Patrícia não cessava de correr, quanto mais se aproximava da cova das serpentes, mais inquieta se sentia. Esse tipo de local era perigoso mesmo para uma pessoa com visão plena, quanto mais para ele, um cego. Se caísse na cova, certamente seria consumido até o coração pelas inúmeras serpentes. Patrícia não ousava imaginar tal cena.O vento frio trazia o fedor pútrido das serpentes, fazendo o corpo de Patrícia tremer incontrolavelmente. Ela parecia um animal acuado, impulsionada unicamente pelo instinto de correr desesperadamente. Ela não conseguia ouvir nenhum outro som, apenas o vento assobiando, que ampliava seu pânico. De repente, devido à tensão, ela tropeçou e caiu, e Fernando prontamente parou para ajudá-la a se levantar:— Você está bem?Mas ele percebeu que ela tremia violentamente.— Rápido, corra! A cova das serpentes está logo à frente.Ignorando a dor no joelho ferido, Patrícia se levantou e correu desesperadamente. Naquele momento, a dor era irrelevante, ela tinha ape
— Chefe, eu não posso simplesmente deixar de me importar com você.— Se afaste, isso é uma ordem! Fique onde está e não se mexa.Fernando olhava para o céu, tentando conter suas lágrimas. Ele tinha visto muitos amigos morrerem no campo de batalha, onde já não se importavam mais com a vida ou a morte.A morte de Suzana, anos atrás, havia deixado uma cicatriz psicológica nele, suas pernas quase ficaram paralisadas, mas ele se esforçou ao máximo na reabilitação, apenas na esperança de ainda poder ficar ao lado de Teófilo para protegê-lo e evitar que outra tragédia acontecesse.Mas agora, um terrível incidente ocorreu.Como naquela noite chuvosa, ele só pôde assistir Suzana morrer sob a arma de outro, completamente impotente.Aproveitando a distração de Daniel, Patrícia o jogou com força no chão e correu em direção à toca da serpente, passando por Fernando.Ela ignorou toda a razão e as consequências.Tudo que ela via diante de seus olhos era o jovem homem que a havia levantado do mar, o e
Teófilo perguntou com cautela, temendo que um som mais alto fizesse Patrícia desaparecer como em um sonho.Patrícia estendeu o punho e socou seu peito:— Idiota, você sabe onde estamos?Se recuperando do choque, Teófilo rapidamente segurou a mão de Patrícia:— Paty, há muitas serpentes aqui, vá embora, saia daqui.Fernando, que não entendia por que Teófilo chamava outra pessoa de Patrícia, ainda assim gentilmente informou:— Chefe, as serpentes foram dispersas, vocês estão seguros agora.Sob a luz da lua, Laís montava um cervo pequeno, segurando uma flauta, parecendo um pequeno anjo correndo pela floresta, tocando uma melodia agradável.Ela viu Patrícia e Teófilo se abraçando em lágrimas, e até mesmo a pequena Laís sentiu um calor no coração.Afinal, sua mãe nunca realmente havia deixado seu pai.Ela olhou para Daniel ao lado, que decidiu não ficar para testemunhar o amor deles e foi embora sem olhar para trás.Embora Patrícia tivesse dado um tapa em Teófilo, ele não se irritou, mas ri
Lá fora, Laís estava atrás dela. Patrícia acariciou sua cabeça e disse:— Laís, você se comportou muito bem. Mamãe vai cuidar disso agora. Você pode ir descansar, você também está cansada esta noite.Laís acenou com a cabeça em concordância.Patrícia observava a silhueta de Laís desaparecendo e mergulhava em seus pensamentos. Como Teófilo reagiria ao descobrir que Laís não era sua filha? Ele perderia a razão e faria algo contra Laís? A lembrança da expressão fria de Teófilo surgia em sua mente, ele sempre dizia que jamais permitiria ser traído. Mesmo tendo perdoado ela e Raul anteriormente, isso não significava que ele aceitaria um filho de outro homem. A existência de Laís seria como um espinho constante em seu coração.Quando Patrícia chegou, Teófilo já estava despido, imerso na água. Sabendo que era ela, Fernando, também compreensivo, rapidamente encontrou uma desculpa para sair, deixando a caverna para os dois.Teófilo lambeu os lábios, transbordando de palavras não ditas.Apesa
