Os olhos límpidos e claros de Laís eram tão claros quanto os de Patrícia quando ele a viu pela primeira vez, há mais de dez anos. Naquela ocasião, ele se perguntava como alguém poderia ter olhos tão claros. Esse pensamento durou apenas um segundo em sua mente, logo desaparecendo.É normal haver pessoas parecidas no mundo. A mulher que tentou assassiná-lo não era 50% parecida com Patrícia? Além disso, agora sua Joyce deveria ter mais de cinco anos, quase seis. Como Patrícia poderia ter uma filha com olhos verdes? Ele estava simplesmente conjecturando demais por saudade.Teófilo sabia que seu rosto estava marcado por linhas de expressão, o que provavelmente assustaria a menina. Por isso, ele suavizou sua expressão e disse gentilmente:— Laís, foi você que me salvou, não foi? Obrigado.Laís balançou a cabeça, segurando sua mão firme, como se temesse que ele caísse se a soltasse.— Você não consegue falar?Laís negou com a cabeça.Teófilo sentiu uma pontada de pena e acariciou seu rost
Em apenas dois dias, Teófilo passou de uma pessoa normal para alguém com órgãos afetados, perdendo gradualmente os sentidos. Durante esse período, refletiu profundamente sobre várias coisas. O que mais ocupava sua mente eram as lembranças das experiências vividas com Patrícia. Nos mais de três anos em que estiveram separados, ele não pôde vê-la, apenas as memórias o sustentavam e o ajudavam a seguir em frente.Ele se ocupava todos os dias com diversas atividades, usando o trabalho árduo para diluir seu amor por Patrícia. Contudo, nos momentos de folga, a saudade invadia ele ferozmente, ocupando cada canto de sua mente e coração como vinhas espinhosas que o envolviam completamente, e quanto mais lutava, mais dolorido se sentia. Em locais de seu corpo que não podiam ser vistos, ele estava coberto de feridas dolorosas.Assim, quando se encontrava imerso na dor física, ele sentia um certo alívio, pensando se, ao morrer, sua alma poderia voar ao lado de Patrícia para vê-la mais uma vez.
Teófilo já estava há dois dias sem se alimentar. Estranhamente, essa fruta, que mais parecia um pepino, exalava um aroma leve e refrescante, despertando nele um certo apetite. Ele mordeu ela algumas vezes, o suco era abundante e doce, trazendo uma sensação de frescor ao local que tocava e aliviando consideravelmente sua dor.— Isso é um remédio? — Perguntou ele a Laís.Laís concordou com a cabeça e trouxe a ela mais alguns itens que ele nunca havia visto antes, sem saber se eram frutas ou vegetais.Teófilo se apressou em comê-los, embora não pudessem desintoxicá-lo, esses alimentos lhe deram um pouco de energia e seu estado físico melhorou ligeiramente.— Obrigado, Laís. — Ele estendeu a mão novamente para acariciar a cabeça de Laís e disse, sem querer. — Não sei quem são seus pais, mas eles tiveram uma filha tão atenciosa e adorável quanto você.Laís piscou para ele, pensando se ele poderia ser seu pai, já que ele e Joyce eram tão parecidos.Enquanto ela refletia, Teófilo soltou sua
— Laís, você está chorando? — Perguntou Teófilo. De repente, ele sorriu e pensou: "Que tolo, Laís não vai falar, e eu também estou prestes a ficar cego."— Que horas são? Desculpe, meus olhos já não veem tão bem.Laís segurou sua mão e traçou um seis na palma da mão dele. — Quase seis horas, como o tempo voa. — Suspirou Teófilo levemente. Ele sentia como se tivesse passado a noite em claro, quase exaurindo todas as suas forças. — Lucas. — Chamou ele. Lucas também havia passado a noite acordado, com os olhos ainda mais vermelhos. — Chefe, estou aqui. — Sua voz tremia um pouco, como se estivesse emocionado. Teófilo riu suavemente:— Um homem grande como você chorando? Eu sempre disse que a vida e a morte são decididas pelo destino.— Eu sei, mas... Mas eu nunca imaginei que seria você, chefe...Todos ali estavam prontos para tomar uma bala por Teófilo, prontos para morrer por ele. Se a morte viesse, certamente eles morreriam antes de Teófilo. Quem poderia imaginar que ele
