Eu não entendia ainda como não conseguia gritar. O susto foi tão grande que o meio do meu peito estava doendo, mas por que eu ainda estava parada com a boca aberta olhando para aquilo que com toda certeza era um vulto preto no canto da parede? Por que o que quer que aquilo fosse não nos matou ainda? Ou me matou? Ou possuiu, sei lá... Conforme eu divagava eu sentia meu pânico crescer. Seja o que quer que aquilo fosse, estava claro que estava brincando comigo.
— Rose, tudo bem? - meu corpo pulou automaticamente ao ouvir a voz de Rebecca. Não tinha percebido seus suaves roncos pararem e pior ainda, seu tronco se erguer da cama e sua mão acender a luz. Queria gritar para que ela não acendesse aquela luz, porém minha voz ainda estava presa na garganta e eu ainda tinha os olhos fixos naquela sombra que não parecia querer se mover tão cedo. Por um momento me perguntei se a sua aparência em um ambiente totalmente claro seria o suficiente para me dá um ataque do coração. — Rose? - a voz de Rebecca ecoou novamente e eu escutei o som do interruptor de luz antes mesmo da claridade da lâmpada machucar meus olhos. O grito ficou estrangulado em minha garganta e de meus lábios saiu somente um miado rouco. — Meu Deus! Você está engasgando?! - a voz de Rebecca subiu algumas oitavas e no momento seguinte tudo que eu senti foi ela esmurrando minhas costas. Queria pedir para que ela parasse, mas a minha voz ainda não saia. Tudo que eu fazia era vasculhar cada canto daquele quarto em busca de um rosto horrendo para minha sombra perturbadora. Não era isso que eles falavam? Que demônios, fantasmas, ou o que quer que tenha vindo nos – me – perturbar, vinha em sua pior forma?
— Rose, Rebecca? O que está acontecendo aí? - a voz sonolenta de Brenda ecoou rouca e baixa, quase eu não escutava devido aos murros que ainda levava nas costas. Seria melhor eu tossir para que Rebecca parasse de tentar colocar meus pulmões para fora pela minha boca. Eu conseguiria tossir ou se quer fazer alguma coisa? Pois estava claro para mim que eu estava em completo pânico.
— Estou bem... - consegui murmurar baixinho e ensaiar uma tossida depois de varrer o quarto com o olhar angustiado umas duas vezes. Quando eu não vi absolutamente nada meu coração foi capaz de voltar ao normal.
— Eu vou buscar um pouco de água para ela. - Rebecca falou baixinho e a sua mão que antes socava minhas costas, agora passava pela mesma como um carinho. Quase como um pedido de desculpas pela tentativa de me matar aos murros. Olhei para ela alarmada querendo pedir que ela não fosse. Eu tinha medo que aquilo que nos observava, ou me observava, estivesse lá fora somente esperando para nos pegar. Mas já era tarde. Rebecca deveria estar realmente preocupada comigo, pois praticamente correu do quarto.
— Rose, aconteceu alguma coisa? Você está bem? - o rosto de Brenda apareceu em meu campo de visão e eu pude perceber em seus ansiosos olhos azuis que ela estava se perguntando se isso tinha haver com o acontecido no porão. — Você teve um pesadelo? - a voz dela saiu sussurrada, pois já conseguíamos escutar o barulho dos corpos se mexendo nas camas, o que indicava que algumas meninas tinham acordado e estavam de olho na gente.
— Eu... eu acho que sim. - sussurrei de volta tão baixo que me perguntei se ela tinha escutado. Seus lábios se comprimiram em uma linha reta e seu olhar preocupado se tornou carregado de culpa. Eu sabia que ela estava se culpando pelo que tinha acontecido lá embaixo. — Bren, está tudo bem. - forcei minha voz a sair o mais tranquilo possível. Não era justo que ela se culpasse, ou que eu a deixasse ficar preocupada. Pelo que eu sabia eu poderia muito bem ter imaginado coisas. Não iria revelar meus medos e deixar todas essas meninas assustadas. — Foi só um pesadelo. - murmurei ainda com a voz baixa para que só ela me escutasse.
