Porra! Como foi que essa doida veio parar na minha cama?
Onde está a outra garota?
Era com ela que eu pretendia transar...
E se eu transei, por que eu não me lembro?
Mas que merda!
— Sei a resposta para a maioria das suas perguntas. — A garota de ontem, a maluca de cabelos curtos e, porra, platinados, que me prendeu para dançar com ela, murmurou sonolenta ao meu lado.
Que merda, meu filtro mental já era ruim, ao acordar era inexistente.
Ela riu um pouco e gemeu aconchegada em meu braço enquanto falava, estava de costas para mim, o cheiro de cigarro e bebida exalando dela estava me deixando um pouco enjoado.
Porra, não poderia ter tomado um banho antes de...
— Hey! Eu quis, mas você não me deixou, me atirou contra a parede do corredor e... — Ela foi levantando para me contar enquanto me deixava embasbacado com a falta de freio em sua língua, e aparentemente na minha também. Fiquei com medo de pensar mais alguma besteira e falar sem perceber.
No momento em que ela se virou para mim, me fitando com seus olhos verdes claros, muito claros, borrados pela maquiagem forte, mas nem por isso deixavam de ser bonitos e expressivos, meu corpo todo reagiu da forma mais bizarra. Seus cabelos eram uma bagunça, apontando para todos os lados e sua pele era quase tão pálida quanto a minha, seu nariz era pequeno e delicado e levava um discreto piercing de cristal.
Deslizei meus olhos para baixo notando que estávamos completamente nus embaixo dos lençóis e imediatamente senti meu pau endurecer.
Pelo amor de Deus, Alexander, pare de tentar transar com ela novamente e a mande embora.
— Olha, eu entendo que você esteja confuso, afinal, bebeu demais... Mas eu não te sequestrei ou forcei a transar comigo, e eu quis tomar um banho, você também precisava de um, mas bem... Não quis esperar. Eu não sou nenhuma maluca. Seu irmão...
— Joshua?
— Sim, o Josh. Ele nos trouxe para cá depois de te arrastar para fora da pista de dança. Para quem resistiu tanto no começo, você se mostrou um bom dançarino. — Ela riu preguiçosamente e me espantei com a forma como gostei do som.
Joshua nos trouxe para cá. Ótimo! Então ele poderá me contar o que havia acontecido afinal.
— Por que ele e não eu? Você não acredita em mim? O que eu ganharia mentindo para você, cara? — perguntou com um pouco de raiva. Porra! Peguei o travesseiro e enfiei na minha cara para evitar externar qualquer outro pensamento meu.
Levantando-se ela exibiu seu corpo completamente nu sem qualquer pudor para mim, definitivamente sua pele era branca, seus seios eram redondos medianos e rosados fazendo eu apertar o travesseiro em minha virilha agora. Seu corpo era magro e atlético, mas tinha boas curvas. Ela se moveu rapidamente juntando suas roupas espalhadas pelo quarto enquanto falava.
— Olha, Alex, eu vou sair agora. Está na cara que você não está acostumado a acordar com uma desconhecida, e está mais na cara ainda que você queria que esta desconhecida fosse Diane, mas ela não quis você, ela reencontrou o ex dela e rolou algo, sei lá. Na verdade, ela pediu para o entreter pois queria você fora da jogada para que pudesse ficar com ele, o que não foi nenhum sacrifício para mim, já que gostei de você, mas na evidência da recíproca estar longe de ser verdadeira, acho melhor eu ir embora.
Tudo bem, então ela era boa com as palavras. Eu quase senti meu cérebro escorrendo pelo ouvido de tão rápido que ela falava. Uau!
E ainda conseguiu me fazer sentir culpado. Não que fosse muito difícil, mas ela realmente me fez sentir um cuzão sem coração enquanto a via tentando se vestir para ir embora.
— Espera... er... Desculpa, eu acho que esqueci seu nome — murmurei com vergonha. Cocei a minha nuca tentando disfarçar, mas era impossível.
A garota bufou um pouco e revirou os olhos para mim.
— Carter! — informou, transparecendo um pouco de rancor. Aparentemente esquecer o nome da mulher com quem você transava continuava sendo uma grande desfeita.
— Que tipo de nome é Carter? É nome de homem — tentei brincar, mas quando a vi levantar uma sobrancelha para mim realmente me senti nervoso.
