Por Lenissya
Os dias seguintes da viagem foram árduos. Meu coração permanecia aflito pelo que acontecera e, agora, angustiado pela incerteza do que estava por vir. Como me receberiam? Eu seria bem tratada ou vista apenas como uma inconveniência?
Era uma noite mais agradável. Olhei para as luas no céu e depois para o horizonte. Havia pontos luminosos ao longe. Seriam estrelas? À medida que nos aproximávamos, comecei a perceber que essas luzes se assemelhavam às lâmpadas do mundo em que cresci. Pontas de alguma construção começaram a se destacar conforme nos aproximávamos. Os detalhes ainda estavam embaçados, mas parecia-me uma cidade. Estaríamos finalmente chegando?
— O que é aquilo? — perguntei, apontando na direção em que íamos, seguido de um bocejo.
— Seradon, nosso destino final — respondeu Ikzar.
O aspecto e os detalhes da cidade tornavam-se cada vez mais claros a cada passo. Lâmpadas flutuavam no
Por LenissyaToc, toc, toc. O som das batidas na porta era insistente, como se quisesse me arrancar do meu sono agradável. "Só mais cinco minutos", pensei, recusando-me a acordar.— Lenissya? Posso entrar? — Abri os olhos assim que reconheci a voz. Era Henry! Espreguicei-me na cama e me sentei. Ele bateu levemente mais algumas vezes na porta. Dei um longo bocejo antes de responder, dando meu consentimento.— Claro! Entre! — A porta se abriu, e ele deu uma espiada antes de entrar. — A casa é sua, não precisa ser tão formal.— Não é certo entrar no quarto de uma dama sem ser convidado, independentemente da situação — respondeu ele.Fiquei vermelha, mas continuei olhando-o, sem acreditar no que estava ouvindo. Ele permaneceu de pé perto da porta, segurando uma muda de roupas na mão.— Trouxe um vestido para você usar agora de manhã. Pedi que providenciassem mais roupas para você. Até o fim do dia, trarão o restant
Por LenissyaSeradon era repleta de obras maravilhosas, a começar pelas casas flutuando umas sobre as outras. Escadas flutuantes, como as do palácio, davam acesso a essas moradias, que, ao contrário das de Henir, não seguiam um padrão único. Cada casa tinha sua própria arquitetura e tamanho. Acho que o que havia de mais semelhante entre elas era a cor, que seguia os padrões verde e amarelo de Salis. No entanto, havia variações criativas, com diferentes tonalidades e gravuras que conferiam uma personalidade única a cada uma.— Henry, isso é incrível! Este lugar é lindo!Eu não me cansava de admirar tudo, e Henry não se cansava de rir das minhas reações. Estava realmente maravilhada. Passei a manhã inteira conversando com os parentes de Henry, que eram muitos, e a simpatia deles me encantava. Logo percebi que a educação de Henry vinha de sua família. Sem as guerras, a mortalidade dos salisianos era meno
Por LenissyaHenry voltou a me guiar, desta vez para dentro de um prédio imenso. As pessoas que entravam e saíam pareciam alheias à minha presença, todas imersas em suas tarefas.— Onde estamos exatamente? — perguntei, curiosa.— No centro de pesquisas e desenvolvimento. A biblioteca principal também fica neste prédio, assim como o setor de engenharia deste mundo. Tenho algo especial para você.— Algo para mim? — Ele despertou ainda mais minha curiosidade. Tentei captar alguma pista, mas ele manteve-se impassível, sem deixar escapar nenhuma reação suspeita.— É surpresa. Estamos quase lá.Os corredores seguiam em uma forma semilunar, e descemos para o andar inferior. Paramos diante de uma sala repleta de salisianos, homens e mulheres, todos concentrados em atividades específicas. O que mais chamou minha atenção foi um grupo ao norte da sala que, diferente dos outros, não estava focado em leitura e escrita, mas
Por LenissyaAlguns dias haviam se passado desde que cheguei a Seradon. Estive tão envolvida conhecendo tudo que, ao tropeçar sem querer na mochila no meu quarto, lembrei-me de que minha vinda aqui não era só por diversão. Além disso, eu tinha em meu poder um objeto que pertencia a esse povo e que precisava ser devolvido.— O que é isso, Lenissya? — Henry me perguntou durante o café da manhã, enquanto olhava para a caixinha em minhas mãos. Trouxe a relíquia comigo e agora a expunha na mesa para que toda a família real pudesse vê-la.— Acho que isso pertence a vocês. Não lhes contei essa história antes, mas, pouco antes de meu irmão me mandar para cá, estive em Julitar investigando a história da separação dos reinos e, por acaso, encontrei isso. Pertencia a Elric, e eu gostaria de aproveitar esta oportunidade para devolvê-lo.O pai de Henry foi quem pegou a caixa das minhas mãos, analisando a tranca com um olhar curioso. O am
