Raul falava com seriedade:— Este lugar é como o quintal do demônio. Cometeram todo tipo de atrocidades neste mar, desde roubos até assassinatos, e embora tenham se contido nos últimos anos, não podemos descartar a possibilidade de problemas. Você precisa estar mentalmente preparada.Patrícia, com uma expressão confusa, questionou:— Se há perigo, por que devemos passar por aqui?— Todos têm um lado aventureiro, especialmente os comerciantes. Se evitarmos o estreito, teremos que fazer um desvio que adicionará meio mês à nossa jornada, além de enfrentarmos outros perigos marítimos como colisões com recifes e o aumento dos custos. Nos últimos anos, com a diminuição das atividades piratas, todos se sentem mais seguros para passar por aqui.Raul explicava minuciosamente, mas Patrícia sentia que as coisas não eram tão simples.— Você tem uma opinião diferente?— Eu apenas acho que devemos estar preparados para o pior, especialmente quando lidamos com um grupo de criminosos extremamente peri
Patrícia balançou a cabeça e disse:— É melhor evitar problemas, prefiro ficar no navio.Raul hesitou por um instante antes de perguntar:— Srta. Patrícia, posso me atrever a perguntar por que você está arriscando voltar ao país ilegalmente? Sua saúde já é frágil e, pelo que sei, você não tem parentes no país. Por que está voltando?— É... Há algo que preciso resolver.Patrícia mantinha seus segredos bem guardados, sem revelar qualquer indício.Raul, percebendo que deveria parar, disse:— Então, descanse cedo.O cargueiro atracou, e as atividades de reabastecimento e manutenção do navio ocupavam boa parte do dia. Patrícia não saiu do seu quarto em nenhum momento.Ela passou delicadamente um lápis vermelho sobre o calendário, observando os dias se aproximarem da Cidade A.Em breve, ela reencontraria seus dois filhos.Pouco depois, um tripulante foi relatar:— Srta. Patrícia, desculpe, nosso navio teve um pequeno problema e os técnicos estão trabalhando no conserto. Receio que não possam
O menino sentiu o medo da menina e rapidamente abriu os braços para abraçá-la, sussurrando:— Não tenha medo, irmãzinha.Ele cobriu os ouvidos da menina com as mãos, tentando acalmar seu medo tanto quanto possível, já que ela não possuía a mesma coragem que ele.A simples ideia de que seu pai poderia morrer diante de seus olhos, como aquele gato, fazia as lágrimas correrem sem parar.Ela estava verdadeiramente aterrorizada.Neste mundo, restavam-lhes apenas o pai e o irmão, o que fariam se o pai morresse?O vento marinho dançava selvagemente sobre o mar, e o som das ondas batendo nas rochas parecia ecoar em seus ouvidos.Por alguma razão, os irmãos sempre tiveram um medo instintivo do mar desde pequenos.Ouvindo cada vez mais pessoas correndo em sua direção, a menina apertou os lábios firmemente, sem ousar emitir qualquer ruído.Não muito longe, um grande navio de carga estava ancorado, o som dos tiros, se misturando ao das ondas, chegava até eles, e as pessoas que estavam deitadas no
Patrícia abriu os olhos repentinamente e se sentou, justo no momento em que havia acabado de adormecer, sem entender o que a havia despertado de repente. Instintivamente, desceu da cama para verificar os arredores, nem as águas do mar estavam agitadas, nem ruídos eram audíveis. O que teria causado seu despertar?Era tarde da noite quando Patrícia abriu a porta do quarto e viu, não muito distante, um homem fumando. Durante o tempo que estiveram juntos, ela nunca tinha visto Raul fumar, mas ali estava ele, encostado casualmente no corrimão. A iluminação do corredor era fraca, tornando quase impossível ver claramente seu rosto, e seu corpo estava envolto em sombras. Apenas as pontas de seus dedos brilhavam em escarlate, e seus dedos esguios eram visíveis. Sua aura era completamente diferente do usual, como uma lua fria envolta em névoa negra, exalando um ar misterioso e sinistro.No momento em que viu Patrícia, Raul rapidamente jogou o cigarro fora, descrevendo uma parábola vermelha