Depois de ser novamente limpo e após um banho no manancial medicinal, as feridas no corpo de Teófilo pararam de sangrar. Patrícia pegou o iodo para desinfetar suas lesões. A pele branca e lisa dele estava repleta de cicatrizes, com poucos lugares intocados, marcados por cicatrizes de comprimentos variados. Teófilo, com medo de irritar Patrícia, não ousava dizer mais nada. Se ela descobrisse que desde o início havia caído em seu plano, ele sabia que Patrícia ficaria furiosa ao ponto de fugir durante a noite. Ele arriscou sua vida pela verdade, e no momento em que Patrícia correu para ele, desconsiderando o perigo, Teófilo soube que havia vencido sua aposta. Patrícia ainda o amava. Mas o passado dos dois ainda não estava resolvido, mesmo que houvesse um abismo à frente, ele estava determinado a preenchê-lo e se reconciliar com ela. Ele sabia que o processo seria longo e que não podia ter pressa.Patrícia também estava um pouco assustada enquanto tratava seus ferimentos. Ele havia
Patrícia pisou em falso, e um barulho de água espirrou em seu rosto. — Há uma emboscada? — Patrícia olhou ao redor com cuidado, mas só viu Teófilo caído, com os membros estendidos. Inicialmente, Patrícia pensou em brincar com ele. Ele não conseguia enxergar, mas se debatia na água, com uma expressão de desespero no rosto. — Paty, onde você está? Paty, você está bem? Ao ver Teófilo tão lamentável, ela perdeu a vontade de zombar. — Teófilo, estou bem. Ao ouvir sua voz, Teófilo se atrapalhou e caminhou na água em sua direção, abraçando ela apressadamente e falando atropeladamente: — Paty, onde você foi? Não me assuste, eu demorei tanto para te encontrar. Na caverna, além das pequenas lâmpadas solares que Patrícia trouxe, que emitiam uma luz não muito brilhante, restava apenas o luar que caía por uma fresta estreita. Ela olhou para o rosto preocupado de Teófilo e por um momento sentiu um nó na garganta, sem saber como descrever seus sentimentos. Teófilo, que sempre se
Os dois, encharcados, se enrolaram em um amontoado confuso, com Teófilo vergonhosamente tentando se levantar enquanto apenas se atrapalhava mais. Ele era originalmente um homem calmo e controlado, mas, ao encontrar Patrícia, toda a calma e a contenção foram completamente deixadas de lado.Quanto mais tentava ser cuidadoso, mais complicava as coisas.— Não se mexa, eu faço isso. — Disse Patrícia, resignada.Ela entendia a situação, era como quando descobriu sua própria mortalidade e passou por um período de depressão, até cogitar a morte. Como alguém poderia aceitar tranquilamente uma revelação dessas de repente?Para evitar que Teófilo complicasse ainda mais as coisas, ela se acalmou e trouxe roupas limpas, colocando-as ao seu alcance.— Estas são suas roupas e calças, consegue trocar sozinho?— Posso, mas qual é a frente e qual é o verso?— Deixa, eu faço.Afinal, não era a primeira vez que ela via o corpo dele. Patrícia já não se importava mais e, com um puxão, desamarrou o cordão
Ele se pressiona contra aquele corpo familiar, mas estranho, abraçando ela repetidas vezes como se desejasse gravá-la no fundo de sua alma, para que jamais se separassem. Anteriormente, ela não exalava o cheiro de medicamentos, então agora havia uma nova sensação misturada à familiaridade. Ademais, agora que ele está cego, todos os seus sentidos estão amplificados. Ele pretendia apenas dar um beijo leve, evitando ser audacioso demais.Mas certas coisas são como uma enchente que, uma vez iniciada, não pode ser contida. Seus dedos encontram o pente em seus cabelos e o retiram delicadamente, permitindo que os densos cabelos dela deslizem instantaneamente para baixo, passando suavemente por entre seus dedos, tão macios e sedosos, exalando um leve aroma.Talvez o clima estivesse tão agradável que Patrícia também se esqueceu de resistir. As mãos de Teófilo se tornaram mais audaciosas, talvez porque ela tivesse tido outro filho, e ele percebeu que o corpo dela estava ainda melhor do que