- Bia, apareça agora! Não estou mais gostando da brincadeira.
- O que foi? Não sabe mais brincar?
- Entre, a mamãe mandou chamar para tomar banho!
- A Luísa irá primeiro.
- Não me interessa quem irá primeiro ou depois, só que seja logo! Eu quero sair.
Bia passou correndo, enquanto Mirela juntava alguns gravetos no chão para levar para dentro.
- Deixa a mamãe descobrir aonde você vai nessas saídas!
- Quem falou isso?
- Foi a Luísa, eu não falei nada...
- Claro. Você, pare de colocar a culpa na Luísa, ela não está aqui!
- Mas estava...
- Pare, Bia! Sabe bem que não é para fazer isso!
Mirela virou e ouviu o chuveiro ligado. Olhou dentro banheiro.
- O que está fazendo aí?
- Tomando banho, você mandou!
- A Luísa não iria primeiro? Acabei de falar com você na sala.
- Mas não foi! Ela ficou no quarto vendo a roupa...
- Devo estar ficando maluca! Não me confunda!
- Não estamos te confundindo...
Ela saiu do banheiro e foi para cozinha.
- O que aconteceu? Você está meio estranha?
- Não sei Dreik. A Bia e a Luísa... Me confundem muito!
- Entendi. Eu faço de conta que é normal. Não deixo me confundir.
- Eu não gosto, estava conversando com a Bia na sala, mas ela estava no banho e disse que era a Luísa. Eu não gosto disso. Tudo ela diz que foi a Luísa e eu sei que não foi. A mamãe não acredita, só por ela ter aquela carinha bonitinha!
- Olha só, deixa eu te falar o que eu disse para mim quando aconteceu a primeira vez comigo e a mamãe não acreditou. Faz de conta que acredita. Deixa a Luísa levar a culpa, azar, pelo menos não me incomodo.
- Mas as duas saem ilesas da história. Não é justo, uma colocar a culpa na outra.
- Não é justo ter que pagar sendo castigado e ver que não foi feito o que você imaginava. A mamãe está vindo, muda de assunto!
- Que horas você irá, Mirela?
- Ainda não sei, mamãe. Minha colega não confirmou o horário.
- Irei mandar o Sr. Klein levá-la.
- Não!
- Como não, Mirela? Não quer que eu ou seu pai te leve, né? Isso é um absurdo.
- Acho que o que ela está querendo dizer, é que o senhor Klein não deveria levá-la por estar de folga. Manda o filho dele, afinal, ele é mais novo e não tem família...
- De onde tirou isso, Bia?
- Ora, mamãe, isso está muito claro. Não precisa ser adulto ou muito esperto para ver isso!
Janete olhou para Mirela questionando-a com os olhos.
- Não era isso que eu queria, mas a ideia não é ruim.
- Claro que não! E a propósito, eu sou a Luísa. Aprendam a nos diferenciar.
Ela saiu correndo para o quarto, sua mãe correu atrás. Entrou no quarto e Bia estava parada no meio dele.
- Chega. Pare com isso. Não gosto quando tenta nos confundir.
- Eu não fiz nada, mamãe!
- Viu! Acredita agora?
- Cale a boca, Mirela ou não deixarei você sair. E você, mocinha! Já que quem faz todas as coisas erradas é a Luísa. Onde ela está? Quero falar com ela.
- Não irei dizer. Você irá castigá-la.
- Pois bem! Se ela aparecer, diga que se não pararem com isso, você será castigada!
- Eu falarei mamãe!
Janete saiu e bateu a porta. Luísa saiu de baixo da cama.
- Ela já saiu?
- Sim! Acho que devemos parar. Temos que andar mais juntas ainda. Você está com problemas.
- Eu gosto de andar sozinha.
- Você faz coisas erradas quando está só e eu irei ser castigada.
- Sabe que não é verdade. Ela só fez para te assustar... Ela é tão covarde quanto o papai.
- O que você fez?
- Nada, eu quase falei que a Mirela está namorando o Fabricio, filho do senhor Klein, mas ela se manteve firme. Aquela é corajosa.
- Você não pode fazer isso. Nem parece que nascemos juntas.
- Mas nascemos... E por minha causa ela irá sair com ele e com permissão.
- Vou pegar algo para comer, não faça nada de errado, pelo menos hoje.
- Tá bom, vou ficar desenhando aqui.
