Por Lenissya
Seradon era repleta de obras maravilhosas, a começar pelas casas flutuando umas sobre as outras. Escadas flutuantes, como as do palácio, davam acesso a essas moradias, que, ao contrário das de Henir, não seguiam um padrão único. Cada casa tinha sua própria arquitetura e tamanho. Acho que o que havia de mais semelhante entre elas era a cor, que seguia os padrões verde e amarelo de Salis. No entanto, havia variações criativas, com diferentes tonalidades e gravuras que conferiam uma personalidade única a cada uma.
— Henry, isso é incrível! Este lugar é lindo!
Eu não me cansava de admirar tudo, e Henry não se cansava de rir das minhas reações. Estava realmente maravilhada. Passei a manhã inteira conversando com os parentes de Henry, que eram muitos, e a simpatia deles me encantava. Logo percebi que a educação de Henry vinha de sua família. Sem as guerras, a mortalidade dos salisianos era meno
Por LenissyaHenry voltou a me guiar, desta vez para dentro de um prédio imenso. As pessoas que entravam e saíam pareciam alheias à minha presença, todas imersas em suas tarefas.— Onde estamos exatamente? — perguntei, curiosa.— No centro de pesquisas e desenvolvimento. A biblioteca principal também fica neste prédio, assim como o setor de engenharia deste mundo. Tenho algo especial para você.— Algo para mim? — Ele despertou ainda mais minha curiosidade. Tentei captar alguma pista, mas ele manteve-se impassível, sem deixar escapar nenhuma reação suspeita.— É surpresa. Estamos quase lá.Os corredores seguiam em uma forma semilunar, e descemos para o andar inferior. Paramos diante de uma sala repleta de salisianos, homens e mulheres, todos concentrados em atividades específicas. O que mais chamou minha atenção foi um grupo ao norte da sala que, diferente dos outros, não estava focado em leitura e escrita, mas
Por LenissyaAlguns dias haviam se passado desde que cheguei a Seradon. Estive tão envolvida conhecendo tudo que, ao tropeçar sem querer na mochila no meu quarto, lembrei-me de que minha vinda aqui não era só por diversão. Além disso, eu tinha em meu poder um objeto que pertencia a esse povo e que precisava ser devolvido.— O que é isso, Lenissya? — Henry me perguntou durante o café da manhã, enquanto olhava para a caixinha em minhas mãos. Trouxe a relíquia comigo e agora a expunha na mesa para que toda a família real pudesse vê-la.— Acho que isso pertence a vocês. Não lhes contei essa história antes, mas, pouco antes de meu irmão me mandar para cá, estive em Julitar investigando a história da separação dos reinos e, por acaso, encontrei isso. Pertencia a Elric, e eu gostaria de aproveitar esta oportunidade para devolvê-lo.O pai de Henry foi quem pegou a caixa das minhas mãos, analisando a tranca com um olhar curioso. O am
Por Lenissya— Vi em um livro — respondeu Henry, após alguns segundos de ponderação. — Acho que essa pedra pode ser encontrada em uma mina abandonada ao norte de Salis. A visibilidade na região é muito baixa por causa do nevoeiro constante, e também há relatos de que é lar de tutics, pequenos animais avermelhados com garras afiadas e focinhos largos. Como existem leis que nos proíbem de nos aproximar dos animais deste mundo, ninguém pisa lá há centenas de anos.— Entendi! — Peguei a carta de Elric e a entreguei para Henry. — Leia isso, por favor — em seguida, passei-lhe o meu caderno, aberto nas páginas com as anotações. — E depois, isso.Várias expressões passaram pelo rosto dele enquanto analisava tudo atentamente. À medida que ele lia, fazia perguntas sobre o que tinha acontecido, e eu respondia tudo o que sabia. Quando mencionei a morte proibida e o ataque de Adrak, Henry ficou visivelmente perturbado.Nos tempos antigos
Por LenissyaVários dias haviam se passado desde o início da construção do Tecbot, o que fez com que Henry passasse cada vez menos tempo comigo devido ao projeto. Isso não era de todo ruim, pois aproveitei para expandir minha biblioteca intelectual, lendo inúmeras páginas, sendo meu próprio corpo o único limite para o quanto eu poderia absorver.Com o tempo, porém, percebi o quanto a presença constante de Henry me fazia falta. Ler por horas a fio, sem pausas ou restrições, começou a me esgotar rapidamente. Quanto mais eu lia, mais tinha a sensação de que estava absorvendo menos. Os detalhes se misturavam na minha mente, como nós difíceis de desfazer, e eu me via incapaz de fazer todas as conexões entre os textos.Em meio a essa confusão, algo chamou minha atenção. Alguns livros tinham uma escrita diferente, e eu podia jurar que era latim. Mas o que livros escritos em latim estariam fazendo neste mundo? Continuei minha busca por respostas até encontrar um com uma escrita ainda mais fam
