POR LORENAEu estava envergonhada e um pouco nervosa só de pensar em cantar para mais pessoas. Cantar era um passatempo particular, mas, se Lincy confiava em mim, eu não podia desapontá-la. O primeiro desafio foi o fato de eu não conhecer a música. Para complicar ainda mais, ela era cantada em inglês, uma língua completamente desconhecida para mim.Percebendo que eu soletrava as palavras de forma um pouco errada, Lincy usou o feitiço de ensinamento linguístico para me transmitir seu conhecimento do idioma. Zuldrax e Zadiel tinham razão; feitiços como esse realmente me pareciam uma trapaça. Ela estudou por anos e, em um instante, conseguiu me passar tudo o que sabia.— Essa música é linda! — falei, assim que compreendi o significado da letra pela primeira vez. Agora eu entendia por que ela a havia escolhido.— Meus pais amam essa música. Parece que a usaram na entrada do casamento deles.— Entendi. Mais um motivo para eu me esforçar para arrasar nesse cover.Baixei um playback e ensaia
POR LORENAAbri o portal, pronta para mais um dia agitado. Zuldrax foi de grande ajuda carregando as coisas pesadas, enquanto Lin e eu ajudávamos na organização das mesas e decoração.— Aí está bom! — disse Lincy. Zuldrax estava no alto de um pé de manga, ajustando uma lâmpada, enquanto Noturno, agitado, abanava o rabo lá embaixo, querendo subir também.— Não, você não pode — falei, pegando-o mais uma vez, entre tantas outras. O espertinho já estava aprendendo a usar a energia vermelha de Zuldrax, o que o levava a fazer coisas estranhas.— Vou bloquear minha energia para ele não pegar emprestado — respondeu Zuldrax, arqueando as sobrancelhas enquanto saltava de volta para o chão.— Lin, mamãe está te chamando! — Hugo gritou da janela e logo voltou para dentro.— Obrigada por hoje! Vocês foram de grande ajuda. Estão liberados para se arrumarem — agradeceu ela, sorrindo, antes de entrar na casa. Pouco depois, Guido e Catarina saíram. O carro deles já tinha sido retirado da garagem e col
POR LINCYOs movimentos precisos das minhas mãos eram necessários naquele momento, enquanto eu encarava o ponteiro do relógio na parede, ciente de que precisava terminar de colocar todos os docinhos nos papéis e organizá-los na mesa principal antes que meu pai voltasse com o bolo. Pelo menos Hugo estava me ajudando...— Por que não pedimos para a Lorena e o Zuldrax nos ajudarem a levar tudo? — perguntou ele.— Eles já nos ajudaram demais hoje — respondi. Não queria abusar da boa vontade deles.— Mas ainda precisamos ligar para a Maria para saber se a janta está pronta. Vou chamá-los! — Ele parou o que estava fazendo e correu antes que eu tivesse tempo de dizer qualquer coisa. Pouco depois, voltou com o rosto desanimado. — Não consegui encontrá-los. Acho que já foram.— É claro que já foram, pois eu os liberei — expliquei calmamente.— Por que fez isso?— Vamos dar conta! — respondi, convicta.Tio Sandro, nosso tio preferido, apareceu de surpresa instantes depois. Geralmente, era compl
POR LINCYEnquanto Lorena soltava sua linda voz, Hugo veio até mim, passando uma caixa e colocando-se ao meu lado. Coloquei a caixa atrás do meu corpo, e ele fez o mesmo. Queríamos que o público pensasse que os efeitos que se seguiriam brotariam daqueles objetos.Deixei a caixa cair sobre a mesa atrás de mim, sem que ninguém percebesse, e, com as mãos livres, conjurei uma magia de ilusão simples, criando fumaça e luzes que encheram os convidados de euforia.Ao fim da apresentação, meus pais estavam chorando, tão emocionados que eu também não consegui reprimir minhas próprias lágrimas. Hugo e eu pegamos as rosas que escondemos nas caixas e, deixando as embalagens vazias para trás, nos dirigimos aos nossos pais, entregando as flores e os abraçando.— Obrigada, filha! Amamos a surpresa! — agradeceu minha mãe. Ela estava tão linda!— Eu que agradeço por tudo, por serem meus pais. Amo vocês! — Isso se transformou em um abraço coletivo, envolvendo toda a família, enquanto aplausos ressoavam