Bia saiu e foi até a cozinha, sentou e Dreik continuava no mesmo lugar. Mirela estava saindo, Bia ficou parada na porta acenando para ela. Quando estava passando na janela da sala, Luísa a chamou. - Não irá nem me agradecer?
- Está certo. Muito obrigada. Devo-te uma.
- Eu sei... Vou descer do sofá. A Bia está vindo.
Luísa desceu e entrou correndo no seu quanto, enquanto Bia entrava na porta do corredo. Mirela olhou Bia pela janela da frente da casa onde Bia estava sentando com um pão na mão. Fabricio chegou parando o carro na frente da casa.
- Espere um pouquinho que já venho!
Mirela entrou no portão que dava acesso à casa pela frente, se escorou na parede olhando para Bia que ontinua sentada na janela.
- Como você trocou de roupa tão rápido e ainda pegou um pão na cozinha?
- Como assim? Eu estava na cozinha com a mamãe e o Dreik.
- Mas, espere, nem quero saber irá dizer que foi a Luísa!
- Não sei se foi a Luísa, mas digo que não era eu.
- Tudo bem.
Mirela voltou até o carro aparentando estar muito abalada.
- O que foi? Você está bem?
- Sim, Fabricio, estou bem! Mas eu não consigo me conformar com essa história da Bia e da Luísa!
- Ela ainda é criança. Faz isso só para chamar atenção!
- Eu simplesmente não consigo acreditar nisso. Ela consegue fazer coisas inexplicáveis. Ela estava com um pão na mão, e trocou de roupa em menos de cinco minutos.
- Já pensou que ela poderia estar com a roupa por baixo e com o pão escondido?
- Nao havia pensado nisso!
- Você está ficando abalada com isso. É normal não pensar em coisas lógicas. Agora vamos, ou iremos nos atrasar.
- Mas o restaurante da cidade fecha bem tarde.
- Quero ir na capital, nossa cidade é muito pequena e não quero que nos vejam ainda. É muito perigoso para nós dois no momento.
- Está certo. Eu às vzes quero tentar ser normal, mas esqueço qu temos que manter segredo por enquanto.
- Eu te amo, Mirela!
- Ai, que bonitinhos!
- Bia! O que faz aí? Como entrou?
- Eu entrei em silêncio, estava escondida ouvindo vocês conversarem. E, você, Fabricio, está muito enganado ao meu respeito. E eu não sou a Bia, sou a Luísa?
- Viu? Ela quer me enlouquecer.
- Não, ela está brincando. Agora precisamos ir e você tem que ficar aqui, não tenho autorização para levar você junto.
- Eu posso pedir!
- Não. Eu prefiro que você fique.
- Está bem! Eu irei fazer por você que gosta de mim.
- Ei! Eu também gosto de você. Não gosto do que você faz!
- Não, você gosta da Bia, que é boazinha, e faz tudo para vocês!
- Certo, depois vocês duas discutem sobre isso! Agora, por favor, preciso que vá para dentro de casa.
- Estou indo!
Luísa desceu do carro e correu até os fundos da casa entrando pela porta da frente. Mirela olhou para a janela e Bia estava sentada.
- Olha, eu não disse que ela...
- Calma, meu amor. Ela pode ter entrado pela janela e nós não vimos por que está escuro na lateral da casa!
- Não mesmo! Eu olhei e avistei ela dobrando para entrar pela frente. E voê viu que ela não estava com outra roupa por baixo.
- Voce está impressionada, faz você imagianar coisas
- Estou falando, Fabricio, tem algo de muito errado aqui!
- Tudo bem, vamos sair logo, então!
Os dois estavam saindo no portão da entrada quando Mirela olhou para a placa e enchergou Luísa parada ao lado!
- Ali! Olhe.
- O que? Ah! Eu sei que quebrou a ponta do galho, irei tirar essa semana!
- Não, você não viu ela parada ao lado da placa?
- Você está imaginando coisas! Acalme-se, logo irá se sentir melhor.
