Lucas Park Parte das exigências do velho John seria, inevitavelmente, um casamento e apropriação empresarial. Quem quisesse se candidatar ao posto de marido de sua adorada filha precisava preencher uma lista extensa de pré-requisitos. Ter uma empresa que correspondesse a pelo menos 10% do capital do conglomerado Gold era apenas o primeiro deles. Esse foi o verdadeiro motivo pelo qual meu pai trabalhou tanto durante esses anos. Ele sabia que, mesmo com o contrato firmado, eu não seria um candidato aceitável se não tivéssemos o capital necessário para apresentar como “dote”. O olhar de Jullian tinha algo de cúmplice, mas também uma pitada de pena. Como se soubesse que, no fundo, estávamos todos presos à mesma armadilha, e não havia saída elegante para nenhum de nós. No final, talvez não importasse o motivo que levava todos a ansiarem por nossa união. Amor, ambição ou mera sobrevivência — pouco importava qual deles me guiava. Tudo o que importava era o resultado. E eu estava di
Lucas Park — Meu pai surtaria — murmurei, mais para mim mesmo. — Acho que não estamos em posição de esperar a aprovação de ninguém — ele retrucou, com uma expressão afiada, atenta a qualquer traço de hesitação em mim. — Ignorar umas quatro cláusulas do testamento não seria tão difícil. — Mesmo assim... Ela pode se recusar a assinar a certidão de casamento. Ela pode... — Nenhuma mulher recusaria se casar com o pai de seu filho. — Ele deu de ombros e começou a caminhar em direção à saída. — Tic-tac, senhor Park. Então era isso? Ele apenas jogou a bomba com o pavio aceso em minhas mãos e saiu? Jullian tinha uma forma estranha de lidar com situações aparentemente sem solução. Talvez tenha sido esse o talento que o velho John tenha visto nele. Talvez seja por esse motivo que, mesmo após a morte de seu marido, Leslie continuava mantendo Jullian por perto, a frente das decisões difíceis. Eu nunca o havia visto falhar em suas jogadas. Mas dessa vez, não parecia
Gabrielle Com todos os empregados de folga naquele dia, eu mesma teria que dirigir até a universidade. Embora pudesse pedir a Lucas que assumisse o volante, seria rude da minha parte. Ele sequer sabia como chegar até lá. Além disso, eu não poderia me distrair. Acelerar até o limite, como fazia de madrugada quando a casa toda dormia, não era uma opção. Precisava manter a calma, mesmo que cada segundo segurando aquele volante parecesse insuportavelmente desconfortável. A verdade é que eu temia perder a concentração com ele ao meu lado. Já seria difícil manter os olhos na estrada, mas bastava ele abrir a boca e minha mente se perderia. E, como sempre, minhas pernas fraquejariam com a intensidade da presença dele — porque quando estávamos a sós, Lucas tinha o poder de me desarmar por completo. Ele me esperava no estacionamento, encostado casualmente no mesmo carro que eu havia usado na noite anterior. A serenidade em seu rosto me dava uma sensação ilusória de paz. Eu sabia
Gabrielle Tentei, de toda forma, me concentrar nas palavras dele e manter o foco na conversa. Mas cada vez que ele sorria daquele jeito, como se estivesse testando minha paciência, meu coração vacilava. Talvez ele estivesse, de fato, me provocando, tentando me fazer desistir desse assunto e evitar respostas desconfortáveis. Mas havia tantas perguntas girando em minha mente que desistir não era uma opção. E ele estava certo sobre algo. Mesmo depois de dez anos, apesar de toda a transformação física, eu soube imediatamente quem ele era quando foi revelado para mim naquela primeira vez. Não foi preciso raciocinar ou juntar peças. Eu senti. Era como se meu corpo o registrasse antes mesmo que minha mente pudesse aceitar o reencontro. Eu não poderia imaginar o inferno que ele havia atravessado. E, sinceramente, não queria pensar nisso. Tinha algo cruel em reviver dores antigas, como se trouxesse à tona fantasmas que ele havia tentado enterrar. Ainda assim, não era tão simples
