Gabrielle A vista era magnífica. Daquela cobertura, eu podia ver a cidade inteira, tão pequena, com todas as luzes acesas, os prédios comerciais iluminados e os carros cruzando as ruas. Consegui até avistar minha casa, do outro lado da cidade, na colina. John insistira em construí-la ali para que pudéssemos ver toda a cidade e ter a melhor vista do nascer do sol. Papai sempre foi muito atencioso. Confesso que, na minha condição, não consegui prestar muita atenção nos detalhes. Não percebi o ambiente por completo quando cheguei, e muito menos depois de ver aquelas garrafas de vinho tinto dispostas em um quadro de losangos na parede branca. Puxei uma delas, abri-a com um saca-rolhas que encontrei em algum lugar. Sinceramente, nem sei como consegui fazer isso, nem como bebi metade da garrafa antes de Lucas reaparecer. Ele trazia duas toalhas e um roupão. Seus olhos se estreitaram ao me ver bebendo de sua reserva pessoal. — O que está fazendo com esse vinho? — pergunto
Gabrielle Eu estava errada, pensei. Lucas definitivamente não era mais um adolescente. Ele parecia saber exatamente o que estava fazendo... mas então, hesitou. No momento em que percebeu que eu estava completamente nua, parou abruptamente. Ele me soltou, recuando um passo, os olhos fechados como se tentasse se conter. Qual era o problema desses homens? — Me perdoe — sua voz saiu baixa, quase inaudível. — Poderia... se vestir, por favor? Peguei o roupão que estava caído aos meus pés e o vesti, amarrando o nó com firmeza dessa vez. Confesso que a atitude dele me divertiu. Em toda a minha breve jornada de sedução, eu nunca havia presenciado um homem recuar daquela maneira. Com exceção de Murilo, claro. Mas Murilo tinha razões persuasivas para recuar. Qual seria o motivo de Lucas Park? A julgar pela força com que ele apertava os olhos, arrependimento começava a tomar conta dele. Talvez estivesse questionando sua própria decisão de parar. Talvez estivesse desejando
Gabrielle Proposta? Desde que nos reencontramos, três meses atrás, ele vinha falando sobre essa tal "proposta". Mas, sinceramente, eu não fazia a menor ideia do que ele estava falando, assim como não me lembrava de ter aceitado nada. Eu não podia acreditar que tivéssemos tido uma conversa importante comigo bêbada. Se ele tivesse se aproveitado da minha situação para conseguir minha aprovação para seja lá o que fosse, definitivamente não era confiável. — Qual proposta? — perguntei, sem esconder minha irritação. — Pense um pouco, querida — ele respondeu com um sorriso enigmático. Era o que eu estava fazendo, pensando. Revirei cada detalhe da nossa trajetória recente em minha mente. E desde quando ele começou a me chamar de 'querida' com tanta frequência? E o que diabos era essa tal proposta? Eu me lembrava de cada conversa, cada palavra... mas de proposta, nada. Senti o nervosismo crescer dentro de mim. Ele continuava a me olhar daquele jeito que só ele sabia fa
Lucas Park Se eu soubesse que ela se tornava uma pessoa completamente diferente sob o efeito do álcool, talvez não tivesse deixado que consumisse tanto. Ou teria? A verdade é que, apesar de crescer uma preocupação sobre como ela reagiria na manhã seguinte, eu não pude deixar de me sentir satisfeito e, de certo modo, divertido. Finalmente, ela havia abaixado suas defesas, e eu tinha certeza de que conseguiria arrancar dela aquilo que ferozmente tentava esconder. Não digo que minha intenção fosse me aproveitar de uma garota bêbada — jamais faria algo desse tipo. Mas eu seria um completo idiota se deixasse aquela oportunidade escapar. Ela estava mais tagarela do que o habitual, e seu filtro de informações parecia ter parado de funcionar há muito tempo. Eu esperava que aquele banho, ao menos, a deixasse mais tranquila e relaxada, porque estava visivelmente nervosa por estar ali comigo. Tanto que tomou a liberdade de abrir meu vinho favorito e esvaziá-lo em poucos minutos, e
