Tento dormir por mais alguns minutos e continuar nos meus sonhos perfeitos, onde não tenho que ir a faculdade e fazer imersos trabalhos e pesquisas. Estou no meu último ano do meu curso de psicologia e vou começar a fazer um estágio dentre algumas semanas no Hospital Psiquiátrico de Toronto. Não vou ter tempo nem para respirar, pois a faculdade e o estágio ocuparão todo meu tempo, mas não posso reclamar, ser psicóloga é tudo o que eu sempre sonhei.
Em meio aos meus pensamentos sonolentos, ouço um pequeno barulho que vai aumentando e tornando ensurdecedor. Abro os meus olhos lentamente, maldito despertador. Meus primeiros pensamentos é jogá-lo na parede e voltar a dormir, mas não posso, preciso estar no Campus para minha primeira aula desse semestre em uma hora. Mesmo contra minha vontade levanto-me e vou até a janela, puxo as persianas, abrindo-as em seguida, deixando os primeiros raios de sol iluminar meu quarto. Sinto minhas energias revitalizadas, pronta para um novo dia após o banho.
O clima aqui em casa tem estado estranho. Meu pai, Richard Smith, trabalha no Departamento de Policia Federal de Toronto e por causa de seu trabalho ele tem estado preocupado e estressado nas últimas semanas. Ao longo dos anos meu pai vem recebendo muitas ameaças de pessoas que querem impedir que ocorram as investigações. Deixando meu pai sempre preocupado com nossa segurança, o que explica os seguranças e sua preocupação com a família. Para mamãe, a Sra. Melissa Smith, isso tudo é normal faz parte do trabalho do meu pai, mas para mim não, quero poder sair sem ter um cara desconhecido me seguido por onde eu for, até hoje os seguranças tem mantido sua atenção apenas em nossa casa.
Seco meu cabelo, e depois começo a procurar uma roupa para eu vestir. O dia está com um clima agradável opto por um vestido florido e uma jaqueta escura por cima, calço uma botinha de cano curto preta, faço uma maquiagem básica e prendo o cabelo em um rabo de cavalo. Depois de pronta me olho no espelho verificando se está tudo certo, ainda tenho que arrumar minha bolsa, ando pelo quarto procurando meus livros e tudo que vou precisar nas aulas de hoje.
Desço para o andar de baixo para tomar o café da manhã com meus pais. Nossa casa é bem grande, muitos quartos, sala de estar enorme com sofás na cor branca, e com quadros caros na parede o que eu acho um exagero, mas meu pai os comprou em um leilão em um das suas viagens com mamãe. Lembro que não tínhamos nada disso em nossa antiga casa há 13 anos, era simples e modesta em um bairro no subúrbio da cidade. Não vou dizer que era uma vida ruim, claro que não, nunca nos faltou nada, meu pai trabalhava dia e noite para nos dar tudo que precisávamos. Mas comparado à hoje é um salto muito grande de realidade com carros, uma casa que é o dobro da antiga, viagens.
Meu pai batalhou muito para termos tudo isso, ele se orgulha por tudo que conseguiu e nós também, porque ele começou de baixo até conseguir um cargo de prestígio no departamento como investigador, lembro-me o quanto meu pai estava feliz quando nos mudamos para cá, sua alegria por estar dando uma vida melhor a sua família e por realizar seus sonhos com fruto do seu trabalho que ele tanto ama.
Atravesso a sala e sigo em direção da sala de jantar, meus pais já se encontram conversando, mas quando percebem minha presença param de falar e sorriem para mim, dou bom dia e um beijo em minha mãe e faço a mesma coisa em meu pai e sento-me a mesa e sirvo-me com café e torradas.
- Bom dia querida. Dormiu bem? - Mamãe me pergunta enquanto toma um gole do seu café.
- Dormi muito bem mãe. Apesar de estar muito ansiosa para o início das aulas. - Olho para papai e ele está pensativo totalmente alheio a nossa conversa.
