Gabrielle A situação não estava favorável. O que mais me irritava não era o alívio de não ter que retornar à empresa para mais uma rodada de humilhação, mas sim o fato de Leslie ter observado todos os meus passos, silenciosa e paciente, aguardando o momento perfeito para me desarmar. Ela sabia. Sempre soube. E esperou o instante certo para me confrontar, como se tudo fosse parte de um jogo que eu nunca tive chance de vencer. Jullian recusava minhas ligações, nem ao menos respondia às minhas mensagens. Era óbvio que ele estava se escondendo de mim. Talvez porque soubesse que, se me encarasse, não seria capaz de mentir. Ele me contaria o que Leslie estava tramando, sem dúvida. E essa fuga dele doía mais do que eu gostaria de admitir. Murilo, por outro lado, simplesmente desapareceu. Não houve mais encontros, nem mensagens, nada além de silêncio após aquela longa conversa. Dave, por algum motivo, insistia em estar presente em cada refeição. Sua constante presença, que ante
Gabrielle Por fora, o lugar não chamava muita atenção. As paredes estavam cobertas por trepadeiras, escondendo qualquer vestígio de cor. Pelas janelas de madeira rústica, percebi que não havia muitas pessoas lá dentro. Acima da porta de entrada, também de madeira envelhecida, uma placa entalhada exibindo o nome do estabelecimento: “Meia Noite”. Assim que entrei, a iluminação suave do lugar imediatamente me acolheu. As luzes baixas criavam um ambiente aconchegante, enquanto uma música de fundo abafava as conversas discretas nas poucas mesas ocupadas. Ao caminhar pelo bar, meus saltos fizeram um som distinto e ritmado no piso laminado de mogno, e aquilo me fez sorrir por dentro. Olhei ao redor, absorvendo os detalhes da decoração. Era surpreendentemente lindo. Nunca imaginei que um bar com um toque rústico pudesse me fazer sentir tão confortável. Depois de alguns minutos sentada na mesa mais próximo à saída, descobri que aquele não era apenas um bar qualquer. Sentado próx
Gabrielle Rodriguez pegou uma das taças, sem hesitar, e as duas garotas o seguiram, cada uma pegando a sua. Ele casualmente ergueu a sua, olhando diretamente para mim. — Vamos nos divertir essa noite — forçou ele, sua voz compartilhada de uma falsa camaradagem. — Vamos brincar ao início de uma próspera amizade! Aquela última frase soou como uma provocação velada. Ele sabia, de alguma forma, que eu não estava ali para fazer amigos. A ideia de "amizade" parecia ridícula naquele contexto. Ainda assim, ali estava ele, insistindo em forçar uma conexão que claramente não existia. Peguei uma das taças, apenas para não dar o gosto a ele de minha recusa. Mas algo em mim hesitou. Eu sabia que aquele brinde tinha muito mais do que ele estava contando. Lucas sorriu para mim, e por um breve momento, fiquei confusa. Aquele sorriso era um incentivo ou um pedido de desculpas? Talvez ele soubesse o que significava aquele brinde, e, ainda assim, não tentou me impedir como fez na fes
Gabrielle Quando consegui controlar meu desejo, quando tive certeza de que não iria matá-las com minhas próprias mãos ao me deparar com elas, permiti-me sair daquela cabine e voltar para o salão. Ao me aproximar, percebi que as duas estavam sentadas, rindo de algum comentário de Rodriguez. Lucas, por outro lado, não parecia achar graça. Ele estava de pé, com uma carranca terrível, claramente desaprovando o que ouvia. Parecia querer matá-los tanto quanto eu, mas duvidava que estivesse tão disposto quanto. Não consegui descobrir o que ele disse rispidamente àquelas pessoas. Antes que eu pudesse me sentar, Lucas já estava me puxando para fora dali. A forma como ele me arrastou, seus movimentos, até mesmo sua respiração... tudo me causou um certo receio. Ele estava irritado, claramente irritado. Não questionei quando me colocou no banco do passageiro do BMW, nem mesmo quando começamos a dirigir sem destino. Com certeza, aquele não era o caminho de casa. Confesso que vê-lo a
