A desconfiança de Cedric aumentou ao perceber a tensão e palidez em Selene diante da pergunta. O medo, como uma sombra, dançava nos olhos azulados, arregalados e fixos nele como se tivesse acabado de condená-la a morte. — Por que pede para ser uma aldeã em Eszter, no lugar de pedir para retornar à sua vida de princesa em Magdala? — questionou novamente quando o silêncio perdurou e Selene desviou o olhar. Selene hesitou por um instante, o olhar perdido nos dedos se apertando nas peles em seu colo, incerta entre mentir, deixando que continuasse a acreditar que era a filha amada que veio trazer a paz, ou contar toda verdade do pesadelo que viveu presa e maltratada pelo próprio pai. Inspirou fundo e decidiu que se queria ter uma chance dele aceitar seu pedido tinha de caminhar de mãos dadas com a dolorosa verdade. — Magdala deixou de ser um lugar bom depois da morte da minha mãe — disse suave e trêmula. — Meu pai... algo mudou dentro dele... O fez ficar cruel... — A ambição e maldade d
O cetro acertou seu braço direito com violência e sem aviso. A pedra da lua em suas mãos voou longe, ao mesmo tempo em que um grito de dor e medo saiu de seus lábios, o corpo diminuto colidindo contra o piso frio. — Criança inútil! Myra deixou-me somente decepção — o Rei Phelix, seu amado pai, bradou descendo novamente o cetro ativado com magia do trovão nas costas dela. Era a primeira vez que ele a agredia e Selene não entendia o motivo, não compreendia nada do que ocorrera nas últimas horas. As lembranças estavam confusas. Luzes azuladas e púrpuras se colidindo. Myra, sua mãe, correndo com ela nos braços, murmurando cânticos em desespero. Uma força intensa e agradável unindo-as. Phelix, até aquele dia o bondoso rei de Magdala e seu pai, lançava através de seu cetro todo tipo de magia elemental contra elas. Acompanhando-o na “caça”, Mamba sorria largamente enquanto fortificava a magia do rei. Ao ser encurralada ao fim da torre mais alta, abraçando a filha com força contra o peito,
Antes de sair para a vistoria da muralha, Cedric atravessou os corredores que levavam as acomodações reais, o passo lento, guiado pelos ecos das lembranças da noite anterior. Ao alcançar a porta de Selene, hesitou por um instante. Segurando o primeiro instinto, o de simplesmente entrar, bateu na porta. A acompanhante de Selene abriu a porta e o olhou apavorada. Dobrando-se em reverências, ela o deixou entrar antes de partir apressada. Recostada contras as almofadas, Selene ajeitou-se, observando inquieta Cedric se aproximar. — Como você está hoje? — ele questionou, sentando na poltrona ao lado da cama. — Estão cuidando adequadamente das suas feridas? — Estou bem... — respondeu incerta de como agir após o beijo. — As feridas já estão curadas, não se preocupe... Desconfiando que ela mentia por causa do ocorrido entre eles, Cedric observou-a atentamente, examinando cada detalhe de seu rosto em busca de qualquer sinal de dor ou desconforto. — Não é necessário que minta — Cedric expre
Mesmo em suas acomodações, o semblante entristecido de Selene ao insistir em abandonar a fortaleza invadia os pensamentos de Cedric Darkv. Se revirava no leito, os olhos pesados de sono, mas incapazes de cair no mundo dos sonhos. — Selene... Como a convenço que o lugar dela é aqui? — sussurrou para a escuridão, como se as sombras pudessem oferecer alguma orientação. A resposta, entretanto, permanecia longe de seu alcance. Fez uma careta ao refazer a pergunta em outro contexto. — O lugar dela é mesmo aqui? O som do vento percorrendo o castelo parecia um coro melancólico, ecoando a agonia silenciosa do Rei Corvo. Ainda que as decisões políticas pairassem sobre ele como uma coroa pesada, era a dualidade de sentimentos que o mantinha acordado. Enquanto a madrugada avançava, Cedric mergulhava em um mar de possibilidades, cada onda de confusão colidindo com a próxima, sem nunca chegar a um caminho satisfatório. Ao raiar do dia, exausto e desgastado, ergueu-se do leito. As vestes em preto