- Pai está tudo bem? - pergunto, ele olha para mim, seus lábios se curvam
- Está tudo bem querida, só o de sempre, problemas no trabalho. – o sorriso apenas esconde a preocupação em seus olhos.
- Posso ajudar em alguma coisa? - Pergunto, faço tudo para amenizar suas preocupações. Sei o quanto os dois batalharam para dar a educação que tenho hoje.
- Na verdade pode sim, não sei se notou, mas contratei mais seguranças. - Responde meu pai, que olha diretamente para mim. Não sei porquê, mas não estou gostando disso. Para que mais seguranças já não têm o suficiente? - Estou investigando uma quadrilha de contrabando de armas, e tenho recebido ameaças constantes e temo que eles possam usar uma de vocês duas para me obrigar a encerrar as investigações.
Essa é uma das partes ruins do trabalho do meu pai, sempre ficamos na mira de bandidos por causa de seu trabalho.
- E vamos ter que ficar presa em casa, até esses criminosos serem presos? - Papai e mamãe compartilham um olhar estranho, e sei que tem algo que não estão me contado e que eu não irei gostar nem um pouco.
- Claro que não querida. Designei um dos seguranças para ser seu motorista e te proteger o dia todo.
- O quê? Não quero um motorista e nem ninguém me seguindo por onde eu for. - Digo indignada, meu maior receio se concretizou, já me arrependi de oferecer ajuda.
- Alexia é para o seu bem. Seu pai só quer te manter segura, e, além disso, você não tem escolha. - Diz mamãe calmamente.
Eu ouvi direito? Só pode ser brincadeira.
- Como assim não tenho escolha? Já sou adulta, e sei o que é melhor para mim. Até entendo que temos que ter seguranças aqui em casa, mas ter um cara estranho me seguindo a cada passo que dou, já é demais. - Digo logo tudo o que penso de uma vez.
- Até entendemos seu ponto de vista, mas já decidimos e a partir de hoje o James Mitchell vai te acompanhar o tempo todo e não quero mais discutir sobre esse assunto, já tenho problemas demais no trabalho, pelo menos aqui em casa quero um pouco de paz. - Diz papai jogando o guardanapo em cima da mesa zangado.
O que é raro, já falei que as ameaças surgem devido ao seu trabalho, ainda mais quando o caso envolve uma quadrinha ou máfia. Mas em nenhuma das outras vezes, meu pai teve tanta paranóia com a segurança, tínhamos alguns seguranças o que hoje se tornou o dobro, e ainda tem seu humor que nas últimas semanas tem estado horrível se comparado ao das outras vezes que passamos pela mesma situação.
-Acalme-se Richard. - diz mamãe tentando amenizar a situação. - Tenho certeza que a Alexia não quer te dar mais motivos para aumentar sua preocupação conosco, não é querida? - Acrescenta mamãe me olhando para que eu seja compreensiva, essa calma dela às vezes irrita.
Não me leve a mal, eu sei que tudo que ele faz é para nos proteger, mas é pedir de mais que eu tenha um pouco de privacidade? Minha mãe sabe que faço tudo para não contrariá-los, principalmente quando o motivo parece tão grave. Ainda assim sou contra a idéia de ter um motorista.
Termino meu café em silencio, essa história toda me deixou de mau humor, é melhor eu ir antes que eu chegue atrasada. Pego minha bolsa e vejo se não estou esquecendo nada. Dou um beijo nos meus pais e me lembro de perguntar sobre o tal motorista.
-Ele vai dirigir o meu precioso carro? – espero que não.
- Sim, já que vou usar o meu e provavelmente sua mãe usará o outro. - Ele responde sem olhar para mim. Porque ele sabe que não gosto que ninguém além de mim dirija meu carro.
- Como vou saber que ele não vai bater meu carro no primeiro muro que ver pela frente? – digo apenas para provocar.
