Nunca me imaginei nesta situação que eu me encontro agora. Serio, eu nunca na história da minha vida eu me imaginei sentada nesta cadeira encarando o nada, esperando mais uma vez alguém entrar nesta m*****a sala, me olhar com pena e dizer, “eu sinto muito”, “isso vai passar”, “Sei como você se sente”, “vai ficar tudo bem” ...
Não! Eles não sentem nada por mim, eles nunca vão sentir o que eu estou sentindo agora. Eu que estava lá, eu vi, eu presenciei, eu assistir tudo de perto e o pior de tudo? Eu não pude fazer absolutamente nada para mudar o que aconteceu.
Olho no canto da sala e procuro algo que me distraia além do relógio preto, redondo e sem graça que está pendurado no alto da parede, me lembrando que falta poucas horas para amanhecer.
A porta da sala se abre bruscamente me assustando e não me dou o devido trabalho de olhar para saber quem entrou, minha mente neste momento está tentando memorizar a última vez que vi meus pais e de como o corpo deles estão estirados sem vida na sala da minha casa neste exato momento. Não tenho mais nada, acabei de perder tudo que era importante para mim. Tudo que era alegria, vida e sonhos morreram quando alguém invadiu minha casa e matou friamente meus pais, sem ao menos deixar eu me despedir.
Uma pilha de papéis são jogados bem na minha frente fazendo um grande estrondo sobre a mesa. Alguém muito irritante arrasta uma cadeira fazendo um terrível barulho que ecoa pela sala e a vira de costa se sentando bem de frente para mim. Levanto meus olhos lentamente ainda embaçados de lágrimas e vejo um homem estranho encarando os papeis chupando calmamente a merda de um pirulito de morango como se ele estivesse lendo um jornal qualquer.
Um Pirulito? Serio isso?
Ele é um policial! Deduzi isso pelo distintivo de ferro pesado, dourado vibrante pendurado em um cordão de aço em seu grosso pescoço, batendo mais ou menos em seu peito estufado. Sua barba é grande e loira, o deixando bem mais velho do que verdadeiramente ele aparenta ser. Seus olhos são levemente verdes e seus cabelos são um loiro escuro meio dourado. Ele encara com cuidado os papeis que estão em suas mãos e em nenhum momento ele me olha, por diversas vezes me irrita quando tira o maldito pirulito da boca e balança a cabeça com um sorriso de lado sarcástico, como se tivesse ouvido aquela piada sem graça de um bêbado ou de um parente chato qualquer em um dia de domingo.
O baque dos papéis sendo jogados de novo sobre a mesa me assusta e finalmente ele se dá o trabalho de me encarar.
_ Alicia Rocha não é mesmo? Tem 19 anos, é natural de Atlanta desde que nasceu, morava atualmente com seus pais e está cursando faculdade para medicina!
Era o que eu imaginava!
Naquela ficha estava toda minha vida. Assim como eu assistia em filmes de ação com meu pai estava acontecendo agora na vida real e da pior maneira que poderia acontecer. Só que neste pesadelo eu não tive dublês para substituir meus pais e nem tive como gritar o famoso CORTA!
Ele suspendeu uma grossa sobrancelha desgrenhada me encarando e eu voltei a olha-lo.
_ Agora essa é a aquela parte dramática que você vai me falar que sente muito por meus pais terem morrido? Por favor policial poupe seu tempo a metade da delegacia já fez isso!
Ele sorri de lado mostrando umas covinhas escondidas enquanto se levantava.
_ Se eu fizesse isso estaria mentindo para você Alicia e aqui eu só trabalho com a verdade. A gente só sente muito, quando conhece a pessoa que morreu e infelizmente eu não conheci seus pais e tão pouco conheço você, então não tenho o que senti. Por que eu mentiria para você? isso vai te fazer algum bem? Por um acaso isso vai fazer você se sentir melhor?
_ Eu perdi meus pais, seu grande idiota! Será que esqueceram de te dar este treinamento?
_, Sim, Claro, mas você acha que está aonde para falar comigo desta forma? _ Sarcástico, ele diz cruzando os braços encarando minha roupa diretamente sem nem disfarçar.
Senti meu rosto queimar de vergonha por que lembrei do vestido que estou usando e que minha mãe insistiu que eu usasse para festa da fraternidade. Minhas costas estão totalmente nuas enquanto um grande colar de pedras segura a parte de cima do vestido dando mais volume aos meus seios grandes. Perdi meus saltos em casa junto com minha bolsa e jaqueta na hora da correria e agora, mas que nunca eu me sinto nua na frente dele.