Será?
— Bem, você acertou. — Colocou as mãos na cintura e largou o peso em um dos quadris, ainda nua em parte. Prendi a respiração preocupado que eu poderia ter passado a noite com...
— Eu não sei o quão boa é a sua visão, ou o tamanho da sua ressaca, mas, caso não tenha percebido, não sou um homem, Alex — sua mão apontou em direção à sua vagina me fazendo soltar um pigarro nervoso, o que a fez rir balançando a sua cabeça em negação. Ótimo! Eu era uma piada.
— Bem, desculpe... Mas que tipo de mulher se chama Carter? — perguntei para ela, tentando me defender.
— Seu nome também pode ser feminino, você sabe — defendeu vestindo seu vestido da noite passada e enrugando o nariz quando sentiu o cheiro.
— Alex é apelido de Alexander.
— Bem, Carter também é um apelido. Meu nome é Caterine. Sério, qual a relevância desta discussão? Estou indo.
Vendo a sua rápida caminhada até a porta do quarto, abrindo e saindo em seguida, me pus em pé e catei minha calça que dolorosamente estava jogada no chão em meio a uma grande bagunça de minhas roupas. Eu precisava arrumar aquilo.
Agora não, Alexander! Intercepte a garota!
Briguei comigo mesmo e corri atrás de Carter que já estava em frente à porta para sair.
— Carter, espere! — solicitei. Ela parou, mas não virou para mim. — Me desculpe por isso, eu fui um babaca. — Finalmente ela virou para me encarar. Seus belos olhos verdes me fitaram com desconfiança. — Por que não relaxa e toma um banho, enquanto eu preparo o café da manhã? — Tentei novamente.
— Não. Eu agradeço, mas tenho que ir, passou da hora, de qualquer forma — disse, se movimentando para a porta.
— Eu insisto. Fique mais um pouco. Eu não fui legal com você. Me permita mudar essa impressão horrorosa que passei, por favor. — Esforcei-me para parecer tão arrependido quanto eu realmente estava por tratá-la de forma tão inadequada.
Caterine me olhou meio desconfiada, porém, assentiu levemente.
— Mas eu gostaria de aceitar a oferta do banho se não for incômodo... Eu realmente não me sinto bem até que eu esteja limpa — disse.
Enruguei meu nariz não conseguindo evitar. Ela deveria estar nojenta mesmo, assim como eu.
— Eu também preciso de um banho — informei meio desajeitadamente. — Bem, o banheiro é por ali, você usa o social e eu uso o do meu quarto... e, posso conseguir uma roupa mais confortável para você e posso colocar suas roupas para lavar. — Ela nada disse, apenas continuava me analisando. E de uma forma que conseguia me deixar completamente desconcertado. — E-eu vou fazer o café da manhã. Gosta de ovos?
Ela apenas estreitou os olhos, desconfiada com a minha súbita educação. Não a culparia, fui um babaca desde que abri meus olhos e obviamente eu não fui abusado na noite passada, eu havia consentido com o que houve entre nós, mas consegui agir com um verdadeiro imbecil.
Depois de um momento, ela finalmente assentiu e andou até o banheiro. Enquanto andava, pude dar uma boa olhada em seu corpo.
Bela bunda!
— Obrigada! — ela respondeu ainda de costas enquanto entrava no banheiro, então percebi que havia elogiado seu traseiro em voz alta também.
— Mas que merda! — exclamei baixo, mas não o suficiente, ouvi a risada divertida de Caterine antes de ela entrar no banheiro.
A ressaca estava me matando, e a falta de filtro também.
Maravilha.
— Tudo o que você precisa está no armário na frente da pia. Vou deixar algo para você vestir e você pode colocar suas roupas para lavar — avisei praticamente gritando enquanto caminhava para o meu quarto.
— Ok. Obrigada! — Ouvi ela exclamar antes de fechar a porta.
Peguei para Carter uma calça de moletom e uma camiseta minha. Coloquei em cima da toalha e puxei um banco para o lado da porta, avisei a ela e então fui tomar o meu próprio banho, no banheiro do meu quarto, antes de cozinhar qualquer coisa. Eu também fedia a suor, sexo, cigarro e bebida.
Tentando relaxar embaixo do jato quente me esforcei para lembrar da noite passada.
