Por Lenissya
— Vi em um livro — respondeu Henry, após alguns segundos de ponderação. — Acho que essa pedra pode ser encontrada em uma mina abandonada ao norte de Salis. A visibilidade na região é muito baixa por causa do nevoeiro constante, e também há relatos de que é lar de tutics, pequenos animais avermelhados com garras afiadas e focinhos largos. Como existem leis que nos proíbem de nos aproximar dos animais deste mundo, ninguém pisa lá há centenas de anos.
— Entendi! — Peguei a carta de Elric e a entreguei para Henry. — Leia isso, por favor — em seguida, passei-lhe o meu caderno, aberto nas páginas com as anotações. — E depois, isso.
Várias expressões passaram pelo rosto dele enquanto analisava tudo atentamente. À medida que ele lia, fazia perguntas sobre o que tinha acontecido, e eu respondia tudo o que sabia. Quando mencionei a morte proibida e o ataque de Adrak, Henry ficou visivelmente perturbado.
Nos tempos antigos
Por LenissyaVários dias haviam se passado desde o início da construção do Tecbot, o que fez com que Henry passasse cada vez menos tempo comigo devido ao projeto. Isso não era de todo ruim, pois aproveitei para expandir minha biblioteca intelectual, lendo inúmeras páginas, sendo meu próprio corpo o único limite para o quanto eu poderia absorver.Com o tempo, porém, percebi o quanto a presença constante de Henry me fazia falta. Ler por horas a fio, sem pausas ou restrições, começou a me esgotar rapidamente. Quanto mais eu lia, mais tinha a sensação de que estava absorvendo menos. Os detalhes se misturavam na minha mente, como nós difíceis de desfazer, e eu me via incapaz de fazer todas as conexões entre os textos.Em meio a essa confusão, algo chamou minha atenção. Alguns livros tinham uma escrita diferente, e eu podia jurar que era latim. Mas o que livros escritos em latim estariam fazendo neste mundo? Continuei minha busca por respostas até encontrar um com uma escrita ainda mais fam
Por LenissyaRômulo deu a volta por mim, colocou os livros em uma bancada próxima e começou a fazer gestos para a irmã que só eles pareciam entender. Um movimento de cabeça, um balançar das mãos no ar...— Isso é algo secreto do nosso povo. Devemos mesmo contar a ela? — Larissa estava com o olhar tenso.— Não vejo por que não. Afinal, foram os halisianos que nos trouxeram até aqui. Além disso, ela já sabe da Terra!— A Terra é o meu lar. Foi onde cresci — acrescentei, tentando transmitir mais confiança, pois desejava ardentemente obter respostas. — Esse livro que acabei de ler não está em halisiano, que é a língua universal deste lugar, e sim em...— Português! — Larissa me interrompeu. Assenti positivamente.— Existe uma escola que ensina algumas línguas desse povo para que sejam preservadas entre as gerações. É nessa mesma escola que aprendemos as histórias que nenhum livro conta. — Rômulo fez uma pausa, suspirou fundo como se quisesse criar suspense, e deu espaço para Larissa conti
Por LenissyaMais de uma semana havia se passado desde o início do projeto Tecbot. Todos os dias, bem cedo, eu ia até a biblioteca para ler. Rômulo e Larissa, os gêmeos, sempre estavam lá nesse horário, mas hoje o ambiente estava quieto demais...Apesar disso, resolvi continuar meus estudos, mudando para as prateleiras que ainda não tinha explorado. Até o momento, não encontrei nenhuma informação útil para minha aventura. Estendi a mão para pegar o primeiro livro daquela prateleira. Era grande, branco e bastante chamativo, com uma gravura hexagonal de bom tamanho estampada na capa.— O Livro de Viagem Dimensional. Como eu não tinha visto isso antes? — murmurei para mim mesma.— Falando sozinha? — A voz de Rômulo veio de repente, bem atrás de mim. No susto, soltei o livro. Larissa, rápida, agachou-se ao meu lado e pegou o livro antes que ele caísse.— Seu reflexo é incrível! — comentei, aliviada. — Achei que vocês não viriam hoje.— Nos atrasamos porque o Rômulo dormiu demais, e como eu
Por LenissyaEmbora não houvesse uma imagem clara, as linhas de cores chamavam a atenção de forma hipnotizante, trazendo à minha mente memórias da ocasião em que fui trazida para este mundo.— Esse quadro está relacionado à viagem dimensional, não é? — perguntei, no fundo já sabendo a resposta.— Já esteve lá? — João se inclinou um pouco mais para frente, atento às minhas reações, maravilhado com a possibilidade de eu ter presenciado algo assim. — Você deve ser a irmã de Alister, trazida para este mundo recentemente.— Sim, sou eu — confirmei. Pelo visto, minha história já estava na boca de todos. — Ao que parece, ele não acha conveniente me manter em Halis. Não sou muito adepta às ideias de guerra dele.— Não me surpreende. Você cresceu em outra cultura — respondeu João, assentindo em compreensão.— Ela leu o livro sobre viagem dimensional na nossa biblioteca e está confusa sobre como isso funciona. — Rômulo, impaciente, tentava direcionar a conversa para o ponto principal.— Acho qu
