Capítulo Quatro

Arizona...

Sofia Lancem

Mantive meus olhos fixos no chão no momento em que cheguei ao altar, e quando saí dele até a tenda. Não tive coragem de encara meu carcereiro, e ver o meu futuro em seu rosto. O rosto de um estranho que agora é meu marido, e com quem vou trilhar meu futuro a partir de agora. Dizer aquela simples palavras de três letras, foi a coisa mas difícil que tive de fazer em minha vida. Me entreguei de bandeja a um estranho. Penso que deveria ter resistido mas, lutado por minha liberdade. Mas para que? As palavras de Papai, podem ter um fundo de verdade em tudo isso afinal. Nunca namorei com ninguém, e o único garoto que se interessou por mim, mudou de ideia ao ver Laura, não havia como competir com sua beleza. Na época aquilo foi um golpe duro para mim, ainda mas por está fazendo dietas restritas, e exercícios exaustivos na época. Me enganei achando que estava tendo alguma mudança em meu corpo, meu peso com tudo isso, mas não. Aquilo me deu o impulso para ter um distúrbio alimentar, meu peso dobrou de tamanho, as estrias e celulites foram a pior parte, minha autoestima ficou em frangalhos, a desconfiança que senti em relação as pessoas aumentou de forma drástica. Decide fechar meu coração para o amor, não deixaria mas nenhum homem faz eu me senti daquela forma. Mas aqui estou eu, indo contra minha vontade, minhas palavras.

Quando pediu ao juiz de paz, para pular a parte do beijo me senti aliviada. Mas também incomodada. Não preciso ser um gênio para saber porque ele pediu isso, ficou evidente para mim que o meu peso é um problema para ele. Suas palavras ficaram ressoando em minha cabeça, sua voz grossa. Senti uma pontada de curiosidade em encará-lo durante a cerimônia, e quando sua mão segurou a mão senti um arrepio percorrer o meu corpo. Seu toque era quente, delicado apesar da sua mão grande, máscula. Mas me contive, o medo não me deixou encara-lo, ainda não me sentia pronta. Eu sabia que quando encarasse o seu rosto, seu olhos. Certamente seria minha ruína, e eu desabaria ali. Encaro mais uma vez a aliança em meu dedo anelar, o ouro brilha junto com as pedras cravejadas de diamante. Esse anel é a prova da minha nova vida, da minha nova realidade. Estou casada e não sei ao menos o nome do meu marido, ele não fez só questão de pular o beijo, e os votos. Mas também a parte em que o juiz de paz fala o seu nome. Me sinto frustrada, vulnerável. Estou em uma batalha sem armas.

— Não vai comer?

Meu corpo fica em alerta. Um arrepio percorre minha espinha eriçando os pelos da minha nuca. Sua voz soa baixa, rouca, próxima ao meu ouvido, sinto um calafrio em minha barriga. Sinto sua respiração quente tocar minha clavícula. Por que raios meu corpo está reagindo dessa forma, só por ouvir sua voz? Talvez seja o medo, a tensão. Ou simplesmente adrenalina por finalmente está ao lado do homem que me comprou. Pelo canto do olho o encaro, não vejo mas que uma silhueta borrada. O que me faz lembrar do por quê ainda estou usando a droga desse véu. Limpo a garganta.

— Não estou com fome.

Balbucio. Ouço ele suspirar, e o ar da sua respiração toca minha pele sensível, chegando ao vão em meus seios, no decote em formato de V. Arfo, sinto meus mamilos eriçar contra a cinta por baixo do vestido. O que diabos está acontecendo comigo hoje? Nunca me senti dessa forma. A simples presença dele ao meu lado me faz querer encolher na cadeira, e tem um outro lado meu querendo que ele continue, para saber até onde isso vai.

— Coma alguma coisa, vamos fazer uma longa viagem quando saímos daqui.