— Aqui sua água. - eu não tinha percebido que Rebecca estava de volta até ela aparecer na minha frente estendendo um copo logo cheio de água. — Bebe devagar. - ordenou ainda olhando para mim com seus olhos castanhos repletos de preocupação. Eu gostava de Rebecca, era uma garota legal e na dela, e se ela conseguiu ir e voltar da cozinha intacta pode ser que eu tenha imaginado coisas mesmo.
— Obrigada, Becca. - murmurei seu apelido que raramente usava. Não éramos tão chegadas assim para viver grudada como eu vivia com Brenda, mas éramos próximas o suficiente para que eu a chamasse carinhosamente. E ela parecia não se importar. — Estou bem, é sério. Foi só um pesadelo. - falei torcendo para que minha voz soasse convincente ao ponto de até eu mesma acreditar.
Depois de umas olhadelas significante de Brenda e do resto das meninas que participaram do fiasco da sessão de Ouija, Rebecca se deu por vencida e concordou que todas podíamos voltar a dormir em paz. Conforme ela ia andando até a cama dela, e consequentemente até o interruptor de luz, senti vontade de pedir para que ela deixasse a luz acesa. Mas, o olhar curioso de Linda me fez travar na cama. Eu ainda não estava cem por cento certa de que aquilo não tenha sido uma armação dela, e eu não iria mesmo dar o gostinho de pedir para dormir com a luz acesa igual uma criança. Mesmo temendo ver coisas no escuro novamente. Eu estava começando a crer que aquilo realmente era coisa da minha cabeça fértil.
O barulho do interruptor ecoou, deixando o quarto no mais profundo breu. O primeiro arrepio tomou meu corpo inteiro, desde o dedo do pé até o ultimo fio de cabelo. O segundo arrepio fez meu corpo estremecer e meus braços formigarem. Eu podia sentir meu coração acelerar junto com a minha respiração. Queria fechar meus olhos, mas eu não conseguia e sem que eu permitisse minha cabeça virou diretamente para o canto em que eu tinha visto ele. E lá estava o contorno do enorme vulto preto que quase tinha me matado de susto a primeira vez que eu vi, não que dessa vez fosse diferente.
Fiquei estremecendo no lugar, congelada, esperando que ele me matasse ou me assustasse de um jeito que a minha alma saísse correndo do meu corpo. Mas não. Ele só ficou lá, parado, esperando. Mal se mexia e se eu fosse realmente esperta iria aceitar que aquilo tudo não passava de fruto da minha imaginação, pois embora eu tivesse passado minha vida toda em um convento, ainda não acreditava em céu, inferno e consequentemente em demônios.
— Eu não tenho medo de você. - sussurrei pausadamente depois de ter percebido que eu era a única acordada ali. Meu coração já não estava tão acelerado assim e eu forcei meu corpo a se acalmar na marra, embora os malditos arrepios continuassem de tempos em tempos.
Encarei em choque quando um sorriso branco se destacou na sombra e cobri meu corpo dos pés à cabeça com o grosso cobertor. Se ele for fazer algo eu não quero ver. Se for real eu não tenho chances de escapar mesmo e se não for real eu que não vou gritar como uma garotinha medrosa. Me peguei murmurando baixinho todas as orações que eu tinha aprendido nesses sete anos de convento e ouvi um riso baixo. Meu corpo paralisou sofrendo o espasmo mais violento que já senti, de fato, parecia que eu convulsionava de medo, pois o riso estava ali dentro, comigo embaixo dos lençóis.
— Por favor... - minha voz saiu baixa, um choramingo, pedindo pelo o que eu não sei. Que ele fosse rápido? Que me deixasse em paz? Que poupasse pelo menos as outras cinco idiotas que não teve culpa por eu tê-lo invocado? Automaticamente me lembrei da regra número cinco "Nunca saia do jogo sem dizer Adeus". E me peguei murmurando sem parar a palavra "Adeus" torcendo para que de algum jeito aquilo me deixasse em paz. Talvez tenha dado certo, talvez ele só tenha se cansado, ou talvez minha mente insana tenha dado uma trégua já que eu adormeci pelo cansaço com a sombra do seu riso em meus ouvidos.
