Teófilo já estava há dois dias sem se alimentar. Estranhamente, essa fruta, que mais parecia um pepino, exalava um aroma leve e refrescante, despertando nele um certo apetite. Ele mordeu ela algumas vezes, o suco era abundante e doce, trazendo uma sensação de frescor ao local que tocava e aliviando consideravelmente sua dor.— Isso é um remédio? — Perguntou ele a Laís.Laís concordou com a cabeça e trouxe a ela mais alguns itens que ele nunca havia visto antes, sem saber se eram frutas ou vegetais.Teófilo se apressou em comê-los, embora não pudessem desintoxicá-lo, esses alimentos lhe deram um pouco de energia e seu estado físico melhorou ligeiramente.— Obrigado, Laís. — Ele estendeu a mão novamente para acariciar a cabeça de Laís e disse, sem querer. — Não sei quem são seus pais, mas eles tiveram uma filha tão atenciosa e adorável quanto você.Laís piscou para ele, pensando se ele poderia ser seu pai, já que ele e Joyce eram tão parecidos.Enquanto ela refletia, Teófilo soltou sua
— Laís, você está chorando? — Perguntou Teófilo. De repente, ele sorriu e pensou: "Que tolo, Laís não vai falar, e eu também estou prestes a ficar cego."— Que horas são? Desculpe, meus olhos já não veem tão bem.Laís segurou sua mão e traçou um seis na palma da mão dele. — Quase seis horas, como o tempo voa. — Suspirou Teófilo levemente. Ele sentia como se tivesse passado a noite em claro, quase exaurindo todas as suas forças. — Lucas. — Chamou ele. Lucas também havia passado a noite acordado, com os olhos ainda mais vermelhos. — Chefe, estou aqui. — Sua voz tremia um pouco, como se estivesse emocionado. Teófilo riu suavemente:— Um homem grande como você chorando? Eu sempre disse que a vida e a morte são decididas pelo destino.— Eu sei, mas... Mas eu nunca imaginei que seria você, chefe...Todos ali estavam prontos para tomar uma bala por Teófilo, prontos para morrer por ele. Se a morte viesse, certamente eles morreriam antes de Teófilo. Quem poderia imaginar que ele
Gabriel encontrou uma árvore que era especialmente adequada para ele, servindo tanto de encosto quanto de suporte para seu corpo. Teófilo, visivelmente frágil, parecia uma vela derretendo, com seu corpo lentamente deixando cair gotas de cera até que a última se esvaísse, marcando o fim de sua luz. A brisa da montanha soprou, clareando um pouco sua mente.Ele começou a falar devagar:— Gabriel, o que mais lamento na minha vida é ter aceitado aquele pedido absurdo da Mariana e ter descontado os problemas da família Bastos em Paty. Se não fosse por mim, ela não teria sofrido tanto. Nós também não precisaríamos estar em lugares diferentes, nem distantes dos nossos filhos, desfazendo nosso lar e falhando em nossas obrigações como pai.— Chefe, você tinha seus motivos, por favor, não se culpe assim.— Hahaha, motivos... Eu também usava essa desculpa para enganar a mim mesmo, mas, quem realmente tem o direito de usar seus problemas como desculpa para machucar os outros?Teófilo falou suavem
Teófilo só ouviu aquelas palavras dez segundos depois de serem proferidas. Há muito tempo, ele havia prometido a Patrícia que a acompanharia para ver o nascer do sol sobre as montanhas. Naquela época, ele estava muito ocupado e, mesmo querendo estar com ela, não conseguia encontrar tempo. Esse adiamento se tornou eterno. "Paty, será que o céu quer me punir por não ter cumprido minha promessa, me impedindo de te ver antes de morrer?" Ele girava a cabeça lentamente como um idoso, e então percebeu que a cegueira não era apenas a escuridão diante dos olhos, mas a incapacidade de ver qualquer cor. No meio daquela nulidade, ele parecia ver um dourado. Deve ser o nascer do sol. A cor, que deveria ser ofuscante, parecia filtrada aos seus olhos, como a luz de uma chama prestes a ser apagada pelo vento, tão fraca e tênue.Ele não ouvia mais o vento e seus sentidos estavam se esvaindo pouco a pouco. Ele abriu a boca, como se estivesse tentando dizer algo, mas também como se não dissesse
