Gabrielle Apesar de odiarmos o fato de estarmos agora em um relacionamento midiático, jamais poderíamos admitir que tudo isso era fruto do cristianismo de Leslie. Mas, confesso, estar com Lucas não era um sacrifício. Não era nenhum fingimento. Estar com ele era tão natural que eu não me opunha. O que realmente me incomodava era a exposição. Eu perderia toda a privacidade e a liberdade que eu ainda tinha. Enquanto Lucas me apertava contra seu corpo, e enterrava seu rosto em meus cabelos, uma parte de mim queria se entregar completamente naquele momento, ignorar tudo ao redor e deixar que ele me protegesse do mundo. Mas a outra parte, a que ainda estava ligada a Murilo, gritou por dentro. O que ele pensaria? Eu o havia deixado de lado sem sequer me explicar. Não era justo com ele. Mas... como poderia explicar algo que eu mesma não entendia? — Para mim, sempre fui seu namorado — confessou ele, sem hesitar. — Me deixa muito feliz saber que você finalmente me aceitou. S
Gabrielle Já estávamos ofegantes quando a porta se abriu. Era Leslie. Seu olhar de incredulidade foi impagável. Em toda a minha vida, nunca a havia visto tão chocada. — Eu bati — sussurrou ela. — Mamãe? — perguntei, me afastando de Lucas. — Por favor, tenham seu tempo — respondeu com um sorriso. — Já estamos descendo para o jantar, senhora Goldman — disse Lucas, sua voz falhando na última palavra. — Troque de roupa, princesa — disse ela, com um olhar de censura, antes de se retirar — não está apresentável para uma reunião familiar. Eu nem havia percebido até então, mas estava vestindo apenas uma camisola de cetim vermelha, curta. Agora fazia sentido o porquê de ter sentido tão intensamente os braços de Lucas ao meu redor. Explicava também a cautela dele ao me segurar. Talvez Jullian estivesse certo sobre como me vestia. Deveria prestar mais atenção agora que estava em constante presença masculina. Ou talvez não... Eu poderia testar até onde iria o au
Lucas Park Às vezes, durante o dia, deixo minha mente correr livremente, sem me importar com o que será transportado para a superfície. Na maioria das vezes, me pego pensando em como será meu futuro ao lado dela. Deixo minha mente vagar pelas possibilidades de um futuro nem tão distante assim. Acordaríamos cedo todas as manhãs; eu prepararia o café da manhã para ela, e seguiríamos juntos para algumas das empresas — tanto faz qual delas. Desde que estivéssemos juntos, não importava em qual ramo ela decidisse seguir. Almoçaríamos juntos, participaríamos de reuniões, e voltaríamos para casa à tarde. Provavelmente assistiríamos algum filme, compartilharíamos histórias de nossa infância, e adormeceríamos lado a lado, depois de nos amarmos loucamente em nossa cama. Em alguns anos, teríamos nossos filhos e dividiríamos nosso tempo entre eles e nossas ações. Tudo o que eu queria era a tranquilidade de um relacionamento repleto de calor e paixão e, acima de tudo, de complet
Lucas Park — Faltam algumas semanas para o aniversário dela — iniciei uma estratégia arriscada. — Talvez possamos fazer algo especial nesse dia. — É uma ótima ideia, querido — transmitiu Leslie. — Gabrielle nunca teve uma festa de aniversário desse porte antes — disse Jullian, fitando-me diretamente. — Talvez possamos fazer um evento inesquecível, não apenas para os convidados, mas também para ela. Ele não precisa dizer mais nada. Eu entendi, pelo modo como me olhou, exatamente a que ele estava se referindo. Jullian era estratégico e eficiente. Nem precisávamos combinar nossas falas ou criar um plano mirabolante. A conversa se encaminhou naturalmente para o ponto desejado, sem que ninguém percebesse. Mas Leslie não estava tão alheia à nossa conversa silenciosa quanto eu imaginava. Ela lançou um olhar para Jullian, e um sorriso contido escapou de seus lábios. Talvez ela estivesse tão preocupada com o cumprimento das metas quanto a nós. Cada um de nós tinha moti
