Diante do deboche de Paloma, Teófilo baixou a cabeça enquanto Laís o observava, esperando também por uma resposta. Até aquele momento, ela nada sabia sobre seu próprio pai. Sempre que perguntava a Patrícia, recebia apenas respostas evasivas, sem nunca entrar em detalhes sobre ele.Agora, diante de Teófilo, foi a primeira vez que ela ouviu algo direto sobre Patrícia vindo dele.Não era como ela imaginava, seu pai realmente amava sua mãe.— Paloma, você pode me insultar. Eu fiz muitas coisas no passado que prejudicaram ela. Admito que não sou uma boa pessoa, sou um desgraçado, mas você não pode questionar o meu amor por ela. Mesmo que ela tenha se afastado do meu mundo por alguns anos, nunca houve um dia em que eu a esquecesse.A voz de Daniel interrompeu:— Sr. Teófilo, isso também é irônico. Se você realmente a amasse como diz, como poderia tê-la machucado? Não é contraditório? — Teófilo ouviu os passos de Daniel se aproximando até que ele se posicionou ao lado de Teófilo, muito próxi
Teófilo foi atingido no rosto por um grão e, irritado, jogou as vagens de volta na cesta:— Paloma, eu não consigo.— Jovem, não fique tão irritado. Sei que você vem de uma família nobre e nunca fez esse tipo de trabalho, mas precisa entender algo: seus olhos não vão melhorar em dois ou três dias. Você precisa começar a se adaptar à vida de uma pessoa cega.Teófilo hesitou, percebendo que Paloma estava tentando fazê-lo se exercitar.Patrícia havia dito algo semelhante, naquela época, ele estava tão absorto na alegria do reencontro com Patrícia que mal se preocupou com seus olhos.A lembrança das palavras de Paloma o fez encarar a realidade:— Paloma, quanto tempo até meus olhos melhorarem?— É difícil dizer. Se for rápido, talvez três a cinco meses. Se for devagar, pode ser um ano ou até mais. O melhor seria esperar o veneno dissipar completamente antes de ir ao hospital para um exame detalhado. Problemas de visão não são fáceis de tratar, não espere uma cura rápida.Teófilo sentiu um
O som da porta abrindo ecoou.Teófilo estava inundado por um turbilhão de emoções, sentindo o sangue pulsar em direção à testa. Incapaz de ver, sua mente criava imagens de Patrícia e Daniel emaranhados, um cenário que Daniel já havia tentado arquitetar anos atrás no navio, se aproveitando dos efeitos dos medicamentos. Agora, com Patrícia divorciada, qualquer interação com Daniel poderia ser vista como consensual. Mesmo que descobrisse, o que ele poderia fazer? Naquele instante, Teófilo chegou a sentir um alívio por não poder testemunhar as cenas que imaginava.Um aroma doce permeava o quarto, não lembrava especiarias, mas algo como shampoo ou sabonete líquido. Patrícia falou com uma voz gelada:— O que você está fazendo aqui?Teófilo estava um tanto quanto perturbado neste momento."O que eu vim fazer aqui? Vim ver se fui traído?"Ele lutava para manter as emoções sob controle, tentando fazer sua voz soar natural:— Eu estava lá embaixo e ouvi você gritar de dor, pensei que algo tiv
Patrícia lavou os cabelos e se encostou à janela, observando a lua cheia no céu. Ela havia mentido para Daniel. Por três anos e meio, pensou que tinha superado aquele relacionamento, mas, ao saber que Teófilo estava envenenado e à beira da morte, se sentiu desesperada e impotente. Voltou correndo para casa, não só por causa das crianças, mas porque, no fundo, não queria que ele morresse. Era um sentimento que não deveria ter surgido nela. Parecia que deveria curá-lo rapidamente e mandá-lo embora para evitar mais incidentes.Ao longe, uma canção ecoava, Laís estava tocando na varanda do quarto de Teófilo, e a menina gostava muito dele. Como diria a Laís que Teófilo não era seu pai biológico? Se Teófilo descobrisse que ela havia engravidado de outro homem e dado à luz, ele poderia machucar Laís? Depois de mais de três anos, Patrícia não tinha certeza do tipo de pessoa que Teófilo havia se tornado.Laís tocou algumas canções e parou, bateu na mão de Teófilo e o levou para a cama, in