_ Olha vou ser bastante breve senhorita Rocha _ Continuou se levantando da cadeira e andando de um lado para o outro
_ Quero que reproduza tudo que aconteceu, da hora que saiu de sua casa até quando voltou. Sei que vai ser muito difícil para você, mais isso vai me ajudar a ter mais detalhes da situação!
_ Ele ordena me olhando atentamente e eu me recuso a lembrar de tudo que passei a minutos atrás, é doloroso demais para mim.
Nego com a cabeça e encaro minhas mãos ainda um pouco sujas de sangue. Uma dor descomunal invade meu peito e me permito chorar como criança que perdeu algo que amava. Uma criança que agora nem sabe o que vai fazer quando tudo isso acabar. Meus pais se foram e só sobrou a solidão, a dor e a eterna saudade que sempre vai me acompanhar. Enxugo meu rosto com as costas das mãos e respiro fundo buscando me acalmar.
_ Fui convidada para uma festa da fraternidade pelo diretor da faculdade onde meus pais estudaram durante anos até se formarem juntos. No início eu não queria ir para festa, não sou muito do tipo que tem muitos amigos, mais minha mãe insistiu que eu fosse e disse que essas festas eram bastante divertidas para garotas da minha idade…
Enquanto eu falava, milhões de lembranças vieram atonar!
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_ Querida, tenho algo muito especial para você, venha cá por
favor _ minha mãe me chama em pé sorrindo da porta do meu quarto e eu me levanto indo até ela_ O que é mãe?
_ Pode parecer meio velho e careta mais usei isso no baile de formatura com seu pai e guardei até hoje. Tava empoeirado e com um pouquinho de morfo mais mandei lavar e reformá-lo, se quiser ficar para você pode usar _ Ela explica me amostrando uma grande caixa preta em suas mãos.
Sento na cama e abro a caixa vendo um dos vestidos mais alegantes e bonitos que meus olhos já viram. Pego ele com carinho e corro até o espelho me maravilhando com a imagem dele em meu corpo.
_ Mãe é perfeito _ elogio perplexa e vejo meu pai me encarando surpreso ao lado da minha mãe
_ Você está tão linda minha filha _ ele diz carinhoso e vejo uma lagrima de emoção escorrer pela sua face. Corro até eles dois e os abraços como nunca antes. Parece que eu já sabia que ali seria a última vez que os veria. Minha mãe sorria emocionada e ali ficamos por vários minutos se amando como a família feliz que eramos.
_ Nunca esqueça Alicia, você foi, é e sempre será nosso maior bem _ Meu pai diz beijando o topo da minha cabeça e beijo sua bochecha enrugada
_ Também te amo meu pai, amo muito vocês dois _ digo abraçando minha mãe e beijando também sua bochecha
_ Não importa quanto dinheiro você futuramente venha ter minha menina linda, família sempre vem em primeiro lugar, o amor predomina em seu coração e eu sempre terei orgulho de você, nunca esqueça Alicia, dinheiro é só um papel que pode ser queimado, rasgado, molhado e estragar, mais o amor não, ele é algo que não podemos sentir, mais podemos vê-lo através das pessoas _ Meu pai fala e sinto um arrepio frio passar pelo corpo me trazendo uma pontada de medo.
Nunca imaginei que naquela noite, logo na noite que seria de alegria e orgulho eu perderia as pessoas que me ajudaram a ser quem eu sou. Minha mãe me ajudou a me maquiar e senti em seus olhos uma estranha tristeza
_ Mãe está tudo bem?
_ Claro meu amor, não se preocupe, está noite você brilhará assim como eu brilhei para seu pai e quem sabe você ache alguém especial _ Ela diz sorrindo tocando meu rosto, mais vejo uma lágrima descendo dos seus olhos verdes e a abraço bem forte
_ Mãe para de chorar você ta me assustando
_ Desculpa, meu amor, é que você está crescendo tão rápido, Alicia…
_ pare de drama e trate de se divertir com o papai, vocês dois também merecem
_ Te amo Filha!
_ Também te amo mamãe _ digo a beijando mais uma vez e se eu soubesse de tudo isso beijaria ela milhões de vezes e diria que eu amava mais outro milhão e não sairia dos seus braços por nada neste mundo.
Já arrumada peguei minha pequena bolsa preta de mão, uma jaqueta jeans preta de couro e desci as escadas vendo meus pais se abracarem na sala sorrindo. Parei para encarar aquela cena e desejei que algum dia eu encontrasse alguém para amar, confiar e sempre estar do meu lado assim como meu pai encontrou minha mãe e minha mãe encontrou o meu pai e estão casados durantes anos felizes e realizados, é isso que eu quero pra mim.
Me despedi deles e a voz do meu pai me chamou atenção fazendo eu voltar da porta.
