POR LINCY“O julgamento.” Na última vez que o fiz, me considerei inocente, vendo-me como Lincy, não como Alissya, humana e não halisiana. Contudo, o veredicto final foi que eu não era humana, mas sim halisiana. Naquele momento, percebi que não tenho a palavra final sobre nada. Agora, sem querer, envolvi Lorena em algo que fugia à nossa compreensão. Contudo, o ser que aparecera atrás de nós parecia entender profundamente do que se tratava. Ele contornou o sofá, colocando-se de frente para nós, e sorriu, com as mãos erguidas em um gesto que indicava que não devíamos temer. Cessei minha conjuração e me concentrei:— Meu nome é Zadiel. Sou um interdimensional, a pior classe de “stalker” que vocês podem ter. Estamos em todos os lugares, mas, geralmente, vocês não nos veem. — Então por que estamos te vendo? — perguntou Lorena, ingenuamente. Ele fora atraído pela marca, e eu precisava entender quais eram suas intenções.— Porque sou um interdimensional especial, capaz de entrar nesta dimens
POR LINCY— Mãe, se não se importa, eu e a Lorena temos alguns assuntos para tratar. — Claro! Me desculpem! Foi tão fácil simpatizar com ela. Vou deixar vocês duas à vontade. Qualquer coisa, estarei na cozinha. — Obrigada! — respondeu Lorena, naquele jeito meigo dela. Eu até me sentia um pouco bruta ao lado dela. — Vem, vamos para o meu quarto — chamei-a, indicando o caminho. — Entre, fique à vontade! — Que arrumadinho e acolhedor. — Ela parou em frente ao mural, onde estava o pedido de ajuda que eu havia escrito. — Como o plano B falhou, acho que precisamos voltar ao plano A, certo?— Eu estava pensando nisso. Vai dar certo — falei com convicção —, só não sei quanto tempo vai levar. Quando fui para Halis há alguns anos, a passagem do tempo era diferente. Até hoje me pergunto o que aconteceu, e acredito que exista um véu de distorção entre os mundos, que faz com que o tempo por lá ocorra com um certo atraso em relação a este lugar. Além disso, as visões de Ragrim são do futuro. Po
POR LINCYMeu pai, assim que entrou em casa com meu irmão, veio diretamente ao meu quarto, como se já soubesse da visita. Não duvido que minha mãe tenha ligado antes para informá-lo. Como o trabalho dele não fica longe, ele sempre passa aqui para almoçar no intervalo, trazendo meu irmão pré-adolescente, que vive constrangido por ainda ser acompanhado pelos pais para ir e voltar da escola.Esse jeito superprotetor dos meus pais nunca foi um problema para mim. Na minha outra vida, eu não era muito amada, então, ser mimada, paparicada e receber essa atenção toda agora sempre me deixou contente.— Com licença! Olá, garotas, tudo bem? — Ele se aproximou de Lorena, oferecendo um aperto de mão. Ela retribuiu com firmeza enquanto se apresentavam. — Sou Jonas, o pai da Lincy. É um prazer conhecê-la pessoalmente, Lorena.— O prazer é meu! — respondeu ela. Nesse meio-tempo, meu irmão já havia deixado a mochila no quarto e estava à espreita na porta, curioso.— Oi! Você é o irmão da Lincy?— Oi! S
POR LINCYMinha mãe interrompeu o que estava dizendo ao ouvir o ranger da porta do banheiro. Lorena estava voltando, fazendo os cochichos cessarem.— Está tudo bem? — Lorena perguntou-me assim que se sentou à mesa novamente. Eu não conseguia esconder a insatisfação no rosto. Assenti de leve, tentando sorrir, mas isso não a enganou. Ela reagiu virando-se para meus pais com uma proposta inesperada.— Sua filha é muito inteligente, e como ela já tem me ajudado, eu gostaria de contratá-la oficialmente para ser minha advogada. Casos de divórcio são um pouco complicados, mas acredito que, com ela intermediando, conseguirei o que quero.— O que está fazendo? — perguntei em halisiano para os outros não entenderem.— Achei que fosse me dar aulas particulares. — Ela sorriu e mordiscou o lábio inferior de um jeito travesso. — Geralmente os professores são pagos por hora, certo? Esse negócio de divórcio é a desculpa perfeita para darmos uma escapada.— Será que dá para conversarem em português? —
