Gabrielle Fui tirada de minhas lembranças quando meu celular vibrou. Murilo havia finalmente dado sinal de vida após semanas. Eu esperava que fosse a notícia de seu retorno. Em meio a toda aquela confusão, eu ficaria imensamente grata se pudesse me esconder em seus braços e esquecer, ainda que por algumas horas, tudo o que teria que enfrentar. Depois de passar o dia inteiro trancada no quarto, um jantar preparado por ele, certamente abriria meu apetite. Mas não parecia ser o caso. A mensagem era curta, composta por apenas uma palavra, em caixa alta: PARABÉNS. Foi tudo. Murilo não parecia preocupado, nem sequer perguntou como eu estava. Será que ele estava distante porque sabia que tudo era uma farsa, ou porque ele mesmo não se importava tanto quanto eu imaginava? Talvez Jullian estivesse certo desde o início. Talvez Murilo nunca tenha sido realmente parte do meu futuro, mas sim uma distração conveniente. Leslie não estava brincando, afinal. Murilo já sabia sobre me
Gabrielle Apesar de odiarmos o fato de estarmos agora em um relacionamento midiático, jamais poderíamos admitir que tudo isso era fruto do cristianismo de Leslie. Mas, confesso, estar com Lucas não era um sacrifício. Não era nenhum fingimento. Estar com ele era tão natural que eu não me opunha. O que realmente me incomodava era a exposição. Eu perderia toda a privacidade e a liberdade que eu ainda tinha. Enquanto Lucas me apertava contra seu corpo, e enterrava seu rosto em meus cabelos, uma parte de mim queria se entregar completamente naquele momento, ignorar tudo ao redor e deixar que ele me protegesse do mundo. Mas a outra parte, a que ainda estava ligada a Murilo, gritou por dentro. O que ele pensaria? Eu o havia deixado de lado sem sequer me explicar. Não era justo com ele. Mas... como poderia explicar algo que eu mesma não entendia? — Para mim, sempre fui seu namorado — confessou ele, sem hesitar. — Me deixa muito feliz saber que você finalmente me aceitou. S
Gabrielle Já estávamos ofegantes quando a porta se abriu. Era Leslie. Seu olhar de incredulidade foi impagável. Em toda a minha vida, nunca a havia visto tão chocada. — Eu bati — sussurrou ela. — Mamãe? — perguntei, me afastando de Lucas. — Por favor, tenham seu tempo — respondeu com um sorriso. — Já estamos descendo para o jantar, senhora Goldman — disse Lucas, sua voz falhando na última palavra. — Troque de roupa, princesa — disse ela, com um olhar de censura, antes de se retirar — não está apresentável para uma reunião familiar. Eu nem havia percebido até então, mas estava vestindo apenas uma camisola de cetim vermelha, curta. Agora fazia sentido o porquê de ter sentido tão intensamente os braços de Lucas ao meu redor. Explicava também a cautela dele ao me segurar. Talvez Jullian estivesse certo sobre como me vestia. Deveria prestar mais atenção agora que estava em constante presença masculina. Ou talvez não... Eu poderia testar até onde iria o au
Lucas Park Às vezes, durante o dia, deixo minha mente correr livremente, sem me importar com o que será transportado para a superfície. Na maioria das vezes, me pego pensando em como será meu futuro ao lado dela. Deixo minha mente vagar pelas possibilidades de um futuro nem tão distante assim. Acordaríamos cedo todas as manhãs; eu prepararia o café da manhã para ela, e seguiríamos juntos para algumas das empresas — tanto faz qual delas. Desde que estivéssemos juntos, não importava em qual ramo ela decidisse seguir. Almoçaríamos juntos, participaríamos de reuniões, e voltaríamos para casa à tarde. Provavelmente assistiríamos algum filme, compartilharíamos histórias de nossa infância, e adormeceríamos lado a lado, depois de nos amarmos loucamente em nossa cama. Em alguns anos, teríamos nossos filhos e dividiríamos nosso tempo entre eles e nossas ações. Tudo o que eu queria era a tranquilidade de um relacionamento repleto de calor e paixão e, acima de tudo, de complet