Mary feliz...
Josh olhando e sorrindo de forma debochada para mim...
Diane beijando outro cara antes de ir embora...
Carter dançando e sorrindo comigo...
Tequila...
Beijos...
Mais tequila...
Mais beijos...
Tequila no corpo!
Puta que pariu! Fiz tequila no corpo dela. Lambi sua clavícula inteira na frente dos outros!
Embora meus pensamentos fossem desordenados, o sorriso satisfeito em meus lábios denunciava que eu realmente havia me divertido na noite passada.
Carter era uma bela mulher, não poderia negar. Não parecia ser como Phoebe ou Diane, que eram sofisticadas, elegantes em sua forma de se vestir ou se comportar. Carter parecia mais simples... e relaxada. A forma como ela dançava, agia, sorria e mesmo falava demonstrava que ela era uma pessoa livre.
Não demorou muito para que ela me enredasse na sua dança, e eu não dançava. Nunca. E gostei daquilo. Não poderia me enganar dizendo o contrário. Lembro de ter me soltado, divertido e esquecido de tudo o que me irritava sobre estar naquele tumulto de gente. O problema era que a partir de uma determinada hora da noite até essa manhã eu simplesmente não conseguia me recordar de nada.
Não conseguia lembrar de convidá-la para a minha casa, nem de transarmos. Não sabia se tínhamos aproveitado a noite, se eu tinha gostado. Se ela havia curtido. Merda de tequila, merda de amnésia alcoólica.
**
Terminei de tomar o meu banho e rapidamente me vesti para ir à cozinha. Abri a geladeira orgulhoso do fato de ter alimentos suficientes para preparar um café da manhã e, bem, receber uma hóspede. Minha vida era regrada e organizada, eu gostava disso e não via os problemas que minha família viam em manter tudo em ordem.
Eles diziam que eu era obsessivo. Eu apenas gostava das coisas corretas.
Fiz torradas. Peguei algumas frutas que eu tinha na geladeira e as cortei, arrumei em um prato algumas fatias de presunto e queijo, fiz ovos mexidos, preparei café e suco de laranja e em poucos minutos eu estava com uma apetitosa mesa de café da manhã para minha convidada e eu.
No timing perfeito, Caterine apareceu e começou a observar a mesa com um sorriso querendo escorregar pelos seus belos lábios naturalmente rosados.
— Você não recebe muitas pessoas aqui, não é? — perguntou, analisando a mesa posta.
— O que tem?
— Nada realmente, está linda, mas a quantidade de comida que você fez... — ela apontou e sorriu. — Obrigada, de qualquer jeito. Tenho certeza de que tudo está muito gostoso — informou, se encostando na bancada que separava a cozinha da sala de estar. Observei a sua postura relaxada e displicente dentro da minha camiseta. Ela não tinha colocado as calças.
Meus olhos deslizaram rapidamente por suas pernas e minha mente pervertida rapidamente perguntou se ela estava usando calcinha por baixo da blusa enorme e perfeitamente sexy em seu corpo pequeno.
— A calça ficou enorme, e a camiseta é maior do que o vestido que eu estava usando ontem, então decidi ficar apenas com ela — justificou, parecendo saber o que passava em minha mente.
— Não tem problema, vou colocar suas roupas para lavar em breve. Por favor, sente-se. — Sorri desajeitadamente e apontei para a cadeira.
Minha cozinha era pequena e eu não tinha uma sala de jantar, então a mesa tinha apenas dois lugares e era grudada na bancada que separava a cozinha da sala de estar.
— Obrigada. — Sentou-se e colocou o cabelo úmido atrás da orelha. O aquecedor do meu apartamento permitia que a temperatura fosse gostosa, mesmo assim ela tinha o cabelo molhado e vestia apenas uma camiseta.
— Você está com frio? — perguntei. Ela negou com a cabeça. — É porque, bem, estamos em dezembro... Embora você deva ser bem resistente ao frio, ontem você estava em um vestido tão pequeno e... — Fechei os olhos percebendo o quão rude estava sendo a minha divagação. — Desculpe! Você precisa de um casaco?
Questionei tentando ser mais objetivo.
— Estou bem, Alex, aprecio o gesto, mas estou bem. — Olhou em volta analisando o ambiente. — Você tem um apartamento legal. As janelas são inteiras? Digo, a parede toda?