Gabrielle Percorremos todo o trajeto, que não levou mais do que cinco minutos, em silencio. Ele estava tão perdido em seus pensamentos, que sequer protestou quando pisei fundo no acelerador, na verdade, nem pareceu ter percebido. Seu olhar continuava perdido, olhando pela janela. Estacionei em frente à universidade, deixando o carro ocupar duas vagas de propósito. Esperei que ele reclamasse, que dissesse alguma coisa sarcástica, que me provocasse como sempre fazia. Mas ele não disse nada. Sua expressão continuava confusa, perdida em um labirinto de lembranças e sentimentos inacabados. Não gostei da sensação de ser a responsável por apagar aquele sorriso lindo do rosto dele. Caminhamos em silêncio pelo gramado em direção ao prédio. Enquanto eu tentava ignorar os olhares curiosos que se voltavam para nós, Lucas parecia completamente alheio a tudo ao redor. Estava tão perdido em seus pensamentos que mal parecia notar onde estávamos. Nos sentamos na sala de espera
Gabrielle Depois de uma longa conversa com meu orientador, só desejava que, ao sair daquela sala, Lucas fosse novamente o homem que eu conhecia. Mas a verdade é que não éramos mais os mesmos. Ele nunca precisou fazer perguntas antes, porque nunca houve segredos entre nós. Agora, ele não confiava mais em mim — e eu sabia que não conseguiria enganá-lo facilmente. Se eu quisesse a confiança dele de volta, teria que merecê-la, ou ao menos faze-lo acreditar que eu a merecia. Quando voltei para o carro, Lucas estava esperando no banco do motorista. Nem olhou para mim quando me senti ao seu lado. Seu silêncio e a expressão ilegível eram irritantes, tão contidos que eu queria gritar. Como ele poderia manter aquela calma, quando eu sabia que ele queria gritar comigo? Embora seu rosto fosse impassível, a maneira como apertava o maxilar denunciava a tensão em seu corpo. E como isso era sexy. Confesso que minha raiva desapareceu segundos depois de entrar no carro. Bastou ele
Gabrielle Confesso que não esperava que ele compartilhasse sua experiência comigo, não depois daquela discussão acalorada que tivemos. Na verdade, nem imaginei que Lucas fosse capaz de dividir comigo sentimentos tão pessoais. Eu nunca, em toda a minha vida, havia me aberto com alguém dessa forma — sobre o que sentia por outra pessoa ou sobre qualquer assunto realmente íntimo. Saber que ele se expunha desse jeito, confessando coisas que para ele eram, talvez, vergonhosas, me deixava apreensiva. Porque eu não seria capaz de corresponder. Não seria capaz de atingir suas expectativas, e quanto mais cedo ele soubesse disso, melhor seria para nós dois. — Imagino que esteja desapontado agora. — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro. — Estou, sim. Mas não pela razão que você está pensando. — Ele sorriu de canto, um sorriso cansado, mas sem rancor. — Consegue imaginar como foi, depois de passar pelo inferno só para poder te ver de novo, e te encontrar completamente insati
Lucas Park Quando abri meus olhos naquela manhã, eu sabia que, a partir daquele dia, tudo seria diferente. Seríamos diferentes. E, por mais que uma parte de mim não soubesse exatamente o que isso significava, senti-me ansioso para vê-la, mais do que nos dias anteriores. Aquele seria o primeiro dia em que eu a olharia sabendo que ela era completamente minha, por sua própria vontade. Ela havia aceitado se casar comigo, não para cumprir qualquer compromisso que julgasse ter com seu pai falecido, mas por me querer. Tudo bem, eu sabia que ela não me queria da mesma forma que eu a queria, mas tinha plena certeza de que era apenas uma questão de tempo até sentir tanta fome por mim quanto eu sentia por ela. Eu sabia que tínhamos trilhado um longo caminho para chegar a esse consenso, assim como sabia que havia muito mais pela frente. Eu havia superado apenas o primeiro obstáculo. Ter dito a ela o quanto senti sua falta e como a ânsia de estar ao seu lado novamente me motivo