Sete Anos de Amor
Sete Anos de Amor
Por: Ângela
Capítulo 1
No dia em que entrei descalça na cidade, me tornei manchete nos jornais.

Após meses de cativeiro, a filha adotiva da família Garcia reaparecia em estado deplorável: roupas esfarrapadas, corpo coberto de sujeira, pés dilacerados. Uma imagem que lembrava mais um animal abandonado que uma herdeira de família rica.

As lentes dos repórteres disparavam sem parar, disputando cada detalhe da minha aparência. Meu coração, porém, permanecia mais frio que água parada, incapaz de registrar qualquer emoção.

A antiga Ângela havia desaparecido. Aquela moça radiante, cheia de sonhos e caprichos, havia morrido nas mãos dos sequestradores e na indiferença de Luiz Garcia.

Um grupo de seguranças de terno preto abriu caminho na multidão. À frente, Edson Moura, figura conhecida. Nos sete anos de relacionamento com Luiz, ele sempre foi encarregado de me “conduzir” para fora dos escritórios e apartamentos particulares de Luiz.

Essa “condução” frequentemente se assemelhava mais a um arrasto, dada minha teimosia em nunca desistir e o crescente desgaste de Luiz.

— Srta. Ângela, o senhor está esperando no carro. Siga-me, por favor. — Disse ele, cujo olhar traiu um rápido sobressalto. Claramente não esperava me ver naquele estado.

Acenei levemente e comecei a caminhar, cada passo deixando marcas vermelhas no asfalto. A dor física já não me afetava, insignificante comparada ao inferno que havia enfrentado na fuga.

Edson me seguiu em silêncio, até que não resistiu e começou:

— Srta. Ângela...

Não respondi. Ele estava sentindo pena por mim? Talvez alívio. Afinal, depois daquilo, eu jamais incomodaria Luiz novamente nem daria trabalho extra para ele.

Ao entrar no carro, encontrei Luiz de olhos fechados. Seu cabelo impecável e traços esculpidos pareciam intactos como sempre.

Era verdade. Durante meu desaparecimento, ele devia ter experimentado uma paz sem precedentes. O cansaço não o atingia.

Ao ouvir a porta fechar, ele abriu os olhos lentamente. O reconhecimento foi gradual.

— Ângela? — Murmurou ele, surpreso.

Acenei novamente. Sim, eu havia aprendido a lição. Antes, me julgava igual à filha legítima da família Garcia, cheia de orgulho tolo. Agora sabia que minha vida dependia do capricho deles. Se Luiz não pagasse, eu valeria menos que um cachorro vadio.

Franzindo a testa, ele perguntou com repulsa:

— Como permitiu chegar a esse estado?

Esse estado? Que estado? De louca? De mendiga? Eu fugia por dezenas de quilômetros, me escondendo tanto de captores quanto de feras florestais. Bebia água de poças, comia restos de lixeiras. Qualquer um enlouqueceria.

Sabia sua verdadeira irritação: minha aparência mancharia a imagem da sua empresa. Ou seja, da empresa da família Garcia.

— Desculpe. — Murmurei, cabisbaixa. — Por ter poluído seus olhos.

Luiz hesitou por um instante diante do meu pedido de desculpas. Um sorriso irônico se surgiu em seus lábios.

— Ela tem razão. Você finalmente aprendeu a se comportar.

Não compreendi a ironia, mas o fechar das portas do carro interrompeu qualquer questionamento. Quando ele estendeu o braço em minha direção, me encolhi instintivamente no canto. Seu movimento congelou no ar.

— Ângela, você fede. — Ele cuspiu com repulsa.

O espaço confinado revelava o odor que carregava: mistura de sangue coagulado, suor envelhecido e restos de lodo das estradas. Um cheiro que impregnava cada fio de cabelo, cada dobra da roupa esfarrapada.

Tentei me afastar no banco, mas o movimento brusco do veículo me derrubou no vão entre os assentos. Joelhos feridos colidiram com o carpete.

— Perdão... Desculpe... Não vou sujar o banco, só... — A frase morreu na garganta.

As perfurações das agulhas de aço queimavam como brasas. Sangue escorria pelas pernas, formando padrões grotescos na pele. Cada músculo protestava, acusações silenciosas por meu fracasso em valer um resgate, em merecer atenção.

— O que está fazendo? Volte para o lugar, agora! — Ele ordenou, com raiva.

No entanto, não se moveu para ajudar. Me ergui aos trancos, náuseas e tonturas ameaçando me derrubar novamente. Dias sem comida cobravam seu preço. Lágrimas quentes rolaram, se misturando à sujeira do rosto.

Luiz sempre desprezava meu choro. Dessa vez, porém, algo diferente aconteceu. Arremessou um lenço branco em minha direção sem olhar para mim.

Apertei o tecido imaculado até os dedos doerem. Antes, aquilo me faria sorrir por dias. Agora, só ampliava a vergonha da mulher esfarrapada que me tornava.

Pelo retrovisor, Edson lançou um olhar furtivo para mim. Baixei a cabeça mais ainda. Nem ele, veterano em situações constrangedoras, devia ter visto algo tão patético.
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