À tarde, sem se anunciar, Cedric, entrou no quarto de Selene. Como esperado, Patry saiu como um raio antes mesmo que ele ordenasse que o fizesse.A surpresa dominou Cedric ao encontrar Aodh pousado na janela aberta. Mas não era a ave fora gaiola que causou seu espanto. A gaiola foi apenas uma precaução para o caso de Aodh tentar bicar Selene. O corvo tinha uma personalidade intensa, voluntariosa e esperta, fazia o que queria e nenhuma tranca jamais o seguraria. Motivo pelo qual não as utilizava, deixando o corvo decidir quando entrava ou saia da gaiola e de qualquer local que quisesse. O espanto não era com a ave e sim com Selene. Sentada em uma cadeira ao lado de Aodh, ela acariciava distraída as penas das asas dele, alheia a chegada de Cedric.Sempre atento, Aodh voou até o ombro de Cedric.— Edric! — A ave soltou em uma voz assustadoramente grossa.— Ele fala?! — Selene imp
Dias depois, mesmo fingindo não se importar com as visitas, Selene sentia-se mais a vontade com a presença de Cedric, até ansiava vê-lo entrar no dormitório, mesmo que passasse poucos segundos com ela e só para alimentar Aodh.Em grande parte gostava das visitas frequentes de Cedric por perceber que as empregadas passaram a olha-la de maneira diferente, com mais respeito e com menos intenções de maltratá-la. Talvez fosse pelas ameaças de Cedric, mas deixou Selene com menos medo de sofrer outro ataque.~*~À noite, em mais uma visita a sua esposa, encostado na parede, Cedric observava em silêncio e de braços cruzados o corvo Aodh, seu companheiro de batalhas, empoleirado na janela aberta do quarto da jovem rainha, agindo como um doce bichinho de estimação e não o assassino sanguinário que de fato era.Selene estava totalmente recuperada e us
Ao longo da semana Cedric entrou em uma nova rotina.De manhã, logo após colocar uma armadura simples, no lugar de seguir para a verificação dos arredores da fortaleza, passava pelas acomodações de Selene com a desculpa de ajuda-la com Aodh. Embora ambos parecessem muito bem sem ele.Depois seguia em suas funções até chegar à noite, quando voltava às acomodações de Selene, para jantarem juntos. Conversavam por horas e Cedric se movia para o próprio quarto relutantemente.Mesmo sendo oposto ao que pensou, conforme os dias passavam, a melhor parte de sua rotina era quando estava com Selene. Dizia a si mesmo que o motivo era por ser a única parte do dia que podia jogar o tempo fora, sem duras e pesadas conversas sobre esquemas burocráticos.Selene também se acostumou aos poucos com a presença de Cedric, ficando comovida pela dedicação dele em ajuda-la em sua cura, exigindo que descansasse e não se preocupasse com nada, embora ela estivesse totalmente restabelecida.A relação dos dois mel
A noite envolvia o castelo de Eszter quando Cedric deixou o escritório para respirar o ar fresco do lado de fora, aproveitar o vento frio no rosto para realinhar os pensamentos que insistiam em voltar para Selene.— Alteza, precisamos de ajuda! — Ouviu uma voz masculina gritar atrás de si.Virou-se e viu dois guardas, o primeiro a falar tendo sido um da muralha.— Majestade, temos uma situação militar urgente nos portões da muralha — relatou apreensivo o outro guarda, esse da defesa do palácio.Cedric apressou-se a acompanhá-los. A paz recém-estabelecida entre Eszter e Magdala ainda estava em seus estágios iniciais, e a ameaça de conflito era uma sombra constante em sua mente, mas nunca imaginou que o Perverso teria coragem de fazer algo com a filha residindo no território inimigo.Ao sair do palácio seguiu num veloz galope os dois guardas qu