Gabrielle A vista era magnífica. Daquela cobertura, eu podia ver a cidade inteira, tão pequena, com todas as luzes acesas, os prédios comerciais iluminados e os carros cruzando as ruas. Consegui até avistar minha casa, do outro lado da cidade, na colina. John insistira em construí-la ali para que pudéssemos ver toda a cidade e ter a melhor vista do nascer do sol. Papai sempre foi muito atencioso. Confesso que, na minha condição, não consegui prestar muita atenção nos detalhes. Não percebi o ambiente por completo quando cheguei, e muito menos depois de ver aquelas garrafas de vinho tinto dispostas em um quadro de losangos na parede branca. Puxei uma delas, abri-a com um saca-rolhas que encontrei em algum lugar. Sinceramente, nem sei como consegui fazer isso, nem como bebi metade da garrafa antes de Lucas reaparecer. Ele trazia duas toalhas e um roupão. Seus olhos se estreitaram ao me ver bebendo de sua reserva pessoal. — O que está fazendo com esse vinho? — pergunto
Gabrielle Eu estava errada, pensei. Lucas definitivamente não era mais um adolescente. Ele parecia saber exatamente o que estava fazendo... mas então, hesitou. No momento em que percebeu que eu estava completamente nua, parou abruptamente. Ele me soltou, recuando um passo, os olhos fechados como se tentasse se conter. Qual era o problema desses homens? — Me perdoe — sua voz saiu baixa, quase inaudível. — Poderia... se vestir, por favor? Peguei o roupão que estava caído aos meus pés e o vesti, amarrando o nó com firmeza dessa vez. Confesso que a atitude dele me divertiu. Em toda a minha breve jornada de sedução, eu nunca havia presenciado um homem recuar daquela maneira. Com exceção de Murilo, claro. Mas Murilo tinha razões persuasivas para recuar. Qual seria o motivo de Lucas Park? A julgar pela força com que ele apertava os olhos, arrependimento começava a tomar conta dele. Talvez estivesse questionando sua própria decisão de parar. Talvez estivesse desejando
Gabrielle Proposta? Desde que nos reencontramos, três meses atrás, ele vinha falando sobre essa tal "proposta". Mas, sinceramente, eu não fazia a menor ideia do que ele estava falando, assim como não me lembrava de ter aceitado nada. Eu não podia acreditar que tivéssemos tido uma conversa importante comigo bêbada. Se ele tivesse se aproveitado da minha situação para conseguir minha aprovação para seja lá o que fosse, definitivamente não era confiável. — Qual proposta? — perguntei, sem esconder minha irritação. — Pense um pouco, querida — ele respondeu com um sorriso enigmático. Era o que eu estava fazendo, pensando. Revirei cada detalhe da nossa trajetória recente em minha mente. E desde quando ele começou a me chamar de 'querida' com tanta frequência? E o que diabos era essa tal proposta? Eu me lembrava de cada conversa, cada palavra... mas de proposta, nada. Senti o nervosismo crescer dentro de mim. Ele continuava a me olhar daquele jeito que só ele sabia fa
Lucas Park Se eu soubesse que ela se tornava uma pessoa completamente diferente sob o efeito do álcool, talvez não tivesse deixado que consumisse tanto. Ou teria? A verdade é que, apesar de crescer uma preocupação sobre como ela reagiria na manhã seguinte, eu não pude deixar de me sentir satisfeito e, de certo modo, divertido. Finalmente, ela havia abaixado suas defesas, e eu tinha certeza de que conseguiria arrancar dela aquilo que ferozmente tentava esconder. Não digo que minha intenção fosse me aproveitar de uma garota bêbada — jamais faria algo desse tipo. Mas eu seria um completo idiota se deixasse aquela oportunidade escapar. Ela estava mais tagarela do que o habitual, e seu filtro de informações parecia ter parado de funcionar há muito tempo. Eu esperava que aquele banho, ao menos, a deixasse mais tranquila e relaxada, porque estava visivelmente nervosa por estar ali comigo. Tanto que tomou a liberdade de abrir meu vinho favorito e esvaziá-lo em poucos minutos, e