Gabrielle Confesso que não esperava que ele compartilhasse sua experiência comigo, não depois daquela discussão acalorada que tivemos. Na verdade, nem imaginei que Lucas fosse capaz de dividir comigo sentimentos tão pessoais. Eu nunca, em toda a minha vida, havia me aberto com alguém dessa forma — sobre o que sentia por outra pessoa ou sobre qualquer assunto realmente íntimo. Saber que ele se expunha desse jeito, confessando coisas que para ele eram, talvez, vergonhosas, me deixava apreensiva. Porque eu não seria capaz de corresponder. Não seria capaz de atingir suas expectativas, e quanto mais cedo ele soubesse disso, melhor seria para nós dois. — Imagino que esteja desapontado agora. — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro. — Estou, sim. Mas não pela razão que você está pensando. — Ele sorriu de canto, um sorriso cansado, mas sem rancor. — Consegue imaginar como foi, depois de passar pelo inferno só para poder te ver de novo, e te encontrar completamente insati
Lucas Park Quando abri meus olhos naquela manhã, eu sabia que, a partir daquele dia, tudo seria diferente. Seríamos diferentes. E, por mais que uma parte de mim não soubesse exatamente o que isso significava, senti-me ansioso para vê-la, mais do que nos dias anteriores. Aquele seria o primeiro dia em que eu a olharia sabendo que ela era completamente minha, por sua própria vontade. Ela havia aceitado se casar comigo, não para cumprir qualquer compromisso que julgasse ter com seu pai falecido, mas por me querer. Tudo bem, eu sabia que ela não me queria da mesma forma que eu a queria, mas tinha plena certeza de que era apenas uma questão de tempo até sentir tanta fome por mim quanto eu sentia por ela. Eu sabia que tínhamos trilhado um longo caminho para chegar a esse consenso, assim como sabia que havia muito mais pela frente. Eu havia superado apenas o primeiro obstáculo. Ter dito a ela o quanto senti sua falta e como a ânsia de estar ao seu lado novamente me motivo
Lucas Park Eu não sabia exatamente o que ele quis dizer com aquilo e tinha certeza de que não me diria. O fato de ele se achar no direito de sentir qualquer coisa por Gabrielle me irritava profundamente. Eles faziam parte do passado. Eu era o futuro. Não havia mais espaço para ele na vida dela, e eu jamais permitiria que qualquer outra pessoa entrasse sem a minha permissão. ― Ela aceitou minha proposta ― eu disse finalmente, liberando aquilo que estava entalado na garganta desde o momento em que o vi. Ele esboçou um breve sorriso e finalizou o líquido de seu copo. Sua expressão mudou por um segundo: um leve traço de surpresa, talvez até nervosismo. Não o culpava — eu mesmo fiquei atônito quando ela não me recusou. ― Eu sei ― ele revelou com indiferença. ― Não, você não entendeu ― tentei deixar claro o que ele precisava compreender de uma vez por todas. ― Ela aceitou se casar comigo. ― Sim, eu ouvi da primeira vez ― ele debochou com um sorriso torto. ― E a
Lucas Park A verdade era que eles tinham uma habilidade infalível de me tirar do eixo. Castillo com sua arrogância debochada, e Jullian com seu charme despreocupado. Eles eram parecidos demais: ambos carregavam uma aura de superioridade, mas conseguiam disfarçá-la com uma falsa modéstia que me deixava louco. Conhecia bem as habilidades dos dois. Eram homens perigosos, que não deixavam nada passar despercebido — e ainda assim, sempre conseguiam justificar meus atos, como se eu fosse uma criança irritada que eles precisassem ensinar. Esse desprezo velado, camuflado por bom humor e camaradagem, era o que mais me enfurecia. ― Agora que estamos todos reunidos, ― disse Castillo, mudando o tom para algo mais sério, mas ainda com aquele brilho malicioso nos olhos ― podemos ir direto ao ponto principal. A raiva cresceu no meu peito como um nó apertado. Ele estava visivelmente se divertindo às minhas custas, e o fato de ter envolvido Jullian sem me avisar só piorava as coisa