Teófilo caiu no vazio.Seu corpo não despencou violentamente ao solo, mas foi amparado por alguém. Ele já havia perdido a consciência, e seu corpo esguio se recostou na pessoa que o segurava. Ding ding, ding ding.Laís saltava de alegria, incapaz de falar, mas seus olhos e sobrancelhas expressavam felicidade.Lucas e Gabriel não podiam mais se entristecer, fixando o olhar na mulher que apareceu de repente. Ela vestia roupas pretas e calçava botas pesadas estilo Martens. Uma jaqueta de couro curta delineava sua cintura perfeita e suas curvas corporais, trazendo um ar totalmente moderno e um tanto deslocado para uma vila tão rústica.Subindo por seu elegante pescoço, um rosto que só poderia ser descrito como belo se revelava. Não se pode dizer que é feio, só se pode descrever como elegante, definitivamente, não se pode considerar bonito.Como poderia uma mulher assim ter uma filha mestiça tão pequena?A mulher segurava Teófilo pela cintura com uma mão e acariciava a cabeça da pequen
Laís não conseguia falar, expressava seu afeto apenas com o corpo, esfregando o rosto no dela repetidamente.— Querida, mamãe está de volta.Quando voltaram à cabana de bambu, Ivone também havia acordado.Na noite anterior, para evitar que seus soluços incomodassem Teófilo, Gabriel a havia nocauteado. Ao ver a pessoa que Lucas carregava nas costas, Ivone se aproximou chorando:— Coruja, como você está? Como pôde me deixar? Você pode me levar com você?Uma voz feminina fria respondeu:— Se continuar gritando assim, pode sair. Você está me matando.Com a boca aberta, Ivone estava prestes a chorar, mas foi interrompida de tal maneira que sua tentativa de choro se tornou cômica.Foi então que ela notou uma mulher estranha ao seu lado:— Quem é ela?— Ivone, esta é a curandeira que pode tratar o líder. Seja respeitosa. — Disse Lucas, se apressando em acalmá-la, temendo que ela perdesse a paciência novamente.Ivone, apesar de ser extremamente arrogante, tem um verdadeiro carinho por Teófil
Patrícia preparava os medicamentos com rapidez, agora completamente transformada em relação ao seu passado. Ela se mostrava calma, forte e estável, capaz de lidar sozinha com diversas situações. Em Vila Gema, apesar dos poucos recursos, havia uma abundância de ervas medicinais. Paloma havia ensinado a ela todas as suas habilidades médicas. Em termos de desintoxicação, Patrícia demonstrava um talento nato, sendo uma das melhores do mundo nessa área. Ela pegou o que precisava e correu para a caverna.Ao entrar, ouviu novamente o choro de Ivone, que soava genuíno. Se dizia que Ivone amava-o há muitos anos, suas famílias possuíam um status similar e faziam parte do mesmo círculo social, e até mesmo seus tipos sanguíneos eram idênticos. Talvez Ivone realmente fosse a pessoa certa para ele. Patrícia entrou calmamente enquanto Ivone se ajoelhava a seus pés:— Doutora, meu tipo sanguíneo é o mesmo que o dele. Use meu sangue se for necessário, faço qualquer coisa para que você o salve.Pat
Enquanto Gabriel estava distraído, Patrícia preparava rapidamente as ervas medicinais e entregava outra parte a Laís para que as cozinhasse. Entre as crianças, apenas Laís possuía uma constituição especial e tinha herdado conhecimentos médicos. Há mais de três anos, Patrícia descobriu que estava grávida. Daniel queria que ela abortasse para tratar sua doença sem preocupações futuras. Patrícia recusou a sugestão de Daniel. Sem outras opções, ele encontrou uma boa solução e a enviou para as mãos de Paloma em Vila Gema. Paloma conhecia uma técnica secreta chamada "nutrição medicinal do feto", que usava métodos contrários para nutrir o feto com medicamentos, tornando ele imune a eles ainda no útero. Isso exigia muito do corpo de Patrícia, que tinha que se alimentar de ervas medicinais dia e noite. Sob essas circunstâncias, ela conseguiu curar seu câncer e, apesar do sofrimento no dia do parto, a criança nasceu saudável. O único aspecto incomum era que os olhos da criança eram verdes