O cetro acertou seu braço direito com violência e sem aviso. A pedra da lua em suas mãos voou longe, ao mesmo tempo em que um grito de dor e medo saiu de seus lábios, o corpo diminuto colidindo contra o piso frio. — Criança inútil! Myra deixou-me somente decepção — o Rei Phelix, seu amado pai, bradou descendo novamente o cetro ativado com magia do trovão nas costas dela. Era a primeira vez que ele a agredia e Selene não entendia o motivo, não compreendia nada do que ocorrera nas últimas horas. As lembranças estavam confusas. Luzes azuladas e púrpuras se colidindo. Myra, sua mãe, correndo com ela nos braços, murmurando cânticos em desespero. Uma força intensa e agradável unindo-as. Phelix, até aquele dia o bondoso rei de Magdala e seu pai, lançava através de seu cetro todo tipo de magia elemental contra elas. Acompanhando-o na “caça”, Mamba sorria largamente enquanto fortificava a magia do rei. Ao ser encurralada ao fim da torre mais alta, abraçando a filha com força contra o peito,
Antes de sair para a vistoria da muralha, Cedric atravessou os corredores que levavam as acomodações reais, o passo lento, guiado pelos ecos das lembranças da noite anterior. Ao alcançar a porta de Selene, hesitou por um instante. Segurando o primeiro instinto, o de simplesmente entrar, bateu na porta. A acompanhante de Selene abriu a porta e o olhou apavorada. Dobrando-se em reverências, ela o deixou entrar antes de partir apressada. Recostada contras as almofadas, Selene ajeitou-se, observando inquieta Cedric se aproximar. — Como você está hoje? — ele questionou, sentando na poltrona ao lado da cama. — Estão cuidando adequadamente das suas feridas? — Estou bem... — respondeu incerta de como agir após o beijo. — As feridas já estão curadas, não se preocupe... Desconfiando que ela mentia por causa do ocorrido entre eles, Cedric observou-a atentamente, examinando cada detalhe de seu rosto em busca de qualquer sinal de dor ou desconforto. — Não é necessário que minta — Cedric expre
Mesmo em suas acomodações, o semblante entristecido de Selene ao insistir em abandonar a fortaleza invadia os pensamentos de Cedric Darkv. Se revirava no leito, os olhos pesados de sono, mas incapazes de cair no mundo dos sonhos. — Selene... Como a convenço que o lugar dela é aqui? — sussurrou para a escuridão, como se as sombras pudessem oferecer alguma orientação. A resposta, entretanto, permanecia longe de seu alcance. Fez uma careta ao refazer a pergunta em outro contexto. — O lugar dela é mesmo aqui? O som do vento percorrendo o castelo parecia um coro melancólico, ecoando a agonia silenciosa do Rei Corvo. Ainda que as decisões políticas pairassem sobre ele como uma coroa pesada, era a dualidade de sentimentos que o mantinha acordado. Enquanto a madrugada avançava, Cedric mergulhava em um mar de possibilidades, cada onda de confusão colidindo com a próxima, sem nunca chegar a um caminho satisfatório. Ao raiar do dia, exausto e desgastado, ergueu-se do leito. As vestes em preto
À tarde, sem se anunciar, Cedric, entrou no quarto de Selene. Como esperado, Patry saiu como um raio antes mesmo que ele ordenasse que o fizesse.A surpresa dominou Cedric ao encontrar Aodh pousado na janela aberta. Mas não era a ave fora gaiola que causou seu espanto. A gaiola foi apenas uma precaução para o caso de Aodh tentar bicar Selene. O corvo tinha uma personalidade intensa, voluntariosa e esperta, fazia o que queria e nenhuma tranca jamais o seguraria. Motivo pelo qual não as utilizava, deixando o corvo decidir quando entrava ou saia da gaiola e de qualquer local que quisesse. O espanto não era com a ave e sim com Selene. Sentada em uma cadeira ao lado de Aodh, ela acariciava distraída as penas das asas dele, alheia a chegada de Cedric.Sempre atento, Aodh voou até o ombro de Cedric.— Edric! — A ave soltou em uma voz assustadoramente grossa.— Ele fala?! — Selene imp