Gabriel encontrou uma árvore que era especialmente adequada para ele, servindo tanto de encosto quanto de suporte para seu corpo. Teófilo, visivelmente frágil, parecia uma vela derretendo, com seu corpo lentamente deixando cair gotas de cera até que a última se esvaísse, marcando o fim de sua luz. A brisa da montanha soprou, clareando um pouco sua mente.Ele começou a falar devagar:— Gabriel, o que mais lamento na minha vida é ter aceitado aquele pedido absurdo da Mariana e ter descontado os problemas da família Bastos em Paty. Se não fosse por mim, ela não teria sofrido tanto. Nós também não precisaríamos estar em lugares diferentes, nem distantes dos nossos filhos, desfazendo nosso lar e falhando em nossas obrigações como pai.— Chefe, você tinha seus motivos, por favor, não se culpe assim.— Hahaha, motivos... Eu também usava essa desculpa para enganar a mim mesmo, mas, quem realmente tem o direito de usar seus problemas como desculpa para machucar os outros?Teófilo falou suavem
Teófilo só ouviu aquelas palavras dez segundos depois de serem proferidas. Há muito tempo, ele havia prometido a Patrícia que a acompanharia para ver o nascer do sol sobre as montanhas. Naquela época, ele estava muito ocupado e, mesmo querendo estar com ela, não conseguia encontrar tempo. Esse adiamento se tornou eterno. "Paty, será que o céu quer me punir por não ter cumprido minha promessa, me impedindo de te ver antes de morrer?" Ele girava a cabeça lentamente como um idoso, e então percebeu que a cegueira não era apenas a escuridão diante dos olhos, mas a incapacidade de ver qualquer cor. No meio daquela nulidade, ele parecia ver um dourado. Deve ser o nascer do sol. A cor, que deveria ser ofuscante, parecia filtrada aos seus olhos, como a luz de uma chama prestes a ser apagada pelo vento, tão fraca e tênue.Ele não ouvia mais o vento e seus sentidos estavam se esvaindo pouco a pouco. Ele abriu a boca, como se estivesse tentando dizer algo, mas também como se não dissesse
Teófilo caiu no vazio.Seu corpo não despencou violentamente ao solo, mas foi amparado por alguém. Ele já havia perdido a consciência, e seu corpo esguio se recostou na pessoa que o segurava. Ding ding, ding ding.Laís saltava de alegria, incapaz de falar, mas seus olhos e sobrancelhas expressavam felicidade.Lucas e Gabriel não podiam mais se entristecer, fixando o olhar na mulher que apareceu de repente. Ela vestia roupas pretas e calçava botas pesadas estilo Martens. Uma jaqueta de couro curta delineava sua cintura perfeita e suas curvas corporais, trazendo um ar totalmente moderno e um tanto deslocado para uma vila tão rústica.Subindo por seu elegante pescoço, um rosto que só poderia ser descrito como belo se revelava. Não se pode dizer que é feio, só se pode descrever como elegante, definitivamente, não se pode considerar bonito.Como poderia uma mulher assim ter uma filha mestiça tão pequena?A mulher segurava Teófilo pela cintura com uma mão e acariciava a cabeça da pequen
Laís não conseguia falar, expressava seu afeto apenas com o corpo, esfregando o rosto no dela repetidamente.— Querida, mamãe está de volta.Quando voltaram à cabana de bambu, Ivone também havia acordado.Na noite anterior, para evitar que seus soluços incomodassem Teófilo, Gabriel a havia nocauteado. Ao ver a pessoa que Lucas carregava nas costas, Ivone se aproximou chorando:— Coruja, como você está? Como pôde me deixar? Você pode me levar com você?Uma voz feminina fria respondeu:— Se continuar gritando assim, pode sair. Você está me matando.Com a boca aberta, Ivone estava prestes a chorar, mas foi interrompida de tal maneira que sua tentativa de choro se tornou cômica.Foi então que ela notou uma mulher estranha ao seu lado:— Quem é ela?— Ivone, esta é a curandeira que pode tratar o líder. Seja respeitosa. — Disse Lucas, se apressando em acalmá-la, temendo que ela perdesse a paciência novamente.Ivone, apesar de ser extremamente arrogante, tem um verdadeiro carinho por Teófil