Viagem? Que viagem? Mamãe, não me falou sobre isso, ou melhor ela não disse nada em relação a esse homem, nem mesmo ela ou Papai, se deu a decência em me dizer o seu nome. Não deveria ficar surpresa com essa notícia, sei que Papai, e Mamãe querem me ater a qualquer informação, ou detalhes em relação a esse homem. O que me deixa furiosa por entrar nesse relacionamento as cegas. Estou me rendendo a vontade dos dois em se livrar de mim, não que eu já tenha tido controle sobre minha vida algum dia. Mais de uma vez deixei eles decidirem o meu destino, não tenho coragem para enfrentá-los, fui covarde. Mas, agora não mas. Meus Pais, já me dominaram o suficiente, não deixarei um homem desconhecido fazer o mesmo. Movo minha cabeça em sua direção, alerta. Arfo ao perceber que seu rosto está a poucos centímetros do meu, apesar do véu atrapalhar minha visão, tenho o vislumbre dos seus olhos escuros predadores. Noto um brilho em seu olhar que não consigo decifrar. Será que ele consegue me ver atrás do véu? Esse pensamento faz minha boca secar. Desço mas meu olhar por seu rosto, o nariz reto a barba circular. Paro meus olhos em seus lábios cheios em uma linha reta, o lábio inferior um pouco mas gordinho que o superior. Quantos anos ele dever ter? Vinte e seis? Vinte e sete? Ele aparenta ser muito jovem para ser um dos sócios do Papai, imagino ser um investidor novo. Jovem e indecente para comprar uma mulher. Inconsciente entreabro os lábios. Sua expressão é indecifrável. Subo novamente meu olhar por seu rosto, sinto um baque por dentro. Seus olhos me fitam fixamente, me sento capturada por seu olhar predominante. Ele pode me ver, a certeza disso é evidente. Me sinto nervosa com essa nova confirmação, incerta. Passo a língua por meus lábios secos, e mordo o lábio inferior. Seus olhos descem, ele fixa seu olhar em minha boca. Minha respiração ficar mas pesada, sinto um frio na barriga, mas é uma sensação boa, nova para mim. Nunca tinha sentido isso antes. Seus olhos escuros voltam a fitar os meus. Dobro os dedos do pé sentindo uma formigação na ponta de cada dedo, uma inquietação repentina surge em minhas pernas que vai subindo até o meio das minhas pernas. Que sensação é essa que estou sentindo? Nunca senti isso em toda minha vida. Felizmente nosso contato visual se quebra antes que eu possa sentir mas, aprofundar essas emoções. A voz estridente de Mamãe, chama nossa atenção.

— Já escolheu onde vão passar a lua de mel?

Pergunta segurando uma taça que imagino ser vinho dentro, noto que ela bebeu mas do que devia. Sua mão vacila segurando a taca, fazendo o pouco do líquido cair na toalha da mesa. Suspiro em alívio, não sei por quanto tempo mas iria conseguir encara-lo. Mas ainda sinto um certo incomodo em meu sexo que vai diminuindo aos poucos.

— Brasil. Tenho assuntos pendentes lá.

Suas palavras são diretas, cruas. Noto que ele não é um homem de meias palavras. Então ele vai me arrastar para o Brasil, e o que mas? Me sinto em um loop com meus Pais, e agora com ele. Está tomando decisões sem o meu consentimento, se ele pensa que vai ter a palavra final está enganado. Passo a língua pelos lábios, está na hora de tomar o controle. Ele já destruiu um dos meus sonhos, não vou deixar ele me arrastar por ai como um saco de batatas.

— Ou não. — minha voz soa um pouco mas alta do que eu queria, vejo toda atenção na mesa se voltar para mim. Eu não consigo ver, mas tenho certeza que Mamãe, arregalou os olhos. — Podemos ir pra qualquer outro lugar, tempo e dinheiro temos de sobra.

Posso sentir que minhas palavras alfinetaram Papai, ele se remexe na cadeira incômodo. Posso imaginar seu rosto vermelho, e a veia em sua testa pulsar. Antigamente isso faria com que eu tremesse, mas agora não. Sinto um sentimento de liberdade em desafiá-lo, impor minha vontade.