Na manhã seguinte mais do mesmo. Eu não conseguia vê-lo conforme ia fazendo minhas tarefas do dia, mas eu conseguia sentir sua presença. E parecia que eu era a única, pois esperei que alguma das meninas deixasse escapar alguma coisa sobre estarem vendo algo, ou sendo atormentadas, porém nada aconteceu a elas.
Fiquei apreensiva o dia todo esperando que a nossa escapulida ao porão tivesse sido descoberta, mas aparentemente por mais ensurdecedor que tenha sido o barulho que fizemos, absolutamente ninguém tinha acordado. Nenhuma de nós se quer tocou no assunto e eu andava inquieta pelos cantos, tentando captar qualquer indicio de que alguma das garotas tenham visto algo, mas aparentemente está tudo normal.
A noite assim que as luzes se apagaram, voltei meus olhos ansiosos para o canto onde o vi a primeira vez, e lá estava sua sombra. Meu coração deu o costumeiro salto e acelerou, mas eu me mantive em silencio, esperando, esperando... Porém, ele só ficou olhando. Fui vencida pelo cansaço, enquanto observava a sombra e esperava que ela fizesse o mínimo movimento.
Andei cautelosamente ao lado de Brenda enquanto íamos tomar o café da manhã, e depois todas nós limparíamos o refeitório. Quatro dias tinham se passado desde o dia em que fomos ao porão. Quatro dias em que eu tinha um visitante oculto em meu quarto, que eu tentava inutilmente me forçar a acreditar que era coisa da minha cabeça. Afinal, ele não fez nada com nenhuma de nós. E o fato de somente eu conseguir vê-lo, me fazia insistir nessa ideia de que eu o inventei.— Você está muito estranha! Por que exatamente está seguindo a Linda e a Laura? - a voz curiosa de Brenda ecoou e eu olhei para ela com a sobrancelha franzida.— O que? Eu não...— Rose, você fic
— Você vai me matar? - minha voz saiu em um sussurro. Incrivelmente eu não estava tão assustada quanto eu deveria estar. Meu coração ainda batia tão acelerado quanto as asas de um beija flor, mas eu acreditava profundamente que aquilo era uma reação a presença dele. Alguma coisa haver com o nosso corpo detectar o perigo, antes mesmo dos nossos olhos ou cérebro. Porque de uma coisa eu tinha a completa certeza, eu não estava tão assustada assim. E isso só confirmava o que Brenda me dizia sempre: Que eu não era uma pessoa normal.— O jure ainda não se decidiu quanto a isso. - embora eu não pudesse vê-lo, eu podia ouvir o toque de divertimento em sua voz. Ele estava querendo mexer comigo.— O que você
— Quem está aí? - a voz grossa de irmã Maria ecoou e eu senti meu coração falhar uma batida. Que flagra desgraçado! Eu podia sentir cada cédula do meu corpo travar.— Dela você tem medo?! - a voz de Nathaniel sendo sussurrada em meu ouvido me tirou do meu torpor e me lembrou que eu ainda tremia próximo a ele. — Inacreditável. - seu sussurro foi a única coisa que eu ouvi antes de olhar para trás e me deparar com irmã Maria segurando uma lanterna acesa e me olhando com fúria.— Rosemary! O que pensa que está fazendo fora de sua cama? - mesmo sua voz subindo algumas oitavas, irmã Maria ainda tinha a voz grossa como a de um fumante. Ela desceu as escadas tão rápido que eu me admirei que uma sen