Lucas Park Aquela inquietação não me permitia dormir. Toda vez que tentava fechar os olhos, a imagem dela, coberta apenas pelo fino tecido da camisola, tomava minha mente. E, quando conseguia afastar esses pensamentos, lá estava o jantar, repetindo-se em um ciclo incessante — o momento em que ela concordou em se casar comigo. Eu não conseguiria dormir enquanto não encontrasse uma maneira de tirar sua imagem da minha cabeça. Claro, eu poderia simplesmente levantar, bater na porta ao lado, tomá-la em meus braços e me perder em sua pele. Mas sabia que, a cada minuto que passávamos, caminhávamos perigosamente em direção ao nosso ponto de inflexão. Era como se carregássemos uma bomba-relógio que poderia explodir a qualquer momento. Se eu a tocasse agora, nem o testamento, nem o passado, nem qualquer acordo entre nossas famílias importariam. E talvez fosse exatamente isso que me assustava. Vesti uma roupa confortável e corri para o jardim. Estar a apenas uma parede de distânc
Art. Único: A herdeira terá posse absoluta, irrefutável e intransferível, após a maioridade de 21 (vinte e um) anos, sob o cumprimento das seguintes exigências: 1. A herdeira deverá ser apta ao cargo de CEO, tendo pleno conhecimento certificado das seguintes áreas: a. Administração de empresas e finanças corporativas b. Economia c. Engenharia d. Arquitetura e. Gestão de pessoas Essa foi a primeira das dez exigências de meu pai, nada fáceis de se cumprir. Ele era a pessoa que mais me conhecia no mundo, talvez soubesse mais de mim do que eu mesma, o que me deixava desconfortável, pois sabia exatamente como lidar com meu narcisismo. Não pude conter o riso quando li pela primeira vez, na verdade, eu ri alto e tão descontroladamente, que senti cada músculo do meu corpo vibrar. Me obrigar a ser social mediante um documento era tão John. Ele sabia que eu não gostava de participar de eventos sociais, sabia que eu não gostava das pessoas da minha idade, assim como s
Lucas Park, o típico herdeiro que toda garota sonha em ter como companheiro. Bonito, carismático e com uma conta cheia de dinheiro. Eu não me importava com sua simpatia, tampouco precisava de seu dinheiro, a única razão para eu não raspar sua cara no asfalto quente, é pelo simples fato que seria um desperdício. Sua simetria era assustadora quando observada por algum tempo. Com sua descendência oriental, era quase impossível não olhar em seus olhos escuros e profundos, seu nariz levemente empinado e fino, a boca era grande com lábios volumosos. Era possível ter aqueles traços naturalmente? Se a inocência tivesse um rosto, aos vinte e três anos, com certeza seria aquele. Até mesmo seu sotaque era charmoso, qual me deixou completamente surpresa. Era realmente um contraste agradável quando visto por inteiro. Exceto pelo cabelo, que estava todo brilhante, com um topete estilo John Travolta nos tempos da brilhantina. — Pode parar de me encarar agora — me censurou. Sorri
— Dave me pediu para cuidar de você — confessou Havíamos passado tanto tempo juntos no passado, que algumas perguntas não precisavam serem feitas. Dave era pai de Lucas, também era melhor amigo e sócio de meu pai, por esse motivo, passamos nossa infância inteira juntos. A mãe de Lucas havia morrido ao dar à luz, então eu emprestei a minha, simples assim. Crianças são tão ingênuas. — Como tem passado Gabrielle? — iniciou ele — Você esteve fugindo de mim desde que retornei. — Não sou uma pessoa nostálgica — confessei — Sinto muito se não te ofereci a recepção que gostaria. Ele sorriu. Não um sorriso de deboche. Ele realmente sorriu. Um sorriso envergonhado, quase escondido, que ao que parecia, eu não deveria ter notado. Ainda havia covas em suas bochechas, assim como quando éramos crianças. Olhar para ele sorrindo fez surgir um mix de emoções que eu nem sabia que era possível para alguém como eu. Senti falta daqueles dias em que passamos horas brincando e conversando