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7 |Layla e Lyla|

Aisha Hussain

AS AMAS abrem as cortinas me despertando de um sonho lindo que tive com meu marido, sempre reclamo da luz do sol cegando-me todas as manhãs, mas o aroma das frutas e dos sucos, o sol escaldante que passa pela cortina deixa-me rarefeita nesta manhã.

Seguro minha barriga de sete meses e sento na cama encostando bem as costas na cabeceira macia. Hoje é segunda-feira o único dia da semana que tenho permissão de Mustafá para sair, mesmo que só possa andar acompanhada do meu baba. Quero comprar tecidos novos, joias ou rir com minhas amigas falsas que desejam trepar com meu marido. Desde que volte às seis da tarde eu posso fazer bastante coisas para me distrair.

— Senhora Hussain, preparamos o chá de rosas cidreiras e o seu bolo favorito. — Ergo uma sobrancelha quando Regina coloca a bandeja em meu colo.

— Realmente estou com muita fome. Meu marido está? Sei que tenho que esperar ele vir aqui para falar comigo, mas acho que hoje pode ser uma exceção preparei um presente à mão para ele ontem a noite.

As três amas se entre-olham, bebo um gole do chá mais perfeito do mundo e Regina solta a voz:

— Ele não dormiu aqui senhora. —  Quase cuspo o chá, meu marido sempre dorme na nossa residência, a menos que esteja trabalhando muito.

— Aposto que ele trabalhou até tarde, não é?

— Não senhora Aisha, conseguimos a informação de que ele tirou uma jovem do prostibulo para se deitar com ela em um apartamento no centro de Riad, tivemos reforço para conseguir a informação que sempre nos pede.

Sinto meus músculos contraindo, fúria perpassa nas minhas veias sanguíneas até alcançar meus olhos. Derrubo a bandeja no chão sujando tudo, levanto-me irritada jogando os lençóis.

— Mentirosas! Sabem o que vão ganhar com mentiras?!

— Não mentimos senhora, o boato estava sendo falado em Amiras Hari's, você sempre diz para ficarmos as espreita.

Acaricio minha barriga, eu já me acostumei, todos os anos Mustafá se deita com diversas moças seja do seu Harém ou uma por ano da boate, normal, mas nunca, nunca ele tirou uma moça do prostíbulo para levá-la a outro lugar.

— Apartamento no centro de Riad? Ele se importou com a moça?

— Falaram que era uma virgem lindíssima.

Meus olhos se enchem de lágrimas entorpecidas, ele já transou com inúmeras virgens como eu mesma por exemplo, contudo nunca deu tanta importância a uma moça para tirá-la do bordel.

Aljahim! Eu já sei onde vou, preparem minha burca preta e limpem essa sujeira, malditas!

HORAS DEPOIS:

A burca que uso deixa evidente apenas meus olhos, em todo caminho eu mal consigo olhar para meu baba, só consigo sentir uma raiva detestável, eu tenho que ficar atenta, meu esposo não pode amar outra mulher além de mim! Eu pertenço a ele e não quero nenhuma outra à mais em seu coração frio.

— Querida, de novo querendo conversar com bruxas? Essas mulheres são charlatãs! — Olho apenas para a rua à frente.

— Não são bruxas baba, são videntes. Efetivamente existem milhares de charlatãs, mas essa não é qualquer uma. Agatha mexe com magia negra desde a infância, ela não ganhou o dom ela se esforçou para tê-lo, além de ótima vidente ela faz perfeitas encruzilhadas.

— Não tem medo?

— Por que teria? Sou uma moça dedicada a Alah e seu alcorão.

Sempre fui uma moça muito religiosa, não vou a conventos religionais porque odeio escutar o choro das mulheres velhas enquanto rezam, mas toda vez que entro no recinto de Agatha me benzo rapidamente.

O local da convenção é bem equipado de líquidos religiosos, cabelos e pinturas tenebrosas, além das velas e do fedor do incenso.

Assim que chego até sua mesa, ela me olha com os olhos bem pintados é uma moça bonita, negra só não é caçada pelos homens porque vários temem a ela.

Sento na cadeira e não coloco as mãos na mesa cheia de velas pretas, ela vê a vida dos outros com grãos de café e de aves, algo totalmente diferente que parece funcionar perfeitamente com sua magia.

— Você novamente  por aqui?

Sua voz chega a dar medo, mas não em mim! Eu exerço meu poder mesmo estando toda coberta de tecido.

— Meu marido, ele levou uma mulher ontem para dormir em seu apartamento, quero saber quem é ela e se eu devo me preocupar.

— O nome da moça?

Ela agita um potinho de vidro com grãos selecionados.

— Não sei, não faço ideia, parece que ele tirou ela do Bordel para dormir com ele... — Agatha dá risada e traga um bastão de vidro para fumo.

— Eu sei quem é a moça, mas a mente da guria é bem fechada. Não consigo lê-la, a menos que ela venha até mim.

Grunho, meu baba que está no canto mostra mais notas de dinheiro para Agatha.

— Me diga mais! Algo importante dessa vagabunda, me diga o quão ela é forte?

— Não, ela não é forte.... A vida da pobre é marcada de tragédia, tão fraca quanto uma flor que despedaça ao ser apertada, mas cuidado até as flores tem seus espinhos. — Alivia o meu peito, suspiro fundo.

— Se é para isso que veio, acho que acabou. —  Me levanto e bato na mesa que faz as luzes bruxelarem.

— Me diga uma coisa útil dessa meretriz!

Agatha reverbera, sem da importância para mim:

— Já disse, acabou.

Pego as moedas no meu bolso e coloco na mesa.

— Você vale por muito menos.

Assim que viro as costas, Agatha repete aquela mesma velha frase que diz todas vezes que venho até seu covil:

— Se acrescentar o destino tira com uma força maior, se tirar o destino devolve três vezes com força melhor.

— O que isso significa? Toda vez que venho aqui sempre me fala essa asneira!

— Quando você causou a morte de Layla e Lyla, você tirou algo crucial ao destino por querer apenas que eleame você, o destino trouxe no mesmo dia da morte das gêmeas uma moça de sabor único, doce, boa.... Atraente demasiada aos olhos do seu marido, não se engane, Mustafá é o vilão dessa história e se a verdade cair nas mãos dele...

Grunho e grito:

— Se ela aparecer na minha vida eu mato-a sem deixar rastros, faço bem pior do que mandei fazerem com Layla e Lyla.

***


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