Lucas Park — Faltam algumas semanas para o aniversário dela — iniciei uma estratégia arriscada. — Talvez possamos fazer algo especial nesse dia. — É uma ótima ideia, querido — transmitiu Leslie. — Gabrielle nunca teve uma festa de aniversário desse porte antes — disse Jullian, fitando-me diretamente. — Talvez possamos fazer um evento inesquecível, não apenas para os convidados, mas também para ela. Ele não precisa dizer mais nada. Eu entendi, pelo modo como me olhou, exatamente a que ele estava se referindo. Jullian era estratégico e eficiente. Nem precisávamos combinar nossas falas ou criar um plano mirabolante. A conversa se encaminhou naturalmente para o ponto desejado, sem que ninguém percebesse. Mas Leslie não estava tão alheia à nossa conversa silenciosa quanto eu imaginava. Ela lançou um olhar para Jullian, e um sorriso contido escapou de seus lábios. Talvez ela estivesse tão preocupada com o cumprimento das metas quanto a nós. Cada um de nós tinha moti
Lucas Park Aquela inquietação não me permitia dormir. Toda vez que tentava fechar os olhos, a imagem dela, coberta apenas pelo fino tecido da camisola, tomava minha mente. E, quando conseguia afastar esses pensamentos, lá estava o jantar, repetindo-se em um ciclo incessante — o momento em que ela concordou em se casar comigo. Eu não conseguiria dormir enquanto não encontrasse uma maneira de tirar sua imagem da minha cabeça. Claro, eu poderia simplesmente levantar, bater na porta ao lado, tomá-la em meus braços e me perder em sua pele. Mas sabia que, a cada minuto que passávamos, caminhávamos perigosamente em direção ao nosso ponto de inflexão. Era como se carregássemos uma bomba-relógio que poderia explodir a qualquer momento. Se eu a tocasse agora, nem o testamento, nem o passado, nem qualquer acordo entre nossas famílias importariam. E talvez fosse exatamente isso que me assustava. Vesti uma roupa confortável e corri para o jardim. Estar a apenas uma parede de distânc
Lucas Park Foi só quando a vi desacelerar que percebi onde estávamos. Ela estacionou de qualquer forma, atravessando três vagas sem se importar. Havia poucos carros ali, como sempre. Essa era a razão de ser meu bar favorito: silêncio e anonimato. Parei a moto do outro lado da rua, nem precisei me esconder entre os arbustos que circundavam o estacionamento. A iluminação fraca me garantia que ela não me veria ali. Desci, pousei o capacete no tanque e me encostei na lateral. Eu gostava de observa-la. Outro carro parou logo depois, próximo ao dela. Um modelo comum, de passeio — nada que combinasse com os frequentadores da elite que comandava a cidade. Quando vi quem desceu, franzi o cenho: Alice, a recepcionista da matriz de projetos. Alice usava um vestido chamativo e justo, mas o tecido brilhante fazia sua pele parecer ainda mais pálida e seu corpo mais magro do que eu lembrava. Ela era bonita e tinha um sorriso encantador, que, por várias vezes, havia me lançado sem
Lucas Park Eu não sei dizer o que me deixou mais puto: ser interrompido pela ligação ou me irritar por ter sido impedido de... Merda! Tinha alguma coisa errada com meu cérebro. E finalmente percebi aquilo que eles sempre martelaram na minha mente, e não fez com que eu gostasse mais daquele cara do outro lado da linha. — Por que pergunta? — ele retrucou com uma gargalhada debochada. — Me daria se eu pedisse? — Vai se ferrar! Meu humor foi de um extremo a outro em questão de segundos. Como ele conseguiu estragar aquele momento tão facilmente? Ouvir sua gargalhada só acrescentou mais peso à minha raiva. O fato de ele nem perceber o quanto me afetou apenas lhe dava mais poder para me irritar. — Está ficando cada vez mais ousado, senhor Park — zumbiu Castillo. — Devo ter interrompido algo importante. Ligo mais tarde, se preferir... De fato, ele interrompeu um dos momentos mais reveladores que já vivi. Naquela noite, tive a benção (ou a maldição) de descobrir f