POR LORENAEu conseguia respirar um pouco mais aliviada agora que todas as minhas lágrimas haviam secado. Deitei-me novamente, sentindo uma perspectiva mais otimista desde que conheci aquela garota, de pele clara, cabelos castanhos compridos e olhos cor de mel. Ela era um pouco mais alta que eu, igualmente magra, com uma simetria facial e um sorriso alinhado que revelavam uma beleza singela e natural. Era linda por fora e por dentro, e eu podia atestar isso, pois sua aura, completamente pura, de um azul tão claro e translúcido, refletia uma imensa compaixão e altruísmo, algo raro de se ver.Qual era a possibilidade de eu encontrar outra halisiana como eu neste planeta? Por menor que fosse, isso aconteceu, reacendendo a chama de esperança que estava quase apagada. Eu precisava dela, e sentia que, de alguma forma, ela poderia me ajudar a voltar para casa. Meus pais não se surpreenderam ao me ver entrar no banheiro, ainda molhada. Na verdade, nem fizeram muitas perguntas, pois já estava
POR LORENACombinei de me encontrar com Lincy na casa dela no dia seguinte. A ideia me deixou tão inquieta que mal consegui dormir, com a mente fervilhando de expectativas.— Alô? — atendi às pressas, enquanto calçava meus tênis e ajeitava as meias por baixo do jeans. — Bom dia, Lo! Hoje é sexta! Vamos marcar alguma coisa pra fazer à noite. — Bia estava extremamente empolgada. Acho que ela ainda esperava que eu desenhasse Zuldrax para que pudesse ver como ele é. — Hoje não vai dar. — Então amanhã, sem falta! Tem um lugar... — Amanhã também não vai dar, desculpe. — A verdade é que eu nem sabia se ainda estaria neste planeta amanhã. Não podia ficar criando compromissos. — Estou de viagem e não sei exatamente quando volto.— Como assim você vai viajar? Pra onde você vai? Por que só está me contando agora? — Decidi ontem à noite. Preciso de uns dias só pra mim, Bia. Vou pro litoral. — Queria ir com você. Um fim de semana juntas na praia seria incrível. — Ah, Bia, numa próxima. Está
POR LINCY“O julgamento.” Na última vez que o fiz, me considerei inocente, vendo-me como Lincy, não como Alissya, humana e não halisiana. Contudo, o veredicto final foi que eu não era humana, mas sim halisiana. Naquele momento, percebi que não tenho a palavra final sobre nada. Agora, sem querer, envolvi Lorena em algo que fugia à nossa compreensão. Contudo, o ser que aparecera atrás de nós parecia entender profundamente do que se tratava. Ele contornou o sofá, colocando-se de frente para nós, e sorriu, com as mãos erguidas em um gesto que indicava que não devíamos temer. Cessei minha conjuração e me concentrei:— Meu nome é Zadiel. Sou um interdimensional, a pior classe de “stalker” que vocês podem ter. Estamos em todos os lugares, mas, geralmente, vocês não nos veem. — Então por que estamos te vendo? — perguntou Lorena, ingenuamente. Ele fora atraído pela marca, e eu precisava entender quais eram suas intenções.— Porque sou um interdimensional especial, capaz de entrar nesta dimens
POR LINCY— Mãe, se não se importa, eu e a Lorena temos alguns assuntos para tratar. — Claro! Me desculpem! Foi tão fácil simpatizar com ela. Vou deixar vocês duas à vontade. Qualquer coisa, estarei na cozinha. — Obrigada! — respondeu Lorena, naquele jeito meigo dela. Eu até me sentia um pouco bruta ao lado dela. — Vem, vamos para o meu quarto — chamei-a, indicando o caminho. — Entre, fique à vontade! — Que arrumadinho e acolhedor. — Ela parou em frente ao mural, onde estava o pedido de ajuda que eu havia escrito. — Como o plano B falhou, acho que precisamos voltar ao plano A, certo?— Eu estava pensando nisso. Vai dar certo — falei com convicção —, só não sei quanto tempo vai levar. Quando fui para Halis há alguns anos, a passagem do tempo era diferente. Até hoje me pergunto o que aconteceu, e acredito que exista um véu de distorção entre os mundos, que faz com que o tempo por lá ocorra com um certo atraso em relação a este lugar. Além disso, as visões de Ragrim são do futuro. Po