_ Alicia, você sabe a senha do nosso cofre?
_ Hã?
_ Só responda meu amor, por favor você sabe?
_ Claro, papai, você me deu o código quando eu tinha 15 anos de idade, mais por que isso agora?
_ Sabe que se acontecer alguma coisa comigo ou com sua mãe, sabe a quem procurar não é?
_ Pai, que história é essa, eu...
_ Só responda seu pai, meu bem? _ minha mãe me interrompeu preocupada
_ Doutor Rangel e senhorita Relga do escritório do papai
_ Tudo bem, minha filha. Pode ir se divirta meu amor e nunca esqueça que amamos você! _ Meu pai soltou beijos de longe e minha mãe sorria ainda chorando.
Sai de casa com um aperto estranho no peito e uma angústia entalada na garganta sentindo que algo iria acontecer...
E eu mais uma vez, eu não estava errada...
A festa estava perfeita! E todos os meus amigos estavam presentes, Minha prima mais velha que também frequentava a mesma faculdade que eu estava lá e logo corri para falar com ela._ Alicia? _ Ela fala surpresa abrindo seus braços largos e compridos para me abraçar assim que me ver entrando no salão_ Fler _ ela me abraça apertado e sinto um cheiro forte de tequila vindo do seu vestido amarelo sol, me afastei a encarando. A Fler sempre foi criada em berço de ouro e assim como os meus pais, seus pais que eram bem mais rígidos que os meus, nunca permitiram esse tal comportamento._ Você está bebendo? _ pergunto espantada e ela ri já em alta por causa da bebida_ É uma festa Li, deixa de ser careta e comece a se divertir _ grita saindo e não a vejo mais por causa da vasta quantidade de pessoas que vão chegando e dançando ao mesmo tempo.Encontro o pessoal da minha sala e logo acabo me entrosando. As horas passam voando e nem me dou conta que meu celular estava na bolsa, por causa do som
Acendo um cigarro entendiado enquanto olhava distraído pela janela do meu vazio e desarrumado apartamento. Olho em volta e suspiro desanimado pela falta do que fazer.Depois do meu último caso resolvi me dar alguns dias de folga e ficar em casa sem fazer nada! Estava cansado de ficar no QG olhando para um bando de puxa saco bajulando o chefe por uma porra de uma vaga que ainda nem tinha sido anunciada. Pensando bem, ficar aqui contando teias de aranhas nas paredes também não foi uma escolha muito inteligente da minha parte!Na verdade, minha cabeça não estava no lugar depois da minha última missão. Ver aquela linda garotinha morta dentro de uma banheira afogada deixaria qualquer um desestabilizado. Na época da guerra eu cheguei a ver parceiros que se diziam irmãos de sangue matando uns aos outros para se protegerem, mas nunca imaginei uma mãe matar sua única filha para chamar atenção do ex marido que já estava tendo um caso com outra pessoa. Isso para mim foi extremamente difícil.Qua
Pego minha jaqueta, visto uma calça e calço rapidamente, calço minhas botas. Vou na frente do espelho e ajeito de qualquer jeito meus cabelos, os prendendo com um pedaço qualquer de elástico que achei no pacote velho do pão., Na verdade preciso cortar essa barba, estou anos-luz mais velho do que eu realmente sou. Abro o armário da cozinha e pego meu quite especial: Minha Clock, meu distintivo, e meu colete. Algo me diz que precisarei muito dele esta noite...Pego as chaves da minha Baby e saiu ligeiro trancando o apartamento.Enquanto ando até a garagem do Prédio, Sinto uma sensação de estar sendo observado, o que me deixa ainda mais em alerta. Ando devagar e com cautela até o sub Solo onde guardo minha moto e não ouso olhar para trás para não levantar suspeitas.Um ... Dois ... Três ... Bingo! Os dois primeiros passos são minhas botas em contraste com o chão de concreto e de quem é o terceiro passo? Pego o celular e disfarçadamente paro para olhar no visor o reflexo de quem está me
Entro bruscamente na sala e ela não faz nem questão de levantar a cabeça para saber quem é. Jogo com força os papeis em cima da mesa para chamar sua atenção e Arrasto uma cadeira virando de frente para ela. Recebo sua atenção e vejo seus olhos vermelhos e cansados. Dor! Isso que consigo ver pelas suas íris pretas intensas me encarando. Encaro os papeis na minha frente e vejo varias perguntas que tenho que fazer, mais desta vez vou pular o protocolo chato e ir logo ao assunto. Tiro o pirulito da boca para sentir seu sabor e percebo que ela continua me encarando. Leio atentamente sua ficha e vejo que é estudante de medicina, e tem 19 aninhos. Céus, uma criança!Uma criança linda, dona de belas curvas, de boa família e uma criação diferenciada... Porra, lá vai eu de novo pensando com a outra cabeça, acabo rindo da minha piada interna e jogo os papeis na mesa novamente sem querer a assustando._ Alicia Rocha, 19 anos, mora em Atlanta desde que nasceu, sempre viveu e morou com seus pais e
