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6 | Ly Khatayba |

Anna Andaria

KHALIL NÃO respondeu ao meu clamor, apenas me olhou com aqueles olhos detentores e voltou a usar meu corpo dolorido por horas. Senti como se meu corpo fosse esmagado por mil muralhas, minhas partes íntimas foram rasgadas sem piedade e cada som do seu prazer me causava medo e mais dor, uma dor indescritível. Quando sentia seu esperma quente e consistente escorrendo pelas minhas coxas, senti-me uma mera concubina, uma mulher do seu harém. Senti que estava morrendo com a tamanha força que ele exerce ao meu corpo.

Quando enfim achei que ele estava saciado do meu corpo, ele me carregou no colo até o banheiro, ligou o chuveiro quente deixando a água queimar minha pele sem distanciar a dor das minhas partes íntimas.

Estava virada de costas para ele, sentindo ele me lavar com uma esponja densa de sabão e segurar meus seios, as lágrimas caem naturalmente, queria ser mais forte, ele não liga para minhas lágrimas. De repente solta a esponja e agarra minha cintura colocando-me contra o box do banheiro. Estremeço evitando olhar em seus olhos, mas ele me olha por um logo minuto passa a barba vultosa pelo meu pescoço enquanto me morde.

— Olhe para mim!

Sua voz é tão rude e devassa que me faz estremecer, olho para o rosto daquele homem. Seus olhos cobaltos carregam um poder imenso, tem amargura, ira, truculência e toda desumanidade que há nos homens. Aposto que ninguém no mundo inteiro conseguiria encará-lo por mais de cinco minutos, tirando eu. Meus olhos tristes se esforçam para continuar prendendo sua intolerância amistosa, mas gotas cálidas escorregam dos cantos dos meus olhos nesse esforço de pusilanimidade.

Ly khatayba...

Ele sussurra as palavras ásperas, segura minhas coxas e eu começo um choro árduo cerrando os dentes e apertando os olhos quando minha parte feminina lateja ao sentir seu fálus enorme.

A água misturada com sua força causa uma dor maior, seus grunhidos de prazer fazem minhas lágrimas serem mais duras, sua pele quente me faz suar aos tremores e ver sua aliança brilhante traz uma sensação maior de pecado.

Ele me deixou só na cama enorme e desceu as escadas para o lugar inferior, naquela cama grande eu me contorci a noite toda com as dores, creio que nunca mais conseguirei me sentar, ly Khatayba? Ele me disse isso no banheiro e eu não faço a mínima ideia do que seja, predomino a língua árabe o que é incomum por ser fêmea... Mamãe sempre me ensinara gramática às escondidas, mas eu não faço ideia do que seja ly Khatayba.

DIA SEGUINTE:

Eu não preguei os olhos em nenhum momento e nunca chorei tanto em minha vida, estava ali concentrada nas minhas dores quando uma idosa de cabelos grisalhos entra no quarto segurando minha lehenga vermelha e uma bandeja de frutas e sucos.

— Anna, o senhor Mustafá quer que se alimente, se banhe para pegar a estrada com ele.

— Ah não, ele me levará de volta para o prostibulo?

A senhorinha deixa a comida em cima da cabeceira da cama e a roupa em uma poltrona.

— Não sei, mas não demore muito para não irritá-lo, ele vai te esperar no carro.

Tomei o banho e dei poucas mordidas na comida, meu apetite se foi todo depois que mamãe me deixou e o Sheik me teve, olhei para as paredes e todo luxo do lugar. Nunca tinha saído de Amiras e esse lugar que me fez derramar sangue e lágrimas de alguma forma é melhor que lá, não quero ter que voltar para aquele bordel, mas sinto que não há outra maneira.

No carro, eu oscilei, olhei poucas vezes para as mãos do Sheik no volante, olhando sua aliança e anéis que brilhavam como lustres e sua barba negra sedosa. Ele não me olhou, e eu evitei ver seu rosto. Apenas vi as ruas movimentadas de Riad pela primeira vez.

Moças de burcas da cabeça aos pés acompanhadas dos seus guardiões, poucas crianças e muitos homens poderosos, lojas ricas em joias e comidas típicas. A música é diferente das do prostibulo, são tranquilas, animadas e divertidas de uma forma.... Humilde.

Lembro do meu livro favorito “Meu nom é Malala” escrito pela própria, um dos livros mais polêmicos do país e existe poucos exemplares por aí, porém mamãe tinha conseguido um com seus amantes, Malala lutou pelas meninas do Paquistão e chegou a levar tiros na cabeça por isso, eu queria ser forte como ela e lutar como ela. Jamal rasgou o livro e queimou quando vasculhou nosso quartinho. Mais lágrimas derrubei, Khalil parece nem perceber.

Assim que chegamos no portão da grande mansão vejo Mera me esperando com um dos guardas, Khalil me deixou com ela e disse que precisava falar com Jamal para o guarda, ele pareceu nem se importar com minha presença, eu sei que vai doer viver aqui sozinha, mas eu não tenho alternativas... Supliquei para o Sheik, mas para ele sou uma concubina sem utilidades ele já me usou e tirou minha pureza, do que sirvo para ele?

   Mera não me leva para o meu quartinho nos fundos do bordel como esperava, mas sim para um dos quartos das concubinas, mas não um quarto qualquer... O quarto dela e de Yasmin.

— Aí chegou a grande manceba! — Yasmin agita a saia e dá risada quando entro no quarto.

— Pare de mexer com ela, ela precisa descansar e precisa de algumas massagens também.

— Oh! Sim, aposto que com preservativo dói muito mais na primeira vez, nem me fale sou louca para o Sheik Mustafá parar de usar comigo!  — Yasmin senta na sua cama e arruma os braceletes roxos, minha respiração fica pesada como me esqueci disso? Khalil não usou preservativo!

— Preservativo? — Sussurro, Mera tira as cobertas de uma caminha cujo acredito ser para mim.

— Ah então a rapariguinha de Youssef não sabe o que é um preservativo? —Yasmin debocha dando uma longa gargalhada falsa e cheia de raiva — sua tolinha. Foi o que ele usou para comer esse seu rabo sujo!!!

— Ele não usou comigo.

Tanto Yasmin, quanto Mera, arregalam os olhos como se eu acabasse de dizer uma blasfêmia, uma mentira deslavada.

— O quê? Ele não usou?! — Yasmin se levanta parecendo querer arrancar meus olhos das órbitas.

— Não! Não e tenho medo.

Entro em choque, em desespero um nó forma em minha garganta querendo que eu chore novamente, contudo estou exausta de lágrimas.

— Escute-me, Sheiks sempre usam camisa-de-vênus para deitar com amantes e concubinas, somente não usam com esposas... Ele te disse mais alguma coisa?

— Hã? Ele me disse sim, me chamou de Ly Khatayba...

Ela pisa no chão com força e puxa os cabelos, Jamal surge na porta, vejo-o com um olho inchado e vermelho, mas Mera surpresa me conta o motivo de tanto espanto:

— Minha noiva, li Khatayba significa: minha noiva.

***


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