Por Lenissya— Vi em um livro — respondeu Henry, após alguns segundos de ponderação. — Acho que essa pedra pode ser encontrada em uma mina abandonada ao norte de Salis. A visibilidade na região é muito baixa por causa do nevoeiro constante, e também há relatos de que é lar de tutics, pequenos animais avermelhados com garras afiadas e focinhos largos. Como existem leis que nos proíbem de nos aproximar dos animais deste mundo, ninguém pisa lá há centenas de anos.— Entendi! — Peguei a carta de Elric e a entreguei para Henry. — Leia isso, por favor — em seguida, passei-lhe o meu caderno, aberto nas páginas com as anotações. — E depois, isso.Várias expressões passaram pelo rosto dele enquanto analisava tudo atentamente. À medida que ele lia, fazia perguntas sobre o que tinha acontecido, e eu respondia tudo o que sabia. Quando mencionei a morte proibida e o ataque de Adrak, Henry ficou visivelmente perturbado.Nos tempos antigos
Por LenissyaVários dias haviam se passado desde o início da construção do Tecbot, o que fez com que Henry passasse cada vez menos tempo comigo devido ao projeto. Isso não era de todo ruim, pois aproveitei para expandir minha biblioteca intelectual, lendo inúmeras páginas, sendo meu próprio corpo o único limite para o quanto eu poderia absorver.Com o tempo, porém, percebi o quanto a presença constante de Henry me fazia falta. Ler por horas a fio, sem pausas ou restrições, começou a me esgotar rapidamente. Quanto mais eu lia, mais tinha a sensação de que estava absorvendo menos. Os detalhes se misturavam na minha mente, como nós difíceis de desfazer, e eu me via incapaz de fazer todas as conexões entre os textos.Em meio a essa confusão, algo chamou minha atenção. Alguns livros tinham uma escrita diferente, e eu podia jurar que era latim. Mas o que livros escritos em latim estariam fazendo neste mundo? Continuei minha busca por respostas até encontrar um com uma escrita ainda mais fam
Por LenissyaRômulo deu a volta por mim, colocou os livros em uma bancada próxima e começou a fazer gestos para a irmã que só eles pareciam entender. Um movimento de cabeça, um balançar das mãos no ar...— Isso é algo secreto do nosso povo. Devemos mesmo contar a ela? — Larissa estava com o olhar tenso.— Não vejo por que não. Afinal, foram os halisianos que nos trouxeram até aqui. Além disso, ela já sabe da Terra!— A Terra é o meu lar. Foi onde cresci — acrescentei, tentando transmitir mais confiança, pois desejava ardentemente obter respostas. — Esse livro que acabei de ler não está em halisiano, que é a língua universal deste lugar, e sim em...— Português! — Larissa me interrompeu. Assenti positivamente.— Existe uma escola que ensina algumas línguas desse povo para que sejam preservadas entre as gerações. É nessa mesma escola que aprendemos as histórias que nenhum livro conta. — Rômulo fez uma pausa, suspirou fundo como se quisesse criar suspense, e deu espaço para Larissa conti
Por LenissyaMais de uma semana havia se passado desde o início do projeto Tecbot. Todos os dias, bem cedo, eu ia até a biblioteca para ler. Rômulo e Larissa, os gêmeos, sempre estavam lá nesse horário, mas hoje o ambiente estava quieto demais...Apesar disso, resolvi continuar meus estudos, mudando para as prateleiras que ainda não tinha explorado. Até o momento, não encontrei nenhuma informação útil para minha aventura. Estendi a mão para pegar o primeiro livro daquela prateleira. Era grande, branco e bastante chamativo, com uma gravura hexagonal de bom tamanho estampada na capa.— O Livro de Viagem Dimensional. Como eu não tinha visto isso antes? — murmurei para mim mesma.— Falando sozinha? — A voz de Rômulo veio de repente, bem atrás de mim. No susto, soltei o livro. Larissa, rápida, agachou-se ao meu lado e pegou o livro antes que ele caísse.— Seu reflexo é incrível! — comentei, aliviada. — Achei que vocês não viriam hoje.— Nos atrasamos porque o Rômulo dormiu demais, e como eu