- Mamãe! - Ela saiu... - O que faz aqui? Não era para você estar na escola? - Não estava me sentindo bem e acabei ficando. - Mas eu vi a mamãe te colocar no carro. - Negativo. Você a viu colocando a Bia! - Certo. Não saia do seu quarto! - Não quer que o veja? - Está louca, menina, ver quem? - Eu sei quem está no seu quarto, Mirela! É o filho do senhor Klein. Eu ouvi a voz dele. Ela arregalou os olhos... - O que você quer para não abrir boca? - Nada! Inclusive, eu posso ajudar. - E ficar em suas mãos? Não mesmo... - Eu vou fazer por ele, embora não ache que você mereça! Fabricio saiu do quarto e se abaixou. - Sabe? Eu agradeço muito o que você está fazendo por nós dois, mas me entenda, eu não quero que se preocupe com isso, você poderá ser castigada por nossa causa. - Espera, não. Ela nunca é castigada e se disser que a ideia foi dela. - Não, Mirela. Não quero envolver mais ninguém nisso. Eu assumo a responsabilidade de tudo, afinal, eu sou o adulto da história. - Deix
Hoje Pietro chega para passar as férias de inverno com sua família, Janete e Clóvis, estão o aguardando na rodoviária. Seu “primogênito”, estava chegando. Embora Mirela seja mais velha, não é considerada dessa forma. - Viu como é? Ele apronta, vai para um colégio interno e os dois estão lá esperando! - Sabe que foi um acidente, você ouviu! - Quem? Ouvimos a versão de quem tem você e eu na palma da mão, e dele... Não tinha mais ninguém junto. - Achei que minha palavra bastasse! - Qual das duas é você? - Vai realmente adiantar eu falar? Vocês não saberão se é verdade ou não! - Ela tem razão! Temos que aprender a diferenciá-las. Dreik levantou a cabeça e encarou Mirela. - O que você fez? Agora eu entendi, na palma da mão... - Não interessa. Eles estão chegando! Os dois correram até a rua para esperar o irmão. Pietro desceu e os abraçou, foi até o corredor do casarão e gritou. - Eu cheguei. Quero meu abraço! - Vem nos achar... – Bia gritou do quarto. - Hum! Acho que estou com
- - Ai, que susto! De onde você surgiu? - Do meu quarto! O que foi? Está com cara de que aconteceu algo. - Onde estão os meninos? - Sentados na cozinha, jogando baralho. - Venha comigo. - Quer jogar, Mila? - Não! Acabei de receber uma mensagem. A barragem grande estourou, estamos isolados aqui. - Sozinhos? - Sim, Dreik. Sozinhos... Irei pedir para o Fabricio dormir aqui. E olha o detalhe importante. Ela quem mandou. - Você tem sorte. - Ela mandou vocês me obedecerem, também. - Quando ela voltará? - Quando baixar a água. Óbvio. - Claro, isso pode demorar uma semana, ou duas. Esqueceu como funciona, Pietro? Estamos sozinhos aqui com as duas, lembra? Os três olharam para Bia, parada na entrada do corredor, ainda dentro da cozinha, e, como se fosse uma sombra nas suas costas, Luísa, estava na outra ponta, quase no final do corredor, olhando-os e sorrindo. Logo em seguida, Fabricio chegou e bateu à porta. Dreik foi correndo abrir. Ele entrou, estava encharcado. - Você não tr
No meio da madrugada, Fabricio, é acordado com tremores, ele abriu os olhos e levou um susto. Luísa, estava parada na sua frente com uma lanterna que iluminava apenas seu rosto. - Posso dormir com vocês? - Ah, sim, pode. - Vou deitar no meio. - Não, querida, não pode deitar no meio, é errado. Deite ao lado de sua irmã. - Eu não a quero ao meu lado. - Vamos pegar um colchão para ela, então! Fabricio levantou, foi ao quarto de Bia, levando um susto ao vê-la deitada na cama. - Oi. O que foi? - Você não estava na cozinha? - Não, é a Luísa. Ela ficou com medo e foi deitar lá. O que quer? - O colchão. - Pegue da cama dela, embaixo da minha. Ele pegou e foi até a cozinha, olhou a menina sentada na cadeira com suas cobertas e travesseiro no colo. - Como? - Não tente entender... Ele colocou-a deitada e voltou para o seu colchão. Dreik acabou não dormindo mais. Enquanto fingia dormir, ficou escutando a conversa das duas. - Irá começar quando? - Amanhã, com certeza, eles não irã