— Sofia, não contradiga o seu marido.

Mamãe, me repreende. Abro a boca para retrucar, mas a voz do homem ao meu lado me interrompe.

— Ela está certa. Somos jovens, temos dinheiro. Onde quiser ir, eu levo você. Meu doce.

Posso notar o sarcasmo em sua voz ao dizer meu doce. A mesma fica em total silêncio, a contra gosto meu corpo reage as suas palavras. Sinto um certo contentamento com seu apoio. A conversa volta a fluir na mesa, ignorando o momento de segundos atrás. Ao anoitecer volto para o quarto para tirar o vestido, e vestir algo mas confortável. Quando estou chegando ao hall Laura, aparasse parando em minha frente. Os olhos verdes estão distantes, sua postura vacila. Acho que Mamãe, não foi a única que exagerou no vinho.

— Olha só pra você! Sempre imaginei você indo embora de muitas formas, mas casada não foi uma delas. — É claro! Laura, quer soltar seu veneno uma última vez. Mas não vou tolerar isso, já passei por muitas humilhações hoje. Não vou ficar aqui ouvindo suas ladainhas. Me esquivo e passo por ela, ouço o som dos seus saltas se chocarem com o chão atrás de mim. — Aproveita bem a vida de casada Sofia, ou o dinheiro que Papai, usou para comprar o seu Marido, será um desperdício.

Sinto meu sangue esquentar, a raiva me assola. Suas palavras me acertam em cheio. Laura, sabe muito bem como me machucar, fazer minha autoestima virar pó. Aperto a maçaneta com força, giro a cabeça encarnado ela por cima do ombro, Laura, sorri triunfante.

— Adeus Laura, aproveite bem a solidão.

Abro a porta, posso ouvir sua gargalhada atrás de mim, fecho a porta. Vou em direção a frente da casa. Um carro está ao meu aguardo, vejo o meu Marido, se despedir de Papai, com um aperto de mãos, e beijar as costas da mão de Mamãe. Ele se afasta indo de encontro a uma mulher da mesma idade que Mamãe. Não preciso de uma bola de cristal para saber que essa mulher é minha Sogra. Lembro que ela não falou quase nada no jantar, assim como seu filho ela só falava quando faziam perguntas a ela. O mesmo se inclina na sua direção, ao que parece ela está dizendo algo a ele. Me questiono se ela sabe o que o filho fez para casar comigo. Ao me aproximar Mamãe, vem ao meu encontro. Suas lágrimas borram a maquiagem, ela passa os braços em volta de mim, me abraçando apertado. O álcool realmente mexe com suas emoções.

— Coloquei o anticoncepcional na sua bolsa — sussurra em meu ouvido, meu corpo fica tenso. Não consigo acreditar que até nisso ela pôs o nariz. Gostaria de dizer que será um desperdício. Não deixarei aquele homem encostar um dedo em mim sequer — se cuida meu amor. — diz por fim.

Mamãe, se afasta enxugando as lágrimas, paro em frente a Papai, seu olhar é indecifrável.

— Adeus, Sofia.

Apenas faço um breve aceno, e vou em direção ao carro. Encaro o chão sentindo meus olhos lacrimejar. Sinto uma fisgada no peito, um peso em meus ombros. Entro no carro ainda olhando para baixo, as emoções que sinto se misturam dentro de mim. Um vazio se instala em meu peito. As emoções que sinto transborda, deixo que as lágrimas escapem. Me sinto cansada por segurá-las durante toda a cerimônia. Logo o meu Marido, ocupa o banco ao meu lado. Pelo canto do olho vejo ele fazer um gestos para o motorista avançar, e assim ele faz. Volta o olhar para a janela, a casa onde cresci. Essa imagine vai sumindo a medida que o carro avança. Estou deixando para trás toda minha vida, e sonhos que um dia já tive. Estou começando uma nova jornada que desconheço os obstáculos, mas que vou lutar para decidir como acabar.

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