POR LINCYMeu nome é Lincy Carvalho de Freitas, recém-formada em direito e, agora, desempregada. Entrei no curso com uma perspectiva equivocada sobre a profissão, acreditando que se tratava de justiça e dever. Achei que defenderia as pessoas que realmente precisavam, mas o estágio do qual acabei de ser demitida me ensinou que tudo não passava de uma grande ilusão.— Ei, Lin. Tudo bem? — Meu irmãozinho, Hugo, balançava o controle do videogame diante dos meus olhos, praticamente implorando para que eu jogasse com ele. Como de costume, aceitei, já que isso o deixava feliz e, com sorte, me ajudaria a esvaziar a mente. — Isso é tudo o que você tem? — provocou, esperando que eu fosse uma adversária menos fácil. — Você que é o melhor! — respondi, enquanto meu personagem caía derrotado. Sempre fui do tipo que ignora provocações com silêncio ou com palavras amáveis. — Ei, filha. Já está em casa? — perguntou meu pai, entrando pela porta com uma sacola de compras na mão. Ele sempre compra a l
POR LINCYEstava escuro, mas a luz da lua cheia iluminava a paisagem o suficiente para que eu enxergasse ao redor. Eu não sabia exatamente onde estava, apenas que era uma praia deserta, longe da cidade. Caminhei à beira-mar, sentindo uma satisfação imensa enquanto a areia se agarrava aos meus pés, e me perguntei por que continuava reprimindo meus dons mágicos. Era tão incrível poder fazer algo que as outras pessoas não podiam.Talvez eu só precisasse disso, sentir que sou única em algo, que sou especial. Elevei meus pés do chão, em uma levitação suave, que se desfez minutos depois, quando comecei a perceber uma presença. Uma sombra de porte médio e curvas perfeitas, com as ondas do mar batendo até seus joelhos. Seus cabelos pretos e lisos, caindo pouco abaixo dos ombros, se embaralhavam ao vento. Aproximei-me lentamente, completamente fascinada pelo som de sua voz. A princípio, cheguei a pensar que pudesse ser uma sereia, mas descartei essa ideia assim que reconheci a melodia do refrã
POR LINCYLorena ficou olhando fixamente para a própria mão, com um olhar desconcertado. — Escrevi o número do meu celular na palma da sua mão — expliquei. — Você não vai conseguir ver com os olhos, mas passe a aura inteligente sobre a marca, e ela o interpretará para você.— Escrita mística! — deduziu ela. Fiquei feliz que, ao menos, tivesse ouvido falar. — Exatamente! Minha aura inteligente registra a informação, e outra pessoa com aura inteligente consegue ler. Quando você voltar para casa, me manda uma mensagem nesse número. Assim, poderemos manter contato.— Obrigada! — ela me respondeu com um sorriso singelo. — Podemos manter contato pessoalmente também, certo? É só eu me teletransportar até a sua casa, ou vice-versa, ou marcamos em algum lugar. — Claro! — Distraí-me com o celular tocando no meu bolso. Meus pais... droga! — Você mora muito longe daqui? — perguntei, preocupada. — Daqui? Nem sei onde estou. — Nem eu, para ser sincera. — Ativei o GPS no celular e olhei o mapa
POR LORENAEu conseguia respirar um pouco mais aliviada agora que todas as minhas lágrimas haviam secado. Deitei-me novamente, sentindo uma perspectiva mais otimista desde que conheci aquela garota, de pele clara, cabelos castanhos compridos e olhos cor de mel. Ela era um pouco mais alta que eu, igualmente magra, com uma simetria facial e um sorriso alinhado que revelavam uma beleza singela e natural. Era linda por fora e por dentro, e eu podia atestar isso, pois sua aura, completamente pura, de um azul tão claro e translúcido, refletia uma imensa compaixão e altruísmo, algo raro de se ver.Qual era a possibilidade de eu encontrar outra halisiana como eu neste planeta? Por menor que fosse, isso aconteceu, reacendendo a chama de esperança que estava quase apagada. Eu precisava dela, e sentia que, de alguma forma, ela poderia me ajudar a voltar para casa. Meus pais não se surpreenderam ao me ver entrar no banheiro, ainda molhada. Na verdade, nem fizeram muitas perguntas, pois já estava