Lucas Park Eu sabia o que isso significava. Não havia saída fácil. Ele não me deixaria fora do jogo. Gadreel faria de Gabrielle uma peça em sua disputa, não importava o que eu fizesse. — Façamos um trato. Você sabe que eu honro minha palavra — propôs Gadreel, com um sorriso predador. — Se você se casar com ela em seis meses, eu a deixo em paz. — E se eu não conseguir? — Sondei, sentindo minhas mãos tremerem. — Então eu tiro até o último centavo dela — ele respondeu, como se estivesse saboreando cada palavra. — E se você tentar me impedir, revelo a informação que fará com que o conglomerado se desfaça em empresas independentes. — Isso seria bastante... trágico — inspirou Castillo, fingindo compaixão. — Milhares de famílias desempregadas... não queremos isso, certo? Eles estavam me jogando contra a parede. Não importava para onde eu corresse, eles me alcançariam.Claro, eu poderia simplesmente jogar o jogo deles. Ir até Gabrielle, dizer toda a verdade e con
Lucas Park Os seguranças do bar se aproximaram. Senti a mão de Jullian apertando meus ombros, um aviso silencioso de que era hora de parar. Não por falta de vontade, mas por necessidade. Se eu levar isso adiante, não haveria volta. Soltei Castillo, mas com relutância, como um predador ordenou a abertura da mão da presa. Ele se levantou devagar, se recompondo com aquela calma doentia que só me deixou mais enfurecido. O sangue escorria da boca e do nariz, manchando sua paleta elegante, enquanto seu cabelo desgrenhado caía sobre a testa. Mas nada disso importava. O que mais me irritava era o sorriso. Aquele sorriso torto, diabólico, como se tudo tivesse saído exatamente como ele queria. Ele venceu. E eu sabia disso, o maldito sabia disso também. ― Não ouse! ― Rosnou Jullian atrás de mim, a voz grave e cortante, mas o controle ainda presente, mesmo no meio do caos. Quando ele soltou meus braços, senti o sangue voltar a circular, o formigamento incômodo se misturando co
Lucas Park Meu estomago revirava todo o álcool que havia ingerido ao pensar nessa possibilidade. Comigo, seria por desejo e amor. Com ele...Ele nunca se importou em tomar o que julgava merecer. Ele a forçaria, milhares de vezes, até que atingisse seu objetivo. Que péssima hora para surgir um dilema moral. Eu deveria apenas voltar para casa e tomar seu corpo contra o meu, e na manhã seguinte, a arrastaria para o cartório para assinar nossa certidão de casamento. Eu sabia que ela não recusaria e talvez fosse essa certeza que me fazia hesitar. Eu queria que ela fosse livre para me aceitar em seu próprio tempo e estar forçando tanto assim, não me tornava diferente de Gadreel. ― Não posso força-la ― disse, sentindo minha voz falhar ― E é exatamente por isso que estamos aqui ― Jullian respondeu, tão calmo que seu tom parecia um insulto velado. ― Precisamos de uma solução rápida e menos... definitiva. ― Apenas diga a verdade a ela ― Castillo deu de ombros, como se o
Gabrielle Durante toda a minha vida, nunca experimentei sentimentos complexos. Não sei dizer se a falta de convívio humano me privou de certas experiências ou se minha própria incapacidade de empatia, foi o resultado de nunca ter tido pessoas realmente próximas. Além de Julls, depois da morte do meu pai, não sobrou ninguém que genuinamente se importasse comigo. Nem mesmo minha mãe. Aquele parecia o momento perfeito para nos aproximarmos, uma brecha para tentarmos ser algo mais. Mas isso nunca aconteceu. Esperei por ela inúmeras noites, durante meses. Procurei-a por todos os cantos da casa e em cada empresa, mas nunca a alcancei. Demorou para eu entender que Leslie não queria ser encontrada. E nenhum dos empregados teve coragem de me dizer a verdade. Nem mesmo Julls. Antes da morte do meu pai, eu pouco me importava com os motivos que levavam Leslie a se manter distante. Eu sabia que John provavelmente a obrigava. Mas depois que ele morreu, eu acreditei que poderíamos fin