Estavam prestes a entrar no Mar dos Demônios, e Raul pensava que era hora de se livrar daquela pessoa. Ele sabia que o outro certamente estaria escondido no depósito. Raul já havia se informado de que lá só havia algumas ferramentas e que ninguém visitaria o lugar por meses. Ao abrir a porta, um cheiro desagradável o atingiu. No meio do mofo, detectou também um odor de sangue. O anoitecer se aproximava, e o dia chuvoso deixava o vasto mar sob uma densa escuridão, fazendo com que o quarto no porão ficasse completamente sem luz. Além do som das ondas batendo no casco do navio, o quarto estava assustadoramente silencioso.Raul avançava passo a passo em direção à frente, seu instinto o alertava que a pessoa estava ali, na sala. Como uma serpente venenosa escondida na escuridão, apenas esperando o momento certo para dar o bote. O céu estava cada vez mais escuro, e a brisa do mar começava a soprar, apesar de portas e janelas estarem fechadas. Patrícia não sabia de onde vinha aquele v
O dono daquela máscara era Marcos, que observava com os olhos semicerrados o homem alto à sua frente. Ele lembrava um pouco Teófilo, mas Teófilo era mais forte. Seu olhar pousou no rosto de Raul, uma face comum que ele nunca tinha visto antes. Será que ele não era o homem enviado para matá-lo?— Você me conhece?Sim, aquela voz era familiar. Raul deu alguns passos à frente, agarrou a gola do homem e falou com um olhar gelado:— Fale, como você veio parar aqui?A atitude de Raul deixava Marcos confuso, se o grupo que o perseguia quisesse matá-lo, já teriam feito isso, e não estariam fazendo essas perguntas inúteis. Quem ele era, afinal? O chute que Raul havia dado atingiu exatamente a ferida do homem, fazendo ela se abrir novamente e o sangue manchar sua roupa de vermelho.Antes que Raul pudesse pressionar mais, vozes alarmadas de marinheiros ecoaram pelo corredor:— Piratas! Os piratas estão vindo!Um brilho frio passou pelos olhos de Raul. Eles realmente tinham encontrado piratas
George se levantou apressadamente, sem tempo para mais explicações. Joyce olhou preocupada para Frederico, que não retribuiu o olhar, se concentrando na última peça que George havia jogado no tabuleiro. Apesar de saber que havia uma armadilha à frente, ele ainda assim deu um passo adiante. Nesta partida, qualquer movimento resultaria em derrota.— Meu irmão...Frederico conhecia as histórias de piratas contadas por Marcos, seres desumanos, revestidos de pele humana, astutos e terríveis. Eles cometiam todo tipo de atrocidades para dominar os recursos dos mares, se tornando os senhores dos oceanos. O navio de transporte de minérios, naturalmente, se tornou um alvo para eles. Parecia que George havia se envolvido em grandes problemas. Ele estava ciente do perigo, mas impotente para evitá-lo.A única coisa a fazer era encontrar Marcos rapidamente e garantir que partissem antes que algo pior acontecesse. Uma criança de apenas dois anos já compreendia o significado da vida e da morte
Patrícia olhou para o relógio de pulso. Geralmente, a esta hora, Raul sempre levava a ela algumas frutas. Onde estaria Raul hoje? Sob a luz amarelada da lâmpada, observou as linhas de chuva que escorriam inclinadas pela janela. A chuva havia começado. Ela detestava esse tipo de clima. Encostada na cama, sem conseguir dormir, deixava seus pensamentos vagarem enquanto ouvia música pelos fones. Não sabia quanto tempo havia passado quando uma violenta sacudida do navio a fez abrir os olhos repentinamente. Algo estava errado! Seriam piratas? Patrícia rapidamente retirou os fones e se atentou aos ruídos caóticos do lado de fora. Parecia que realmente algo sério havia acontecido.Ela era muito cautelosa e, sem saber o que ocorria lá fora, hesitava em sair precipitadamente à procura de notícias de Raul. Mas Raul não apareceu como ela esperava e, incapaz de conter sua ansiedade, a mulher abriu a porta e correu para fora. Seus olhos deveriam se voltar para o navio em chamas, mas uma vo