POR LORENACombinei de me encontrar com Lincy na casa dela no dia seguinte. A ideia me deixou tão inquieta que mal consegui dormir, com a mente fervilhando de expectativas.— Alô? — atendi às pressas, enquanto calçava meus tênis e ajeitava as meias por baixo do jeans. — Bom dia, Lo! Hoje é sexta! Vamos marcar alguma coisa pra fazer à noite. — Bia estava extremamente empolgada. Acho que ela ainda esperava que eu desenhasse Zuldrax para que pudesse ver como ele é. — Hoje não vai dar. — Então amanhã, sem falta! Tem um lugar... — Amanhã também não vai dar, desculpe. — A verdade é que eu nem sabia se ainda estaria neste planeta amanhã. Não podia ficar criando compromissos. — Estou de viagem e não sei exatamente quando volto.— Como assim você vai viajar? Pra onde você vai? Por que só está me contando agora? — Decidi ontem à noite. Preciso de uns dias só pra mim, Bia. Vou pro litoral. — Queria ir com você. Um fim de semana juntas na praia seria incrível. — Ah, Bia, numa próxima. Está
POR LINCY“O julgamento.” Na última vez que o fiz, me considerei inocente, vendo-me como Lincy, não como Alissya, humana e não halisiana. Contudo, o veredicto final foi que eu não era humana, mas sim halisiana. Naquele momento, percebi que não tenho a palavra final sobre nada. Agora, sem querer, envolvi Lorena em algo que fugia à nossa compreensão. Contudo, o ser que aparecera atrás de nós parecia entender profundamente do que se tratava. Ele contornou o sofá, colocando-se de frente para nós, e sorriu, com as mãos erguidas em um gesto que indicava que não devíamos temer. Cessei minha conjuração e me concentrei:— Meu nome é Zadiel. Sou um interdimensional, a pior classe de “stalker” que vocês podem ter. Estamos em todos os lugares, mas, geralmente, vocês não nos veem. — Então por que estamos te vendo? — perguntou Lorena, ingenuamente. Ele fora atraído pela marca, e eu precisava entender quais eram suas intenções.— Porque sou um interdimensional especial, capaz de entrar nesta dimens
POR LINCY— Mãe, se não se importa, eu e a Lorena temos alguns assuntos para tratar. — Claro! Me desculpem! Foi tão fácil simpatizar com ela. Vou deixar vocês duas à vontade. Qualquer coisa, estarei na cozinha. — Obrigada! — respondeu Lorena, naquele jeito meigo dela. Eu até me sentia um pouco bruta ao lado dela. — Vem, vamos para o meu quarto — chamei-a, indicando o caminho. — Entre, fique à vontade! — Que arrumadinho e acolhedor. — Ela parou em frente ao mural, onde estava o pedido de ajuda que eu havia escrito. — Como o plano B falhou, acho que precisamos voltar ao plano A, certo?— Eu estava pensando nisso. Vai dar certo — falei com convicção —, só não sei quanto tempo vai levar. Quando fui para Halis há alguns anos, a passagem do tempo era diferente. Até hoje me pergunto o que aconteceu, e acredito que exista um véu de distorção entre os mundos, que faz com que o tempo por lá ocorra com um certo atraso em relação a este lugar. Além disso, as visões de Ragrim são do futuro. Po
POR LINCYMeu pai, assim que entrou em casa com meu irmão, veio diretamente ao meu quarto, como se já soubesse da visita. Não duvido que minha mãe tenha ligado antes para informá-lo. Como o trabalho dele não fica longe, ele sempre passa aqui para almoçar no intervalo, trazendo meu irmão pré-adolescente, que vive constrangido por ainda ser acompanhado pelos pais para ir e voltar da escola.Esse jeito superprotetor dos meus pais nunca foi um problema para mim. Na minha outra vida, eu não era muito amada, então, ser mimada, paparicada e receber essa atenção toda agora sempre me deixou contente.— Com licença! Olá, garotas, tudo bem? — Ele se aproximou de Lorena, oferecendo um aperto de mão. Ela retribuiu com firmeza enquanto se apresentavam. — Sou Jonas, o pai da Lincy. É um prazer conhecê-la pessoalmente, Lorena.— O prazer é meu! — respondeu ela. Nesse meio-tempo, meu irmão já havia deixado a mochila no quarto e estava à espreita na porta, curioso.— Oi! Você é o irmão da Lincy?— Oi! S