Acordei de um longo cochilo e percebi que eu ainda estava sozinha naquela sala. Lá fora o sol já raiava e eu tinha perdido a noção do tempo. Me endireito na cadeira dura que acabei adormecendo e sinto meus ossos estralarem. Ótimo! Estou toda quebrada e dolorida. Sem falar do meu pé que está latejando um pouco e essa maldita dor de cabeça não passa!Depois que o Calebe saiu eu acabei chorando mais uma vez. Deixar minha faculdade e meus amigos não é algo que eu tinha em mente no momento. Eu achava que nessas horas os amigos eram a nossa maior força. Na verdade acho que eu realmente precisava deles.Senti um cheiro estranho de cigarro mentolado e sorri com a lembrança do Calebe colocando a camisa em mim. Pego o tecido com uma das mãos e levo lentamente até meu nariz inspirando aquele cheiro forte de homem. Seus olhos verdes cintilantes vem em minha mente. Seu corpo é forte e mesmo debaixo daquela roupa pude ver suas divisórias. Devo ficar longe de Calebe, seu corpo inteiro esta escrito "
Um aviso! Aquela merda toda significava um aviso para Alicia e de quem estivesse do seu lado, nesse caso, era eu! Não a queriam por perto e muito menos viva, e agora, eu tinha certeza que a coisa era mais seria do que eu pensava._ Alguém a levem para dentro _ Grito enquanto me levanto com ela ainda chorando em meus braços_ Já chamaram os bombeiros? _ Silas perguntou puxando o celular do bolso da calça_ Não quero que toquem no carro, preciso saber quem fez isso _ Aviso a todos e Verônica acena pegando ela dos meus braços.Olho para Alicia que parece ter entrado em algum estado de choque. Ela realmente ficou abalada com o que viu agora, também não é pra menos, a garota já sofreu demais perdendo os pais e agora mais que nunca, ela precisa de um pouco de paz.Entro na delegacia, pego o primeiro extintor que vejo e corro para apagar aquele inferno de fogo. Destruo o lacre de segurança e logo direciono para o carro.A espuma logo controla o fogo e consegue amenizar as chamas. Me aproxim
Não era a porra de uma miragem, ou algo do tipo, ele realmente estava bem ali na minha frente me encarando com um sorriso sujo, vitorioso, enquanto sua arma estava apontada pra minha cara._ Ora, ora, ora quanto Tempo policial Calebe, sabe que até senti sua falta?_ Não sei se dou risada pela sua imprudência Jack, ou pela sua maior burrice _ O encaro enquanto o vejo sorrindo, ele não estava nervoso, muito pelo contrário, estava a vontade._ Tenho motivos para estar aqui e acredite, são bastante importante!_ Deixa eu advinha é a garota não é? _ Ele guarda a arma dentro da calça enquanto se encosta em um carro preto, passa os dedos pelos cabelos e volta a me olhar_ Ela é importante para muitas pessoas, e acredite policial, você não vai querer ficar no nosso caminho, essas pessoas são bastante influentes._ Querem mata-lá é isso?_ Vai muito mais alem disso Calebe, quer um conselho? Desista do caso, siga em frente e esqueça a garota, ela de qualquer jeito já esta morta_ E se eu não qu
O único som no momento aqui é das gotas fortes de chuva caindo no grande guarda chuva que eu estou segurando para me proteger da tempestade. Meus pés se afundam na terra fofa, fazendo minha sapatilha se atolar na terra molhada. O silencio é mortal e chega a ser perturbador, por alguns segundos me sinto até naqueles filme de terror baratos e sem graça.Levanto os olhos lentamente e vejo as pessoas de preto andando lado a lado. Todos agarrados uns aos outros andando de cabeça baixa, enquanto vão acompanhando os dois grandes caixões que estão na frente com os corpos dos meus pais. Pessoas que eu nunca vi vieram para o enterro. Talvez investidores, empresários, acionistas. Amigos, conhecidos, colegas do escritório vieram dizer seu ultimo adeus.Eu, com toda certeza não estava pronta para isso, eu não estava pronta para este momento e acho que nunca vou superar esta imagem. Cadeiras de ferros foram colocadas enterradas no barro grosso para acomodar muita gente e acho que não darão conta pa