Por LenissyaAquela depressão que me dominara alguns dias atrás, quando soube que era quase impossível voltar para casa, foi se dissipando à medida que eu interagia mais com este mundo e fazia novas amizades. Toda a família de Henry era extremamente atenciosa comigo, e os irmãos gêmeos bivitelinos estavam sempre ao meu lado nas horas que eu passava lendo. Eu me sentia muito amada aqui.Nosso trio de estudo estava, neste momento, na biblioteca, sentados em círculo, lendo os livros que havíamos selecionado para o nosso jogo. Optamos por um dia de leitura em que cada um escolheria o livro que o outro teria que ler. Eu escolhi o de Larissa, ela o de Rômulo, e Rômulo escolheu o meu. Ao final do dia, iniciaríamos um debate sobre o que foi lido.— Ainda acho que Lenissya deveria ler mais de um livro — comentou Larissa, após me ver usar a aura inteligente e, em menos de dois minutos, folhear todas as páginas do manuscrito de mineralogia que me fora entregue.— Vamos fazer ela ler os nossos ta
Por LenissyaFiquei em silêncio, imersa em reflexões. Não sabia ao certo como reagir ou o que sentir. Nunca o tinha visto dessa forma antes, mas agora muitas coisas começavam a fazer sentido, como o jeito carinhoso e protetor com que ele sempre cuidava de mim. Quando dei por mim, já estávamos nos aproximando dos campos de flores, e eu nem sequer havia pensado em como iria persuadi-lo a ir até a mina.Isso tudo me deixava ainda mais confusa, e uma vontade de chorar começou a crescer dentro de mim, mesmo que Henry não tivesse dito nada ou me pressionado de qualquer forma. Como eu pude ser tão cega e não ter notado isso antes? Os sinais estavam lá o tempo todo, em sua aura.Ele ainda não havia se declarado formalmente para mim, mas, e se quisesse fazer isso? O que eu diria? Que estava apaixonada por Zuldrax? Seria uma loucura confessar um amor tão improvável! Talvez eu devesse apenas dizer a verdade, que o via apenas como um amigo e gostaria que continuasse assim. Sem perceber, afrouxei
Por LenissyaZuldrax começou a correr agilmente pelo nevoeiro. Seus instintos sempre me impressionavam, era quase surreal! Fechei os olhos por um momento, concentrando-me em sua respiração, no calor da sua pele, no seu cheiro. Ele me fascinava de uma forma que eu não conseguia explicar. Tentei aproveitar ao máximo aquele instante, até que sua voz sussurrou em meu ouvido.— Chegamos."Mas já?" era o que eu queria dizer. Ele não parecia o Zuldrax ríspido que eu conhecera antes, enquanto me colocava no chão delicadamente, segurando minha cintura para garantir meu equilíbrio. — Esta mina não deve desabar como a outra, já que possui uma estrutura mais reforçada e bem planejada. Não cheguei a entrar, mas só de olhar dá para ver que é segura.— O que você fez com o Zuldrax? — Não contive o sorriso ao perguntar isso. Tive vontade de chorar novamente, mas desta vez de felicidade. Por incrível que pareça, ele sorriu de volta.Olhei para a entrada da mina, que era bem mais larga do que a de Juli
Por ZuldraxNa assembleia realizada após a conferência, foi decidido que um pequeno grupo, composto por mim, Drakhan e outros quatro dos meus guerreiros mais fortes, seguiria até Salis. Duas rotas eram possíveis para chegar lá: a primeira envolvia contornar as montanhas e seguir pela praia, e a segunda, atravessar um lago congelado que ligava diretamente Zafis a Salis. Optamos pela segunda, para economizar tempo. No meio do lago, havia uma ilha com rochas e cavernas, onde meus homens ficariam à espera. Caso eu não conseguisse matar Lenissya, meu plano era levá-la até eles.Falar e planejar parecia fácil. Pensar na missão sem envolver sentimentos era simples. Mas, sempre que eu via Lenissya, uma sensação estranha invadia minha alma. Desde a primeira vez que a vi, tão indefesa ao chegar ao nosso mundo, meu coração batia mais forte por ela. Mesmo tentando odiá-la e convencer-me de que ela precisava ser eliminada, meus sentimentos insistiam em me contrariar.Eu realmente precisava fazer i