POR LORENA— Devo estar louca! — falei comigo mesma, ao chegar no endereço indicado, pontualmente às 12h30. Era uma casa grande, de dois andares, pintada de cinza, com altos muros e cerca elétrica. Se não fosse pela música alta e os risos estridentes ao fundo, eu teria pensado que estava no endereço errado.Toquei a campainha, e um rapaz de pele escura e cabelos curtos abriu a porta metálica branca. Vestia apenas uma bermuda azul-escuro com uma listra amarela em ambos os lados. Não havia dúvidas de que era o namorado da Bia; percebi isso assim que vi o padrão dela na aura dele. Aparentemente, a aura dela não era a única... — Quem é você? — perguntou-me, curioso. — Lorena! — estendi a mão, cumprimentando-o. — Sou amiga da Beatriz. Ela me convidou.— Ora, então você é a Lorena? Ela fala muito de você para mim. — Ele apertou minha mão e depois gesticulou para que eu entrasse. — Amor, olha quem chegou! O grito dele chamou a atenção de um pequeno grupo reunido no gramado em frente à cas
POR LORENA— Vou matar a Bia! — deixei escapar ao ver a mensagem que apareceu no meu celular de um número desconhecido assim que me deitei na cama. Como ela passa meu número sem me consultar?“Oi! Lorena, aqui é o Matheus. Só queria saber se chegou bem em casa.” Visualizei a mensagem e fui olhar minhas redes sociais enquanto pensava se respondia. Cerca de dois minutos depois, recebo outra:“Espero que não se importe que eu tenha pedido o seu número. É que é difícil achar amigos de verdade hoje em dia que se pareçam conosco. Queria que fossemos amigos, Lorena.”— Se for só isso... — sussurrei para mim mesma, começando a digitar uma resposta, ciente de que, a partir daqui, não haveria mais volta.“Olá Matheus! Cheguei bem. Obrigada por se preocupar! Acredito que tudo bem sermos amigos. E você? Chegou em casa bem?” Enviei a mensagem e ri da minha própria estupidez, por ter me esquecido que ele morava na casa ao lado. Já não dava mais para corrigir...“Claro... tirando que quase fui ata
POR LORENAUma disparada de mensagens tomou conta do meu celular naquela noite. A insistência aumentou a ponto de começarem a me ligar. Coloquei o celular no modo avião e me joguei na cama após um demorado e relaxante banho quente. Mal consegui dormir e acordei sendo cutucada pela minha mãe.— Querida, está tudo bem? Seus amigos estão na sala. Estão preocupados com você. — O quê? — gemi. Eu não tinha disposição para levantar. — Podia ao menos ter mandado uma mensagem avisando que chegou bem — Bia entrou resmungando, com as mãos na cintura. Para ela, não havia cerimônias; já era de casa.— Eu não quero falar com ninguém. — Lo, me desculpa! Eu não quis te chatear. — Ela se aproximou, sentando-se na beirada da cama. Minha mãe colocou a mão na minha testa e suspirou fundo.— Parece que você está com febre. Vou pegar um analgésico na cozinha. — Com licença! — soou uma voz masculina, parando na porta do meu quarto. Era Jeff. Logo atrás, Matheus abriu espaço para minha mãe sair, e os doi
POR LORENADeixei o celular de lado por um momento e passei no banheiro antes de ir tomar café. Quando voltei para ler as mensagens, um número em especial estava disparando uma atrás da outra. — Esse é o seu conceito de "mais tarde", Bia? — resmunguei. Nove mensagens curtas haviam chegado nos últimos doze minutos.“Lorena, não vou te convidar para o meu casamento porque você não me chamou para o seu.” 10:07“Esquece o que eu disse, é que ainda estou abismada com a revelação.” 10:09“Amiga, como que você conseguiu casar com um homem que teve tão pouco tempo para conhecer?” 10:10“Quero saber de tudo, desembucha.” 10:11“Qual o nome dele? Ao menos é bonito?” 10:11“Agora que parei para pensar, estou triste por você não saber se vai voltar a vê-lo. Se precisar desabafar, conta comigo.” 10:14“Lo, seu amuleto foi presente dele?” 10:15“Amiga, me conta tudo logo. Ahhhhhhh!” 10:15“Se não me responder em dez minutos, eu volto aí.” 10:19Comecei a digitar a primeira resposta, enquanto masti