Encarei o escuro do alto daquelas escadas. Meus joelhos e braços doíam muito, mas aquilo não era nada comparado a dor da humilhação de ter passado por aquilo. Abracei meus braços, sentindo a manga longa da minha camisola de algodão se grudar em meus ferimentos e dei o primeiro passo cuidadoso que me levaria para o final daquele lance de escadas. O ambiente estava quieto, calmo até. O único barulho que ecoava era dos suspiros trêmulos que eu dava ao tentar segurar o choro que insistia em tentar sair. Porém mais do que saber, eu podia sentir a presença dele ali. A presença, que eu sabia no fundo do meu ser, que nunca tinha abandonado o meu lado e viu cada agressão e humilhação que eu passei. Aquilo me deixava extremamente envergonhada.Sem que nenhum de nós dois dissesse al
Assim que Nathaniel saiu eu abracei meu corpo respirando profundamente. Eu não tinha ideia de como as coisas tinham acontecido tão rápido. Em uma hora eu estava extremamente assustada por ser observada por uma sombra negra e na outra minha sombra tinha um rosto extremamente belo e eu estava ficando caidinha por ele. Como isso aconteceu?!Nathaniel tinha um efeito sobre mim que eu não sabia explicar. Prova disso era meu corpo arrepiado sentindo falta do calor aconchegante que emanava do corpo dele. Droga, ele tinha acabado de sair e eu já o queria de volta. Eu realmente era estranha, como ele gostava de irritantemente me lembrar.Encostei meu corpo na mesa e fechei os olhos. Agora que ele não estava aqui eu conseguia sentir meu corpo protestar por estar tanto tempo acordado. E minha cabeça
— Uau, esse poder ai é bem util. - murmurei com lágrimas nos olhos e engoli algumas vezes. Nathaniel me olhava meio chocado, por fim rolou os olhos e eu jurava que ele estava querendo me chamar de estranha. — Lúcifer, uh? - tossi mais algumas vezes — Isso é... uau... Nem sei o que dizer para falar a verdade. Você é algum tipo de príncipe do inferno? - ele deu de ombros depois de um tempo. — Você não se dá bem com ele? - a pergunta soou bem idiota, mas esperei que ele respondesse mesmo assim. Nathaniel respirou fundo e depois deu de ombros novamente. Ele estendeu sua mão e acabou pegando um dos lanches que ele tinha comprado. Me perguntei se aquilo era uma tentativa de acabar com a conversa. — Estou te aborrecendo?— Você não me aborrece, Rose. - ele disse depois de
As mãos quentes de Nathaniel me apertavam firmemente contra seu corpo, a cada batida de suas asas éramos impulsionados para mais alto. Mesmo vivendo aquele momento, ainda não entrava na minha cabeça que estávamos voando.— Eu não acredito que estamos...— Eu sei, é uma das melhores partes dessa vida que eu tenho.— Todos os demônios tem asas?— Não. Só os importantes. - ele piscou em minha direção e eu ri. — Segure-se! - ordenou, embora não precisasse. Eu estava tão colada a ele quanto era possível, e eu sabia que ele nunca me deixaria cair. Nathaniel deu um impulso forte para cima e logo depois nos vir
— Você está bem? - estávamos na mesma posição, corpos colados e unidos pelos nossos sexos, quando sua voz ecoou baixinho em meu ouvido. Assenti com a cabeça, incapaz de achar minha voz naquele momento e senti meu corpo se arrepiar sem minha permissão, reagindo ao timbre gostoso da sua voz. Eu estava completamente envergonhada, tínhamos acabado de fazer sexo e meu corpo estava pedindo por mais daquilo. — O que foi? Está quieta, arrepiada... - suas mãos passaram lentamente pelos meus braços. Prendi os lábios entre os dentes para não deixar o suspiro escapar. Nathaniel afastou seu corpo do meu e se jogou ao meu lado. Meu corpo automaticamente sentiu falta do seu calor. Olhei para ele no exato momento em que ele levava a mão até o meio de suas pernas e eu o via retirar uma camisinha, que eu nem tinha percebido ele colocar. Desviei o olhar enquanto corava. — Quer voltar? — Eu estou bem. - me