POR LENISSYAQuando agíamos como magas, usávamos nossos nomes de origem, e eu achava isso muito legal. Era como estar em um daqueles filmes de super-heróis com identidade dupla. Alissya não era apenas boa, era formidável! Suas demonstrações eram tão precisas que ela parecia não se cansar, nem suar ou se sujar, o completo oposto de mim.— Você está bem? Se machucou? — perguntou preocupada. Apesar de me dar espaço nas conjurações, estava sempre por perto, atenta, pronta para conjurar magias de proteção caso eu falhasse. Se não fosse pelo olhar atento dela, provavelmente eu já teria incendiado a floresta.— Estou bem! — respondi, notando que o escudo que ela criara impediu que o galho que derrubei caísse sobre mim. Meu objetivo era conjurar um dragão de gelo, mas além de não ganhar forma, perdeu o controle e destroçou o galho acima de mim. — Com o trabalho que estou te dando, vou ter que te pagar muito bem.— Trabalho? Que nada! — Ela criou uma rajada de vento precisa, afastando o galho
POR LORENA— De tudo? Tudo mesmo? — perguntou Lincy, ainda mais apreensiva. Assenti.— É um prazer conhecer você. — Minha mãe se aproximou para cumprimentá-la. — A Lorena estava numa depressão terrível ultimamente, mas desde que te conheceu ontem está tão animada! Vai ficar para o jantar?— Eu gostaria muito, mas meus pais estão me esperando — respondeu Lincy, timidamente.— Lincy é a maga mais forte que já vi. Ela vai ser minha professora — me intrometi de novo. — Vou acompanhá-la de volta e já venho.— Que ótimo! — Minha mãe lançou um olhar ao meu pai, conversando pelo olhar daquele jeito que só eles entendem, e depois voltou a falar conosco. — Lincy podia passar um tempo conosco enquanto te ensina. Vocês poderiam usar o sítio do tio Carlos para o treinamento.O sítio do tio Carlos, irmão do meu pai, é literalmente no fim do mundo, ou como eles gostam de brincar, “onde Judas perdeu as botas”. É um lugar tão isolado que nem sinal de celular pega. Acho que foi exatamente por isso que
POR LINCYAssim que Lorena desapareceu, encostei o portão e senti as mãos de Caio me envolvendo. Coloquei minhas mãos sobre as dele e virei meu rosto o suficiente para sentir seus lábios macios descendo suavemente na minha bochecha, em direção à minha boca. Virei-me, retribuindo o beijo e tocando-o nas costas.— Como está hoje? — perguntou-me carinhosamente.— Melhor. Consegui um trabalho e uma verdadeira amiga.— Um trabalho bom?— Sim. A remuneração é superior ao caso, mas ela insiste. — Dei de ombros. O trabalho de dar aulas era, no fundo, mais divertido para mim do que para ela. Sentia como se fosse ganhar dinheiro por brincar.— Que ótimo! Então, vamos ao shopping amanhã? Parece que você saiu do castigo quando arranjou esse trabalho. — Não sei se vai dar. Devo aproveitar os dias em que ela está aqui para trabalhar no caso.— Isso não é problema, é só ela vir também — sugeriu ele. Cogitei a possibilidade. Algumas horas entre amigos não fariam mal...— Vou perguntar para ela — res
POR LINCYQuando desliguei o celular, Hugo estava com um sorriso no rosto e o punho fechado, como quem diz: "Isso!"— Você venceu, mas ouviu, tome café e se arrume logo.— Mas meia hora não dá tempo para fazer isso e ainda ir até lá — reclamou ele.— Dá sim, se pegarmos um atalho.— Como assim?— Não me faça perguntas, apenas se apresse.Mesmo confuso, ele me obedeceu. Encheu uma tigela com leite e cereais enquanto eu fui ao quarto me arrumar. Dessa vez, iria com roupas leves. Quando voltei para a cozinha, Hugo já estava vestido para sair, com um chinelo confortável e o cabelo desgrenhado jogado para trás. Peguei um pacote de bolachas no armário e uma garrafa de água na geladeira, colocando-os na minha bolsa, que já continha um frasco de repelente, um de protetor solar, um par de óculos de sol e um casaco, para eventualidades.— Você demora muito para se arrumar. Já deu quase meia hora e você nem calçou nada.— Se eu falei que ia ver ela em meia hora, é meia hora. Além disso, vou desc