POR LINCYMeu nome é Lincy Carvalho de Freitas, recém-formada em direito e, agora, desempregada. Entrei no curso com uma perspectiva equivocada sobre a profissão, acreditando que se tratava de justiça e dever. Achei que defenderia as pessoas que realmente precisavam, mas o estágio do qual acabei de ser demitida me ensinou que tudo não passava de uma grande ilusão.— Ei, Lin. Tudo bem? — Meu irmãozinho, Hugo, balançava o controle do videogame diante dos meus olhos, praticamente implorando para que eu jogasse com ele. Como de costume, aceitei, já que isso o deixava feliz e, com sorte, me ajudaria a esvaziar a mente. — Isso é tudo o que você tem? — provocou, esperando que eu fosse uma adversária menos fácil. — Você que é o melhor! — respondi, enquanto meu personagem caía derrotado. Sempre fui do tipo que ignora provocações com silêncio ou com palavras amáveis. — Ei, filha. Já está em casa? — perguntou meu pai, entrando pela porta com uma sacola de compras na mão. Ele sempre compra a l
POR LINCYEstava escuro, mas a luz da lua cheia iluminava a paisagem o suficiente para que eu enxergasse ao redor. Eu não sabia exatamente onde estava, apenas que era uma praia deserta, longe da cidade. Caminhei à beira-mar, sentindo uma satisfação imensa enquanto a areia se agarrava aos meus pés, e me perguntei por que continuava reprimindo meus dons mágicos. Era tão incrível poder fazer algo que as outras pessoas não podiam.Talvez eu só precisasse disso, sentir que sou única em algo, que sou especial. Elevei meus pés do chão, em uma levitação suave, que se desfez minutos depois, quando comecei a perceber uma presença. Uma sombra de porte médio e curvas perfeitas, com as ondas do mar batendo até seus joelhos. Seus cabelos pretos e lisos, caindo pouco abaixo dos ombros, se embaralhavam ao vento. Aproximei-me lentamente, completamente fascinada pelo som de sua voz. A princípio, cheguei a pensar que pudesse ser uma sereia, mas descartei essa ideia assim que reconheci a melodia do refrã
POR LINCYLorena ficou olhando fixamente para a própria mão, com um olhar desconcertado. — Escrevi o número do meu celular na palma da sua mão — expliquei. — Você não vai conseguir ver com os olhos, mas passe a aura inteligente sobre a marca, e ela o interpretará para você.— Escrita mística! — deduziu ela. Fiquei feliz que, ao menos, tivesse ouvido falar. — Exatamente! Minha aura inteligente registra a informação, e outra pessoa com aura inteligente consegue ler. Quando você voltar para casa, me manda uma mensagem nesse número. Assim, poderemos manter contato.— Obrigada! — ela me respondeu com um sorriso singelo. — Podemos manter contato pessoalmente também, certo? É só eu me teletransportar até a sua casa, ou vice-versa, ou marcamos em algum lugar. — Claro! — Distraí-me com o celular tocando no meu bolso. Meus pais... droga! — Você mora muito longe daqui? — perguntei, preocupada. — Daqui? Nem sei onde estou. — Nem eu, para ser sincera. — Ativei o GPS no celular e olhei o mapa
POR LORENAEu conseguia respirar um pouco mais aliviada agora que todas as minhas lágrimas haviam secado. Deitei-me novamente, sentindo uma perspectiva mais otimista desde que conheci aquela garota, de pele clara, cabelos castanhos compridos e olhos cor de mel. Ela era um pouco mais alta que eu, igualmente magra, com uma simetria facial e um sorriso alinhado que revelavam uma beleza singela e natural. Era linda por fora e por dentro, e eu podia atestar isso, pois sua aura, completamente pura, de um azul tão claro e translúcido, refletia uma imensa compaixão e altruísmo, algo raro de se ver.Qual era a possibilidade de eu encontrar outra halisiana como eu neste planeta? Por menor que fosse, isso aconteceu, reacendendo a chama de esperança que estava quase apagada. Eu precisava dela, e sentia que, de alguma forma, ela poderia me ajudar a voltar para casa. Meus pais não se surpreenderam ao me ver entrar no banheiro, ainda molhada. Na verdade, nem fizeram muitas perguntas, pois já estava