- Alexia, tenho certeza que o James tem competência para dirigir um carro, porque se não tivesse eu não o teria contratado. Então será que você pode me deixar terminar o meu café agora? - Dou um olhar enfurecido ao meu pai, só espero que esse cara não seja um completo babaca.
- Alexia querida, é melhor você ir ou vai chegar atrasada. - Diz mamãe tentando mudar de assunto.
- Onde posso encontrá-lo? - Digo.
-Está te esperando lá na frente. - Diz meu pai sério. – Ah... e vê se não faz nada para dificultar o trabalho dele. - Acrescenta antes de levantar da mesa e ir em direção ao seu escritório.
Fico parada ali tentando entender sua atitude, meu pai parece outra pessoa quando age dessa forma. Dou um último olhar para mamãe, que sorri afetuosamente. Despeço-me dela novamente e saio à procura do meu novo motorista.
Quando chego ao jardim da frente, avisto meu lindo carro um Audi RS7 vermelho que ganhei dos meus pais no meu aniversário de 18 anos, desde então meu bebê tem sido meu xodó. Meus olhos se prendem em um homem alto de terno preto sobre um muro de músculo perfeitamente atlético, com ombros largos e de expressão séria. Desvio o olhar quando percebo que ele está me olhando também, apesar dele estar usando óculo escuro posso sentir seu olhar em minha direção. Volto a andar em direção ao banco de trás do carro, mas antes que eu possa abrir a porta ele abre, entro sem olhá-lo. Percebo que ele dá a volta no carro e entra no lado do motorista, é tão estranho ver outra pessoa dirigindo o meu carro, eu sempre o dirigi desde que o ganhei de presente, e desde então não permito que ninguém dirija, at&e
Em meu quarto, Kallie sentou-se em minha cama com as pernas cruzadas enquanto verificava seu celular. Coloco minha bolsa em cima da poltrona que fica próxima da janela que tem vista para o jardim da frente, dá uma bela vista em noite de lua cheia. Olho ao redor do meu quarto, sinto como se fosse meu refúgio. Há fotos minhas com meus pais na mesinha ao lado da cama king Size, em frente da cama fica minha escrivaninha com meu notebook, livros do meu curso e uma iluminaria de acrílico em forma de três rosas. Ao lado umas prateleiras de livros de todos os meus autores favoritos e com fotos minha e Kallie em nossas várias viagens que fizemos juntas.Vou em direção ao closet pegar os biquínis, procuro entre as gavetas do armário, escolho um biquíni tomara que caia verde com estampa florida para mim, troco-me e pego um biquíni preto de franjinha para Kalli
Os dias passaram voando e quando dei por mim já era o fim de semana. Pensei que como era a primeira semana de aula na Faculdade os professores pegariam mais leve, lindo engano, já que estamos amarrotados de pesquisas e trabalhos. Passei todo meu tempo livre durante a semana na Biblioteca do Campus com a cara enfiada em grandes livros grossos e velhos. Como Kallie também faz Psicologia estávamos juntas estudando na biblioteca, só que ela passou o tempo todo reclamando que deveríamos aproveitar nosso tempo com algo mais produtivo. Não acho que exista nada mais produtivo do que estudar para se tornar a profissional a qual eu almejo, quero poder ajudar crianças carentes que tenham passado por traumas ou por momentos difíceis e precisam de alguém que a entenda e que possa ouvi-la. É o que eu quero para minha vida, por isso me esforço muito nos meus estudos. Espelhei-me em