Por LenissyaRômulo deu a volta por mim, colocou os livros em uma bancada próxima e começou a fazer gestos para a irmã que só eles pareciam entender. Um movimento de cabeça, um balançar das mãos no ar...— Isso é algo secreto do nosso povo. Devemos mesmo contar a ela? — Larissa estava com o olhar tenso.— Não vejo por que não. Afinal, foram os halisianos que nos trouxeram até aqui. Além disso, ela já sabe da Terra!— A Terra é o meu lar. Foi onde cresci — acrescentei, tentando transmitir mais confiança, pois desejava ardentemente obter respostas. — Esse livro que acabei de ler não está em halisiano, que é a língua universal deste lugar, e sim em...— Português! — Larissa me interrompeu. Assenti positivamente.— Existe uma escola que ensina algumas línguas desse povo para que sejam preservadas entre as gerações. É nessa mesma escola que aprendemos as histórias que nenhum livro conta. — Rômulo fez uma pausa, suspirou fundo como se quisesse criar suspense, e deu espaço para Larissa conti
Por LenissyaMais de uma semana havia se passado desde o início do projeto Tecbot. Todos os dias, bem cedo, eu ia até a biblioteca para ler. Rômulo e Larissa, os gêmeos, sempre estavam lá nesse horário, mas hoje o ambiente estava quieto demais...Apesar disso, resolvi continuar meus estudos, mudando para as prateleiras que ainda não tinha explorado. Até o momento, não encontrei nenhuma informação útil para minha aventura. Estendi a mão para pegar o primeiro livro daquela prateleira. Era grande, branco e bastante chamativo, com uma gravura hexagonal de bom tamanho estampada na capa.— O Livro de Viagem Dimensional. Como eu não tinha visto isso antes? — murmurei para mim mesma.— Falando sozinha? — A voz de Rômulo veio de repente, bem atrás de mim. No susto, soltei o livro. Larissa, rápida, agachou-se ao meu lado e pegou o livro antes que ele caísse.— Seu reflexo é incrível! — comentei, aliviada. — Achei que vocês não viriam hoje.— Nos atrasamos porque o Rômulo dormiu demais, e como eu
Por LenissyaEmbora não houvesse uma imagem clara, as linhas de cores chamavam a atenção de forma hipnotizante, trazendo à minha mente memórias da ocasião em que fui trazida para este mundo.— Esse quadro está relacionado à viagem dimensional, não é? — perguntei, no fundo já sabendo a resposta.— Já esteve lá? — João se inclinou um pouco mais para frente, atento às minhas reações, maravilhado com a possibilidade de eu ter presenciado algo assim. — Você deve ser a irmã de Alister, trazida para este mundo recentemente.— Sim, sou eu — confirmei. Pelo visto, minha história já estava na boca de todos. — Ao que parece, ele não acha conveniente me manter em Halis. Não sou muito adepta às ideias de guerra dele.— Não me surpreende. Você cresceu em outra cultura — respondeu João, assentindo em compreensão.— Ela leu o livro sobre viagem dimensional na nossa biblioteca e está confusa sobre como isso funciona. — Rômulo, impaciente, tentava direcionar a conversa para o ponto principal.— Acho qu
Por LenissyaAquela depressão que me dominara alguns dias atrás, quando soube que era quase impossível voltar para casa, foi se dissipando à medida que eu interagia mais com este mundo e fazia novas amizades. Toda a família de Henry era extremamente atenciosa comigo, e os irmãos gêmeos bivitelinos estavam sempre ao meu lado nas horas que eu passava lendo. Eu me sentia muito amada aqui.Nosso trio de estudo estava, neste momento, na biblioteca, sentados em círculo, lendo os livros que havíamos selecionado para o nosso jogo. Optamos por um dia de leitura em que cada um escolheria o livro que o outro teria que ler. Eu escolhi o de Larissa, ela o de Rômulo, e Rômulo escolheu o meu. Ao final do dia, iniciaríamos um debate sobre o que foi lido.— Ainda acho que Lenissya deveria ler mais de um livro — comentou Larissa, após me ver usar a aura inteligente e, em menos de dois minutos, folhear todas as páginas do manuscrito de mineralogia que me fora entregue.— Vamos fazer ela ler os nossos ta