POR LINCYMeu pai, assim que entrou em casa com meu irmão, veio diretamente ao meu quarto, como se já soubesse da visita. Não duvido que minha mãe tenha ligado antes para informá-lo. Como o trabalho dele não fica longe, ele sempre passa aqui para almoçar no intervalo, trazendo meu irmão pré-adolescente, que vive constrangido por ainda ser acompanhado pelos pais para ir e voltar da escola.Esse jeito superprotetor dos meus pais nunca foi um problema para mim. Na minha outra vida, eu não era muito amada, então, ser mimada, paparicada e receber essa atenção toda agora sempre me deixou contente.— Com licença! Olá, garotas, tudo bem? — Ele se aproximou de Lorena, oferecendo um aperto de mão. Ela retribuiu com firmeza enquanto se apresentavam. — Sou Jonas, o pai da Lincy. É um prazer conhecê-la pessoalmente, Lorena.— O prazer é meu! — respondeu ela. Nesse meio-tempo, meu irmão já havia deixado a mochila no quarto e estava à espreita na porta, curioso.— Oi! Você é o irmão da Lincy?— Oi! S
POR LINCYMinha mãe interrompeu o que estava dizendo ao ouvir o ranger da porta do banheiro. Lorena estava voltando, fazendo os cochichos cessarem.— Está tudo bem? — Lorena perguntou-me assim que se sentou à mesa novamente. Eu não conseguia esconder a insatisfação no rosto. Assenti de leve, tentando sorrir, mas isso não a enganou. Ela reagiu virando-se para meus pais com uma proposta inesperada.— Sua filha é muito inteligente, e como ela já tem me ajudado, eu gostaria de contratá-la oficialmente para ser minha advogada. Casos de divórcio são um pouco complicados, mas acredito que, com ela intermediando, conseguirei o que quero.— O que está fazendo? — perguntei em halisiano para os outros não entenderem.— Achei que fosse me dar aulas particulares. — Ela sorriu e mordiscou o lábio inferior de um jeito travesso. — Geralmente os professores são pagos por hora, certo? Esse negócio de divórcio é a desculpa perfeita para darmos uma escapada.— Será que dá para conversarem em português? —
POR LENISSYAQuando agíamos como magas, usávamos nossos nomes de origem, e eu achava isso muito legal. Era como estar em um daqueles filmes de super-heróis com identidade dupla. Alissya não era apenas boa, era formidável! Suas demonstrações eram tão precisas que ela parecia não se cansar, nem suar ou se sujar, o completo oposto de mim.— Você está bem? Se machucou? — perguntou preocupada. Apesar de me dar espaço nas conjurações, estava sempre por perto, atenta, pronta para conjurar magias de proteção caso eu falhasse. Se não fosse pelo olhar atento dela, provavelmente eu já teria incendiado a floresta.— Estou bem! — respondi, notando que o escudo que ela criara impediu que o galho que derrubei caísse sobre mim. Meu objetivo era conjurar um dragão de gelo, mas além de não ganhar forma, perdeu o controle e destroçou o galho acima de mim. — Com o trabalho que estou te dando, vou ter que te pagar muito bem.— Trabalho? Que nada! — Ela criou uma rajada de vento precisa, afastando o galho
POR LORENA— De tudo? Tudo mesmo? — perguntou Lincy, ainda mais apreensiva. Assenti.— É um prazer conhecer você. — Minha mãe se aproximou para cumprimentá-la. — A Lorena estava numa depressão terrível ultimamente, mas desde que te conheceu ontem está tão animada! Vai ficar para o jantar?— Eu gostaria muito, mas meus pais estão me esperando — respondeu Lincy, timidamente.— Lincy é a maga mais forte que já vi. Ela vai ser minha professora — me intrometi de novo. — Vou acompanhá-la de volta e já venho.— Que ótimo! — Minha mãe lançou um olhar ao meu pai, conversando pelo olhar daquele jeito que só eles entendem, e depois voltou a falar conosco. — Lincy podia passar um tempo conosco enquanto te ensina. Vocês poderiam usar o sítio do tio Carlos para o treinamento.O sítio do tio Carlos, irmão do meu pai, é literalmente no fim do mundo, ou como eles gostam de brincar, “onde Judas perdeu as botas”. É um lugar tão isolado que nem sinal de celular pega. Acho que foi exatamente por isso que