isso beijaria ela milhões de vezes e diria que eu amava mais outro milhão e não sairia dos seus braços por nada neste mundo.

Já arrumada peguei minha pequena bolsa preta de mão, uma jaqueta jeans preta de couro e desci as escadas vendo meus pais se abracarem na sala sorrindo. Parei para encarar aquela cena e desejei que algum dia eu encontrasse alguém para amar, confiar e sempre estar do meu lado assim como meu pai encontrou minha mãe e minha mãe encontrou o meu pai e estão casados durantes anos felizes e realizados, é isso que eu quero pra mim.

Me despedi deles e a voz do meu pai me chamou atenção fazendo eu voltar da porta.

_ Alicia, você sabe a senha do nosso cofre?

_ Hã?

_ Só responda meu amor, por favor você sabe?

_ Claro, papai, você me deu o código quando eu tinha 15 anos de idade, mais por que isso agora?

_ Sabe que se acontecer alguma coisa comigo ou com sua mãe, sabe a quem procurar não é?

_ Pai, que história é essa, eu...

_ Só responda seu pai, meu bem? _ minha mãe me interrompeu preocupada

_ Doutor Rangel e senhorita Relga do escritório do papai

_ Tudo bem, minha filha. Pode ir se divirta meu amor e nunca esqueça que amamos você! _ Meu pai soltou beijos de longe e minha mãe sorria ainda chorando.

Sai de casa com um aperto estranho no peito e uma angústia entalada na garganta sentindo que algo iria acontecer...

E eu mais uma vez, eu não estava errada...

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