POR LINCY— Obrigada por terem vindo! — Meus pais agradeceram aos últimos convidados que voltariam para casa da forma convencional. Em seguida, a entrada foi fechada. Já era por volta de meia-noite, e eu me sentia completamente exausta.— Deixa que eu te ajudo com isso. — Miridar tocou levemente minhas costas, me deixando arrepiada, enquanto estendia a mão e pegava a bandeja das minhas mãos.— Você não precisa...— Mas eu quero! — disse ele, convicto, e acabei cedendo.Fui organizando o que sobrou da comida na cozinha, enquanto os outros se ofereceram para ajudar a trazer as coisas para dentro. Hugo ficou recolhendo o lixo, mas logo entrou com meus pais e os pais da Lorena.— Pode relaxar por hoje, filha. Temos assuntos mais importantes para conversar — disse minha mãe, e eu concordei prontamente, sorrindo para os visitantes.— Vamos todos até a sala — chamou meu pai.— Grande dia — comentou Lorena, sorrindo para mim enquanto passava, com o olhar tão cansado quanto o meu. Assenti para
POR LORENAEstiquei os braços, fazendo um alongamento antes de começar a preparar o café. Meu pai foi quem acordou mais cedo, passando na padaria para trazer alguns pães fresquinhos, além de biscoitos caseiros e outras iguarias.— Está bom de açúcar? — servi um pouco numa xícara e passei para minha mãe.— Está perfeito, filha — respondeu ela, após provar. Estava muito mais calada do que o habitual, e havia inquietude em sua aura. Peguei uma bandeja, coloquei os sonhos dentro e depois abri a sacola com os pães de mel e saboreei um.— Querida — começou ela — é tão ruim assim a possibilidade de vocês não voltarem para esse outro mundo?— Mãe... — peguei a mão dela, sentindo-me tocada pela mesma angústia. — Eu sei o quanto isso é difícil para você e para o papai, mas Zuldrax é um rei que tem um povo para zelar, e eu, como esposa, tenho a obrigação de ficar ao lado dele. Eu amo você e o papai, amo esse mundo apesar das imperfeições e amo a nossa cultura. Por mim, eu e Zuldrax ficaríamos aq
POR LORENAFiquei na sala brincando com Noturno até que os demais se juntaram a nós. Zuldrax sentou-se no chão de frente para mim, Lincy se acomodou em uma poltrona e os outros no sofá. Mamãe ficou de pé, um pouco mais atrás. Resolvi quebrar o silêncio que se instaurara.— Qual é o plano agora? Lunester vai voltar para Halis?— Por enquanto não. Ainda estou pensando em um modo de ajudá-los.— E ele pode voltar? O dom dele não estava falhando? — perguntou Zuldrax, ainda inconformado que nem as dióxys nem o dom funcionaram com ele.— Meu dom está atuando normalmente. Verifiquei isso com Jeradar à noite, antes de dormir.— Então o que aconteceu? — perguntei.— Isso deve estar relacionado com quem o utiliza. Talvez o dom halisiano só funcione em outro halisiano — sugeriu Lincy, sabiamente. Ela se levantou, estendeu a mão para Lunester, que compreendeu o gesto e a pegou prontamente, com delicadeza.— É uma ótima lembrança essa — disse Lunester, rindo, enquanto fixava o olhar nela. — Acho q
POR LORENAZuldrax parecia atordoado ao descobrir que nunca estivera realmente preso neste planeta. Eu poderia ter aberto o portal de retorno assim que me despedisse dos meus pais, quando meu marido apareceu neste mundo. Confiei automaticamente em Zuldrax quando ele afirmou que as dióxys pararam de funcionar e acabei nunca averiguando por mim mesma. Essa situação era desconcertante e engraçada ao mesmo tempo. Minha conclusão é de que, simplesmente, era para ser assim.— Acho que dessa vez é um adeus mesmo — expressou minha mãe, pegando o celular para encaminhar as novidades por escrito ao meu pai e apressá-lo.— A dióxy de localização encontra versões temporais também? — perguntou Zuldrax. Ele ainda ansiava por voltar ao ponto em que deixou Halasin. Tornei a pegar a dióxy, pensando em uma lembrança de Alister do passado. A força de localização parecia seguir um sentido temporal único. Antes que eu tivesse tempo de responder, Zadiel se intrometeu novamente.— Isso não é uma dióxy de lo