O som vinha de longe e parecia que Patrícia estava perseguindo alguém. Teófilo segurou o corrimão e desceu as escadas rapidamente, seguindo na direção dos sons. Pelo caminho, caiu várias vezes, mas se levantava e continuava correndo como se não sentisse dor. O som estava nem perto nem longe, como se estivesse intencionalmente atraindo ele.Preocupado com a segurança de Patrícia, Teófilo gritava seu nome:— Paty, onde você está? Como você está?Patrícia acordou de um susto, de um sonho, ela tinha certeza de ter ouvido Teófilo chamando seu nome. Seria apenas um sonho? De algum modo, ela se sentia inquieta. Embora quisesse apenas deitar e dormir, se levantou novamente, decidindo que se sentiria mais tranquila se desse uma olhada. Cobriu o filho com o cobertor, saiu da cama e viu a porta do quarto de Teófilo escancarada assim que desceu as escadas."Por que ele abriria a porta tão tarde?"Patrícia subiu rapidamente as escadas e, no quarto, apenas uma vela emitia uma luz fraca, a cama
Fernando sentiu um calafrio nas costas ao se lembrar de uma conversa casual que teve com Paloma. Ela mencionou que quarenta e oito tipos diferentes de cobras foram encontrados naquela área e que mais de trinta eram venenosas, com mordidas incuráveis. "E Teófilo, que não pode ver, quais seriam as consequências se ele caísse?" Patrícia e Fernando, temerosos, não ousaram se demorar mais e avançaram rapidamente.— Chefe, pare! — Gritou Fernando com todas as suas forças, o silêncio das montanhas amplificando sua voz, certamente Teófilo o ouviria. Não muito longe, encontraram uma das sandálias de Teófilo e, ocasionalmente, algumas gotas frescas de sangue. Patrícia estava perplexa, o que o atraía tanto que, apesar de cair várias vezes, ele continuava correndo sem se importar com nada? "Ele não percebe o perigo?" Claramente não, mesmo ciente dos riscos, ele não parava, o que buscava era mais importante do que sua própria vida.— Vamos rápido!...Laís estava dormindo profundamente quand
Patrícia não cessava de correr, quanto mais se aproximava da cova das serpentes, mais inquieta se sentia. Esse tipo de local era perigoso mesmo para uma pessoa com visão plena, quanto mais para ele, um cego. Se caísse na cova, certamente seria consumido até o coração pelas inúmeras serpentes. Patrícia não ousava imaginar tal cena.O vento frio trazia o fedor pútrido das serpentes, fazendo o corpo de Patrícia tremer incontrolavelmente. Ela parecia um animal acuado, impulsionada unicamente pelo instinto de correr desesperadamente. Ela não conseguia ouvir nenhum outro som, apenas o vento assobiando, que ampliava seu pânico. De repente, devido à tensão, ela tropeçou e caiu, e Fernando prontamente parou para ajudá-la a se levantar:— Você está bem?Mas ele percebeu que ela tremia violentamente.— Rápido, corra! A cova das serpentes está logo à frente.Ignorando a dor no joelho ferido, Patrícia se levantou e correu desesperadamente. Naquele momento, a dor era irrelevante, ela tinha ape
— Chefe, eu não posso simplesmente deixar de me importar com você.— Se afaste, isso é uma ordem! Fique onde está e não se mexa.Fernando olhava para o céu, tentando conter suas lágrimas. Ele tinha visto muitos amigos morrerem no campo de batalha, onde já não se importavam mais com a vida ou a morte.A morte de Suzana, anos atrás, havia deixado uma cicatriz psicológica nele, suas pernas quase ficaram paralisadas, mas ele se esforçou ao máximo na reabilitação, apenas na esperança de ainda poder ficar ao lado de Teófilo para protegê-lo e evitar que outra tragédia acontecesse.Mas agora, um terrível incidente ocorreu.Como naquela noite chuvosa, ele só pôde assistir Suzana morrer sob a arma de outro, completamente impotente.Aproveitando a distração de Daniel, Patrícia o jogou com força no chão e correu em direção à toca da serpente, passando por Fernando.Ela ignorou toda a razão e as consequências.Tudo que ela via diante de seus olhos era o jovem homem que a havia levantado do mar, o e