— Sim, eu vou abrir para você ver... — disse me levantando, mas ela colocou a sua mão sobre a minha para me parar.
— Está tudo bem, posso ver depois. — Sorriu. — Vamos tomar café, estou faminta.
Suas mãos eram delicadas e pequenas, suas unhas eram medianas e estavam pintadas de vermelho destacando-se em sua pele clara, eram bem-feitas, bonitas realmente.
— Claro, por favor, sirva-se. Como prefere o seu café?
Carter mesmo se serviu e depois de alguns minutos de silêncio desconfortável, seus sorrisos descontraídos e perguntas aleatórias sobre meus eletrodomésticos finalmente conseguiram fazer com que entrássemos em uma conversa casual, mas eu tinha que saber o que havia acontecido. Como ela havia parado em minha cama? Precisava de qualquer coisa que me fizesse lembrar.
Arranhei a minha garganta assim que tomei um gole do meu café.
— Bem, então... nós é...?
— Sim, Alex. Nós. — Sorrindo, respondeu pegando sua torrada, quebrando e colocou um pedaço em seus lábios.
Tão rosados...
— O que disse? — Carter levantou a sobrancelha tentando entender o que eu aparentemente tinha murmurado.
Merda! Ela me deixava nervoso. Eu precisava controlar a minha língua.
— Nada... Eu sinceramente não me lembro de termos, bem... você sabe.
— Por que você tem dificuldade de falar em sexo agora? Ontem era a sua palavra preferida...
— Como assim? Eu disse muito isso?
— Sim, você repetia: "Adoro sexo, sexo é bom, como sexo é bom com você ..." coisas do tipo. — Abaixei minha cabeça na mesa e bati levemente.
— Me mate agora, por favor. — Ela gargalhou. — Não é engraçado. Sou um fodido ridículo. Falei merda ontem e falei um monte de merda hoje também.
— Relaxe, você estava bêbado e agora está de ressaca. Não se cobre tanto, nenhum dano aqui.
— Você deve ter se divertido muito ontem. — Apoiei minha cabeça em minha mão, olhando para ela.
— Sim, eu tive um ótimo momento ontem. Preciso agradecer à Mary Anne por isso.
Levantei minha cabeça rapidamente me lembrando em perguntar:
— De onde conhece minha cunhada, afinal de contas?
— Estudamos juntas na faculdade.
— Oh! Sério? Ela nunca comentou.
— Eu me afastei depois da formatura, fui para a Escola de direito e meio que perdemos contato. — Deu de ombros como se não fosse grande coisa.
Ela tinha estudado direito. Uau! Tínhamos algo em comum.
— E você se especializou em quê?
— Direito criminal. — Jogou a resposta meio contrariada, parecia que não queria falar sobre o assunto. — Eu não exerço, de qualquer forma. Trabalho com outras coisas — explicou, pegando o jarro de suco despreocupadamente.
Analisei com atenção enquanto esperava por mais informações. Ela era linda sem toda aquela maquiagem pesada da noite anterior, embora fosse bonita com a maquiagem também, do contrário, acho que não teria ido para a cama com ela. Mas agora sua aparência parecia meiga, delicada, ela tinha sardas na região das bochechas e do nariz, eram rosinhas, tão claras. Como seus lábios, como seus seios... Porra!
Um flash de memória assolou a minha mente, lembrei do momento em que coloquei um de seus seios completamente em minha boca e os chupei com vontade.
Deus! Meu pau está ficando duro novamente.
Procurando algum foco, tentei voltar ao assunto.
— Hum, é... eu fiz escola de direito também, e depois exames para promotoria — falei, tentando não me concentrar na memória do seu seio sedoso, rosado e... Ugh! — E você trabalha com o que agora?
— Hum... — ela gemeu enquanto tomava o suco e logo colocou o copo sobre a mesa para que pudesse finalmente falar. — Eu faço outras coisas...
— Como...? — Eu deveria me preocupar?
Levei a xícara de café até meus lábios e tomei um grande gole esperando sua resposta.
— Prostituição. — Eu cuspi todo o café que tinha na minha boca naquele momento.
— O quê?
— Yeah! Seu irmão estava te achando meio deprimido, então ele me pagou...