Lucas Park Nunca estive interessado em beijar nenhuma outra mulher. E, apesar de já ter experimentado várias, nenhuma delas significou absolutamente nada. Aquele foi meu primeiro beijo de verdade, o único que desejei com todas as forças desde o momento em que percebi, naquela maldita cama de hospital, que estava apaixonado por ela. Aquele era o único lugar onde eu pertencia, e de forma alguma eu permitiria que ela se afastasse de mim novamente. Cinco meses . Levei cinco meses para derrubar barreiras dela, para que finalmente permita que eu a tocasse assim. De jeito nenhum eu estragaria aquele avanço. Mas, é claro, a força dos meus pensamentos não era suficiente para conter o desejo. Meu desejo por Gabrielle era maior do que qualquer sentimento que eu já experimentasse, uma necessidade tão crua e intensa que parecia queimar por dentro. E quando senti que ela também me queria, qualquer promessa que fiz a mim mesmo se esvaiu como fumaça. Eu queria saber quem ela realm
Lucas Park A ironia não me escapava: aquela tinha sido quase a nossa noite. Eu, por pouco, não a tinha arrastado para a cama, onde passaríamos horas explorando cada centímetro do corpo um do outro. Mas agora, a ideia de vê-la nos braços de Castillo me consumia por completo, uma raiva surda e um ciúme que me queimavam por dentro. Como ele ousava insinuar que poderia ter qualquer coisa com ela, depois de tê-la vendido por alguns milhões de dólares? Eu nunca faria isso. Nem por todo o dinheiro do mundo eu a deixaria. Quando entrei no salão, o avistei imediatamente. Castillo estava sentado casualmente à bancada, como se aquele encontro não tivesse importância alguma. Usava um blazer escuro perfeitamente ajustado ao corpo e uma gravata azul do mesmo tom dos seus olhos. Sim, ele era bonito e charmoso. Isso era inegável. A verdade, porém, que eu tentava evitar, era essa: parte de mim temia que ele fosse mais do que apenas atraente aos olhos de Gabrielle. E se ela tivesse
Gabrielle Quando entrei em meu quarto, Leslie já estava lá me esperando, sentada como se estivesse prestes a me dar mais uma de suas lições inspiradas em conselhos maternos. Eu me sentei de frente para ela, sem dizer uma palavra, apenas esperando. Sinceramente, torcia para que aquilo não tivesse nenhuma relação com o que aconteceu na noite passada com Lucas. A última coisa que eu queria era que Leslie soubesse dessa aproximação. Com meu aniversário se aproximando e a pressão do evento que viria com ele, eu já imaginava que o assunto giraria em torno da festa ou da empresa. Leslie jamais permitiria que houvesse qualquer erro, e isso incluía controlar minha conduta e aparências públicas. Durante esses últimos dias, ela me foi colocada sob a supervisão constante de Dave e Jullian, que me encheram de informações úteis e inúteis sobre os negócios, me ensinando cada detalhe que acharam necessário. Eles passaram horas me explicando sobre uma nova aquisição do conglomerado, que agor
Gabrielle Enquanto Leslie falava, a raiva borbulhava dentro de mim, mas era difícil ignorar o peso que suas palavras carregavam. Meu anonimato sempre foi o pilar que sustentava tudo o que construímos, e agora, cada movimento meu era uma ameaça à imagem da empresa. No entanto, a frustração de ser tratada como uma peça no tabuleiro da família, um objeto simples a ser manipulado por conveniência, era insuportável. Eu me senti sufocada, presa entre a responsabilidade e o desejo de ser livre das expectativas deles. ― Me desculpe. ― Foi tudo o que consegui dizer ao ver seu rosto tão abatido e decepcionado. ― Se realmente sente algo por mim, qualquer coisa, Gabrielle, faça o que estou pedindo, princesa ― disse ela, suplicante, aproximando-se novamente. ― Juro que só estou fazendo o melhor para você. Eu te amo, filha, mesmo que você não acredite nisso. Eu estava cada dia mais arruinada. O que eu diria a Jullian? O que eu diria a Murilo? Céus, o que eu diria a Lucas? Leslie