Dias depois, mesmo fingindo não se importar com as visitas, Selene sentia-se mais a vontade com a presença de Cedric, até ansiava vê-lo entrar no dormitório, mesmo que passasse poucos segundos com ela e só para alimentar Aodh.Em grande parte gostava das visitas frequentes de Cedric por perceber que as empregadas passaram a olha-la de maneira diferente, com mais respeito e com menos intenções de maltratá-la. Talvez fosse pelas ameaças de Cedric, mas deixou Selene com menos medo de sofrer outro ataque.~*~À noite, em mais uma visita a sua esposa, encostado na parede, Cedric observava em silêncio e de braços cruzados o corvo Aodh, seu companheiro de batalhas, empoleirado na janela aberta do quarto da jovem rainha, agindo como um doce bichinho de estimação e não o assassino sanguinário que de fato era.Selene estava totalmente recuperada e us
Ao longo da semana Cedric entrou em uma nova rotina.De manhã, logo após colocar uma armadura simples, no lugar de seguir para a verificação dos arredores da fortaleza, passava pelas acomodações de Selene com a desculpa de ajuda-la com Aodh. Embora ambos parecessem muito bem sem ele.Depois seguia em suas funções até chegar à noite, quando voltava às acomodações de Selene, para jantarem juntos. Conversavam por horas e Cedric se movia para o próprio quarto relutantemente.Mesmo sendo oposto ao que pensou, conforme os dias passavam, a melhor parte de sua rotina era quando estava com Selene. Dizia a si mesmo que o motivo era por ser a única parte do dia que podia jogar o tempo fora, sem duras e pesadas conversas sobre esquemas burocráticos.Selene também se acostumou aos poucos com a presença de Cedric, ficando comovida pela dedicação dele em ajuda-la em sua cura, exigindo que descansasse e não se preocupasse com nada, embora ela estivesse totalmente restabelecida.A relação dos dois mel
A noite envolvia o castelo de Eszter quando Cedric deixou o escritório para respirar o ar fresco do lado de fora, aproveitar o vento frio no rosto para realinhar os pensamentos que insistiam em voltar para Selene.— Alteza, precisamos de ajuda! — Ouviu uma voz masculina gritar atrás de si.Virou-se e viu dois guardas, o primeiro a falar tendo sido um da muralha.— Majestade, temos uma situação militar urgente nos portões da muralha — relatou apreensivo o outro guarda, esse da defesa do palácio.Cedric apressou-se a acompanhá-los. A paz recém-estabelecida entre Eszter e Magdala ainda estava em seus estágios iniciais, e a ameaça de conflito era uma sombra constante em sua mente, mas nunca imaginou que o Perverso teria coragem de fazer algo com a filha residindo no território inimigo.Ao sair do palácio seguiu num veloz galope os dois guardas qu
Os jardins do palácio de Eszter estavam banhados pela luz da lua, e as rosas desabrochavam em um espetáculo de cores vibrantes. Escapando sorrateiramente do quarto, Selene, avançou pelo caminho de paralelepípedos, seguindo a trilha até um canto isolado onde um grupo de rosas exalava seu aroma doce e envolvente.Ao se abaixar para acariciar as pétalas de uma rosa vermelha, uma conversa distante captou sua atenção. Do outro lado do arbusto, dois empregados do palácio passavam, discutindo em murmúrios temerosos.— ...o Perverso trouxe mais destruição.Oculta pelas folhagens, Selene prendeu a respiração para não ser detectada.— Perdemos muitos dos nossos na guerra, ele prometeu paz com aquela filha patética e agora... agora esse tirano volta a invadir nossas terras — o outro empregado falou com amargura.— A filha do