— Mas que... — Comecei a me levantar quando ela tocou minha mão novamente.
— Calma! É brincadeira... — Olhei abismado enquanto ela explodia em risos, mas logo desmanchei em gargalhadas também.
— Não teve graça — resmunguei enquanto ainda ria.
— Estou vendo — respondeu já se controlando. — Mas sério, eu faço coisas como levar cães para passear e cuidar de crianças. Ajudo um antigo professor na orientação de trabalhos e pesquisas de alguns alunos da universidade, e sou babá nos finais de semana.
Que tipo de pessoa deixa de advogar para fazer bicos? Bem, não cabia a mim julgar, mas eu estava curioso.
— Então você estava de folga neste final de semana?
— Sim, eu fui por Mary Anne, não costumo sair muito — justificou.
— Não parecia, com toda aquela tequila que compartilhamos ontem — brinquei.
— E vodcas, e cervejas... não esqueça — apontou categoricamente.
— Está explicada a amnésia. Eu bebi o bar inteiro — gemi com a constatação. — Me desculpe por isso. Eu não quero ofender você nem nada...
Ela deu os ombros.
— Sem problemas, afinal quem esqueceu da noite foi você... Nunca saberá como foi bom... — Abri minha boca para responder, mas percebi que ela estava certa, se eu não me lembrasse, nunca saberia como foi passar a noite com ela e de repente me senti frustrado sobre isso. Queria lembrar, mas estava envergonhado demais para continuar com aquela conversa, então mudei o assunto.
— Então, você mora aonde aqui?
— Chinatown — respondeu rapidamente.
— Hum. — Chinatown, aquele lugar lotado de restaurantes, fumaça, penumbra e coisas acumuladas.
— Sei que não é muito organizado ou limpo, mas gosto de lá — Carter explicou ao notar a minha reação.
— Deve ser legal...
— Eu gosto. O cheiro não é agradável, mas no meu apartamento eu mantenho a ordem...
— Seu apartamento é em cima de um restaurante, suponho — disse, tentando esticar a conversa.
— Obviamente. — Ela riu.
Carter me contou um pouco mais sobre seus trabalhos, eu ainda achava um pouco insano alguém que investira em sua educação e ainda por cima ser criminalista e se dedicar a outras coisas, mas imaginei que havia mais história ali, história que ela provavelmente não me contaria. Não tínhamos intimidade para aquilo, mas nem por isso me fazia menos curioso sobre as suas escolhas. Para ser um advogado criminalista você tinha que ter uma expertise acima da média, poder de dedução e uma grande veia investigativa, e me parecia estranho abrir mão de tudo isso para passear com cães e cuidar de crianças. Porém, não era meu lugar julgar.
Terminamos nosso café, recolhemos a mesa e lavamos a louça juntos. Ela me contou que se formou aqui, na NYU, e que seu pai também era advogado, mas que estava aposentado e ajudava a esposa em seu pequeno restaurante.
— Eles moram aqui também? — perguntei, organizando os garfos um em cima do outro.
— Não, somos daqui, mas ele se mudou há algum tempo para Jérsei.
— Meus pais moram lá também — informei, um pouco impressionado pela coincidência.
— Quando se casou novamente, foi morar lá com a nova esposa e seus dois filhos, Jeremy de dezesseis e Amanda com a minha idade.
— E qual seria essa idade? — perguntei, interessado inteiramente nela novamente.
— Vinte e nove.
O telefone tocou e deixei que caísse na secretária.
Erro.
Grande e gordo erro.
"Você ligou para Alexander Hartnett. No momento não posso atender, deixe seu recado e em breve retornarei. Obrigado.”
Alex, querido... Agora chega, baby, chega de brincar. Estou com saudades.
Carter começou a rir da minha careta ao ouvir a voz estridente de Phoebe ao telefone. Eu abri a boca para me justificar quando a voz enjoativa da minha ex continuou.
...Vamos baby, me atenda... Alexander... Eu sei que você está ai!
Bufei e olhei para Carter ao meu lado, ela estava tentando não gargalhar da minha cara, segurava seus lábios juntos e disfarçava enquanto terminava de organizar a cozinha, revirei meus olhos antes de largar o que estava fazendo e ir para a sala. Me sentei no sofá e liguei a televisão tentando evitar a secretária eletrônica. Caterine se manteve na cozinha por mais algum tempo, ouvi os ruídos de torneira abrindo, pratos batendo e um leve cantarolar dela.