Ao ver a criança caindo no mar, o sangue de Patrícia gelou nas veias. Como isso poderia acontecer? Estava prestes a salvar a menina, por que o destino tinha que ser tão cruel com ela? Ao seu lado, um menino gritou em agonia:— Minha irmã!Patrícia olhou para baixo e viu um rosto que muito se parecia com o dela. Naquele momento, enlouqueceu. Um pensamento surgiu em sua mente, ela não teve tempo de verificar, pois, assim que a ideia se formou, já estava fora de controle e pulou a cerca. Sua mente estava repleta de imagens do ultrassom 4D que fez há três anos, quando estava grávida de gêmeos, um menino e uma menina. A menina se parecia com Teófilo, era vivaz e sempre sorridente, enquanto o menino tinha traços mais parecidos com os dela e era bem comportado. Seriam essas crianças seus filhos? Patrícia nem teve tempo de sentir a alegria do reencontro com seus entes queridos, pois no segundo seguinte estava mergulhada na dor da reunião. Correu desesperadamente em direção à menina, pe
Joyce já havia engolido várias goladas de água salgada e, num estado de medo extremo, seu corpo tremia incontrolavelmente.— Não tenha medo, mamãe está aqui para te salvar. — Patrícia tentava acalmar Joyce.Afinal, ela era tão pequena, e com o caos e o barulho ao redor, o navio pirata se aproximava cada vez mais. George já havia ordenado que canhões de água fossem disparados em retaliação ao navio pirata.Joyce estava em grande perigo, completamente aterrorizada e se debatendo loucamente.Patrícia mal conseguia se manter e à filha acima da água, usando toda sua força, enquanto a criança continuava a se debater, fazendo ela perder rapidamente suas energias.As ondas estavam altas, e ela já havia engolido muita água salgada, mas Patrícia ainda lutava para manter a criança elevada, temendo que se afogasse.No entanto, sentia como se sua força estivesse sendo drenada, seu corpo ficando cada vez mais fraco.Patrícia pensou consigo mesma que isso não poderia continuar, ou ela e a criança per
Raul acabara de tirar Patrícia da água, envolvendo ela em uma grande toalha felpuda. Ainda com suas roupas encharcadas, ela começou a perguntar freneticamente sobre o paradeiro de Joyce.Seus lábios estavam roxos de frio, e ela parecia pálida e miserável.— Srta. Patrícia, nós fomos salvos. A pequena foi levada para o navio de guerra e está sendo examinada por um médico militar. Você deveria trocar de roupa primeiro, para não pegar um resfriado.— Não, eu quero vê-la.Patrícia saltou da cama apressadamente e correu descalça para fora do quarto.No corredor, ela viu todos os homens em uniformes padronizados, especialmente os armados, e sentiu uma opressão imediata.Foi então que percebeu que não estava no barco de George, mas em um imponente navio de guerra.Assim que saiu, todos os olhares se voltaram para ela.Parando rapidamente, Patrícia ficou visivelmente constrangida sob a pressão. Sem saber o que fazer, ela hesitou enquanto os outros apenas a observavam em silêncio.Mesmo sem nin
Raul respondeu com calma:— Srta. Patrícia, fui eu quem falou quando nos resgataram.— Sim, foi o senhor... Sr. Raul que disse isso, então eu vou sair agora.De algum modo, Patrícia sempre tinha a impressão de que o médico estava fugindo, apressado ao sair pela porta. Raul falou serenamente:— Srta. Patrícia, troque de roupa primeiro, vou trazer a sopa quente para você.— Certo.No quarto, restaram apenas eles dois. Patrícia, com cuidado e cautela, despiu o filho, que já estava da altura de outras crianças de sua idade, sem sinais visíveis de ter sido prematuro. Ele estava limpo e parecia claro, exceto por algumas pequenas feridas nas mãos, indicando que Marcos os havia cuidado muito bem.Patrícia envolveu Joyce em uma grande camisa masculina e trocou de roupa para si mesma. Ela também vestiu uma camisa do mesmo tamanho, que era tão longa que cobria até a parte superior de suas coxas. Rapidamente, ela subiu as calças masculinas, que, embora frouxas, eram muito melhores do que não u