Fabricio acordou e chamou Mirela. - Bom dia! Dormiu bem? - Sim, eu acho que sim. Bom dia! - Estamos sem luz, ainda bem que é dia. Vou ver a caixa da luz lá na frente. Me empresta um guarda-chuva. Pietro pulou da cama. - Eu irei com você para ajudar a segurar o guarda-chuva. - Ela começou... - Quem começou, Dreik? - Eu ouvi as duas conversando ontem depois que todos já haviam dormido. Ela disse que hoje iria começar e que as duas ficariam em paz. - Acho que você deve ter sonhado. Ela dormiu bem quietinha. - Eu ouvi, Fabricio! - Certo, depois nós conversamos sobre isso, fique calmo. Agora vamos, Pietro. Um problema de cada vez. Mirela, vai arrumando nosso café, por favor. Logo nós voltamos. - Já estava pensando em fazer, estava colocando sua roupa para secar. Você poderá precisar dela. - Bem pensado. Pietro saiu acompanhando Fabricio. - Elas sumiram! Não acha isso estranho, Mila? - Eu vi a Bia no quarto dela. - E a Luísa? - Ainda não avistei-a hoje! - Eu estou com medo
- - Mirela, tudo bem? - Sim. Pode cuidar dele para eu dormir um pouquinho? - Claro, a febre subiu? - Não, está se mantendo baixa! Mas precisamos levá-lo ao médico. - Eu sei, meu amor. Mas enquanto não parar a chuva, não tem como. - Claro, a barragem! - Eu sinto muito por isso. - Sua mão, como está? - Doendo um pouco. Vai deitar, que eu ficarei com ele. - Engraçado, faz um tempo que olhei o relógio e era 02h31min da manhã. - E daí? - Ainda é! O relógio parou... - Deve ter acabado a pilha, de manhã trocamos, vai dormir! Fabricio sentou na cadeira e escorou os braços na mesa. Ficou olhando sua mão, parecia estar ficando vermelha e inchada. Ele olhou seu celular, notando que a hora era a mesma do relógio 02h31min da manhã. Pensou estar vendo coisas... A chuva estava muito forte e os trovões não davam trégua. Ele levantou e foi ver como Pietro estava. Seu rosto estava completamente desfigurado, mas, sem febre, isso era o que importava no momento. - Quer dormir um pouco? - Dr
- Parece que a chuva está parando. - Não quero desmotivar você, mas acho que irá ser por pouco tempo! - A luz voltou. - Encha a caixa de água. Vou aproveitar e ver seus irmãos. - Acha que ficarão adormecidos por muito tempo? - Eu espero que sim. - Deu... Está enchendo. - O Dreik está bem, parece tudo normal com a mão dele, já o Pietro, estou bem preocupado, precisamos tirar a carne morta do rosto dele. Pegue as duas gavetas com lençóis e toalhas e traga para cá. Leve isso, caso falte luz novamente. Vou colocar as outras lanternas para carregar... Ele olhou para os relógios e o horário ainda não havia mexido. 02h31min, por que aquilo? - Antes de mexermos no rosto dele, quero ver sua mão. Ele desenrolou, Mirela ficou olhando aquele buraco aberto. - Olha para mim... Está tudo bem! - Sua mão! - Tudo bem! Vamos limpar. Agora podemos dar uns pontos. - Como? - Lembra quando costuramos aquela rede? - Sim, mas é a sua mão! - Vamos fazer o mesmo com ela. Primeiro, você irá ao qu
A tempestade estava cada vez mais forte e o dia parecia não chegar nunca. Eles passam a maior parte do tempo deitados, das poucas vezes que levantam procuram amparar Pietro, que está cada vez pior, embora não sinta dor devido às altas doses de analgésicos e de sedativo que Fabricio lhe dá. - Ei, a luz voltou de novo, irei colocar a caixa para encher. - Vai com cuidado, Dreik. - Eu irei limpar as coisas. - Certo, eu vou limpar o rosto dele. Aproveitar que posso enxergar bem. - Acho que irei buscar lenha. - Não, Dreik! Sua mão, pode pegar alguma sujeira. - Você tem razão! - Temos muita lenha ainda. Se a chuva não parar, eu busco. - Dreik, deixe-me ver como está sua mão! - Espere, eu quero ver também! - Acho melhor você continuar aí, pode faltar luz novamente, e tem muito que fazer ainda! Ele vai aí e te mostra. - Está bem. Por um momento, o silêncio tomou conta do ambiente. - Nossa, você fez um trabalho muito bom mesmo! Olhe. - Deixe-me ver... Acho que ficou bom, sim. Não