Concentro-me na explicação do professor a minha frente, estou em mais uma das aulas do Sr. Harris. É estranho só agora ter percebido que ele é calvo? Na verdade ele está mais para careca, baixo e gorducho. Balanço a cabeça e presto atenção à aula de novo. Não está funcionando, pois minha mente tende a voltar à noite de sábado.Acordei na manha de domingo com uma forte dor de cabeça e uma ressaca. E tudo que eu consegui fazer foi tomar um banho, ingerir um remédio para a dor latejante na minha cabeça. Acho que dormi longo em seguida de novo. Assim resumiu meu dia, tirando o fato do meu pai ter me questionado sobre o que eu estava fazendo na noite anterior.- Como pôde sair por aí sozinha se alcoolizando, sabia que alguma pessoa com más intenções poderia se aproveitar da sua s
Saímos do estacionamento, em alguns minutos entramos na avenida principal da cidade. Caio dirige como se estivesse participando de um filme de ação. Nesse momento tenho certeza que fiz a escolha errada de ter vindo com ele, mantenho os olhos em seus movimentos, passa a marcha e acelera repetidas vezes, sempre focado nos carros a sua frente. Sou pega o observando, ele sorri e diminui a velocidade, seu olhar vai de mim para o Audi que nos segue.- Por que você tem um segurança particular?- Hum... Por causa do trabalho do meu pai - Digo vagamente.- Deve ser um trabalho perigoso que interfira na sua segurança, imagino que esse deve ser o motivo para você ter que andar com um segurança ao seu lado. Não quero dar muitos detalhes sobre a minha vida ou sobre o trabalho do meu pai a alguém que acabei de conhecer, além disso, Caio não me transmite
Entrei em casa as pressas com o coração apertado, sem nem mesmo entender esse sentimento estranho que me sufoca desde que vi o olhar de decepção de James, o fato de que eu o tenha magoado me deixou triste e eu nem mesmo sei o porquê, que droga! Eu devo ser louca! O que está acontecendo comigo? Eu devo ter entendido errado, não há motivo para que ele tenha ficado decepcionado só por eu ter beijado o Caio... Argh! O que eu tenho na cabeça para ter deixado aquele maluco me beijar? Queria poder voltar no tempo e dar na minha cara momentos antes de eu cometer esse erro absurdo, e dizer: sua louca...O que pensa que está fazendo? Não vou pensar mais nisso, o melhor é fingir que não aconteceu, é o certo a se fazer. Fiquei parada de frente para a porta fechada por tantos minutos pedida em meus pensamentos, viro-me e sigo para sala de estar, deparo c
Entrei em casa às pressas com o coração apertado sem nem mesmo entender esse sentimento estranho que me sufoca desde que vi o olhar de decepção de James. O fato de que eu o tenha magoado me deixou triste e eu nem mesmo sei o porquê, que droga! Eu devo ser louca! O que está acontecendo comigo? Eu devo ter entendido errado, não há motivo para que ele tenha ficado decepcionado, só por eu ter beijado o Caio... Argh! O que eu tenho na cabeça para ter deixado aquele maluco me beijar? Queria poder voltar no tempo e dar na minha cara momentos antes de eu cometer esse erro absurdo, e dizer, sua louca...O que pensa que está fazendo? Não vou pensar mais nisso, o melhor é fingir que não aconteceu, é o certo a se fazer. Fiquei parada de frente para a porta por tantos minutos, perdida em meus pensamentos, sem me dar
Uma brisa suave atinge meu rosto bagunçando meus cabelos assim que chego à área descoberta da piscina. Desço pelo caminho de pedras com pequenos arbustos de cada lado, que dá direto ao coreto no meio do jardim rodeado por canteiros de flores. Na escuridão da noite, mas parece um lugar encantado, apenas iluminado pela luz da lua e os vaga-lumes brilhando no escuro. Quando eu era criança, eu passava minhas tarde livres brincando no coreto ou em volta dele, correndo atrás das borboletas que vinha atrás do pólen das flores. Na maioria das vezes eu ajudava minha mãe a cuidar dos canteiros, ela tem um amor pelas flores que plantávamos juntas. E no fim da tarde, antes do por do sol, sentávamos na pequena escada do coreto e ficávamos sentido o cheiro misto dos perfumes das flores se misturando pelo ar, era nosso momento