Enquanto aguardava por ela, tentei forçar a minha mente a se lembrar da noite que tivemos. Nada. Nada além de flashs confusos.
— Então... Tomamos café e conversamos, eu agradeço, mas acho que já vou indo... — Carter me tirou dos meus pensamentos.
— Mas nem lavamos suas roupas — tentei argumentar, mas ela já caminhava até o banheiro novamente. Parando brevemente na porta disse:
— Não tem problema, vou direto para casa e lá eu lavo tudo. Já abusei da sua hospitalidade. — E entrou no banheiro sem me dar outra chance para falar.
— Ok... — disse sem ter certeza se eu realmente queria que ela partisse.
Em muito tempo eu não esbarrava com alguém tão interessante, queria saber mais sobre ela, seu estilo alternativo de vida, e até sobre como é se envenenar com a comida de Chinatown. Não eram coisas que eu costumava me interessar, mas, honestamente, nada sobre Caterine era algo que eu costumava me interessar, nem mesmo ela.
Não era o tipo de mulher que teria a minha atenção para confraternizar, flertar ou mesmo para um encontro, no entanto, sentia que queria conhecer mais dela. Estava curioso sobre aquela atmosfera que ela conseguia criar em torno de si.
Após alguns minutos, o telefone tocou novamente, mas desta vez foi o celular.
O som vinha da sala mesmo. Então na penumbra do cômodo eu procurei seguindo o som e quando encontrei o celular atendi rapidamente para não perder a ligação de Joshua.
— Bom dia... — Ele cumprimentou de forma que eu conseguia enxergar o seu sorriso na minha frente. Largo e debochado.
— Comece a explicar! — ordenei, apertando os dentes. Ouvi os passos de Carter atrás de mim e me virei para ela. Já havia colocado as roupas de ontem, com um longo casaco preto por cima. Levantei meu dedo para que ela esperasse um momento e fui em direção ao quarto para falar em particular com meu irmão. — Fale!
— Precisa? Bro, você estava louco ontem... São muitos detalhes.
— Ok, não vai dar para falar agora, ela está indo embora e daqui a pouco eu ligo. Você vai me explicar...
— Ela está saindo? Você está na cama ainda? — Seu tom era confuso.
— Não. Estou fora da cama faz tempo.
— Já olhou para a rua hoje?
— Não. Por quê? — questionei sem entender. Olhei para as cortinas fechadas e percebi que estava claro lá fora. Apenas isso.
— Alexander, a maior nevasca dos últimos cinco anos está lá fora. Uma tempestade mesmo. Tudo parado — enquanto ele falava eu corri de volta para a sala me dando conta de que Carter não estava mais ali, a procurei pela sala enquanto me aproximava da janela e puxava com força um pedaço da cortina. O telefone quase caiu da minha mão. Meus olhos se apertaram pela claridade absurda da neve que cobria tudo. A rua inteira estava tomada por neve e a tempestade era assustadora.
Era como se eu estivesse preso em algum filme de catástrofe por gelo.
— Jesus... — murmurei enquanto andava até a cozinha para ver se Carter estava lá. Nada. Então corri para os outros cômodos. — Josh... Te ligo depois.
Onde ela estava?
— Se conseguir... Com essa tempestade...
— Tchau.
Joguei o telefone e corri para a porta, estava destrancada.
Não acredito que essa maluca havia ido embora sem se despedir. Abri a porta e andei rapidamente para as escadas sabendo que não era seguro usar o elevador com a iminência de faltar energia a qualquer momento. A rua estava coberta e intransitável, não era possível passar um carro sequer, Caterine não devia estar longe.
Quando finalmente cheguei no hall, notei que estava vazio, sem porteiro inclusive, andei rapidamente até as portas de vidro e saí. Foi rápido encontrá-la, ela estava parada em frente a uma montanha de neve, com os olhos arregalados.
— Já disseram para você que é falta de educação partir sem dizer adeus? — questionei, chamando sua atenção. Ela me fitou com seus olhos verdes e agora brilhantes, reluzindo na neve e sorriu levemente enquanto dava de ombros.
— Despedidas são tristes — respondeu simplesmente.