O rosto do menino estava marcado por arranhões, e seus pequenos dedos cobertos de cicatrizes e sangue, uma visão de cortar o coração. Ele ficou imóvel enquanto George aplicava o medicamento, as lágrimas girando em seus olhos, mas se segurou para não chorar. George observou o menino por um longo tempo, sentindo-o estranhamente familiar, como se fosse alguém que já conhecia. Após limpar as feridas, tentou puxar conversa novamente, mas o menino continuava sem responder. A pequena, após comer e beber, começou a balançar a cabeça como um pintinho bicando grãos e adormeceu em minutos. O menino parecia exausto, mas lutava para manter os olhos abertos.— Você não precisa ter medo de mim, não vou te machucar. Qual é o seu nome? Você se perdeu dos seus pais?O menino se manteve em silêncio, sem revelar seu nome.George, resignado, disse:— Nunca vi uma criança tão cautelosa. Tudo bem, não insistirei mais. Se você está cansado, descanse. Vamos ficar aqui mais um dia e amanhã tentaremos encont
Não existia cozinha neste andar, e o navio não transportava itens perecíveis vivos. Então, de onde vinha esse inexplicável cheiro de sangue? Se lembrando do tiroteio da noite anterior, ele se manteve alerta, não deixando escapar nenhuma chance de proteger Patrícia.Após preparar o café da manhã para Patrícia, Raul se dirigiu rapidamente à sala de monitoramento para verificar as câmeras, esperando esclarecer todas as suas dúvidas. Flávio, responsável pela monitoração, estava profundamente adormecido, enquanto Raul examinava habilidosamente as gravações de meia hora atrás.Ele digitava rapidamente no teclado, mas logo percebeu que o sistema de monitoramento estava defeituoso e não conseguiu acessar as informações. O sistema havia sido sabotado!Parecia que alguém havia se infiltrado no navio. Mesmo que não estivessem atrás de Patrícia, Raul não podia simplesmente ignorar a situação. Ele precisava encontrar essa pessoa rapidamente.George havia passado o dia investigando e não encont
Estavam prestes a entrar no Mar dos Demônios, e Raul pensava que era hora de se livrar daquela pessoa. Ele sabia que o outro certamente estaria escondido no depósito. Raul já havia se informado de que lá só havia algumas ferramentas e que ninguém visitaria o lugar por meses. Ao abrir a porta, um cheiro desagradável o atingiu. No meio do mofo, detectou também um odor de sangue. O anoitecer se aproximava, e o dia chuvoso deixava o vasto mar sob uma densa escuridão, fazendo com que o quarto no porão ficasse completamente sem luz. Além do som das ondas batendo no casco do navio, o quarto estava assustadoramente silencioso.Raul avançava passo a passo em direção à frente, seu instinto o alertava que a pessoa estava ali, na sala. Como uma serpente venenosa escondida na escuridão, apenas esperando o momento certo para dar o bote. O céu estava cada vez mais escuro, e a brisa do mar começava a soprar, apesar de portas e janelas estarem fechadas. Patrícia não sabia de onde vinha aquele v
O dono daquela máscara era Marcos, que observava com os olhos semicerrados o homem alto à sua frente. Ele lembrava um pouco Teófilo, mas Teófilo era mais forte. Seu olhar pousou no rosto de Raul, uma face comum que ele nunca tinha visto antes. Será que ele não era o homem enviado para matá-lo?— Você me conhece?Sim, aquela voz era familiar. Raul deu alguns passos à frente, agarrou a gola do homem e falou com um olhar gelado:— Fale, como você veio parar aqui?A atitude de Raul deixava Marcos confuso, se o grupo que o perseguia quisesse matá-lo, já teriam feito isso, e não estariam fazendo essas perguntas inúteis. Quem ele era, afinal? O chute que Raul havia dado atingiu exatamente a ferida do homem, fazendo ela se abrir novamente e o sangue manchar sua roupa de vermelho.Antes que Raul pudesse pressionar mais, vozes alarmadas de marinheiros ecoaram pelo corredor:— Piratas! Os piratas estão vindo!Um brilho frio passou pelos olhos de Raul. Eles realmente tinham encontrado piratas