— Está impossível sair. — Aproximei-me começando a sentir o frio violento da tempestade, estávamos protegidos pela marquise do prédio, mas o vento era muito, muito gelado.
— A prefeitura deve estar cuidando disto já. — Ela se voltou para a neve acumulada, analisando o local. — Tenho certeza, logo tudo estará resolvido. Eu tenho que voltar para casa. — Seu tom era um pouco aflito enquanto ela falava, seus olhos se mantinham na neve.
— Venha, vamos subir e descobrir o que está acontecendo. — Convidei levando minha mão em suas costas e a direcionando de volta para dentro.
**
É a maior tempestade de neve de todos os tempos...
As empresas locais estão tentando contornar a nevasca e limpar as principais vias, mas a constante tempestade impede alguma produtividade...
Meteorologistas acreditam que essa tempestade seguirá pelo restante do final de semana...
O Prefeito Bill de Blasio declarou recesso em todo o estado pela próxima semana e pede para que a população se mantenha em casa tanto quanto for possível.
As autoridades alertam para os perigos e pedem que ninguém se arrisque nas ruas...
Abrigos estão sendo providenciados para os moradores de rua...
Desliguei a televisão e atirei o controle no sofá ao lado. Carter ficou olhando para a tela por alguns segundos antes de perguntar:
— O que faremos agora?
Eu não sabia o que dizer.
Aparentemente ninguém entra ou sai.
— Eu... não posso ficar... tem que haver alguma maneira de ir — disse se virando enquanto ajeitava o vestido embaixo do grande sobretudo preto.— Eu sinceramente não acho que dê para você ir para casa... Você mora em Chinatown. Não é exatamente longe daqui, mas nesta tempestade é impossível chegar lá.Parando na porta, Carter deu um grande suspiro derrotado. Foi para a janela e ficou por um bom tempo olhando para baixo do prédio, talvez tentando achar alguma brecha para sair. Depois de mais outro suspiro, virou a sua atenção para mim.— Você tem uma bela janela aqui — elogiou. Seus ombros caídos e a voz denunciavam a sua entrega. — E imagino que a vista seja muito bonita sem toda a maldita neve — resmungou, chateada com a tempestade.— Sinto muito que você esteja presa aqui, Caterine. Você pode fi
Quando abri meus olhos, era quase meia-noite.A ressaca e o cansaço foram colocados de lado devido à adrenalina de acordar com uma desconhecia e a notícia da nevasca, ao sentar e finalmente relaxar enquanto assistia ao filme, devo ter pegado no sono também. Lembro de acompanhar os créditos finais enquanto pensava sobre ter aquela estranha mulher dormindo praticamente em cima de mim.Carter devia estar muito cansada, uma vez que havia dormido antes de mim. Levantei o mais delicadamente que pude e segui até meu quarto para pegar um cobertor extra e um travesseiro para ela. Ao retornar para a sala, cobri seu corpo e ajeitei o travesseiro embaixo da sua cabeça, seus olhos abriram momentaneamente e um sorriso se fez em seus lábios, mas logo caiu e os olhos fecharam novamente, um suspiro cansado escapou e ela estava dormindo novamente. Levantei e caminhei até o meu quarto me esforçando para não olha
Acordamos com o telefone tocando.Era o meu.Era a minha mãe.— Porra! Porra!— Alguém já te disse que você fala muito essa palavra? — Carter ronronou ao meu lado enquanto eu me sentava e criava coragem para atender.— É minha mãe. Eu deveria estar em Jérsei neste final de semana, mas, obviamente, não fui. — Passei a mão nos cabelos me preparando para um longo sermão.Minha mãe tinha uma mania muito inconveniente de sempre achar que podíamos dar um jeito em tudo, inclusive em uma tempestade de neve.Ainda conseguia me lembrar de quando ela desenvolveu teses para Rose conseguir se equilibrar com Jack em cima da porta flutuante em Titanic.— Oi, mãe. — Estou muito brava. Semana que vem quero você aqui, Alexander.E ela desligou.Eu não esperava por isso
Quarta-feira.Cinco dias com Caterine dentro da minha casa.A neve não dava trégua e eu estava muito feliz com isso. Cinco dias parecem pouco, mas experimente conviver com uma pessoa vinte e quatro horas por dia. Apenas com ela. Converse com ela, faça refeições com ela, faça sexo com ela e veja o que acontece.Nunca mais condenarei as pessoas que se trancam em casas de reality shows. Nunca mais.Carter já era uma amiga. Tudo bem, uma amiga que eu fazia sexo, mas ainda uma amiga. Criamos uma pequena rotina, cozinhávamos juntos, conversávamos sobre as mais diferentes coisas e, incrivelmente, concordávamos sobre muitas coisas.Eu a ensinei a jogar pôquer quando achei meu baralho. Ela me ensinou a fazer um doce com bananas, açúcar, queijo e raspas de laranja. Eu parei de resmungar sobre a janela e ela parou de me chamar de resmungão ou bebê chor&atild
— Mais... forte... — pediu ofegante enquanto eu investia cada vez mais forte.Essa mulher ainda me mataria de alguma forma, e eu não me importava.Nossas pélvis se batiam de forma violenta e nossos corpos suavam em pleno inverno de Nova Iorque, o rosto dela estava vermelho e seus olhos brilhavam mudando de tonalidade para um verde mais escuro.Puxei sua perna por trás do joelho e a encaixei em minha cintura, entendendo o recado ela ajeitou a outra cruzando as duas e grudando ainda mais nossos corpos. Quase ergui seu corpo com o tamanho da investida que dei, ela gemeu alto e nesse momento eu nem me importei mais com o que os vizinhos poderiam pensar. Faltava pouco para ela ir embora e eu queria tudo que poderia pegar dela.Egoísta do caralho.Era sexta-feira e a neve começava a dar trégua. Carter e eu apenas olhamos pela janela na quinta à noite e silenciosamente vimos que o nosso tempo es
Eu estava bravo.Eu estava muito, mas muito bravo mesmo.Por que diabos ela tinha ido embora daquele jeito?Olhei para o seu recado engraçadinho no espelho sentindo que estava a ponto de explodir enquanto tentava entender por que ela faria algo tão rude.Entender por que ela tinha ido embora, por que ela não havia se despedido, por que ela não tinha aberto mais da sua vida para mim.Saí do banheiro e fui para a sala, eu ficaria careca em breve, se antes eu mexia nos meus cabelos, naquele momento eu estava os arrancando de frustração, me aproximei da janela, descansado minhas mãos e cabeça nela e olhei para baixo. A rua estava movimentada, pessoas e carros passavam lá embaixo. A neve se foi e todos voltavam com as suas vidas normalmente enquanto eu só conseguia pensar:Não tivemos mais tempo.Ela não deixou nem o seu telefone.
Enquanto dirigia pelas ruas de Jérsei, lembrei da minha infância e adolescência. Lembrei dos meus momentos com Mary, antes de ela virar o mundo de Josh e ele se tornar todo o mundo dela.Quando bebíamos durante a madrugada na esquina de sua casa.Ou brigávamos.Os momentos em que fugíamos para a cabana dos seus pais.Quando nenhum garoto se aproximava por pensar que ela era minha.As vezes que ela brigava comigo porque nenhum garoto se aproximava.Lembrei de quando ela viu Josh pela primeira vez e depois chorou por horas, emocionada.Mary sabia que seria para sempre. Era assustador que tivesse essa certeza. Mas ela tinha.Virei à esquerda para chegar à rua de minha antiga casa e Caterine veio em minha mente novamente.Foi um alívio não pensarnelapor algum tempo, já que eu não conseguia fazer outra coisa desde aquela man
— Obrigado, Mary. — Agradeci sorrindo enquanto vestia a camiseta de malha cinza de mangas compridas e gola v que minha cunhada acabara de roubar da árvore de Natal, junto com o um par de jeans, mas me desesperei quando ela apareceu com um par de tênis sociais e torci meu nariz. — Comprou um guarda-roupas informal inteiro para mim?— Eu sempre faço isso, mas elas mofam em seu armário. — Ela jogou os tênis em minha cama. — Sua sorte é que Caterine pensa como nós. Você não pode usar ternos e camisas a vida toda, Alex.— É bom que você não tenha desistido de me comprar roupas assim, do contrário, estaria perdido essa noite — constatei, me sentando na cama e colocando as meias para em seguida calçar os tênis.Ouvi a risada animada de Mary Anne e não me incomodei em levantar meus olhos da minha ação pa